Capítulo 30
1884palavras
2022-06-18 03:55
E o sábado finalmente chegou, depois de parecer ter 95878 dias entre a última vez que falei com Nicolas e a chegada do final de semana.
Peguei um vestido verde e olhei indecisa... Nicolas havia pedido para eu não ir de vestido. E eu não pretendia beber para ele me carregar. O vexame da última vez na casa dele havia sido suficiente. Olhei para uma calça jeans clara. Vai calça. Um salto e uma camisa rendada com uma bela maquiagem. Lorraine passou na minha casa e fomos juntas. Encontramos minhas amigas na fila do Manhattan. Montanha não estava de bom humor naquele dia. Fez nós mostrarmos os documentos de identidade e revistou nossas bolsas. Engraçado é que não podia entrar armado ou com faca, mas drogas passavam.
Eu era louca, mas nunca me passou pela cabeça usar drogas. E por isso me doía quando minha mãe dizia que eu poderia ser como meu pai. Eu bebia para relaxar, só isso. E me soltar um pouco mais. E também para esquecer quando algo ruim acontecia. Enfim, a bebida realmente poderia ser como a droga no fim, pois tinha os mesmos efeitos.
Lorraine estava saindo comigo mais que o normal. Eu gostava de estar com ela. Me sentia segura. E ela me conhecia como ninguém... Afinal, tínhamos três meses de diferença de idade. Dormimos na mesma cama e mamamos no mesmo peito várias vezes, eu na mãe dela e ela na minha mãe. Pegamos catapora e caxumba juntas. Brigávamos feito cão e gato quando pequenas. Mas conforme fomos crescendo, nos aproximamos. Éramos como água e vinho: totalmente opostas em tudo. Mas gostávamos da companhia uma da outra.
Quando eu entrava no Manhattan tudo em mim ficava alegre. Se eu pudesse, morava lá dentro. Conforme fomos nos encaminhando para a pista de dança, fui ficando tensa. Primeiramente olhei para o camarote, procurando por Tom. Mas ele não estava lá. Se viria mais tarde? Sim, era um risco. Cadu... Por enquanto tenho certeza de que não estava ali. Nicolas... Encontrei ele. Mas ele não me viu. Conversava com Pedro no bar. Eu não entendia como uma pessoa que pouco bebia vivia no bar. Assim era Nicolas. Ele usava uma camisa azul, que era da cor dos seus olhos. Claro que eu não conseguia ver dali, mas eu conseguia visualizar na minha mente seus olhos perfeitos.
Começamos a dançar. Eu não quis ir ao bar. Não queria forçar um encontro “casual” com Nicolas. Algo estava diferente entre nós e isso me deixava confusa e temerosa com relação a tudo que ele poderia pensar de mim.
A noite estava divertida. A música agradável, como sempre. A banda tocou e eu ainda não havia chegado perto de Nick. Dani foi ao bar e voltou com uma pina colada para mim. Mesmo quando eu decidia não beber, a bebida vinha até mim. E acho que eu precisava mesmo... Estava muito, muito tensa.
Sinceramente, pina colada não parecia bebida alcoólica. Por isso eu bebia como suco. Porque era bom... Doce e gostoso. Alissa trouxe a segunda e Nadiny depois abriu um espumante. E quase duas horas haviam passado. Respirei fundo e vi Nicolas me olhando. Eu precisava falar com ele. E nem olhei se Tom ou Cadu estavam ali.
Andei devagar e tentando fingir segurança, o que estava longe de acontecer.
- Oi... Esqueceu que eu existo? – tentei brincar.
- Como se isso fosse possível. – ele disse seriamente.
- Não quer se juntar a nós?
- Talvez...
- Talvez?
- Depois mais.
- Está esperando alguma coisa? – perguntei.
- Na verdade nada.
Ele parecia um pouco frio. Pedi a terceira pina colada, já que estava no bar mesmo.
- Quando você vai parar de beber deste jeito?
- Eu estou bem... Juro.
Ele balançou a cabeça e antes do barman me entregar a bebida ele pegou da minha mão e tomou um gole. Depois me devolveu:
- Isso é bom mesmo.
- Você nunca havia provado?
- Não...
- Bem... Eu vou lá me acabar dançando. Se quiser, é só aparecer.
- Obrigado pelo convite, baixinha.
- Baixinha? Novo apelido?
- Nem sentado eu fico do seu tamanho. – ele riu, me olhando.
- Estou de salto. Mas não tenho problemas com minha altura.
- Não tem problema, na horizontal não faz diferença. – ele riu.
O amigo dele riu e balançou a cabeça.
- Você bebeu, Nick?
- Por que acha que eu bebi?
- Por nada...
Saí e voltei para a pista. Achei a brincadeira dele sem graça. E Nicolas não era assim. Uns dez minutos depois ele e Pedro chegaram na nossa roda de amigas e alguns garotos. Ele deu um beijo em Nadiny, parabenizando pelo aniversário. Enquanto dançávamos, fiquei olhando para ele... Tão perfeito. E vez ou outra eu via sim ele me encarando. Até que, do nada, ele foi até Val e começou a conversar com ela, em seu ouvido. Ela ainda se mexia um pouco ao som da música e sorria. Ele simplesmente parou de dançar, dedicado só a fazê-la rir. Então, o que eu mais temia aconteceu. Ele a beijou. E eu senti uma dor tão intensa dentro de mim que não me deu só vontade de chorar... Deu também vontade de gritar, bater nele com toda a minha força. Como ele foi capaz de fazer aquilo? E não, eu não estava delirando sobre nós dois. Havíamos quase nos beijado no meu quarto. Suspirei, resignada. Acho que eu não havia nascido para ser feliz com alguém. Era melhor voltar a minha perseguição com Cadu. Isso pelo menos me livrava de sofrer como eu sofria naquele momento. Por quê? Porque eu estava acostumada a ser rejeitada por Cadu e pouco me importava... Porque acho que nunca gostei de verdade dele. E nunca pensei sentir o que eu sentia naquele momento. E só para piorar, minhas amigas começaram a bater palmas para eles.
Lorraine, como que percebendo que eu estava como uma estátua no meio da pista, me puxou pelo braço e me levou para o bar. Ela sentou e eu sentei ao lado dela. Ela acendeu um cigarro. O barman veio até ela e disse:
- Ei, é proibido fumar aqui.
- Então em retire se for homem. – ela disse sem se preocupar.
Eu ri:
- Lorraine, você não existe.
- Relaxa. Quer um baseado ou uma bebida mais forte?
Olhei para ela e escolhi:
- Uma bebida mais forte.
- Vodca. – ela gritou ao barman, jogando fumaça na cara dele quando entregou o copo.
Brindamos e ela disse:
- Bebe tudo que amanhã tu não vai lembrar de nada.
- Você sabe o que está acontecendo, Lorraine?
- Juliet, eu não sou boba.
- E eu tentando entender...
Eu só não estava pior porque eu já tinha bebido um pouco. Então realmente estava um pouco mais relaxada.
- Se a vodca não der certo, vou te dar um baseado.
- Minha mãe me mata...
- Ela não vai saber.
Bebi de uma vez aquele líquido transparente e que desceu queimando minha garganta. Talvez mais fraco que tequila. Eu não olhei mais na direção de Nicolas e Val. Simplesmente não conseguia.
- Vamos dançar... Eu amo esta banda. E já fiquei com o vocalista. – ela gritou me puxando.
“Rastamanos” era uma banda de reggae perfeita. E muitas pessoas iam até o Manhattan para ouvi-los tocar. Eu gostava das bandas, mas nunca ficava na frente do palco, olhando para eles como as loucas que fazem qualquer coisa pelo vocalista. Nada contra, mas Lorraine era uma destas. Mas por incrível que pareça, o vocalista parecia cantar para ela. Aos poucos a bebida forte foi fazendo efeito e senti minhas pernas ficarem moles e meu corpo de mexer conforme o ritmo.
Na música seguinte, o baixista também cantava. O dueto estava fabuloso. O vocalista puxou Lorraine para o palco com ele e o outro me pegou pela mão e fez eu dar a volta e subir também. Tentei não olhar para nada... Só seguir o som maravilhoso que eles faziam. E que relaxava não só o corpo, mas também a alma. Ouvimos os gritos histéricos das meninas e deixei o backing vocal me agarrar por trás e dançar com as mãos na minha barriga. Éramos invejadas por todas as garotas presentes. Ainda assim eu me sentia péssima, mesmo tentando sorrir e fingir que estava tudo bem.
O DJ começou a tocar depois da música, que era a última apresentação da banda e assim que eles deixaram os instrumentos, nos levaram para o fundo do palco.
O que dançou comigo me ofereceu uma cerveja, que eu bebi no bico, até acabar.
- Gosta de beber no bico? – ele perguntou sarcasticamente.
- Gosto. – falei certa da dualidade da frase dele.
Quando olhei para o lado Lorraine já estava aos beijos com o vocalista. Ele acompanhou meu olhar e disse:
- Podemos fazer o mesmo que eles.
- Acho que não... Estou um pouco tonta... – confessei.
- Posso fazer algo que a deixará bem melhor. – ele mordeu o lábio.
- Valeu, mas hoje não.
Saí dali certa de que não queria ele. Eu sabia o que eu queria. E exatamente como conseguir. Quando cheguei nas minhas amigas, Nick estava abraçado a Val. Pedro estava na roda. Alissa com Denis e Dani, Nadiny e outras duas garotas que eu não conhecia.
- Sorte... Quase pegou o baixista. – disse Nadiny.
- Já não curto algumas coisas como curtia antes. – falei seriamente.
Fui até Nicolas e dei dois toques fortes com meu dedo indicador nas costas dele. Ele virou para mim e olhei para cima, encarando ele:
- Quero ficar com Pedro.
Val me olhou e não disse nada.
- Não... Você não vai ficar com Pedro. – ele falou sem pensar duas vezes.
- Vamos lá... Sou tão boazinha com você... O que ele acha de mim?
- Ele nunca falou de você na vida inteira.
Suspirei e cruzei meus braços:
- Eu já disse como vocês ficam fofos juntos?
E por incrível que pareça não era ironia. Realmente era um casal perfeito. Até na altura... Sim, pois ele achava que eu era baixinha agora. Além de hipócrita, dissimulada e convencida. E eu havia acrescentado vingativa. Eu já disse o quão vingativa eu podia ser?
Os dois não disseram nada. Ficamos os três nos olhando, numa tensão incomum.
Eu fui até Pedro, tentando dançar na roda. Acho que ele conseguia dançar pior que eu. Então fiquei de costas para ele e coloquei sua mão na minha cintura, me rebolando na altura dele. Se ele me dispensou? Claro que não. Não era bobo nem nada.
- Isso aí, vai fundo, Juliet! – gritou Nadiny.
Eu virei para Pedro e o encarei. Quando fui beijá-lo, senti alguém me puxando, fazendo meu corpo girar. Era Nicolas.
- Você está bêbada.
- Quem disse que estou bêbada?
- Eu digo.
- E eu fico com quem eu quero. Você não manda em mim.
- Não vai ficar com meu amigo.
- Calma, Nicolas... – disse Pedro quando viu que ele gritava.
- Então eu vou pegar outro. – falei saindo pela pista.
Antes que eu alcançasse o degrau, ele me pegou no colo, me colocando em cima do seu ombro como se eu não pesasse absolutamente nada.