Capítulo 29
2243palavras
2022-06-18 03:54
- Nicolas, você está ficando muito convencido... E prepotente.
Ele foi subindo os dedos vagarosamente e passou a alisar minha perna até chegar ao meu joelho. Óbvio que ele via minha pele arrepiada. Retirei meu corpo da parede e ele me puxou pelas pernas, me fazendo sentar na beirada da cama, com as pernas ao redor dele. Ficamos nos olhando e eu senti meu coração bater tão forte que quase achei que iria morrer. Ele alisou meu rosto, e eu senti seus dedos quentes. Passei meus braços em torno do seu pescoço e senti ele me enlaçar com os dele. Desci minhas mãos pelas costas nuas, que pegavam fogo como eu. Ele escorou a cabeça no meu peito e senti sua respiração quente.
- O que eu causo em você, Juliet? – ele perguntou sem me olhar.
Alisei seus cabelos finos, com seu rosto ainda escondido entre meu corpo e disse:
- Você molha minha calcinha... – confessei em voz baixa, ofegante.
Ele começou a gargalhar.
- O que foi? Você pediu para eu dizer... – me justifiquei.
Ele me deitou vagarosamente na minha cama e quando chegou perto do meu rosto, a porta se abriu e minha mãe entrou, fazendo ele se afastar rapidamente. Ela ficou nos observando e disse, um pouco constrangida:
- Desculpe atrapalhar, queridos. Mas eu vim justo avisar você, Nicolas, que não é para dar nenhum chupão na minha filha hoje.
- Nós só estávamos conversando, dona Olga. – ele disse.
- Espero que sim, porque se ela aparecer com outro chupão, eu vou deixá-la de castigo.
- Mãe! Você está acabando comigo! – contestei.
- Vou deixar a porta aberta. – ela disse escancarando a porta para trás. – Qualquer ruído ou gemido eu acordo, acreditem.
Ela saiu sem deixar eu me defender. Eu queria esquecer que tudo aquilo aconteceu.
- Pode desligar a luz, por favor? – eu pedi.
- Sim.
Ele levantou e desligou a luz, voltando para seu lugar. O que foi aquilo? Eu ainda sentia meu corpo trêmulo e quente. E pela primeira vez eu consegui visualizar eu e Nicolas sem roupa na minha cama. Eu não tinha dúvidas: eu queria Nicolas. E eu não só queria ele... Eu estava gostando do meu amigo. E não tinha certeza do que eu significava para ele.
Fechei meus olhos e tentei dormir, sem ter certeza se conseguiria.
- Você pode cantar para eu dormir? – ele falou.
- O quê? Esqueceu que eu tenho uma voz desafinada? E você não é um bebê para que eu lhe cante canções de ninar.
- E quem disse que era canção de ninar? Queria só esquecer a situação ocorrida anteriormente... Com algo engraçado.
- E eu cantando é engraçado, Nicolas Welling?
- Demais. – ele riu.
- Boa noite, Nick.
- Boa noite, Juliet.
Quando despertei a cama estava vazia. Não acredito que ele tinha ido embora sem se despedir. Corri até o banheiro e escovei meus dentes e saí correndo pela casa.
Ele estava sentado à mesa, com minha mãe e Otto, tomando café.
- Como assim ninguém me chamou para o café? – perguntei sentando, ainda de pijama.
- Achei que você estivesse cansada. Nicolas acordou cedo.
Ele serviu uma xícara com café para mim, sem eu pedir. Olhei e ele disse:
- Com leite, pouco café e muito açúcar.
Minha mãe nos olhou e sorriu. Peguei a xícara e bebi o café perfeito que ele me preparou. Eu casaria com um homem que me preparasse uma xícara de café diariamente.
Eu não precisava mendigar atenção e amor de um homem... Eu tinha um homem perfeito ao meu lado. Como eu nunca me dei conta disto?
Depois do café ele foi embora. Não quis ficar para o almoço. Assim que ele saiu, minha mãe foi ao meu quarto e disse:
- Por que mentiu que ele lhe deu o chupão?
- Eu não acredito que ainda estamos falando sobre isso.
- Não foi Nick.
- Como você pode dizer isso? Eu já expliquei que foi uma brincadeira.
- Foi Cadu. Um garoto que você corre atrás e não quer nada com você.
- Como você... Sabe disso?
- Ele me contou.
- O quê?
- Que foi Cadu quem lhe deu o chupão. E que esse cara não merece você.
Eu vou matar Nicolas! Foi a primeira coisa que me passou pela cabeça.
- Nicolas agora subiu ainda mais no meu conceito. Um rapaz sincero e verdadeiro. O que você quer mais?
- Eu não gosto dele. – falei sem ter muita certeza.
- Sim, prefere correr atrás de quem não a quer. Onde está seu orgulho? O que acontece com você? Não valoriza as pessoas que gostam de você, que se preocupam. Prefere sofrer, ir atrás de quem nunca mereceu sua atenção e carinho.
- Estamos falando de Nick e Cadu? – ironizei. – Ou estamos falando do meu pai.
- De Cadu e seu pai. Acho que vou marcar um médico para você. Ou psicólogo. Certamente o fato de seu pai ter abandonado nós duas trouxe sérias consequências para você.
- Você tem ciúme do meu pai.
- Eu não tenho ciúme. Sabe por quê? Porque quando você conhecê-lo, saberá exatamente do que eu estou falando. Ele nunca a procurou, em todos estes anos. E ainda acha que eu sou a errada e ele o certo? Vá para Paraíso... Atravesse o país atrás dele. Só não tenho certeza de que quando quebrar a cara estarei aqui esperando por você ainda. E desejo que quebre a cara com Cadu também... Para aprender a valorizar as pessoas que gostam de você.
- Você nem parece minha mãe falando isso... Quer que eu sofra?
- Se for preciso isso para que você aprenda e seja madura, sim. Você está acabando o ensino médio, se formando, vai fazer 19 anos. E tem a coragem de culpar uma pessoa inocente, que gosta de você, por algo que ele não fez?
Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ela saiu e fechou a porta. Peguei o telefone e liguei para Nicolas.
- Oi... – ele disse. – Sentiu rápido minha falta.
- Por que você não me contou que diria a verdade para ela?
- Porque eu não diria. Mas não pude mentir quando ela me encarou. Eu não sou assim, desculpe.
- Nick...
- Vai dizer que me odeia?
Eu ri em meio às lágrimas:
- Não consigo mais dizer isso para você.
- Quanta evolução.
- Desculpe por pedir para você assumir uma coisa que não foi culpado.
- Quando eu lhe der um chupão, eu vou assumir isso, não se preocupe. Ou no mínimo farei num lugar onde você não precise se justificar para ninguém.
- O que está acontecendo com você, Nicolas Welling? Está querendo me deixar sem palavras?
- Não sei... Nunca vi você sem palavras. Sempre a última é sua. O que me diz agora?
- Eu digo tchau.
Ele riu:
- Eu não esperava outra coisa de você... Está com medo.
- Eu não estou com medo.
- Então prove.
- Tchau. – falei desligando o telefone, sentindo meu coração batendo tão forte que quase saía de dentro de mim.
Realmente eu não conhecia aquele novo Nicolas, cheio de ironia e exalando desejo e sexualidade. Será que ele só queria tirar a minha virgindade?
A semana que se passou foi tranquila no Instituto. Em breve as aulas acabariam e iniciaria nosso estágio. Eu sabia que sentiria muita saudade das minhas amigas. Sabia que ainda nos encontraríamos, mas não seria mais a mesma coisa, pois não estaríamos juntas diariamente.
Alissa começou a namorar com Denis. E de uma hora para outra nunca mais ouvimos falar de Saul.
Na terça-feira, Nadiny nos entregou convites para sua festa de aniversário no Manhattan. Fiquei receosa. Nick e Tom no mesmo lugar. Eu já não tinha certeza se queria me meter em confusão novamente... Muito menos se queria ficar com alguém a não ser meu melhor amigo.
Já era quarta-feira e eu não havia conversado com Nicolas. Ele não me ligou e eu também não. Fui no Shopping segunda e terça-feira e ele não estava. No intervalo, estávamos sentadas debaixo de uma árvore, conversando tranquilamente quando Saul se aproximou.
- Alissa... Será que posso conversar com você um minuto?
O quê? Saul queria conversar com Alissa? Ela esperou três anos para ele falar com ela e agora que ela tinha um namorado ele decidiu que tinha algumas palavras para trocar? Ficamos observando os dois conversando e ela gesticulando.
- O que será que ele está falando? – perguntou Val.
- Não sei, mas eu estou com um frio na barriga por ela. – eu disse impressionada.
- Ele é um idiota. Viu que está perdendo e decidiu demarcar a área. Espero que ela seja firme. – disse Dani.
- Acho que ela será. – eu disse. – Ela está gostando de Denis.
Depois de uns dez minutos os dois foram um para cada lado. Ela estava com as bochechas rosadas.
- O que houve, Alissa? – perguntei.
- Ele... Convidou-me para ir ao Manhattan sábado. – ela falou quase sem ar.
- Como assim? – questionou Val.
- Exatamente isso. E eu respondi que já tenho companhia.
- Que orgulho de você, amiga! – disse Dani. – Agora só falta termos orgulho de Juliet.
- Terão... Pode acreditar. – eu disse.
- Mas ele falou mais que isso... Conte tudo. – pediu Val.
Sim, depois de três anos, além de convidá-la para ir com ele ao Manhattan, ele decidiu dizer que sempre a notava na escola, mas que tinha receio de falar com ela. Justo ele, o garoto que ficava com todas as garotas que atravessavam o seu caminho. Perdeu, Saul. Esta é a verdade. E Dani tinha razão. O próximo a se rastejar seria Cadu...
Eu fiquei feliz pelas nossas conquistas. Alissa tinha um namorado. E eu já fazia dias que nem pensava em Cadu. Mas ao mesmo tempo eu não via como dizer a elas que eu estava gostando de Nicolas. Seria muito estranho... E tínhamos um pacto de nunca ficarmos com os garotos que já tinham passado por alguma de nós. E seria eu a quebrar o pacto? Não... Eu esperava que não. Só não sabia como resolver tudo isso. Eu sabia que Val não gostava de Nick... Ela ainda só tinha olhos para Adriano. Mas havia ficado com ele inúmeras vezes e eu sabia que ele corria atrás dela. E Deus, se ele ainda gostasse de Val? Ele havia dado a entender que estava rolando algo entre nós. Mas nunca disse que não tinha mais interesse em Val. Eu estava fodida... Nick poderia me fazer sofrer mais que Cadu e o surfista tatuado. A diferença é que eles não tiravam minha coragem. Eu ia atrás, falava o que queria. Com Nick eu não conseguia. Simplesmente “travava”, incapaz de falar sobre meus sentimentos, como se aquilo não pudesse sair de dentro de mim, como se fosse proibido... Um pecado... Era assim que eu via o sentimento que começava a surgir por ele.
Nicolas me ligou na noite de sexta-feira.
- Oi... Achei que você não estivesse vivo. – brinquei.
- Sim, morri esperando você ligar.
Eu não disse nada. Ele continuou:
- Achei que não tivesse ficado tão chateada por eu ter contado a verdade a sua mãe.
- Não fiquei... Eu estava ocupada. – menti.
- Você vai ao aniversário de Nadiny no Manhattan? – ele perguntou.
- Vou... Ia mesmo ligar para te avisar. Como soube?
- Bem, eu e Pedro ganhamos convite das mãos dela.
- Que bom.
- Cadu também ganhou um convite.
Eu pensei que sentiria qualquer coisa... Mas não. Só fiquei pensando que inicialmente achei que poderia encontrar Tom e Nicolas no mesmo ambiente. Mas agora eu tinha a possibilidade de Cadu estar presente também. O que faria? Ficaria sozinha. Não poderia ficar com Nick porque minhas amigas estariam lá. Não ficaria com Tom porque não queria que Nick me visse com outra pessoa. E não ficaria com Cadu porque eu não tinha mais vontade de ficar com ele. Acho que finalmente eu havia superado Carlos Eduardo. E por incrível que pareça, graças ao meu amigo, Nick.
- Ei, você ainda está aí? – ele perguntou.
- Sim... Sempre. Estou bem. Não me importo de ele ir.
- Duvido. – ele riu. – Pago para ver.
- Superei Cadu.
- Jura? Desde quando?
Desde que me interessei por você. No entanto eu disse:
- Não sei explicar quando... Mas não me importo mais com ele.
- Nos encontramos no Manhattan então, amanhã?
- Sim.
- Lorraine vai?
- Eu acho que vou convidá-la.
- Convide... Eu gosto de sua prima.
- Gosta como? – me vi perguntando.
- Ciúme?
- Nem sonhe com isso.
- Louco para ver Lorraine. – ele disse.
- Já disse que odeio você hoje?
- Ainda não disse que me odeia... Nem que me ama.
Senti meu coração bater descompassado e um frio percorrer minha espinha.
- Rainha do drama, você está viva aí?
- Até amanhã, Nick.
- Não use vestido, por favor.
- Como assim?
- Fica ruim carregá-la de vestido, bêbada. Todo mundo vê sua calcinha.
- Nicolas, eu vou matar você.
Ele desligou. Eu ri. Tentaria levar numa boa. Não queria me apaixonar perdidamente por Nicolas. Ele ela perfeito... Por isso mesmo eu não merecia ele. Eu era completamente imperfeita.