Capítulo 28
2153palavras
2022-06-18 03:54
O dia de sábado amanheceu gelado e ventoso. Coloquei bastante roupa para não passar frio. Lorraine passou na minha casa e assim que chegamos ao ponto de encontro, Nicolas já estava nos esperando.
- Pensei que pudessem desistir por causa do frio. – ele disse.
- Claro que não. Se é para sair somos parceiras. – disse Lorraine. – Ainda mais com uma companhia como você. Além de querido e simpático ainda paga todas as despesas.
- Você é abusada. – ele riu. – Mas acho que isso é de família. Você leva meu dinheiro e sua prima minha paciência.
Ele abriu a porta do táxi para mim e eu entrei no banco de trás. Quando ele foi passar para o banco da frente, ao lado do motorista, Lorraine já estava lá. Ele sentou ao meu lado e ela virou para trás, piscando:
- Deita no ombro dele, Juliet, como você fez no sábado. Ficou fofo. Eu queria ter tirado um foto para vocês guardarem de recordação.
Eu fiquei completamente envergonhada e não me atrevi a olhar para ele. Só tive vontade de matar Lorraine com minhas próprias mãos. Olhei pelo vidro, tentando disfarçar.
Levou uns quinze minutos para chegarmos ao Shopping da cidade vizinha. Já estava anoitecendo. O lugar era grande, com três andares e muitos vidros por todos os lados.
- O que vamos fazer? – perguntei.
- O que você quiser. – ele disse.
- Puta que pariu, eu não aguento vocês dois juntos. – disse Lorraine acendendo um cigarro. – Fico até deprimida com tanto amor.
- Chega... – falei tentando aparentar tranquilidade. – É só amizade.
- Sim... Depois de ele ter te dado banho, botado pra dormir, ter feito café da manhã... Quando é que vocês vão se “pegar”, afinal?
Antes que eu respondesse, ela jogou fumaça de cigarro na minha cara, como sempre fazia e disse:
- Vou dar uma volta, pombinhos. Além de não querer estragar o lance de vocês, preciso dar uns beijos na boca.
Ela saiu sem nos deixar responder.
- Nick, não dê importância a nada do que ela diz, por favor. – eu pedi. – Estou morrendo de vergonha.
- Você, com vergonha? – ele riu. – Vou fingir que acredito.
- Sim, eu tenho vergonha de você algumas vezes. – confessei.
Ele começou a andar devagar e eu o acompanhei.
- Achei que nada fizesse você ter vergonha.
- É que você é tão centrado, Nick... Tão correto... Tão...
- Perfeito? – ele completou rindo.
- Bem, é isso. E eu sou absolutamente imperfeita.
- Não existe perfeição, Juliet. Ninguém consegue fazer tudo certo.
- Você consegue.
- Eu não consigo.
Subimos a escada rolante e eu fiquei um degrau acima. Quando virei para falar com ele ficamos na mesma altura, como nunca aconteceu antes. Me perdi por alguns segundos naqueles olhos azuis tão claros e profundos, não lembrando nem o que eu ia dizer.
- Acho que nunca mais você vai ficar na minha altura de novo. – ele riu. – Então aproveite.
Estávamos tão próximos... Nossos lábios estavam a alguns centímetros de distância. Eu não consegui não olhar para a boca dele sem disfarçar. Mordi meu lábio, confusa e amedrontada com o que Nick começava a causar em mim.
Ele não parou de olhar nos meus olhos um minuto sequer. Achei que iria rolar um beijo, mas chegamos ao fim da escadaria. Então me virei e segui. Sentamos na praça de alimentação.
- Você acha que eu só vivo para comer? – perguntei.
- Pelo que sei, sim. – ele disse pegando um cardápio. – Sanduíche?
- Pastel... E cerveja.
- Cerveja?
- Quero me arriscar em coisas novas.
Ele arqueou as sobrancelhas, curioso:
- Não sei se gosto ou não disto.
- De eu beber?
- De você querer arriscar coisas novas.
Logo veio o nosso pedido e eu bebi a cerveja que ele serviu. Fiz careta:
- Realmente não gosto.
- Não precisa beber se não gosta. Não entendo porque pediu.
- Como eu disse, quero arriscar.
- Quem sabe não arrisca outras coisas.
Bebi todo o copo. Ele ficou me olhando e perguntou:
- Por que você bebe assim?
- Nick, sem lição de moral.
- Você sabe que eu tenho problemas com relação a bebida, não?
- Você já me contou. Mas não se preocupa, eu não vou ser uma alcoólatra.
- Você é muito nova. Pode curtir sem beber deste jeito. Fiquei preocupado com você na noite de sábado. Eu tive que praticamente arrastá-la porque você não tinha forças nem para caminhar. Imagina se não fosse eu... E sim outro homem. Poderiam ter tirado sua virgindade e você nem saberia.
- Se preocupa com minha virgindade, Nick? – ironizei.
- Sim... E você também deveria.
Abaixei minha cabeça. Ele perguntou:
- O que você vai fazer com relação a Cadu?
- Eu vou tentar esquecer Carlos Eduardo. Acho que está na hora.
- Jura? – ele ironizou. – Pensei que você nunca falaria isso.
- Eu sou insistente quando quero algo.
- Acho correto, desde que isso não fira sua dignidade.
Olhei para ele, que fez um carinho no meu rosto:
- Antes que diga que me odeia... Eu sou seu amigo. Só quero o seu bem.
- Você ainda gosta de Val? – perguntei.
- Não compare Cadu com Val.
- Por quê?
- Porque não. Mas por que você quer saber, afinal?
- Curiosidade. Estou tentando esquecer Cadu e gostaria de saber se você vai desistir dela ou ainda tem esperanças.
- Não sei. – ele disse.
Olhei para ele sem ter certeza dos reais sentimentos dele por ela. E aquilo estava me matando.
- O que faz com que você perca completamente a noção correndo atrás dele... Quando todas as coisas estão tão claras dizendo que ele não gosta de você?
Suspirei e tentei responder sinceramente:
- Sabe, Nick, eu não sei... Mas sempre fui assim. Gostei de pessoas impossíveis a minha vida toda. Se disser que gosto de homens fáceis estaria mentindo. Eu gosto deste jogo de conquista e sedução. Quando confirmo que depois de tudo que passei ele está gostando de mim, eu me sinto bem e confiante novamente. E parece que então o desejo simplesmente desaparece. Então eu procuro outro para “perturbar”.
- Quem foi seu primeiro amor?
- Eu... Não sei. Eu amei tantos que já nem sei quem foi o primeiro. E já cheguei a me perguntar se realmente foi amor com algum.
- Também acho que você nunca amou de verdade. E se um dia decidir fazer isso, me promete que não vai ser com Cadu.
Eu ri:
- Prometo.
Bebemos e conversamos até quase meia-noite. Lorraine nos encontrou alguns minutos antes de sairmos quase na mesma hora que o Shopping fechou.
Pegamos um táxi de volta para casa e primeiro deixamos Lorraine em casa. Quando chegamos em frente à minha casa, minha mãe e Otto estavam no portão.
- Pois bem, acho que você vai ter que enfrentar minha mãe. – eu disse para ele.
- Por algo que eu nem fiz... – ele suspirou. – Você nunca vai achar um amigo como eu e sabe bem disto, não é mesmo?
- Sim...
Descemos e ele disse ao motorista:
- Um minuto... Já volto.
Ele foi cumprimentar minha mãe e Otto.
- Como demoraram. Eu já estava preocupada. – disse minha mãe.
- Você não levou seu telefone, Juliet? – ele me perguntou.
- Esqueci... Ainda não estou habituada.
- Bem, ela está entregue sã e salva, dona Olga. Agora eu preciso ir.
- Nem pensar, garoto. Juliet me disse que você está sozinho em casa, que seus pais estão viajando. Você fica aqui...
- Obrigado, mas não é necessário.
- Não me faça esta desfeita, Nicolas. Não aceito não como resposta.
- Fique, garoto. Só assim ela fica em casa conosco também. – insistiu Otto.
Depois de tanta insistência, ele pagou e dispensou o táxi. Eu fiquei até envergonhada com o que fizeram com ele. E ficaria mais ainda quando minha mãe tocasse na história do chupão.
Assim que entramos minha mãe disse que prepararia algo para comermos.
- Nem pensar, mãe. Acabamos de comer. Se eu colocar mais alguma coisa no estômago, vomito.
- Nicolas, está com fome?
- Não mesmo, dona Olga. Não se preocupe comigo.
- Bem, amanhã vemos algo para fazer então. Já é tarde e então vou deixar vocês ficarem à vontade. Nicolas, não temos um quarto extra, então você vai dormir com Juliet.
Olhei para minha mãe atônita e vi a reação de surpresa de Nicolas.
- Não na mesma cama. – ela riu ao ver nossa preocupação. – Isso não vai acontecer na minha casa, só para deixar claro. Nem depois que vocês estiverem namorando.
Ela saiu, sem me deixar contestar. Olhei para ele:
- Nicolas, perdoe minha família... Começando pela minha prima e terminando pela minha mãe. Finge que nada disso aconteceu. Eu poderia cavar um buraco e me enterrar aqui, juro.
- Relaxa... Está tudo bem. Parece-me que ninguém acredita em amizade verdadeira entre um homem e uma mulher.
- Ainda bem que nós acreditamos, não é mesmo? – dei um tapa no braço dele.
- Acreditamos? – ele me encarou.
Senti um frio na minha barriga. Agora Nick estava ficando engraçadinho. O que ele queria, me deixar ainda mais confusa?
Otto chamou Nick e eu fui tomar um banho. Quando saí do banheiro, minha mãe havia arrumado a cama no chão para ele. Ela me olhou e disse:
- Durma de roupa, ok?
- Claro, mãe. O que você achou, que eu dormiria nua?
- Você já deixou ele lhe dar um chupão... Para o próximo passo é rapidinho.
- Então por que chamou ele para dormir aqui?
- Porque fiquei com dó dele ficar sozinho todo o final de semana. Você não?
- Sim... Mas convidei ele esta semana para jantar e ele recusou.
- Eu gosto deste garoto.
Coloquei um pijama de manga comprida e deitei, me cobrindo. O quarto estava gelado. Nicolas entrou um pouco envergonhado:
- Não posso dormir com você, hein? Otto entrou na minha mente.
Eu ri:
- Meu Deus, isso poderia ficar pior?
- Posso usar seu banheiro? Preciso tomar um banho.
- A vontade. Talvez eu esteja dormindo quando você sair. Estou com sono e cansada.
- Finja que não estou aqui, Juliet. Fique tranquila, não quero incomodar.
- Você não incomoda. Sinto-me bem com você.
Ele me olhou e entrou no banheiro. Em alguns minutos ouvi o barulho do chuveiro. Meu coração batia forte. Nicolas dormiria no meu quarto. E eu teria que ser forte para fingir que tudo estava bem e que eu não estava interessada nele. E eu estava? Deus, eu acho que sim... Eu estava. Esperei até que ele desligasse o chuveiro e então virei para o lado da parede, fingindo estar dormindo. Não queria vê-lo recém saído do banho. O que eu não entendia é que sempre fui corajosa com quem eu gostava. Eu fazia qualquer coisa quando me interessava por alguém, mas com ele simplesmente eu não conseguia. Ficava bloqueada.
Ouvi a porta se abrindo e depois de um tempo acredito que ele tenha deitado.
- Quer que eu deixe a luz ligada ou desligada? – ele perguntou.
Virei para ele e o vi deitado no chão:
- Como sabe que eu estava acordada?
- Sabendo.
Peguei o travesseiro e joguei nele, que se defendeu com os braços:
- Quer fazer guerra de travesseiros? Não estamos velhos para isso?
- Foi bom o banho?
- Sim... Estou cansado também. E acho que posso ter bebido além da conta.
- Eu também.
- Só não vomite em mim... Eu não vou lhe dar banho novamente.
- Não se preocupe. Meus pés doem. Acho que caminhamos muito.
- Quer uma massagem?
- Hum, você faz massagens, Senhor Perfeito?
- Faço qualquer coisa que você quiser.
- Jura? Então deixe eu testar esta sua nova habilidade.
Retirei as cobertas e sentei atravessada na cama, me escorando na parede. Coloquei meus pés para baixo. Ele sentou e estava sem camisa. Não pude deixar de olhar para o peito nu dele pela primeira vez.
- Não precisa ficar envergonhada de admirar meu belo corpo. – ele disse sem se importar.
- Você está de calça, não é mesmo? – meu ouvi perguntando.
- Claro que sim. Acha que dormiria nu na sua casa?
- Eu dormi na sua. – falei.
- Quer que eu retribua a gentileza?
- Não conhecia seu lado safado e irônico.
- Você não me conhece... Eu já disse isso várias vezes.
Ele retirou minhas meias e passou a mão pelos meus pés, iniciando a massagem. Senti meu corpo se arrepiar ao toque dele. Ele me olhou e riu:
- Relaxa... É só uma massagem. Não precisa ficar arrepiada. Não consegue mais disfarçar o que eu causo em você?