Capítulo 27
1703palavras
2022-06-18 03:53
Meu Deus, minha mãe iria me matar!
- Me conte agora o que aconteceu, Juliet.
- Foi... Nicolas.
- Nicolas? Você ficou com Nicolas, Juliet?
Eu não sabia se isso a deixaria mais tranquila ou mais furiosa. Mas resolvi arriscar:
- Não... Foi só uma brincadeira.
- Brincadeira de marcar o corpo? Se chupar? Acha isso legal?
- Não... Foi realmente uma brincadeira.
- Você beijou ele?
- Mãe! – falei envergonhada.
- Sim ou não?
- Não.
- Está tentando me dizer que deixou Nicolas chupar seu pescoço mas não deixou ele lhe dar um beijo na boca?
- Mais ou menos isso.
- Eu tinha certeza que vocês se envolveriam...
- Mas a gente continua amigo...
- Ok... – ela disse saindo enquanto segurava a roupa.
- Mãe?
Ela me olhou:
- Você não se importa se Nick me deu um chupão? Mas se fosse outro se preocuparia?
- Eu sempre vou me preocupar com você... Porque você é a minha filha. O que eu tenho de mais importante na minha vida. Mas faço gosto de você e Nicolas juntos. Ele é um bom menino. Diferente dos outros que você já namorou até agora.
- Ele me deu um chupão. E não é meu namorado.
- Mas vai ser. – ela piscou.
- Você poderia não conversar com ele sobre isso?
- Claro que vou tirar satisfações com ele.
- Então ele nunca mais virá até nossa casa. – chantageei.
- Eu ligo para ele.
- Mãe! Assim você me deixará completamente constrangida.
- Dê um jeito de esconder essa marca de Otto. Ele ficará furioso.
- Mas...
- “Mas” nada. Ele ainda é dos tempos antigos. Pensa como um dinossauro. Preocupa-se com os vizinhos vendo você chegar de madrugada, com sua reputação, que possa prejudicá-la em arranjar alguém sério no futuro. Isso é ridículo? Sim, é. Mas ele se preocupa com você. Só isso.
Ela saiu e eu peguei o telefone, ligando para Nicolas.
- Oi... – a voz dele estava estranha.
- O que você está fazendo? – perguntei.
- Estava dormindo. Acabei de ser impedido por você.
- Nick, a minha mãe viu o chupão no meu pescoço.
- Você não escondeu? – ele ainda estava sonolento.
- Eu disse que foi você.
- O quê? – ele praticamente gritou do outro lado.
- Nick, ela ia me castigar para o resto da minha vida.
- Então você decidiu botar a culpa em mim?
- Ela gosta de você... Vai perdoá-lo.
- Juliet, por que você não contou que ficou com o garoto que você “ama” e que ele lhe deu chupão? Pode completar dizendo como você sempre afirma: que vai namorar com ele, casar e ter filhos. Acho que ela não vai se importar que seu futuro marido tenha feito isso. Aposto que Cadu gostaria de se justificar e assumir tudo isso com Dona Olga. – ele ironizou.
- Você é horrível.
- Não vai completar dizendo que me odeia? – ele ironizou.
Desliguei o telefone e joguei na mesa. Deitei novamente. Levou uns cinco minutos e ele ligou novamente. Eu não atendi. Deitei e fechei meus olhos, tapando meus ouvidos. Eu não queria ouvir mais nada, nem falar com Nicolas. Eu comecei a chorar e nem sei por que eu estava fazendo aquilo. Só sei que uma incerteza começou a tomar conta de mim... Assim como a dor ter sido desprezada por Cadu mais uma vez. Eu queria ter forças para esquecê-lo e rejeitá-lo. E eu estava completamente confusa com relação aos meus sentimentos por Nicolas.
Na segunda-feira encontrei minhas amigas na aula. Alissa estava bem interessada no garoto que ficou no sábado no Lounge 191. Eles haviam marcado de se encontrar novamente. E por incrível que pareça, ela não tocou no nome de Saul em nenhum momento. Estava encantada com Denis. Alissa era apaixonada por Saul, mas não se privava de ficar com outros. Mas ela nunca falou tanto de alguém com quem tenha ficado como falava em Denis. Eu fiquei feliz por ela. Todas nós precisávamos nos livrar de nossos “fantasmas”. Acho que Saul foi o primeiro. Ainda tinha Cadu e Adriano para sumirem definitivamente das nossas vidas.
- Você dormiu na casa de Nicolas? – perguntou Val.
- Sim... Mas como o maior respeito, Val, juro.
Ela riu:
- Tudo bem... Não quis insinuar nada.
- Por que você não ficou com ele? Entendi que lhe daria uma chance quando falou do presente. – perguntei.
- Ele não se aproximou muito de mim. Praticamente passou a noite sentado escorado na parede. – ela sorriu. – Acho que ele já não é mais tão obcecado por mim. Talvez as flores tenham sido a despedida.
- Não acho que ele seria capaz de esquecê-la.
- Vai saber...
- Você acha que jamais teria chance de se apaixonar por ele, Val?
- Jamais. Gosto dele, mas sem nenhuma pretensão a torná-lo algo mais sério na minha vida.
Respirei aliviada. Nadiny chegou e sentou ao meu lado:
- Como estava a noite no Lounge 191, meninas?
- Boa... – falou Val.
- Perfeita. – respondeu Alissa.
- E você, Juliet... Gostou?
- Fiquei com Cadu. – expliquei.
- Eu soube...
Ela abriu aquele sorriso gigante dela, com a boca falsa de sempre.
- Soube? – perguntei. – Eu só lhe disse agora...
- Cadu me contou.
Sim... Ela tinha que começar tudo de novo. Parece que ela sempre queria avivar ele dentro de mim.
- E ele disse o que, exatamente?
- Eu sabia que você não se conteria em saber só isso... – ela sorriu de novo e colocou a mão sobre a minha. – Ele me disse que vocês tinham se encontrado e que tinha sido uma noite legal.
- Legal?
- Sim. Daí eu pedi o número dele para passar para você.
- Você o que?
Como ela pôde fazer aquilo sem pedir minha autorização?
- E adivinha? – ela perguntou.
- Você agora tem o número dele. – afirmou Val.
- Não mesmo. Ele não quis dar.
- Não quis dar? – perguntei aturdida.
- Sim... Disse-me com todas as letras: acho melhor não.
- Idiota. – falou Alissa.
- Não... Ele não é idiota. – eu disse. – “Eu” sou idiota.
- Mas não acho que você deva desistir dele, Juliet. Vocês combinam tanto... – ela completou.
- Sério? Você é a única pessoa a dizer isso. Até hoje todos, e eu digo todos mesmo que conheço, acham que não temos nada a ver.
- Ah... Mas é porque não conhecem Cadu de verdade.
- E você conhece?
- Sim.
Eu nunca gostei dela. Agora eu oficialmente gostava menos ainda.
A semana transcorreu sem novidades. Não liguei para Nicolas depois do ocorrido. Na quinta-feira, quando eu estava em casa, tarde da noite, ele ligou:
- Oi, Rainha do Drama.
- O que você quer? – perguntei.
- Ainda brava comigo? Por que não foi ao Shopping nenhum dia?
- Estava esperando por mim, Nick?
- Dia ou outro talvez...
- Confesse que sente minha falta e não vive sem mim. – brinquei.
- Para quê? Para você dizer que me odeia?
Eu ri:
- Fala sério... Não fique chateado. Você sabe que eu amo você.
- Ama?
Eu fiquei em silêncio. Eu precisava desfazer aquele mal entendido:
- Sim... Como não amar meu melhor amigo?
- Fui promovido a melhor amigo agora?
- Claro que foi. Acho que você sabe mais sobre mim do que minhas amigas que conheço há anos.
- Bem, eu liguei para convidar vocês para sairmos no sábado.
- Onde? – perguntei.
- Quem sabe um cinema?
- Cinema? Odeio cinema.
- Juliet, você é difícil para caramba.
- Por que não gosto de cinema?
- Um Shopping na cidade vizinha?
- Só nós dois? Isso não seria legal. Poderiam pensar que somos namorados e estragaria a chance de ambos conhecermos alguém interessante.
- Então convide Lorraine.
- Lorraine? Achei que você não quereria ver ela nunca mais depois do que aconteceu.
- Por que eu não quereria ver ela? Se fosse assim também não quereria ver você, que fez bem pior.
- Nicolas, ela fumou maconha.
- E você bebeu até não lembrar o próprio nome e vomitou nos meus pés.
- Você nunca vai me perdoar?
- Já perdoei... Mas não esqueci. Eu já lhe disse que sou uma pessoa que perdoa facilmente, mas nunca esquece?
- Ainda não... Mas é bom saber. Você deve ter uma boa lista contra mim.
- Enorme...
- Este celular foi a melhor coisa que eu já recebi na minha vida.
Ele riu do outro lado:
- Estou imaginando você deitada na sua cama com a colcha rosa olhando para o teto.
- O que eu estaria fazendo neste horário? Esta foi fácil.
- Está enrolando seus cabelos com o dedo.
Parei de enrolar meu cabelo imediatamente.
- Ficou calada... Eu acertei.
- Não... – menti.
- Eu conheço muito bem você, Juliet.
- Que horas e onde nos encontramos? – perguntei temerosa do rumo da conversa.
- Dezenove horas, no ponto de táxi.
- Vai pagar a corrida?
- Claro, vocês estão sempre “duras”.
- Por que não me contou que você é rico?
- Porque eu não sou rico.
- É sim...
- Repetindo: não.
- Seus pais já voltaram?
- Não.
- Você está sozinho?
- Sim.
- Quer vir jantar aqui amanhã?
- Nem pensar.
- Por quê?
- Como acha que vou olhar para sua mãe depois de ela achar que eu lhe dei um chupão?
- Com a mesma cara de sempre.
- Até sábado, Rainha do Drama.
- Até... Nick.
Ele desligou e eu fiquei ali, com o telefone na minha orelha, querendo ficar ouvindo a voz dele. O que estava acontecendo comigo? Eu não queria gostar de Nicolas. Eu não queria de forma alguma perder a amizade dele. Porque ele era importante para mim. Era alguém para sempre ter por perto, podendo contar a qualquer hora. E isso não acontecia com casais. Casais não se davam bem... Eles se magoavam e a vida ficava triste. Eu preferia meu amigo do que um namoro sem sal... Porque era isso que aconteceria no fim.