Capítulo 26
2427palavras
2022-06-18 03:52
Ah, quando olhei para sua boca chamando pelo meu nome e pedindo um beijo eu simplesmente paralisei. Até que ponto ela sabia o que estava fazendo? Até que ponto eu estava preparado para uma garota como aquela na minha vida?
Fui até ela e assim que me aproximei ela se abaixou e vomitou nos meus pés. Seria cômico se não fosse trágico. Segurei os cabelos dela enquanto ela colocava tudo que bebeu para fora. E eu fiquei olhando para o céu cheio de estrelas e tentando pensar no quanto eu era azarado. Por que eu não fui atrás dela antes de ficar com Val naquela noite? Por que eu não cheguei na vida dela antes de Carlos Eduardo? Sim, eu estava todo vomitado e ainda pensava na possibilidade de “nós dois” existir. Como eu poderia chamar o sentimento que crescia dentro de mim?
Lorraine havia entrado e já saído novamente. Parou e cruzou os braços, falando ironicamente:
- E ela ainda critica meu cigarro e minha maconha, você acredita?
Uma Juliet era um desafio. Mas uma Juliet e uma prima de Juliet era um teste de sanidade mental. Eu ainda queria estar vivo no outro dia.
Quando Juliet terminou, eu a peguei no colo e a levei para dentro. Subi as escadas com ela, com Lorraine atrás:
- Onde estão seus pais? Seu irmão? Sua família? Você não moraria aqui sozinho. É muito jovem para isso.
- Estão viajando. Não tenho irmãos. – respondi sem vontade. Ela também não parava de falar nunca? Será que toda a família delas era assim?
- Você é rico?
Olhei para ela me seguindo. Será que ela não percebia que Juliet precisava de mim?
Fui até o quarto de hóspedes e abri a porta:
- Fique à vontade, Lorraine. Este quarto é todo seu.
- Meu Deus! – ela disse entrando.
- Estou indo... Preciso limpá-la.
- Ei, você não pode dormir com a minha prima. Eu acho que ela é virgem ainda. – ela disse escorada na porta.
Como se o problema fosse Juliet ser virgem e não ela estar completamente bêbada.
- Entregarei ela sã e salva amanhã. Prometo.
- Quer que eu ajude?
- Não. – falei depressa.
Eu não queria ajuda. Eu sabia que ela preferiria que eu fizesse aquilo do que Lorraine.
Abri a porta do meu quarto e levei-a imediatamente até o banheiro. Coloquei-a de pé no Box e liguei o chuveiro. Retirei o vestido dela, deixando-a com a calcinha e o sutiã.
- Porra, esta água está fria. – ela gritou se sacudindo.
Ajustei a temperatura e deixei mais quente. Já estava todo molhado. Ela ficou sem se mexer, com a água caindo em seu corpo. Comecei a passar sabonete nela... E tentei encontrar as celulites. Mas ela não tinha, como havia afirmado. Eu ri. Ela caindo de bêbada, eu todo molhado e tentando achar algum defeito nela.
Ela virou de costas e descansou a cabeça na parede. Coloquei seus cabelos molhados sobre seu ombro direito e ela ficou imediatamente arrepiada. Vi a marca avermelhada em seu pescoço e senti raiva. Deu-me vontade de deixá-la ali, sozinha e com a água gelada. Ela que se fodesse. Eu acho que ela nem merecia o que eu fazia por ela. Girei a temperatura e deixei a água o mais gelada possível.
- Nick... Eu estou com frio... – ela reclamou sem se virar ou retirar a cabeça da parede.
Eu ri. Eu não conseguia ser cruel com ela, embora ela sempre achasse que eu era. Logo amornei a água novamente e quando vi meu pau duro desisti de banhá-la. Aquilo poderia sair de controle e eu não era um cara que se aproveitaria de uma garota por ela estar bêbada.
Sequei-a rapidamente. Ela olhou para mim e disse:
- Nick, você quer ficar comigo?
- Não... Eu não quero. – falei tentando convencer a mim mesmo que conseguiria resistir a ela até o final da noite.
- Nick... Por que ninguém gosta de mim?
Levei ela até a cama e disse:
- Eu gosto de você.
Ela deitou e eu fui até o armário. Peguei uma camiseta. Caralho, as roupas de baixo dela estavam molhadas. Eu não poderia deixá-la dormir assim. O que fazer? Chamar Lorraine?
- Nick... Você me ama?
Olhei para ela deitada quase nua na minha cama, com os olhos parados, sem reconhecer sequer onde estava. Se fosse outro a foderia sem pensar duas vezes. Mas ela teve sorte... Era eu. E sim, eu faria amor com ela... Mas com ela sóbria. Retirei sua calcinha tentando não pensar em nada.
- Diz que me ama, Nick... Porque ninguém me ama... E se ninguém me ama, só sobra você para me amar...
Retirei seu sutiã e vi seus peitos pequenos completamente duros e perfeitos. Eu nem tenho certeza se meu pau deixou de ficar duro desde que retirei seu vestido. O lado bom é que eu acho que ela sequer percebeu. Coloquei a camiseta e deite-a novamente. Peguei uma manta, cobri-a e liguei o ar condicionado para a temperatura ficar agradável. Ela já estava com os olhos fechados. Observei-a e dei um beijo na sua testa:
- Eu acho que posso amar você, Rainha do Drama.
Abri meus olhos e fiquei tentando entender onde eu estava. Levantei a cabeça e senti uma forte dor. Aquele não era o quarto de Alissa, muito menos o de qualquer uma de minhas amigas. A cama era de casal, o quarto amplo e todo branco. Tinha um armário sob medida em toda a parede e uma escrivaninha cheia de livros. Só havia o som do ar condicionado ligado. Vi o telefone jogado sobre a mesa de canto e reconheci a mochila: Nick.
Caralho, estou na casa do Nicolas? Levantei imediatamente da cama e percebi que usava uma camiseta e estava completamente nua por baixo. Senti medo... O que teria acontecido? Eu não lembrava de absolutamente nada. A última lembrança era de eu pedindo marguerita no bar do Lounge 191. Depois só havia um borrão. Fui até a porta que imaginei ser um banheiro. Eu estava certa. Fiz xixi e peguei o creme dental, escovando meus dentes com o dedo e depois comendo um pouco da pasta mentolada. Eu estava com um gosto péssimo na boca. Procurei por minhas roupas e não encontrei nada.
Resolvi sair dali e entender o que estava acontecendo. Coloquei os braços sobre meus seios, envergonhada e me sentindo nua. Na verdade eu estava quase nua. Havia várias portas e eu não sabia para onde ir. Ouvi vozes e as segui. Desci as escadas e vi Nicolas e Lorraine sentados numa sala grande e bem decorada, com sofás confortáveis beges. Ambos estavam com canecas nas mãos e pareciam estar se divertindo.
- Acordou, Bela Adormecida. – disse Lorraine. – Achei que dormiria para sempre.
- Me diga, por favor, que foi você que trocou minha roupa. – pedi.
Ela olhou para Nicolas e disse ironicamente:
- Não fui eu não.
Olhei para Nicolas, que não disse nada. Simplesmente levantou. Eu desci o último degrau e fiquei parada.
- O que estamos fazendo aqui?
- Bem, você bebeu todas e não poderíamos levar você para a casa de Alissa, porque ela disse que a mãe dela avisaria a sua. E não poderíamos ir para sua casa também. Muito menos na minha, porque além de eu levar você bêbada eu estava chapada. Então seu “amigo” nos trouxe para a casa dele.
- E os pais dele?
- Acredita que não estão? – ela riu. – Estou até pensando que ele possa ter botado algo na sua bebida.
Nicolas apareceu com uma xícara de café preto e me entregou.
- Não gosto de café preto. – falei.
Ele me olhou sarcasticamente, pegando a xícara de volta e disse:
- Não gosta de café preto, mas gosta de tequila. Quando eu vou entender você?
Ele saiu e eu fui atrás dele. Entramos numa cozinha gigantesca, com móveis de boa qualidade ocupando todas as paredes e eletrodomésticos de última geração. Ele colocou leite quente na xícara.
- Sem nata. – eu avisei.
- Quer que eu dê na sua boca, meu bem? – ele foi irônico novamente.
- Eu quero minhas roupas. – falei ainda com os braços nos seios.
- Não precisa ter vergonha... Já vi tudo que tinha para ver.
- Nick... Diga-me que... Que não fizemos nada.
- Sério que você não lembra? Foi tão bom... Você delirou de prazer e gritava meu nome alto enquanto gozava para mim...
O olhei temerosa. Ele disse, me entregando a xícara:
- Acho que era capaz de você ter gritado Cadu enquanto fazia amor comigo.
Bebi o café que estava perfeito: fervente e doce.
- Nick, me perdoa por tudo que eu fiz... Eu fui uma idiota.
- Sua roupa está quase seca. – ele disse saindo.
Eu o puxei pelo braço:
- Obrigada pelo que você fez por mim.
Ele me encarou:
- Como pode ter tanta certeza de que não transamos?
- Porque eu sei que você jamais seria capaz de fazer isso. Até porque você não gosta de mim... Gosta de Val.
Ele me olhou sem dizer nada. Eu tive vontade de abraçá-lo e não sei exatamente o motivo. Se era por gratidão ou porque o cheiro dele me deu um certo desejo sexual.
- Eu falei algo impróprio? – perguntei.
- Além de dizer que me ama?
- Eu... Falei isso? – coloquei minhas mãos na frente do rosto, extremamente envergonhada.
- Não... Estou brincando. – ele passou a mão nos meus cabelos, rindo. – Mas me pediu um beijo.
- Eu... Acho que era no rosto. – falei tentando justificar.
Ele gargalhou:
- Juro que tentei dar, mas você preferiu vomitar em mim.
- Não...
- Sim, se vomitou, me vomitou, tomou banho... Mas agora está tudo bem. Juliet está preparada para a próxima babaquice de Cadu.
- Eu não quero mais falar sobre Cadu. Nunca mais.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Jura? Por quanto tempo... Uma hora?
- Você... Ficou com Val?
- Não.
- Por quê?
- Porque tive que cuidar de você.
- Me perdoa... Por favor.
- Ele perdoa. – disse Lorraine. – Mas agora, pombinhos, precisamos ir. Ou minha tia Olga vai matar Juliet.
- Assim que a roupa de Juliet ficar pronta, chamo um táxi para vocês.
- Ficar assim, nua na sua casa... É estranho. – falei.
- Estanho nada. – disse Lorraine. – Melhor ficar nua com ele do que Cadu. – ela saiu.
- Você não está nua... Está de camiseta.
- Nick, você me viu sem roupa... Como vou olhar na sua cara de agora em diante?
- Da mesma forma como olha para a de Cadu... Ou de Tom.
Ele saiu e eu fui atrás:
- Ei, eles não me viram nua.
- Quer mesmo discutir sobre sua nudez? – ele perguntou virando abruptamente.
- Devo dizer que não?
- Fique tranquila... Eu não faria nada... Fingi que você era... Homem.
- Sou tão pouco atraente assim?
- Porra, o que você quer que eu diga?
- Nada...
Quem sabe diz que gosta de mim, Nick... E que gostou de trocar minha roupa e amou meu corpo. E que descobriu que quer a mim e não Val.
Caralho, o que eu estava pensando? Devia ser o efeito do álcool ainda.
Ele abriu a secadora e entregou minha roupa: primeiro o vestido, depois o sutiã e por último minha calcinha fio dental. Fiquei completamente envergonhada.
- Sim, você está vermelha. E se não quer problemas com sua mãe, esconda o chupão no seu pescoço.
Passei a mão no pescoço, lembrando do que havia acontecido na noite passada.
Tomei o restante do café com leite e subi para trocar de roupa. Assim que fiquei pronta, arrumei a cama dele. Por incrível que pareça, o quarto tinha o cheiro de Nicolas. Fui até a escrivaninha e vi uma foto dele com um casal que certamente eram seus pais. Peguei na minha mão, observando melhor. A mãe dele era mais velha do que a minha e o pai também aparentava ter uns 60 anos ou mais. Se ele não tivesse me contado os problemas que tinha em família, eu poderia jurar pela foto que eram felizes. Ele era parecido com a mãe. Passei a mão no rosto sorridente dele. O que você está fazendo comigo, Nick? Bagunçando tudo dentro de mim... Ou organizando e botando tudo em seu devido lugar... A começar por Cadu.
Desci e o táxi já estava esperando. Ele nos levou até a rua. Lorraine deu um beijo nele e agradeceu:
- Valeu por salvar a pele da minha prima, Nick. Nos vemos por aí, com certeza.
- Podem contar comigo.
Eu fui dar um beijo no rosto dele... Senti sua barba mais crescida nos meus lábios. Foi estranho. Mas ele ficava lindo daquele jeito. Meus olhos entraram na imensidão azul que era o olhar dele. Eu poderia me perder naquele azul tempestuoso e viciante.
- Obrigada... E desculpe qualquer coisa. – falei.
- Está tudo bem... Não se preocupe.
Cheguei em casa logo depois do meio dia. Minha mãe e Otto estavam à mesa, almoçando. Dei um beijo nela e cumprimentei Otto.
Eu não queria brigar com ele porque era pior. Não gostava dele, mas não queria encrenca. Acho que eu começava a entender que ele não era meu pai e também não queria tirar o lugar do meu verdadeiro pai. Ele só queria um lugar na nossa família, onde ele estava há muito mais tempo do que eu lembrava.
Estava tudo tranquilo e fui para minha cama. Estava cansada e com sono e ainda com dor de cabeça. Tentei dormir um pouco, mas só ficava olhando para o teto e pensando em Nicolas. Por que eu estava pensando em Nicolas e não em Cadu? Mais uma vez Carlos Eduardo havia me destruído. O que ele pensava de mim? O que queria de mim? No fundo ele brincava com os meus sentimentos porque sabia que eu gostava dele. Mas ele não tinha este direito. E eu não podia deixar ele continuar se aproveitando de mim e pisando como se eu fosse um nada. Eu tinha Tom... E ele era tão apaixonante. Era hora de mudar a minha vida. E deixar meu sentimento obsessivo por Cadu para trás.
Minha mãe entrou no quarto e juntou a roupa suja do banheiro. Eu estava usando pijama antes das duas da tarde. Ela olhou para mim e perguntou entredentes, furiosa:
- Quem deu este chupão no seu pescoço?