Capítulo 22
1770palavras
2022-04-08 01:29
Na sexta-feira, enquanto eu fazia algumas anotações no meu caderno, Nadiny se aproximou de mim e disse no meu ouvido:
- Nicolas quer falar com você no Shopping depois da aula.
Levantei a cabeça e olhei para ela:
- Por que você está cochichando?
- Para Val não ouvir.
- O que tem ela ouvir?
Olhei Val duas classes à frente, conversando com outra colega nossa.
- Bem, ela e Nicolas...
- Ela e Nicolas não tem nada... Assim como eu e Nicolas também não temos nada. Eu gosto de Cadu ainda, embora não devesse. Nicolas só me ajuda.
- Sei... – ela disse e eu não consegui entender se ela estava sendo sincera ou irônica.
- Como e onde você o viu para trazer o recado?
- Almocei no Shopping e ele também estava almoçando lá. Então ele veio até mim e mandou o recado.
- É que nos vimos ontem... – falei tentando acreditar nela.
Ela arqueou os ombros:
- Desta vez sou só a garota de recados. Nada mais.
Ela saiu. Val voltou para o seu lugar à minha frente. Eu não queria me sentir culpada, muito menos esconder nada dela. Então falei:
- Eu vou encontrar Nicolas na saída hoje. Ele quer me falar algo. Tenho certeza que é sobre Cadu. Talvez ele esteja com a resposta da maldita carta. Você vem comigo? Por favor... – implorei.
- Não.
- Sem segundas intenções. Você não precisa ficar com ele. Só me acompanhar.
- Definitivamente não. Amanhã é o meu aniversário e eu não quero nenhum tipo de compromisso com ele, principalmente para esta data.
- Entendo...
- E você, afinal, vai ou não ou Lounge 191?
- Claro que vou. Não perderia por nada no mundo o seu aniversário.
- Sei... – ela ironizou. – Faz de conta que acredito que não é por causa do Cadu.
- Você acha que ele irá, Val?
- Ele não costuma ir lá? Algo me diz que ele irá sim... E que vocês ficarão juntos. Porque isso sempre acontece quando se encontram, não é mesmo?
- Sim. – falei esperançosa.
Alissa chegou e Dani atrasada, como sempre. A aula começou e eu não conseguia me concentrar, só pensando em tudo que faria no Lounge 191 se encontrasse Cadu. E se ele fosse com a namorada? Acho que eu poderia morrer se o visse nos braços de outra.
Tentamos prestar atenção na aula. Mas era sexta-feira e pré festa. Então não havia a mínima condição de ouvirmos a explicação da professora.
Assim que o relógio bateu 18 horas eu saí imediatamente. E não convidei ninguém para me acompanhar. Sim, eu andei sozinha até o Shopping. Tinha certeza de que Nicolas estaria lá. A possibilidade de ficar sozinha no Shopping ou em qualquer lugar me assustava um pouco.
Não fui de elevador. Preferia a escada. Por estar sozinha eu ficava mais à vontade em ambientes com mais pessoas.
Andei sem muita pressa até a praça de alimentação. Tinha um pouco de receio sobre o que ele falaria sobre a carta. Depois de Cadu estar com uma garota tudo podia acontecer agora. Pensei até na possibilidade de ele devolver a carta. Então eu choraria novamente. Respirei fundo e tentei ser esperançosa. Assim que avistei a praça de alimentação, lá estava Nicolas, no mesmo lugar de sempre. E sozinho também.
- Oi... – falei um pouco envergonhada quando cheguei.
A cena do dia anterior, eu chorando por Cadu, era lamentável.
Ele foi me dar um beijo no rosto e sem querer me movimentei e os lábios dele pegaram no canto da minha boca. Nos olhamos um pouco confusos. Senti meu coração acelerar um pouco. Mas não queria falar sobre o ocorrido. Era visto que foi um acidente. Sentei e perguntei:
- Por que mandou recado por Nadiny? Poderia ser qualquer pessoa, menos ela. – falei jogando minha mochila com raiva na cadeira vazia ao meu lado.
- Eu só vi ela ao meio-dia. Por que mandaria por outra pessoa?
- Ela acha que estamos escondendo de Val nossa amizade.
- E estamos?
- Não... Claro que não. – falei depressa.
- Então por que se preocupa. Val acredita mais em você ou nela?
- Em mim. – admiti.
- Então não temos um problema por aqui, Rainha do drama.
- Ok, estou curiosa. O que o fez mandar o recado, se nos vimos ontem?
Ele me entregou uma sacola de papel branco, sem nada escrito, com um laço. Olhei-o confusa:
- Não é meu aniversário.
- Quis lhe dar um presente. – ele disse sem sorrir.
Abri a sacola um pouco desconfiada e dentro havia uma caixa, embrulhada em papel de presente vermelho com um laço dourado. Retirei da sacola e desembrulhei vagarosamente. Assim que vi o que era, fiquei sem palavras. Pensei um pouco e disse:
- Eu não posso aceitar. – empurrei a caixa para perto dele.
- É um presente. Você vai aceitar.
- Nick... Eu não posso. Isso é muito caro!
- Comprei para você... Aceite. Ficarei ofendido se devolver.
- Por que você está me dando um celular?
- Para podermos nos falar sem precisarmos mandar recados.
- Nem meus pais me deram um celular... E eu fiquei uma noite sem ir ao Manhattan porque insisti que queria um.
- Pense que estou lhe dando porque assim podemos falar mais sobre Val e Cadu.
Olhei aquela caixa, contendo o que eu mais queria na vida: um celular.
- Val é uma garota de sorte. – falei sem me dar conta.
Ele riu:
- Também acho.
- Senhor Perfeito, eu gostaria de ter me apaixonado por você. – confessei.
Ele ficou me encarando um tempo, sem dizer nada.
- Me desculpe, Nick. Eu não quis deixá-lo constrangido.
- Não me deixou constrangido. – ele disse. – Só estou lembrando que a antes de Val naquela noite, eu vi você.
Senti minhas bochechas ficarem imediatamente vermelhas. Claro que eu lembrava daquilo. Mas cheguei a pensar que não havia tido aquela troca de olhares porque no fim, quando voltei, ele ficou com ela.
Nicolas passou a mão na minha bochecha e disse:
- Sem febre.
Comecei a rir:
- Já chamei você de bobo hoje?
- Não, só de senhor Perfeito. Já estou me acostumando com minha perfeição. – ele sorriu mostrando os dentes lindamente brancos a alinhados milimetricamente. Quando ele sorria, sua boca fazia uma ruga no canto. E só ele tinha aquilo. Nunca vi outra pessoa enrugar um pouco a boca quando sorria. Mas aquilo o deixava ainda mais charmoso. Percebi a barba dele crescendo cada vez mais e debochei:
- Está tentando ficar parecido com Tom com esta barba?
- Bem, falta alguns músculos, diminuir um pouco de tamanho e fazer algumas belas tatuagens... E nascer alguns anos antes.
- As tatuagens ficariam bem em você.
- Não gosto.
- Quem não gosta de tatuagens? – perguntei impressionada.
- Onde estão as suas?
- Não fiz porque minha mãe não deixaria.
- Você já não tem 18?
- Sim, mas ela insiste que enquanto eu morar na casa dela, tenho que ser obediente.
- Isso aí... – ele riu.
Baixei a cabeça. Enfim, havia conseguido mudar o assunto sobre a noite que nos conhecemos. Abri a caixa e retirei o celular de dentro. Era bonito e moderno. Não dos mais caros, nem dos mais simples.
- O que acha que aconteceu?
Olhei para ele confusa:
- Do que você está falando?
- De não termos ficado juntos naquela noite.
Novamente senti minhas bochechas queimarem e meu estômago dar uma reviravolta. Eu acho que era muito covarde para conversar sobre aquilo com ele.
- A deixei sem palavra, garota que sempre tem respostas para tudo?
- Você escolheu ela, eu acho. – falei de repente. Sim, foi aquilo que aconteceu.
- Eu queria ter escolhido você. – ele disse.
- Então teria um problemão hoje. – eu ri, tentando fazer tudo ficar em tom de brincadeira. – Afinal, eu tenho certa obsessão por uma pessoinha...
Ele riu:
- Sim, teria sido uma “furada”.
- E teríamos ficado juntos, não aconteceria novamente e hoje não teríamos um ao outro... Como amigos.
- Exato... E você não quereria perder um amigo como eu, não?
- Claro que não. Quem me daria um celular?
- Talvez seu namorado?
Olhei confusa para ele:
- Nick, eu não sei se estou gostando do rumo desta conversa.
- Ok. – ele se escorou na cadeira e descansou a cabeça nos braços, que se levantaram. – Preciso do endereço de Valquíria.
Olhei-o confusa e surpresa:
- Como assim? Vai visitar Val?
- Não... Vou mandar flores e um cartão de Feliz Aniversário.
- Vai mesmo? – perguntei não tendo certeza do que eu senti quando ele disse aquilo.
- Me parece que você não acha uma boa ideia?
- Por quê? – perguntei.
- Sua cara ficou péssima.
- Jura? Não... Eu acho uma boa ideia.
- Acha que ela vai gostar?
- Quem não gostaria, não é mesmo?
- Já ganhou flores?
- Já.
- E o que sentiu?
Eu ri:
- Nada.
- Nada? Como assim? Existe garotas que não gostam de receber flores?
- Eu prefiro um celular. – falei aconchegando a caixa ao meu peito.
Ele riu:
- Você é cara... E nada romântica.
- Se um dia for me dar flores, troque por chocolates. Flores murcham e morrem e eu não sei cuidar.
- Claro, comida em primeiro lugar.
- Mas Val irá gostar eu acho. Não temos os mesmos gostos.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Não sei se isso me deixa triste ou feliz.
Não entendi o que ele quis dizer, mas logo tratei de cortar o assunto:
- Nick, alguma resposta da carta?
- Não... Lembra que falamos sobre isso ontem?
- Sim... – disse um pouco decepcionada.
- Você tem visto Tom?
- Não... Nunca mais o vi.
- Achei que ele a procuraria.
- Confesso que eu também. Mas como você mesmo percebeu, eu tenho muitos defeitos, Nick. Nem todo mundo lida bem com eles.
- Todos temos defeitos.
- Me parece que você não.
Ele riu:
- Sempre achei que você brincava quando falava isso.
- Não.
- Juliet, eu tenho tantos defeitos... Acho que você ainda não me conhece.
- Medo... – falei rindo.
- Janta comigo hoje?
- Não posso, Nick. Não avisei minha mãe.
- Pode começar usando o celular.
- Amanhã e o aniversário de Valquíria no Lounge 191. Se eu chegar tarde, ela pode não deixar eu ir...
- E quando mesmo você ia me contar sobre a festa de Val?