Capítulo 21
1829palavras
2022-04-08 01:29
Depois que Nicolas foi embora, minha mãe disse:
- Acho que você deve namorar com ele.
- Mãe, ele é meu amigo. Não temos nada um com o outro. Ele gosta de Val e eu gosto de outro.
- E ele ajuda você em troca, isso?
- Basicamente. – confessei.
- Querida, ele é o namorado ideal.
Eu revirei meus olhos:
- Você disse isso de todos os meus namorados.
- Não... Ele é realmente o ideal.
Eu ri:
- Não crie expectativas, mãe. Eu não gosto dele.
- Já criei. – ela disse saindo emplogada.
Fui tomar um banho. Realmente estava cansada e Nicolas ficou ali mais tempo do que eu previa. A água quente fez com que eu relaxasse um pouco. Nicolas havia contatado tantas pessoas para chegar até a minha casa. Definitivamente ele gostava muito de Valquíria. Por que Cadu não fazia aquilo por mim? Poderia ser metade do que Nicolas fazia para se aproximar de Val. Suspirei. Eu tinha esperanças de que Cadu sentisse algo por mim, mesmo tudo indicando que não.
A semana transcorreu tranquila. Eu não havia encontrado Nicolas e estava sem notícias de Cadu. E isso ia fazendo esvair minhas esperanças. Eu havia mandado uma carta declarando que eu era apaixonada por ele. E o que ele fez? Ignorou completamente.
Na quinta-feira eu decidi ir com Dani até o shopping. Havia ido também na terça, mas não encontrei Nicolas. Talvez ele tivesse aula à noite. Mas parece que eu sentia que naquele dia ele estaria lá. E novamente com Pedro, no lugar que eles costumavam ficar: praça de alimentação, uma mesa pequena, próxima de um grande pilar.
- Ali está o seu “amigo”. – disse Dani. – E agora vai querer novamente que eu fique conversando com Pedro?
- Não... Agora eu já tenho intimidade com Nicolas. E sim, ele é meu “amigo”, nada além disso. Vamos juntas até lá.
- Olha a cara dele quando a viu. Amiga, ele pode querer qualquer coisa com você, menos a sua amizade. – ela riu.
Observei os olhos dele sobre mim. Sinceramente, não vi nada demais. Nenhuma segunda intenção. Nick gostava de Val e eu era ciente disso.
Ele levantou quando nos aproximamos e deu um beijo no meu rosto e no de Dani. Nicolas conseguia ser sempre simpático e fofo.
- Quanto tempo, rainha do Drama.
Sentei ao lado dele e tomei um gole do suco. Estava sem açúcar. Fiz uma careta e reclamei:
- Por que você não colocou açúcar? Está louco se gosta disso...
Abri um sache e coloquei no copo, mexendo enquanto todos me observavam. Depois tomei novamente:
- Bem melhor. Mas eu poderia colocar mais um eu acho. Prefiro um pouco mais doce.
Peguei o sache e ele parou minha mão com a dele antes que eu pusesse no copo:
- Eu gosto sem açúcar, você gosta com... Então deixamos no meio termo. Um sache e todos saem satisfeitos.
- Pode ser. – dei de ombros bebendo novamente.
- Sim... Ela é assim mesmo... Folgada. – disse Dani olhando para Nicolas.
- E eu não sei? – ele falou me olhando e balançando a cabeça.
- Devia ter pedido um suco para mim, Nick.
- E como eu saberia que você viria?
- Eu sempre venho... E você sabe.
Ele me abraçou e disse:
- Sim, eu sei. Da próxima vez, tento adivinhar se você vem ou não e deixo o suco esperando. Como na quarta, que você não veio.
Olhei para ele:
- Eu vim na terça.
- Desencontro? – falou Pedro rindo.
Eu já disse que Pedro era fofo? Tinha uma cara simpática. Talvez se Nick o levasse no Manhattan algum dia eu poderia facilmente dar uns beijos nele.
- Podemos sair um pouco daqui? – perguntou Nicolas.
Olhei para ele preocupada. O que ele queria?
- Sim... – eu disse bebendo todo o suco de uma vez.
Ele pegou o copo vazio e me olhou:
- Você é muito folgada.
- Eu posso fazer isso com você... Somos amigos e por isso eu não sou folgada. Não faria com outra pessoa.
- Ela faz comigo. – disse Dani. – Rouba minhas comidas e bebidas. Então sim, ela já se acha íntima.
- Ela tem sérios problemas com a comida. Você sabia que ela come bolo de almoço? – Nick perguntou.
- Sim, eu sei. Qual pessoa normal almoça bolo?
- Ela não é normal, não é mesmo? – ele riu e levantou.
Eu levantei e o acompanhei. Fomos andando e ele não falou nada.
- Para você ter me tirado de lá é algo que ninguém pode ouvir?
- Poder pode... Mas achei melhor falar primeiro só com você.
Senti um frio na barriga e a ansiedade tomando conta de mim. O que seria, afinal?
- Podemos sentar? – ele falou quando encontramos um banco de madeira vazio, de frente para a porta de uma pequena loja de roupas.
Sentei ao lado dele e o olhei preocupada:
- Nick, fale logo ou eu vou morrer. O que houve? Cadu deu resposta da carta?
- Não...
- O que pode ser pior que isso?
- Juliet, eu preciso lhe confessar uma coisa. Se não contar, eu não dormirei tranquilamente nunca mais.
Sinceramente, eu pensei que ele pudesse dizer: “Eu estou gostando de você.” Meu Deus, o que eu responderia de volta? Eu não correspondia ao sentimento dele... Fiquei tão confusa.
Mas ele disse:
- Acho que Cadu está namorando a garota que comentei com você...
- Por que você acha isso?
- Eu vi os dois se beijando... Na boca.
Olhei para ele sem saber o que dizer. Preferiria que ele dissesse que gostava de mim... Assim eu não ficaria tão sem chão como estava naquele momento.
Cadu ocupava minha mente e meu coração diariamente. Tudo que eu sonhava era encontrá-lo novamente e sentir seu gosto, seu cheiro, sua voz doce e seu olhar travesso. Mas tudo indicava que isso nunca mais aconteceria. Teria ele mostrado a carta à namorada? Como eu pude ser tão idiota?
Então senti as lágrimas escorrerem. Mais uma vez eu chorava por ele. E agora em público, no banco de um shopping... Nicolas me abraçou com força e beijou minha cabeça.
- Não fique assim, querida.
Eu não disse nada. Eu não queria falar. Só queria chorar e não sentir aquela dor que me corroia por dentro. Por que eu fui escolher Carlos Eduardo? Por que eu não fui atrás de Nicolas na noite que nos olhamos, antes de ele ficar com Valquíria? Eu não gostava dele com esta intenção, mas ele era uma boa pessoa e eu não conseguia vê-lo magoando uma pessoa como Cadu fazia.
Ele ainda me abraçava quando eu perguntei, sem olhar para ele:
- Sabe como eu me sinto, Nick?
- Eu acho que sei...
- Mas ainda assim você não viu Val com outro...
- Lembra quando eu disse que não havia me apaixonado?
- Lembro... – falei ainda segurando os braços dele que me envolviam.
- Exatamente por isso que eu não queria... Para não sofrer.
- Como se fosse possível dizer “eu não vou me apaixonar para não sofrer”. – ironizei. – Acha mesmo que a gente escolhe se apaixonar por uma pessoa que não gosta da gente?
- Acho que não... Seria melhor se pudéssemos escolher. Mas não podemos... Infelizmente. Então o sofrimento vem... E é real.
- Dói dentro de mim... Eu nunca na vida chorei por um homem... Pelo contrário, eles choravam por mim. E por ele isso já aconteceu duas vezes. E eu não quero mais passar por isso novamente.
- Se eu pudesse voltar no tempo, não teria entregue a carta. Teria rasgado e jogado fora, para ele nunca tê-la em suas mãos.
- Os dois devem estar rindo de mim neste momento.
- Não por isso... Talvez ele nem mostre para ela. Mas é uma confissão escrita, entende Juliet?
- Não sei se entendo.
Ficamos ali, abraçados. Enxuguei minhas lágrimas, mas não queria sair de perto de Nicolas. E ele, parecendo adivinhar isso, em nenhum momento me soltou.
- Eu sempre vou estar aqui... – ele disse. – Porque você é a minha amiga.
- A melhor de todas. – eu ri.
- A melhor de todas. – ele repetiu.
Afastei-me dele e ri novamente, tentando limpar vestígios de lágrimas no meu rosto.
- Eu devo estar horrível.
Ele limpou meu rosto com o dedo e disse:
- Não está...
Por um momento nos olhamos profundamente e eu poderia jurar que senti algo dentro de mim que não consegui explicar. Aqueles olhos me perturbavam. Então levantei abruptamente:
- Eu preciso ir.
Ele ficou me olhando, sentado, sem dizer nada. Comecei a andar e ele falou alto para que eu ouvisse:
- Ok, fuja se acha melhor assim.
Do que ele estava falando? Fui rapidamente até Dani e disse:
- Dani, vamos embora... Agora.
Ela me olhou confusa e pegou sua mochila:
- O que houve, Juliet?
- Vamos... Conto no caminho.
Eu contei a ela sobre a garota e Cadu. O que ela disse?
- Esquece Cadu. Ele não merece você.
- E eu não sei disto? Mas como se fosse possível simplesmente tirá-lo de dentro de mim.
- Por Deus, não me diga que chorou na frente de Nicolas.
- Eu chorei na frente de Nicolas. – comecei a rir.
- Do que acha graça?
- De ter chorado na frente de Nicolas... Isso é hilário. Não sei o que foi pior: saber que Cadu tem namorada ou o papelão que fiz com Nicolas.
- O que ele fez quando você chorou?
- Me abraçou... E não me soltou. – eu ri novamente, lembrando da cena ridícula a qual me submeti.
- Este garoto existe mesmo? – perguntou Dani.
- Não sei... Às vezes acho que ele é tão perfeito que não pode ser real, entende?
- E por que você não fica com ele?
- Dani, nós não nos gostamos.
- Você pode vir a gostar.
- Ele é de Val.
- Ele não é propriedade de ninguém.
- Eu... Não gosto dele... Nada além de amizade.
- Juliet, como você consegue ser imune à beleza dele? Como Val consegue recusá-lo?
- Dani, eu só tenho espaço para Cadu... Você sabe que fiquei louca por ele desde que nos conhecemos.
- Sabe o que eu acho?
- Se eu disser que não quero saber, você vai falar da mesma forma, não é mesmo?
- Claro que sim.
Eu ri:
- Então fale, Dani.
- Não acho que você gosta de Cadu. Você só é obcecada por ele. E isso acontece porque ele é difícil... Está fora de alcance. Quando você o tiver definitivamente, não o quererá mais.
- Isso jamais vai acontecer. Eu nunca o recusaria ou me enjoaria dele.
- Acho que já ouvi isso antes. – ela ironizou.
- Com Cadu é diferente dos outros.
Dani balançou a cabeça e não falou mais nada.