Capítulo 18
1632palavras
2022-04-08 01:27
- Não tenho intimidade com ele a ponto de ele me contar o que achou da carta. – ele disse.
- Então o que houve?
- Ontem eu vi ele com uma garota no intervalo.
Senti meu coração quase parando de bater naquele momento. Era como se o chão estivesse saindo debaixo de mim:
- Como assim?
- Calma, Juliet. Eles não estavam se beijando...
- Então por que você está me contando isso, Nick?
- Porque acho que ele gosta dela... Ou que eles têm algo, embora eu não tenha visto algo que confirmasse isso.
- Por que você faz tanta questão de acabar comigo? – perguntei seriamente.
- Não... Você não vai começar a me culpar novamente, não é mesmo? Eu me recuso a ficar aqui ouvindo você me ofender.
Peguei a mão dele assim que ele levantou e disse:
- Fica...
Ele me olhou e sentou novamente. O clima ficou tenso entre nós. Eu preferia que ele não tivesse me contado. Mas Nicolas não me poupava de nada... Nunca.
- Nick... Eu sabia que isso poderia acontecer um dia. Mas a carta não tem nada a ver, não é mesmo? E além do mais, pode ser só uma amiga.
- Nós somos amigos... Ele não é amigo dela, Juliet.
Respirei fundo:
- Val não gosta de você.
- Juliet, como você é imatura.
- Sim, esqueci que estou almoçando com o Senhor Perfeito. – ironizei magoada.
- Posso levantar e não voltar mais.
- Nick, eu acho que você acabou com todas as minhas esperanças. Talvez eu nunca encontrei Cadu porque ele sempre teve alguém, entende?
- Ele nunca o vi com uma garota antes na escola.
- Não faz diferença. Talvez eu tenha que virar a página mesmo. Foi muito tempo esperando por ele... E no fundo ele nunca me deu um pingo de esperanças.
- Juliet, você é linda, inteligente, divertida, espirituosa...
- Intensa, hipócrita, dissimulada...
Ele pegou minha mão e apertou:
- Desculpe pelas palavras ofensivas.
- Estou brincando. Não foi ofensivo. Até gostei. Não quero mesmo parecer uma garota fraca perante ninguém. Realmente faço o que quero para alcançar meus objetivos. E não tenho medo... E acabo afetando tudo que está no meu caminho. Eu sou assim... Não adianta. Se eu quero mudar? Às vezes acho que sim, outras acho que não. Não me entendo às vezes. Eu gostaria de não ser tão intensa... O resto eu aceito não como defeitos e sim como qualidades, mesmo sabendo que não se enquadram exatamente nisto. – eu sorri, retirando minha mão. – Agora eu quero olhar este cardápio e escolher o maior sanduíche sem dividir com você... Porque eu sou também egoísta. E acho que outras coisas que você ainda vai descobrir com o tempo.
- A garota que não divide a comida. – ele riu. – Acha que não sei disto?
Pedi um sanduíche duplo com bacon, batatas e refrigerante. Cadu pediu somente um sanduíche e suco.
Os lanches chegaram e ele perguntou:
- Você sempre come isto?
- Adoro. Se pudesse vivia de sanduíche.
- Morreria cedo.
- Faz parte... Não gosto e não sei cozinhar. Então me viro como posso quando estou em casa.
- Se não cozinha, come o que, exatamente?
- Miojo. Às vezes faço bolo.
- Come bolo no almoço?
- Não gosto de fazer comida, mas sou boa com doces.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Sua mãe sabe que você almoça bolo?
Eu ri:
- Vez ou outra sim. Ela tem tantas coisas para se preocupar comigo que não se importa com o que eu como, esta é a verdade.
- Você é “intensa” com ela também?
- Sou tudo que você já mencionou sobre mim e ainda mentirosa.
Ele riu:
- Você não existe, Juliet.
- Quer saber sobre Val? – tentei ser útil a ele de alguma forma, como ele tentava ser para mim.
Ele colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça, me olhando:
- Não sei... Você quer contar?
- Eu quero. Bem, ela gosta de um garoto a um bom tempo... Tipo, muito tempo. Ela não tem muita experiência com garotos também... Porque sempre focou nele entende?
- O que você quer dizer com “experiência com garotos”?
- Beijo na boca, ficar... Transar.
- Ela pouco beijou... É isso que está tentando me dizer?
- Mais ou menos. – falei tentando não falar mais que a boca, como sempre.
- Entendo... E ela é a menos experiente de vocês quatro, isso?
- Isso.
- Porque as demais... Já... Tiveram todas as experiências possíveis, estou certo?
- Não sei exatamente aonde você quer chegar...
- Sexo.
Pensei um pouco e perguntei:
- Quer saber sobre sexo e minhas amigas, exceto Val?
- Bem... Pode ser.
- Eu acho isso muito íntimo para falar com você. Não poderia expô-las desta forma.
- Nem Val você pode expor.
- Nick, eu não entendo o que você quer de mim, sinceramente. Eu acho que não deveria ter falado sobre ela. Mas achei que você quisesse saber.
- E eu queria. Mas quero saber sobre você também.
- Sobre mim? Por quê?
- Porque somos amigos, não somos? Ao menos acho que estamos começando a ser. Converso mais com você ultimamente do que com Pedro, que é o meu melhor amigo.
Eu ri:
- Eu também converso mais com você do que com minhas amigas às vezes.
- Isso é bom?
- Você também me critica, como elas. – admiti. – Mas é menos preocupado comigo.
- Eu me preocupo com você.
- Menos que elas...
- E qual sua experiência? Quando você transou pela primeira vez?
Fiquei olhando para ele. Devia ou não contar que eu era virgem? Isso era assunto entre mim e minhas amigas. Qual o motivo da curiosidade dele sobre isso? Tinha o lado bom de contar a ele: poderia saber o que os homens pensavam a respeito disto. O lado ruim: talvez ele me achasse uma idiota. Mas se éramos amigos... E sim, estávamos nos tornando muito amigos, eu podia contar a verdade. Não era como conversar sobre sexo com um garoto qualquer. Era conversar sobre sexo com um amigo. Eu não sei porque, mas confiava nele.
- Se não quiser falar sobre isso, tranquilo. – ele disse percebendo minha apreensão.
- Eu não me importo de falar... Eu nunca transei.
- O quê? – ele perguntou em tom alto, chamando a atenção de algumas pessoas próximas, que nos olharam.
- Quer anunciar no jornal? – perguntei furiosa.
- Desculpe... Mas eu realmente não esperava por esta resposta.
- Tenho cara de quem “deu” para meio mundo?
- Não... Mas também não parece virgem. Você ficou com Tom... Foi embora com ele.
- E não aconteceu nada.
- Como você conseguiu não transar com ele? Tom não é o tipo de cara que leva uma garota em casa e não a come.
Eu ri:
- Vamos usar seus termos então: não fui “comida” por ele, “cara”.
- Você me parece sempre tão segura... Mesmo com Cadu. Certa do que quer. Não achei que fosse virgem.
- O que segurança tem a ver com virgindade? Não entendi.
- Não entenda... – ele balançou a cabeça. – Sabe que se não quer perder a virgindade com Tom, não deve continuar isso, não é mesmo?
- Lá vem você se metendo na minha vida, Nick. E se eu quisesse transar com Tom, que mal tem?
- Nenhum... Só falei. – ele levantou as mãos em sinal de paz.
- Mas eu não vou perder minha virgindade com Tom. Vai ser com Cadu.
Ele me olhou seriamente, arqueando as sobrancelhas:
- Acha mesmo que isso pode ser planejado desta forma?
- Eu acho. Como foi sua primeira vez e quando?
- Eu tinha quinze anos. Foi com uma amiga.
- Uma amiga? – quase gritei.
Ele riu:
- Não tão amiga... Tínhamos um lance... Vez ou outra ficávamos e quando vimos rolou.
- Ela era virgem?
- Não.
- Com quantas garotas você dormiu?
- Você está mesmo me fazendo esta pergunta?
- Sim... Vamos jogar limpo.
- Isso não é jogar limpo. E xeretar a vida alheia. – ele riu.
- O que custa contar?
- Você contaria quantas vezes transou?
- Eu acho que sim... Pelo menos no início.
- Vai fazer tantas vezes assim? – ele riu. – E depois quer dizer que não terá nem dedos para contar?
- Não sei... Talvez. Mas se for com Cadu não será assim. Porque daí vamos transar e ficar juntos para sempre.
- Transando? – ele riu alto.
Revirei meus olhos:
- Também.
Olhei no relógio e vi que faltava 10 minutos para iniciar a aula:
- Nick, preciso ir ou vou chegar atrasada.
- Eu também. Hoje tenho aula de tarde e de noite.
- Eu vou pagar o almoço, como combinamos.
- Nem pensar. Eu vou pagar.
- Não... Eu devo isso a você.
- Vai, senão se atrasará. Eu pago este... Você paga o próximo.
- Acha que eu posso almoçar com você todo dia? Eu não posso não. Minha mãe é rígida.
- Então preciso conhecê-la. Assim conquisto a confiança dela e não se importará que você almoce comigo.
- Ela disse que não há amizade entre homem e mulher na nossa idade, acredita?
- Eu discordo dela.
- Eu também. Enfim, um dia eu posso apresentá-la a você. Mas tem algumas questões complicadas na minha família.
- Acha que a minha também não tem?
- Tem? – perguntei.
- Um dia falamos sobre isso... Mas hoje não quero que se atrase.
Fui saindo rápido e atirei um beijo para ele:
- Bom final de semana.
- Vocês irão ao Manhattan amanhã?
- Acho que sim.
- Nos vemos lá, então.
- Ok.