Capítulo 16
1672palavras
2022-04-08 01:26
No domingo à tarde, sem nada para fazer, peguei um caderno e uma caneta e comecei meu plano: escreveria uma carta dizendo a Cadu tudo que eu sentia por ele. E mandaria Nicolas entregar. Tinha a opção de pedir a Nadiny. Mas se Cadu se recusasse a ler ou devolvesse eu ficaria mais envergonhada se acontecesse na presença dela do que na dele. Afinal, ela tinha contato com quase todas as pessoas que eu convivia.
Eu não precisava de muita inspiração. Ele era a inspiração:
“Cadu
Talvez você esteja me achando completamente louca por estar escrevendo esta carta a você. Mas se eu não fizesse isso,eu me culparia pelo resto da minha vida.
Não sei explicar direito o que aconteceu comigo depois que te conheci no Manhattan. Mas tenho certeza de que não consigo tirá-lo do meu pensamento desde que nos encontramos pela primeira vez.
Paixão... É o que eu sinto. Não sei como, nem quando, muito menos porquê.
Se fosse possível escolher por quem nos apaixonamos seria bem mais fácil. Mas infelizmente isso não é possível.
Então quero que saiba que você ocupa meu coração. E gostaria de explicar que eu não gostaria de ter beijado aquele homem na última noite que nos encontramos no Manhattan. Mas não sei explicar o que aconteceu... Só que aconteceu. E que fiquei muito arrependida. Pois era com você que eu queria ter beijado durante toda a noite.
Não quero pressioná-lo a nada. Sei que a possibilidade de você sentir a mesma coisa que eu é remota. Ainda assim eu sentia que era hora de contar a verdade. Não quero ter mais arrependimentos com relação a você.
Juliet.”
Dobrei e coloquei dentro de um envelope. Eu não tinha o email dele para enviar e ainda teria que escrever da sala de computadores da escola. Então a carta tradicional, mesmo em desuso, ainda era a melhor alternativa.
Na segunda-feira depois da aula fui ao Shopping inventando uma desculpa para Valquíria ir sozinha para casa. Mas não encontrei Nicolas.
Na terça-feira fui com Dani ao mesmo lugar. Era costumeiro ele para lá depois da aula algumas vezes na semana. E eu estava certa. Ele estava bebendo com seu amigo Pedro. Passei por perto deles, mas Nicolas sequer olhou na minha cara.
- Acho que o namorado de Val não quer falar com você não... – observou Dani ironicamente.
Demos uma volta despretensiosa olhando lojas e depois sentamos na praça de alimentação. Dani sabia da carta. E depois eu contaria para Alissa e Val também.
- Ainda acho loucura esta carta. Mas de que adianta eu dizer isso para você, não é mesmo? Nunca vi alguém tão teimosa...
- Porra, Nicolas não vai sequer olhar para mim... Vai até lá, Dani. E diz para ele vir aqui.
- Eu? Por que você não vai? É você que quer falar com ele.
- Ah, Dani... Por mim. – implorei fazendo beicinho.
- Mais alguma coisa, madame? – ela debochou.
- Sim... Fique enrolando o amigo dele para Nick vir sozinho.
- Nick? Então eu não vi você xingando ele e o chamando de mentiroso no sábado? Poderia apostar que você também disse que nunca mais falaria com ele.
- E exatamente por isso que você vai até lá e não eu.
- O quê?
- Não corre o risco de eu ser ignorada por ele, entende?
Ela suspirou:
- O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo? Sabe que nunca vai achar uma amiga como eu, não é mesmo? E sobre ser ignorada... Pelo que sei você gosta muito disso.
- Você vale ouro. – falei fingindo não entender o que ela quis dizer.
Ela levantou e foi até lá. Fiquei olhando para ver a reação dele. Nicolas me olhou e levantou, vindo até mim. Dani sentou no lugar dele, conversando com Pedro. Senti minhas pernas um pouco trêmulas. Eu teria que pedir desculpas para ele. Eu odiava pedir desculpas... Até porque eu não estava tão errada. Ele tinha mesmo mentido. Mas se eu voltasse a reafirmar isso, ele não levaria a carta. Então engoli todo meu orgulho e assim que ele ficou na minha frente, disse:
- Oi, Nick...
Ele me encarou seriamente:
- O que você quer agora, Juliet?
- Poxa... Parece que nem quer falar comigo.
- Você não queria mais falar comigo, lembra?
- Eu estava bêbada... – sorri descaradamente.
Ele puxou a cadeira:
- Pois bem, com esta justificativa vou até sentar, para não correr o risco de cair para trás por tamanha hipocrisia.
Olhei para ele perplexa:
- Está me chamando de hipócrita?
- Estou.
Ficamos nos olhando um tempo, sem dizer nada. Eu não sabia o que passava na cabeça dele... Na minha eu tinha raiva e vontade de dizer horrores de coisas para ele. Mas sorri e engoli o resto da minha dignidade e pedi:
- Nick, me perdoe.
- O que você quer de mim?
- Como assim?
- Eu não sei se sou bom em decifrá-la ou se você que é muito transparente.
Arqueei minhas sobrancelhas:
- Ok, Senhor Perfeito, sem rodeios então. – tirei a carta da mochila e entreguei na mão dele. – Quero que entregue para Cadu.
Ele olhou a carta e depois me olhou demoradamente:
- Está falando sério ou é uma brincadeira para ver minha reação?
- É sério, Nick.
- Cara, o que você escreveu aqui?
Olhei-o e ele falou com voz mais mansa:
- Ok, retiro o “cara”. Mas ainda assim só entrego se souber o conteúdo.
- Estou confessando meus sentimentos por ele.
- Suas amigas sabem disto?
- Por enquanto só Dani. Mas amanhã contarei para Alissa e Val.
- Juliet, você só pode estar louca. Isso é uma carta... Uma prova de qualquer coisa, pois está escrito, com a sua letra e sua assinatura. Tem certeza de que quer mesmo fazer isso? E se ele não sentir o mesmo?
- Eu sigo minha vida... Tentando encontrar outra pessoa que um dia possa substituir o amor que tenho por ele... Mesmo sabendo o quanto isso pode ser impossível.
Ele guardou a carta no bolso.
- Cuide para não perder. – avisei.
- Guardarei com minha própria vida. – ele debochou.
- Por que você é assim, Nick? O que reprova entre mim e Cadu?
- Não acho que você deva correr atrás dele desta forma.
- Mas você faz isso com Val... Por que eu não posso?
- Eu não mando recados para ela por todo mundo que existe... Muito menos mando cartas.
- Mas a surpreende na escola, frequenta os mesmos lugares que ela... Que diferença tem?
- Juliet... Eu já disse o quanto você é... Intensa?
- Já... Mas ainda assim não justifica o que você disse. Eu gosto dele... Não posso deixar passar, entende?
- Está se desculpando por sábado?
- Um pouco sim.
- Juliet, não faça isso. Ele vai ficar completamente convencido e vai ser ainda mais difícil ficar com ele, acredite.
- Nick, eu não sou uma pessoa contida, entende? Se eu não falar a verdade a ele, eu vou explodir.
Ele riu e balançou a cabeça:
- Tudo bem... Vou entregar a carta. Mas... E Tom?
- Eu não tenho nada com Tom. A gente não tem compromisso ou algo do tipo. E eu contei a verdade a ele sobre a minha idade. Ainda assim ele me beijou. Ele é bem mais velho que eu... E a possibilidade de ficarmos juntos é remota. O que ela vai querer com uma garota como eu?
- Você é uma garota legal, bonita... Por que ele não quereria você?
- Obrigada pelos elogios, mas ainda assim eu não estou no patamar dele.
- E no de Cadu você está?
- Completamente.
- Posso ser sincero?
- Sempre... Por favor.
- Sempre não posso, pois você não curte muito sinceridade. Mas neste momento eu gostaria de dizer que acho que Tom gosta mais de você do que Cadu.
Revirei meus olhos:
- Sua função é entregar a carta e me dizer a reação dele. Só isso.
- Quanto vai me pagar?
Olhei-o confusa.
- Sim, pergunto isso porque está me tratando como se eu fosse um empregado seu.
- Ok, senhor Perfeito. Eu lhe pago... Um drinque no Manhattan... Um almoço ou janta em um lugar que você escolher...
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Comecei a gosta disto...
- Ou. – abri um sorriso. – Posso intervir a seu favor com Val.
Ele ficou sério e disse:
- Não... Por enquanto não.
- Achei que estava interessado nela ainda.
- Estou... Mas não quero pressioná-la. Pode ser pior para mim. E estragar o pouco de chance que ainda tenho com ela.
- Ok. Farei quando você pedir... Se pedir.
- Farei isso por amizade, Juliet. Não precisa me dar nada em troca. Eu apenas brinquei um pouco.
- Por isso eu gosto de você, Nick. Não existe ninguém tão perfeito.
- Cara, como você consegue ser tão dissimulada?
- “Cara”, você já me chamou de hipócrita e dissimulada em menos de quinze minutos. Bato em você agora ou depois?
Ele colocou a mão em cima da minha:
- Desculpa... Não foi com intenção de ofender. Pensei alto... Só isso.
- Nick, é isso que você pensa de mim?
- Não, não é.
Ele pegou na minha mão e eu retirei, não me sentindo muito a vontade com o toque. Ficamos um tempo sem dizer nada. Ele levantou:
- Quando nos vemos para eu dar o resultado da entrega da carta?
- Amanhã?
- Ok... E se ele não for na aula, depois de amanhã também? – ele perguntou em tom de deboche.
- Claro... Confessa que você gosta de me ver.
Ele riu:
- Hipócrita, dissimulada e convencida?
- Já disse que odeio você?
- Algumas vezes... – ele disse pensativo. – Mas acho que é da boca para fora, ou não teria me chamado, não é mesmo?
- Esqueceu que sou dissimulada?
- Cara, você não presta. – ele riu e saiu.