Capítulo 15
1989palavras
2022-04-08 01:25
- Vou pegar uma água para você. – ele disse levantando e me deixando ali.
Ele nem chegou ao bar e Val, Nicolas e Alissa estavam ao meu lado:
- Você está fodida. – disse Alissa.
- Culpa sua. – quase gritei com Nicolas.
- Culpa minha? – ele arregalou os olhos, colocando a mão no peito. – Você só pode estar louca.
- Você me disse que Cadu não viria.
- E eu não menti. Foi isso que ele me falou.
- Sim... E agora ele está ali, inclusive olhando na minha direção. – falei encontrando os olhos dele. – Corto meus pulsos agora ou depois?
- Depois. – disse Alissa. – Primeiro dá uns beijos no bonitão do Tom que ainda não ganhou nada.
- Juliet, você beijou o Giovane. Eu não acredito. – disse Valquíria.
- Eu não sei o que deu em mim...
- Ataque de loucura? – ironizou Alissa.
- Mas por que Cadu garantiu que não viria se está aqui? – falou Nicolas confuso.
- Nicolas, nunca mais fale comigo. Não vou perdoá-lo.
- A culpa não é dele. – disse Alissa. – Nadiny também confirmou que Cadu não vinha. Então é óbvio que ele realmente não tinha intenção de vir... Ou mentiu para os dois.
Tom chegou com a água, serviu num copo com limão e gelo e me entregou. Bebi todo o líquido que me foi servido.
- Passem para o camarote conosco. Estamos sozinhos. – ele convidou minhas amigas.
Pensei em dizer que Nicolas não poderia entrar. Mas não o fiz. Alissa pegou seu acompanhante e todos ficaram ali conosco. Por sorte Tom não me beijou, sequer encostou em mim. Só me fez beber toda a água que ele havia trazido. Procurei Cadu e não o encontrei mais por ali, nem os amigos. E em pouco tempo minha bexiga, cheia de água, suplicou pelo banheiro.
- Vou ao banheiro. – avisei, levantando.
Todos me olharam e nenhuma das meninas se ofereceu para ir comigo. Porra, teria que ir sozinha?
Atravessei a pista de dança e escorado na parede, próximo da porta que dava acesso ao banheiro, estava Cadu e alguns amigos. Senti meu coração bater tão forte que parecia que sairia para fora do meu peito. Só não fiquei pior porque havia bebido muito, então tinha uma leve sensação de que nada pior poderia acontecer naquela noite. Passei vagarosamente e ele me olhou. Mas só isso. Nenhum sinal de que viria até mim. Entrei no banheiro feminino e fui imediatamente para a cabine. Eu realmente estava muito apertada.
Ouvi ruídos na cabine ao lado. Fiquei na dúvida se alguém estava passando mal. Mas os ruídos eram gemidos. Porra, alguém usando o banheiro feminino de motel novamente? Seria aquilo de praxe? Sinceramente, eu não achava correto. E se fosse comigo e Cadu, por exemplo? Caralho, eu acho que mudaria meus conceitos neste caso. Eu já disse que eu não era nenhuma santa, não é mesmo? Então bati forte na parede em mármore e perguntei:
- Ei, tudo bem aí?
Ficou um silêncio do outro lado até que decidiram responder:
- Juliet, é você?
- Nadiny? De novo? – perguntei sem me conter.
- Porra, você vai ficar aí muito tempo? – ela perguntou.
- Estou saindo... Agora. – falei envergonhada.
Passei uma água nas minhas mãos e saí sem secá-las, jogando pingos de água no ar. Nadiny iria me matar.
Assim que saí tropecei em Cadu, que estava entrando na porta que dava acesso aos banheiros. Olhei para cima e nossos olhos se encontraram:
- Oi, Ju... Como está? – ele perguntou.
- Tudo certo... E você? – eu conseguia ver meu coração mexendo o tecido do meu vestido.
Ele me deu um beijo no rosto. Fiquei sem saber o que fazer. Falar? Pegá-lo à força? Dizer que eu era apaixonada por ele? Confessar que estava completamente arrependida?
- Achei que não viria hoje... – acabei falando corajosamente.
- Eu realmente não viria. Foi decisão de última hora... Dos meus amigos. Eu ainda prefiro o Lounge 191.
- Vou ter que ir lá uma hora destas para ver se realmente é melhor que o Manhattan.
- Aposto que você vai gostar bastante.
- Posso apostar que sim.
- Eu... Preciso ir. – ele disse saindo e nossas mãos se encostaram.
Achei que ele pudesse virar para mim, mas não. Seguiu entrando na área comum para logo em seguida acessar o banheiro masculino. Fiquei ali parada, sem saber exatamente como agir. Mas pude ver todos os amigos dele, que estavam próximos, me observando atentamente.
Então segui meu caminho, em ruínas, com toda meu orgulho ferido, e na certeza de que eu não ficaria com Cadu naquela noite. Era tão difícil encontrá-lo em qualquer lugar... Daí quando isso acontecia, eu cometia a burrada de ficar com uma pessoa que eu simplesmente não tinha nenhum tipo de sentimento... Pelo contrário, até repugnava um pouco. Pois era assim que eu me sentia com relação a Giovane. Sinceramente, não sei se foi o efeito da bebida que me fez beijá-lo para afrontar Alissa que não queria que aquilo acontecesse. Por que em vez de ouvi-la eu fui lá e fiz exatamente o contrário? O que eu tinha na minha cabeça? Por que eu fazia tudo errado?
Então voltei para o camarote, onde todos conversavam animadamente. Mas eu mal conseguia prestar atenção. Meus olhos ficavam procurando-o o tempo inteiro. Mas dali eu não conseguia vê-lo. No entanto depois de um tempo o vi deixando a pista e indo para o caixa pagar e deixar o Manhattan, junto de seus malditos amigos. Era como se ele levasse um pedaço de mim junto dele. Eu estava completamente destruída de culpa e raiva de mim mesma.
- Você não está legal hoje, não é mesmo, gatinha? – disse Tom no meu ouvido.
- Não... – confessei.
Por incrível que pareça, ele não tentou sequer me dar um beijo. Foi tão legal comigo. Livrou-me de Giovane, me deu água para tentar melhorar minha bebedeira, chamou minhas amigas para o camarote... Porra, eu não merecia aquele homem. Eu não merecia ninguém legal na verdade... Porque eu gostava de sofrer. E eu sabia que se ele ficasse insistindo muito em sua relação comigo, em breve eu enjoaria dele, como costumava acontecer. Para mim a conquista valia muito mais que o sentimento que vinha depois. Eu não gostava de nada que vinha fácil. Por isso as pessoas que mais julguei amar foram paixões platônicas. Afinal, quem ama todo mundo já amou alguém de verdade?
A noite foi a mais vagarosa a passar desde que fui pela primeira vez ao Manhattan. Assim que deu cinco horas eu comecei a bocejar. Já havia até curado a minha bebedeira. Todo mundo já havia ido embora, então era hora de irmos também. E eu dei graças a Deus que voltaríamos para casa. Tudo que eu precisava era de uma cama e um ombro amigo para chorar e me lamentar.
Tom pegou minha mão e ainda fez questão de pagar meu consumo da noite. E eu estava sendo mentirosa e isso era injusto com ele. Eu precisava dizer a verdade sobre a minha idade.
Quando saímos, ele disse:
- Vou levá-las em casa.
- Não precisa, Tom. – eu falei. – Chamamos um táxi e logo estaremos na casa de Alissa.
- Eu posso levar você direto para sua casa se quiser. – ele insistiu.
- Não... Vou dormir na casa de Alissa.
Minhas amigas foram com Nicolas para a escadaria do prédio da frente, certamente para me deixar sozinha com Tom.
- Ficou chateada por causa do homem que você beijou? – ele perguntou.
- Um pouco... Eu sequer gosto dele.
- Não é preciso gostar para beijar. – ele riu e me puxou para perto dele, me abraçando. – Geralmente isso acontece depois do beijo.
- Enfim, eu não queria ter feito isso.
- Se é por minha causa, tudo bem, gatinha. Não temos nenhum compromisso e eu sou bem ciente disto.
- Não é por sua causa.
Ele me fitou:
- Então o que houve que você ficou muda a noite toda?
- Tom... Eu preciso lhe contar uma coisa.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Esta frase geralmente me dá um pouco de medo, mas vamos lá.
Eu ri. Ele conseguia deixar tudo mais leve:
- Eu não tenho 21 anos. – falei colocando minhas mãos no rosto, não deixando ele me olhar.
Fiquei um tempo assim, com olhos fechados e as mãos na frente, até que depois de um tempo ele retirou minhas mãos e deu um beijo na ponta do meu nariz:
- Tudo certo. Pelo menos me diz que você tem no mínimo 18.
- Eu tenho exatamente 18.
Ele suspirou:
- Que sorte a minha então... Mas vou confessar que achei que você não tinha 21.
- Por quê? – perguntei curiosa.
- Por vários motivos, que não vem ao caso agora.
- Fiquei curiosa...
- Temos tempo para falar sobre isso... Ao menos eu espero.
Ele foi me empurrando lentamente até que me escorou na parede externa do Manhattan. Então me encarou, no fundo dos meus olhos, até me dar um beijo. Tom beijava muito bem... Era envolvente, quente, sua língua sempre desejosa e insistente, bem como suas mãos que me alisavam lentamente. Eu gostava de ficar com ele... Eu gostava dele. E se não fosse Cadu na minha vida, eu conseguia ver um relacionamento entre eu e Tom... Escondidos, porque minha mãe jamais aceitaria.
- Relaxa, gatinha. Vai dar tudo certo.
- Eu sei.
- Quero levar vocês.
- Não precisa, Tom... Não mesmo. Quero ficar ali com as meninas esperando o táxi. Mas obrigada pela gentileza...
Ele me deu um beijo rápido e disse:
- Vou indo então.
- Tá bom.
- Nos vemos novamente aqui... Já que você se recusa a ter um telefone.
Se ele soubesse que o problema não é que eu não queria e sim que eu não podia...
Eu simplesmente sorri e ele foi, andando e vez ou outra olhando para trás.
Atravessei a rua e sentei na escadaria, escorando minhas costas e minha cabeça na parede gelada e fechei os olhos.
- Este Tom é absolutamente perfeito. – disse Alissa.
- Cadu é perfeito. – contestei sem abrir meus olhos.
- Eu sou Perfeito. – disse Nicolas rindo para me provocar.
Olhei furiosa para ele:
- Você é absolutamente imperfeito.
- Acho que vocês dois já foram mais amigáveis em outras vezes. – observou Val.
- Sim... Quando ele não era um mentiroso. – eu disse.
- Você vai continuar? Será que vou ter que trazer Cadu aqui para provar que eu não menti?
- Não seria uma má ideia. – falei olhando-o seriamente.
- O que você quer mais? Ficou com o tatuado. Ele é melhor que Cadu. – ele disse.
- Quem é você para se meter nas minhas escolhas? Ou para saber quem é melhor ou pior? Você nem me conhece, Nicolas.
- Mas eu conheço Cadu.
- Você disse que não conhecia... Ou mentiu isso também.
- Eu desisto. – ele disse. – Você só quer lhe falem o que você quer ouvir.
O táxi chegou e eu corri, sentando atrás. Eu era boa em pegar o lugar preferido. Nicolas levou Val até o banco da frente e deu um beijo no rosto dela. Caralho, se beijaram a noite inteira e na hora de ir embora beijo no rosto? Nicolas era mesmo um idiota. E mentiroso. Eu não gostava mais dele.
Foi então que eu tive uma brilhante ideia. Meu coração estava completamente despedaçado. Eu iria me declarar para Cadu. E dizer tudo que eu sentia. Não podia mais guardar aquilo dentro de mim. Eu queria ficar com ele novamente a qualquer custo. Então eu precisava ir em busca do que eu queria e sabia que me faria feliz. E eu só tinha uma pessoa para me ajudar: Nicolas.