Capítulo 14
1916palavras
2022-04-08 01:24
Caprichei no visual no sábado em questão. Duas pessoas ficaram de levar Cadu ao Manhattan. Então certamente ele apareceria. E caso não fosse, nunca mais eu pensaria nele em toda a minha vida. O tiraria para sempre de dentro do meu coração. Eu estava ciente que Nicolas falou que ele não estava interessado em mim. Mas quem era Nicolas para dizer aquilo, se ele mal conhecia Cadu? E eu também não conseguia visualizar os dois conversando abertamente sobre mim, já que não eram amigos.
Usei um vestido vermelho, com as costas nuas, rodado na parte da saia e um sapato de salto alto nude, que me aumentava em dez centímetros. Se eu conseguia andar com ele confortavelmente? Claro que não. Sentia que poderia cair a qualquer minuto. O bom é que corria o risco de cair em Cadu, o que seria perfeito para pintar um clima.
Nos arrumamos e saímos da casa de Alissa, como era costumeiro. Na fila, fomos chamadas por Montanha, nosso segurança preferido, que nos passou na frente de todos, causando certa irritação nas pessoas que estavam atrás. Ele se limitou a dizer, com sua cara fechada e assustadora:
- Elas são VIP.
Éramos? Se sim, não sabíamos. Mas agradecemos e ofertamos muitos sorrisos a ele, que nem sempre correspondia.
Sempre que eu entrava no Manhattan, era como se a minha vida desse uma volta de 360 graus. Eu já falei o quanto eu amava aquele lugar? Talvez mais do que Cadu. Mal entramos e começou a tocar TNT. Eu? Surtei e corri para a pista. Dancei e cantei em voz alta toda a música que eu tanto amava. Quando acabou, vi Nicolas me observando e rindo, balançando a cabeça.
Fui imediatamente até ele. Será que ele tinha já uma resposta para me dar?
- Ele vem?
Ele parou de rir e disse:
- Não.
Revirei meus olhos:
- Mentiroso.
- Não estou mentindo.
- E por saber que ele não vem que você estava rindo deste jeito, me olhando? – falei brava.
- Eu estava rindo porque você é totalmente desafinada.
- Nicolas, como você consegue ser tão horrível?
- Por que disse que você canta mal ou por que falei a verdade sobre Cadu não vir?
- As duas coisas.
- Eu posso mentir, se você preferir: “ei, cantora que poderia até gravar um CD, Cadu estará aqui em alguns minutos, louco de amor por você.”
- Acho que eu posso começar a odiar você daqui para frente.
- Você não conseguiria. Eu sou um cara muito legal... E perfeito, como você mesma disse.
- Eu disse isso antes de conhecê-lo melhor. Agora eu já estou mudando de ideia. Acho que o Senhor Perfeito é Imperfeito. Eu já não lhe disse isso antes?
- E Val?
- Vai bem, obrigada. Do mesmo jeito que Cadu. – ironizei.
- Vi ela me olhando... Então vou arriscar e falar com ela.
- Espero que ela diga não.
- Sério que você vai fazer isso comigo, só porque eu joguei limpo e falei a verdade?
Vi Giovane entrando e logo os olhos dele me alcançaram:
- Não acredito que ele está aqui. – falei decepcionada.
- Ex? – ele perguntou acompanhando meu olhar.
- Não... Um idiota que me persegue.
Ele deu de ombros:
- Parece que você gosta disso às vezes.
- Do que?
- De desprezar quem a quer e ser desprezada por quem você quer.
- Idiota. – falei saindo.
Voltei para pista e já fiquei até temerosa de cantar. Nicolas havia dito que eu era uma péssima cantora.
Nadiny chegou logo em seguida e se juntou a nós. Eu queria perguntar sobre Cadu, mas preferi ficar quieta. Não queria ser a chata perseguidora de Carlos Eduardo. Mas em alguns minutos ela veio até mim, com seus dentes grandes e alinhados e a boca sorridente, dizendo:
- Juliet, Cadu não vem.
Olhei para Nicolas, que olhava para qualquer lugar, menos para nós. Ele tinha falado a verdade.
- Tudo certo... Eu não esperava mesmo.
- Ele disse que se decidir sair, irá ao Lounge 191.
- Vamos aproveitar... Ele que perde, não é mesmo? Afinal, o Manhattan é muito melhor.
- Toda vida. – concordou ela.
Dancei um tempo e fui até Alissa:
- Como está chato aqui hoje... Por que não vamos ao Lounge 191?
- Você só pode estar brincando... Há quanto tempo não viemos aqui. E a banda nem tocou ainda. Nem pensar. Bebe algo que passa seu tédio.
Revirei meus olhos. Ela era a que mais tinha chance de me dizer sim. Val certamente não aceitaria. Mas ainda assim eu fui até ela. Não era de desistir fácil:
- Val, quem sabe vamos ao Lounge 191?
- Por quê?
- Já imaginou se Adriano está lá? – tentei.
- Não está. Nadiny disse que ele foi para o litoral este final de semana.
Sério que eu conseguiria sair dali? Tinha a possibilidade de ir sozinha. Mas eu não podia fazer aquilo. Odiava sair sozinha, ainda mais para um bar noturno. E havia ainda a grande possibilidade de Cadu não aparecer nem lá, porque raramente ele aparecia em algum lugar.
Fui até o bar e tomei uma piña colada. Assim que acabei, pedi outra. Não havia outra coisa a fazer a não ser encher a cara. E Tom, não apareceria naquela noite? Será que até ele me deixaria na mão? E se Tom tivesse conhecido outra mulher no sábado que foi ao Manhattan sem mim? Corria este risco. Ele era tão bonito para estar sozinho. Esperei um tempo e realmente Tom não apareceu. Pedi uma dose de tequila. Precisava de algo mais forte, para esquecer a noite horrível. Bebi tudo de uma vez e observei Nicolas indo até Valquíria. Eles conversaram em torno de cinco minutos. Depois ele deu um beijo nela. E ela aceitou. Será que Val mentia que não tinha interesse por ele? Talvez no fim ela gostasse sim, mas não quisesse admitir. Eu já nem sei se queria tanto que ela ficasse com ele. Não gostava da forma como ele falava de Cadu. Tampouco das coisas horríveis que ele me dizia às vezes, sem piedade. Tudo bem que era verdade, mas ele não tinha nada de filtros. Falava sem se importar se aquilo me magoaria ou não. Ele era um grosso e insensível.
- Pelo visto hoje vou ter uma chance. – falou Giovane sentando ao meu lado.
- O que o faz pensar isso?
- O horário... Você ainda sozinha...
- Você só pode estar brincando.
- Sei tudo sobre você... E sabe disto.
- Observa o horário e as pessoas que eu fico? Acha que isso me interessa ou me faz ter algum tipo de admiração por você?
- Já foram duas pinas coladas, uma dose de tequila. Depois vão mais duas de pina colada e suas amigas levarão você tropeçando para a rua.
Arqueei minhas sobrancelhas:
- Você é um abusado, Giovane.
- O dos olhos azuis piscina é da sua amiga. – ele olhou para Nicolas, ironicamente. – O velho tatuado não veio e pelo adiantado do horário não aparecerá mais. Então sinto que hoje é meu dia de sorte.
- Por que você insiste em mim? Olha quantas garotas tem aqui... Por que eu?
- Porque você é a garota mais difícil que eu já vi.
Eu? Acabei gargalhando. Acho que eu era a garota mais fácil que ele já viu. O detalhe é que eu não queria ele, só isso. Ele era minha última opção... Ou melhor, ele nem era opção.
Enquanto eu pensava, ele me entregou um drinque: pina colada, óbvio. Revirei meus olhos, mas fui grata:
- Obrigada.
Enquanto bebia, Alissa parou ao meu lado e falou no meu ouvido:
- Se você ficar com ele, a mato.
Assim que ela disse aquilo eu puxei Giovane e dei um beijo nele. Não gostava de ninguém dizendo o que eu devia ou não fazer. E estava completamente indignada pela forma como Nicolas falou comigo. E por Cadu não vir, como sempre, e pela festa tediosa... E pelo álcool que já fazia efeito no meu sangue e na minha sanidade.
Não sei se é porque eu nunca tive nenhum interesse nele que o beijo foi tão horrível. Assim que o soltei, ele ficou me olhando perplexo. E Alissa simplesmente saiu, furiosa.
Percebi que Nicolas e Val também me olhavam, assim como Nadiny. Foda-se... Eu ficava com quem eu queria.
- Juliet, eu não acredito que beijei você.
- Fui eu que te beijei, Giovane.
- Podemos repetir?
- Não...
- Por favor, você sabe quanto tempo eu esperei para beijar você, senti-la?
Beijei ele novamente, sob os olhares perplexos das minhas amigas. Mas mais perplexa ficou eu, quando soltei-o e vi Cadu, alguns metros de mim, com os amigos, me encarando.
Senti vontade de vomitar, de tanto que minha barriga doía. Logo ele olhou para outro lado e eu fiquei ali, paralisada. Olhei para a pista e Nicolas, Alissa, Val e Nadiny me olhavam. Caralho, o que eu fiz? Ok, respira fundo, Juliet. É só Giovane... Ele não significa nada. E ali, a alguns metros, Cadu, o amor da sua vida, que tanto Nadiny quando Nicolas juraram que não apareceria no Manhattan.
Fui saindo e Giovane foi atrás de mim:
- Juliet, o que houve?
- Me deixe em paz. – falei sem olhar para ele.
- O que eu fiz de errado, por favor, me fala.
Parei e o encarei:
- Giovane, por favor... Não quero mais.
- Mas... Ao menos me explica o motivo.
- Não preciso ter motivo. Foi um beijo, só isso.
- Dois beijos.
- Que diferença faz, porra?
Se você acha que não poderia piorar, ah, poderia sim. Tom apareceu na minha frente e perguntou, diretamente para Giovane:
- Algum problema por aqui?
Giovane o encarou:
- Não sei... Pergunta para a sua namorada.
- Eu não sou namorada dele. – expliquei.
- Realmente não é... – disse Tom. – Mas você não vai fazer nada que ela não queira, entendeu?
Giovane levantou as mãos, em sinal de paz:
- Leva a garota... Mas que fique claro que “ela” me beijou e não o contrário.
Claro que Giovane não iria enfrentar Tom, que quase dava dois dele. Mas eu estava realmente fodida... Triplamente. Ou duplamente, pois Giovane não contava.
- Tudo bem, gatinha?
- Sim...
- Por que beijou ele?
- Eu... Acho que bebi demais. – inventei. – Aliás, minha cabeça está doendo... – Já nem tinha certeza se estava ou não bêbada.
- Quer que eu leve embora?
- Não! – quase gritei.
- Vem... Vamos sentar num camarote.
- Mas nós não temos um camarote. – eu lembrei.
- Eu tenho um... Sempre reservado para mim.
- Você é um vip?
- Sempre, gatinha.
Ele pegou minha mão e passei por Cadu, tentando não olhar para ele. Eu nem sei o que eu sentia. Havia ficado com Giovane, agora provavelmente ficaria com Tom. E daí? Cadu disse que não iria. Nicolas me garantiu que ele não queria nada comigo. Então acho que era hora de ele ver que eu havia o superado.
Sentei sozinha no camarote com Tom, que me puxou para perto dele:
- Então chega de bebida por hoje, gatinha.
- Ok... – assenti.
Enquanto o abraçava eu olhava por cima de seus ombros Cadu na roda de amigos, sem sequer olhar na minha direção.
Aquela tinha tudo para ser a pior noite de toda a minha vida.