Capítulo 11
2121palavras
2022-04-08 01:22
- Ah, então você também disse isso para ela? – perguntou Nicolas.
- Claro que disse... Eu conheço Cadu e não é de hoje. – falou Lorraine.
- Eu não quero ouvir vocês... – falei colocando as mãos nos ouvidos.
Lorraine retirou minhas mãos e olhou nos meus olhos:
- Não é que ele seja um garoto ruim, entende? Mas ele é imaturo... E nunca terá nada a ver com você.
- Lorraine, eu que tenho que saber sobre quem é ou não bom para se envolver comigo. E quanto mais ele fica difícil, mais eu me apaixono.
- Ok, não está mais aqui quem falou. – ela disse levantando as mãos em sinal de paz. – Faça o que quiser, você já está bem grandinha.
Olhei para Nicolas, que não disse nada.
- Vou comprar um cigarro e já volto. – avisou Lorraine saindo.
- Ela é legal. – observou Nicolas quando ela atravessou para o outro lado.
- Sim... Minha prima.
- E conhece Cadu melhor que eu. Acho que ela poderia ter ajudado e eu me poupado de ter que falar com ele sem sequer conhecê-lo.
- Eu juro que não sabia que ela o conhecia. Fiquei sabendo quando chegamos aqui.
- Cara, isso foi surreal.
- Nicolas, eu não sou “cara”. – falei sério.
- Desculpe... Vou tentar me controlar.
- Acho isso ofensivo.
- E não acha ofensivo ele sair sem sequer te dar um beijo?
- Ele me deu um beijo.
- Cara, você está louca!
Olhei para ele, que desta vez não se desculpou e não falou nada.
- Agora me diga, Senhor Perfeito, como foi que o convenceu a vir? Amarrou uma corda no pescoço dele?
- Eu tive que simplesmente chegar até ele no intervalo, me apresentar e dizer que eu conhecia uma garota que o conhecia.
- E...
- E que ela era louca por ele.
- Você fez isso? – perguntei atordoada.
Ele riu divertidamente:
- Claro que não, Juliet. Eu não faria isso.
- Quase me fez infartar.
- Eu perguntei se ele gostava de vir ao Shopping... E que eu tinha uma amiga que sempre vinha e que o conhecia. Que já tinha visto vocês dois juntos e...
- Eu não quero saber o resto. – falei de repente.
- Como assim?
- Tudo que você for me falar envolve eu ter convidado... Então melhor me privar disso.
- Você que sabe... E agora, como faremos para você cumprir sua parte do acordo?
- Eu já falei com Val... A semana inteira.
- E...
- Ela vai ficar com você de novo. – tentei convencê-lo.
- Eu acho que Val não quer nada comigo.
- Quer sim... Não se preocupe.
Lorraine voltou, fumando. Sentou e ficou nos observando, tilintando seus dedos na mesa:
- De onde vocês se conhecem?
- Ele ficou com Valquíria, aquela minha amiga. – expliquei.
- Valquíria ficou com alguém? – ela riu.
- Sim...
- Isso é um milagre. – observou Lorraine.
- Então você conhece Cadu e Val também? – perguntou Nicolas para ela.
- Sim, conheço. E não sei dizer qual de vocês dois está mais fodido. – ela falou jogando a fumaça na nossa cara.
Eu abanei com meus dedos a fumaça e fingi tosse. Ela pouco se importou.
- Sua prima aqui garantiu que pode convencer Val a mudar de ideia com relação a mim. – observou Nicolas.
- E você quer ter alguém que precisa ser “convencida” a ficar com você?
- Não. Por mais que eu tenha gostado dela, acho que não quero que seja desta maneira. – ele admitiu.
Olhei no relógio e disse:
- Precisamos ir, Lorraine.
- Sim, ou seu padrasto mata você.
Nicolas me encarou e perguntou:
- Problemas no paraíso, Rainha do Drama?
- De Paraíso só existe aquela praia paradisíaca, onde tudo é perfeito. Minha vida real está longe de ser assim. – confessei.
- “Rainha do drama”... Há quanto tempo você a conhece mesmo? A vida toda? – ironizou Lorraine.
- Parece que sim... – ele me olhou. – Num momento ela parece transparente, pois eu consigo identificar todos os seus sentimentos. No outro ela parece uma parede de pedra, sem chance de atravessar para entender o que há do outro lado.
- Sou transparente... Não há nada do outro lado. – eu disse levantando e dando um beijo no rosto dele. – Obrigada. Você me deixou muito feliz hoje, acredite. Não vou dormir esta noite, pensando em Cadu e no beijo que trocamos.
- Se você está bem com tudo da forma como foi, eu vou dormir tranquilo.
Saímos e Lorraine perguntou:
- Por que você ainda não agarrou ele mesmo?
- Porque eu não gosto dele, porque não tenho tesão por ele, porque ele é completamente louco pela Val?
- Se eu ver ele na noite, eu agarro... Juro. Ele é lindo, perfeito... O que são aqueles olhos?
- Bonito... Só isso. – falei sem empolgação. – E se você ficasse com ele e ele se apaixonasse por você, eu estaria salva.
- Val é louca ou o quê? Quem recusa um homem como Nicolas? Ele é zero defeitos.
- Lorraine, ele tem defeitos sim. E se convivermos mais com ele, os encontraremos.
- Eu poderia tentar descobrir os defeitos dele, sem problemas. – ela ironizou. – Devem estar escondidos bem, bem no fundo. E eu gostaria que ele tentasse achar o meu fundo para descobrir os meus. – ela riu alto.
Revirei meus olhos:
- Ele não é perfeito.
- Sério? Por fora ele é absolutamente perfeito.
- Isso não é tudo e você sabe.
- Sei? Então por que mesmo você não fica com Giovane?
- Lorraine, da onde você tirou ele justo agora? Eu não quero falar de Giovane.
- Todo o mundo sabe que ele é muito louco por você. E só não ficou com ele ainda porque o acha feio. E vem tentar me dar lição de moral que tenho que saber sobre o coração de Nicolas ou seja lá o que for. Pouco me importo. Eu não vou casar com ele nem nada. Só quero o corpo, prima. O resto que se foda. Se eu quiser um homem perfeito, pego um padre. E é capaz de ter defeitos ainda. Ou você pensa que Cadu é perfeito por fora e por dentro.
- Cadu é imperfeito por fora e por dentro. – me resignei.
Ela riu:
- Fico feliz de ver um avanço... Um para o Nicolas, zero para o Cadu.
- O quê? Você só pode estar louca.
Ela passou o braço sobre meus ombros e disse:
- Relaxa, Juliet.
A semana transcorreu normal. E eu não consegui de forma alguma convencer Valquíria a dar uma chance para Nicolas. Mas contei às minhas amigas a parte que Nicolas me ajudou com Cadu. Elas não se empolgaram muito e nem fingiram ficar felizes por mim. Parecia-me que de uma hora para outra elas passaram a não gostar mais de Carlos Eduardo. E então eu comecei a me entediar com as nossas conversas, pois ele nunca mais era inserido.
No final de semana fui ao Shopping no sábado de noite com Lorraine. Não tocaria nenhuma banda que nos interessava no Manhattan então optamos por um passeio sem compromisso. Perto das 22 horas passamos pela rua principal da cidade, onde ficavam os bares e casas noturnas. Ainda não havia fila para o Manhattan, tampouco para o Lounge 191.
- Você precisa conhecer o Lounge. – disse Lorraine. – Vai gostar.
- Eu tenho vontade de conhecer... Mas daí entre ficar no Manhattan e conhecer o Lounge, escolho sempre o primeiro.
Um carro parou na rua e o homem abaixou o vidro e disse:
- Lorraine... É você mesmo?
- Dalton... Não acredito!
Lorraine parou na porta e começou a conversar com ele. Fiquei ali, sentindo um leve frio e cruzei meus braços a fim de esquentá-los. Estava morrendo de fome. Minha prima não parava para nada. Só queria ficar andando e andando e ela conhecia meio mundo em cada lugar que íamos.
- Sozinha num sábado à noite? E as “amigas”?
Eu conhecia aquela voz. Olhei para Nicolas, sozinho, de mãos no bolso, parado ao meu lado.
- “As amigas” estão na casa de Alissa, eu acho. Hoje decidi fazer algo diferente.
- Como andar na frente do Manhattan? – ele riu. – O que a Rainha do Drama procura?
- “Cara”, não sei. – ironizei.
Lorraine virou e me viu com Nicolas. Disse:
- Nicolas, anjo que caiu do céu. Fica com minha prima e depois a leva embora?
Olhamos confusos para ela. Como assim? Aonde Lorraine iria? E me deixaria sozinha?
- Lorraine, onde você vai?
- Dar um volta com meu amigo aqui... – ela disse entrando no carro e fechando a porta. Jogou-me um beijo. – Sei que Nick vai cuidar de você.
- Eu não acredito que ela me deixou aqui sozinha. – falei furiosa.
- Achei que eu era alguém.
Eu ri:
- Ela ainda chamou você de Nick. Lorraine é louca.
- E ela diz que você que é... Será que isso vem de família?
- Talvez... Mas não se preocupe comigo. Eu pego um táxi e volto para casa. Sem problemas.
- Como foi sua semana?
- Normal... Nada de novidade. Se pensei em Cadu? 24 horas por dia. – confessei.
- E Val?
- Val está na mesma... Mas acho que se vocês se encontrarem no Manhattan ela ficará com você, não se preocupe. – menti.
Ele olhou no relógio:
- Ok, então eu vou lá, já que não quer que eu a leve em casa.
- Você tem um carro? – perguntei.
- Não... Quer dizer, ainda não.
- Então como vai me levar em casa, Senhor Perfeito?
- No táxi? – ele deu de ombros.
- Não precisa se preocupar comigo. Vou pegar algo para comer e partir para meu lar, que você chamou de paraíso. – brinquei.
- Quem sabe comemos juntos? Eu não jantei ainda. Estou morrendo de fome.
Olhei para ele:
- Eu não tenho mais nada para falar sobre Val... Acredite.
- Nem eu sobre Cadu. – ele confessou.
- Então se você não tem segundas intenções com o jantar, vamos.
- Eu com segundas intenções? Quem sempre teve segundas intenções comigo com relação a Cadu foi você.
- Agora vai fingir que também não foi atrás de mim no Shopping por causa de Val?
- Claro que sim. – ele admitiu. – Foi por ela. Mas quem fez toda a chantagem comigo foi você.
Meu estômago roncou e eu disse:
- Nick, estou morrendo de fome. Será que podemos não conversar e comer primeiro?
Ele riu:
- Desta vez vou ter que concordar com você.
Andamos um pouco e encontramos um bar que tinha lanches rápidos. Sentamos nas mesas que estavam dispostas nas calçadas, para conferirmos o movimento. Eu só torci para as minhas amigas não decidirem andar por ali naquela noite. Elas não entenderiam o motivo de eu estar comendo com Nicolas.
Olhei o cardápio e disse à garçonete:
- Quero dois sanduíches e uma Coca Cola grande.
- Está pedindo para mim também? – ele perguntou.
- Não... Claro que não. Estou pedindo para mim.
- Você vai comer dois sanduíches?
- Vou... Eu disse que estava com fome.
Ele balançou a cabeça e riu:
- Para mim pode ser um sanduíche completo e um suco.
Ela saiu e eu me recostei na cadeira.
- Eu duvido você comer dois sanduíches. Já comi aqui algumas vezes e o sanduíche completo deles é gigantesco.
- Do tamanho da minha fome: gigantesca.
- Você sempre come assim? – ele perguntou curioso.
- Como se não houvesse amanhã? – eu ri.
- Sim...
- Nem sempre. Mas como tudo que tenho vontade. Eu quero engordar um pouco... Não muito, mas talvez uns cinco quilos.
- Por quê?
- Sou muito magra.
- Alguém lhe disse isso?
- Além do meu padrasto?
- Ele lhe disse isso?
- Sempre diz que eu sou muito magra, um palito, que não me alimento direito e bebo muito refrigerante.
- Refrigerante dá celulite.
- Eu sou a prova de que isso é mentira.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Não quero ver a prova, acredite.
- Eu não ia lhe mostrar mesmo. – dei de ombros.
- Val também se acha magra?
Val era ainda mais magra do que eu. Então eu disse:
- Por incrível que pareça, ela se aceita super bem do jeito que é.
- E você não?
- Não muito...
Nossos pedidos chegaram e eu olhei os dois sanduíches gigantescos na minha frente:
- Vou levar dois dias para comer isso.