Capítulo 10
2023palavras
2022-04-08 01:20
Eu estava uma pilha de nervos quando ceguei. Eu e Lorraine andamos um pouco. Eu não queria subir ao segundo andar rapidamente, para que ela não soubesse que eu havia ido a um encontro “casualmente planejado”.
Usei um vestido curto, rosa, rodado e uma sandália baixa. Deixei meus cabelos soltos e caprichei no batom.
- Sinceramente, não vejo graça em andar no Shopping. – reclamou Lorraine. – Vamos comer ou beber alguma coisa?
- Vamos. – concordei feliz pela ideia dela.
Enquanto entrávamos no elevador, ela comentou:
- O que deu em você me convidar para sair? Quase nunca se desgruda das suas amigas.
- Queria exatamente desgrudar um pouco delas. – falei.
- E vocês tem ido ao Manhattan?
- Sim.
- Eu tenho ido mais ao Lounge 191 nos últimos tempos. Tem homens mais velhos lá... O que eu gosto. – ela piscou.
- Eu sei... – ri.
Sim, eu sabia que Lorraine realmente se interessava por homens mais velhos. E embora nossas mães fossem irmãs, a dela era bem mais liberal e permissiva do que a minha. Nós duas tínhamos a mesma idade, mas não costumávamos sair muito juntas. Eu tinha minhas amigas e ela as dela. Mas vez ou outra nos esbarrávamos num bar noturno aqui e ali. E também nos encontrávamos nas festas em família.
Ela escolheu uma mesa bem no centro e de longe eu logo avistei Nicolas e alguns garotos com ele. E lá estava Cadu. Eu não conseguia acreditar: ele trouxe o amor da minha vida. Era exatamente a terceira vez que eu via Carlos Eduardo... E meu coração dava saltos dentro de mim. Fiquei sem saber como agir.
Meus olhos encontraram os de Nicolas e ele piscou para mim, como se dissesse: “Acordo cumprido”. E eu havia feito minha parte da melhor maneira possível também.
- Eu conheço aqueles garotos. – disse Lorraine acenando.
Vários acenaram para ela, incluindo Cadu.
- Você... Conhece Cadu? – perguntei completamente atordoada.
Sério que eu corri atrás de qualquer pessoa que o conhecesse, fiz um acordo com Nicolas e agora minha prima dizia simplesmente que o conhecia?
- Sim... Estudamos juntos no Ensino Fundamental... Não tenho certeza se no sétimo ou oitavo ano. E Rodrigo, o moreno, ainda temos bastante contato.
- Eu... Fiquei com Cadu algumas vezes. – confessei.
- Com Cadu? – ela riu.
- Por que você riu?
- Porque Cadu não é muito de ficar com ninguém.
- Como assim?
- O pai dele quer que ele estude para ser pastor.
- O quê?
- Sim... O pai dele foi meu professor, na época que estudávamos juntos. Acho até que o pai dele é pastor também.
- Pastores podem casar?
- Sim.
Suspirei aliviada.
- Por que a pergunta? Vai me dizer que você tem interesse em casar com Cadu.
- Eu? Não...
Ela riu:
- Juliet, acho até que ele é virgem...
- Eu não acho que ele seja tímido... Ou virgem.
- Você dormiu com ele?
- Não... Claro que não.
- Ele é um fofo... Um querido. Mas Cadu e você não tem absolutamente nada a ver.
- Eu... Tenho quase certeza que gosto dele... Mais do que deveria.
Ela me olhou surpresa:
- Não creio que estou ouvindo isso.
- Lorraine, eu não acredito que você conheça ele assim tão bem...
- E não me diga que você o encontrou aqui por coincidência. Porque ele não costuma sair muito.
- Não. – admiti. – Pedi para um amigo trazê-lo.
- E eu vim junto para que, exatamente?
- Hum... Vou te apresentar o meu novo amigo, Nicolas.
- Não me diga que é o de olhos azuis que parecem de mentira de tão lindos que são.
- Ele mesmo. – eu ri.
- Ele nem parece de verdade. Então quer dizer que você é amiga do Deus grego de olhos azuis e corpão sarado e gosta de Cadu? – ela gargalhou. – Sinceramente, você não pode estar bem psicologicamente.
- Cadu é bonito.
- Ele é... Até você conhecê-lo melhor e só querer ele para amigo. Ele é o tipo de garoto que você tem vontade de botar numa caixinha e levar para casa. E deixar guardado. Duvido que ele saiba beijar.
- Ele beija bem... Muito bem.
- Se ele já fodeu com uma mulher, eu aposto que foi só na posição papai e mamãe.
Olhei para ela aturdida:
- Parece que você o odeia.
- Não, Juliet... Eu adoro ele. Mas é um “bebê da mamãe”.
- Enfim, eu vou lá... – falei levantando corajosamente.
- Vai levá-lo a força? – ela riu.
- Sinceramente, não sei.
- Por isso mesmo que eu disse que vocês não tem nada a ver. Você é a dona da porra toda. Ele continua sendo o bebê da mamãe.
Eu levantei e fui até lá, sentindo meu coração batendo descompassada e intensamente. Eu não sabia o que falaria ou sequer o que faria. Ainda assim fui. Porque com Cadu nenhuma oportunidade poderia ser desperdiçada.
Assim que me aproximei, Nicolas levantou e veio até mim, me dando um beijo no rosto:
- Oi... Que coincidência.
- Oi... Pois é. – menti, tentando parecer verdadeira e real nossa mentira.
- Esta é minha amiga, Juliet. – ele me apresentou aos amigos.
Enquanto isso Lorraine pegou seu chopp e veio até eles, cumprimentando todos e sentando à mesa sem cerimônia. Sim, eles a conheciam. E muito melhor do que conheciam Nadiny ou o próprio Nicolas.
- Oi, Ju. – disse Cadu me olhando de onde estava.
- Oi...
- Como você está?
- Bem... E você?
- Também.
- Será que você... Não quer dar uma volta comigo... A sós?
Caralho, como eu consegui ser tão corajosa? Não, eu não era aquele tipo de garota. Mas com ele simplesmente eu não era eu mesma. Eu queria Cadu a qualquer custo. Eu faria qualquer coisa por ele.
Todos olharam na direção de Cadu, segurando o riso. Ele levantou e seguiu comigo. Assim que virei minhas costas, ouvi as risadas altas.
- Fiz algo errado? – perguntei.
- Não... Acho que não. – ele disse andando devagar.
Seguimos pelo corredor sem dizer nada. Eu consegui chamá-lo, tirá-lo do meio de todos, mas não sabia o que dizer. E acho que confessar meu amor não sairia dos meus lábios... Eu morreria antes de balbuciar “Eu te amo” para ele.
Assim que vimos um banco vazio, ele me convidou para sentar. Ficamos olhando cada um para um lado. Fiquei um pouco tensa e passou pela minha cabeça que talvez ele não quisesse ou não estivesse preparado para aquele momento.
- Bem... Cá estamos nós novamente. – ele disse me olhando depois de um tempo.
- Pois então... Eu... Chamei você porque... Da outra vez que nos vimos, na festa da escola, Nadiny comentou que o viu e você disse que estava bêbado. – inventei para puxar assunto.
- Ela disse isso?
- Sim. Não que eu queira lhe cobrar algo... Mas fiquei um pouco chateada.
- Eu não fiquei com você porque estava bêbado, se é isso que está insinuando.
- Eu não insinuei nada. Apenas não gostei de como você falou.
- Você sabia que eu havia bebido demais... Mas lembro de tudo que aconteceu, não precisa se preocupar.
- Bom ouvir isso.
- Acha que você é só um passatempo para mim?
Não acho, tenho certeza. No entanto, disse:
- Eu não falei isso.
- Eu... Não quero nada sério, entende? Somos muito jovens. Eu tenho tantas coisas para fazer. Namorar não está nos meus planos por enquanto. Eu curto você... Bastante. Você é bonita, divertida, legal...
- Eu não quero namorar com você... – contestei.
Cadu, eu não quero namorar com você. Só casar e viver o resto dos meus dias ao seu lado. E agora você acaba comigo desta maneira, destruindo meu coração em mil pedaços. Isso não pode ser verdade. Eu esperei por você tanto tempo, tantas noites... Abri mão de tantas coisas, deixei de conhecer vários garotos legais que realmente queriam ficar comigo.
- Se você também não quer namorar, está tudo certo.
Ele pegou meu rosto entre suas mãos e me deu um beijo leve nos lábios. Ficou um tempo junto de mim, sem dizer nada nem aprofundar o beijo. Achei que ele pudesse me largar, mas não. Sua boca se abriu e ele colocou a língua dentro da minha boca, selando nosso momento. Se eu pudesse pelo menos não ficar enlouquecida com a forma como ele me beijava... Sim, porque eu só conhecia o beijo dele... Nada mais. Passei meus braços no seu pescoço e deixei meu corpo se aproximar. Aquele beijo era muito esperado... O sabor dele, seu gosto no meu. Eu estremecia com o toque dele, mas ao mesmo tempo sabia que não passaria de um beijo longo e apaixonado... Pelo menos da minha parte. Tocava uma música em som ambiente nos alto-falantes do local. Eu não estava prestando atenção no que tocava até começar a música de uma banda de rock que eu era simplesmente fanática.
Aquilo seria um sinal? Nosso beijo, minha música favorita novamente... Estariam os céus me dizendo que ele seria meu?
- Eu gosto de ficar com você. – ele disse quando me largou.
- Eu também.
- Então vamos curtir... Sem pressão.
- Está se sentindo pressionado, Cadu?
- Não... Mas não quero ser também, entende? Vamos deixar rolar... O que tiver que ser, será.
- Penso da mesma forma. – menti. – Fiquei com alguns garotos desde que conheci você, mas não me envolvi sentimentalmente com nenhum deles justo porque quero me formar e decidir o que vou fazer da minha vida. Um envolvimento agora poderia prejudicar... Meu futuro.
- Você conhece Lorraine? – ele perguntou.
- Ela é minha prima.
- Prima? – ele sorriu. – Lorraine é muito legal. Conheci ela há alguns anos atrás. Estudamos juntos.
- Não sabia...
- Ela é muito amiga do meu melhor amigo. Depois que saímos daquela escola, eu acabei indo para a Escola Técnica e ela para outra com Rodrigo. Eu e Rodrigo não estudamos mais juntos, mas nos vemos todos os finais de semana.
- Legal. Eu e Lorraine não nos vemos tanto, embora sejamos primas.
- Que acha que voltarmos para conversar com eles?
Acho uma ideia péssima... Parece que você está fugindo de mim. Sorri e disse:
- Claro... Estou louca para me juntar a eles.
Voltamos para a praça de alimentação e nos sentamos junto do grupo. Somente eu e Lorraine de mulheres no meio de tantos homens. Sentei entre Cadu e Nicolas. Ele me olhou e vi que estava totalmente perdido no meio daquelas pessoas. Cadu, por sua vez, continuou ali, com a mão enlaçada na minha, mas sem me dar a mínima atenção.
- Vou cobrar com juros. – disse Nicolas no meu ouvido. – Mesmo o plano não sendo como você esperou.
- Quem disse que não foi como eu esperei? – falei sem deixar ninguém além dele ouvir.
- Quer mesmo que eu diga?
Não falei nada. Ele não tinha o direito de se meter na minha vida. Sua única obrigação era levar Cadu e ele o fez. Eu cumpriria a minha parte.
Em menos de trinta minutos eles levantaram e disseram que precisavam sair.
- Foi um prazer relembrar os velhos tempos. – disse Cadu para Lorraine.
- Nem fala, Cadu. Podemos marcar outra hora, se quiserem. Acho que estão indo embora cedo. – ela reclamou.
- Temos um compromisso hoje à noite. – disse Rodrigo. – Festa regada a bebidas e garotas.
- Aproveitem... – disse Lorraine.
- Nos vemos por aí... – disse Cadu me dando um selinho e saindo.
Senti-me horrível. E eu raramente me sentia assim. Era quase como se ele dissesse abertamente que não queria nada comigo. Esperei seis meses para ficar com ele novamente... Absolutamente bêbado, segundo ele. E depois uma semana de tratativas e chantagens com Nicolas para que o trouxesse e tudo que recebi foi um beijo... Um único beijo.
Assim que eles saíram, Lorraine disse:
- Eu não avisei que ele não é para você?