Capítulo 9
1671palavras
2022-04-08 01:15
E Valquíria estava definitivamente disposta a fugir de Nicolas de qualquer jeito. Não esperou até o quinto período de aula na segunda-feira, indo embora após acabar o quarto.
Assim que saímos, quando a aula finalmente acabou, lá estava Nicolas, esperando por ela. Ele estava sempre arrumado, como se tivesse recém saído do banho. Quem conseguia uma façanha daquelas? Despedi-me de Alissa e Daniela e segui meu caminho.
- Ei, Juliet... Espere.
Olhei Nicolas apressando o passo atrás de mim. Parei para ver o que ele queria.
- Oi...
- O que houve com Val?
- Ela... Precisou sair mais cedo. – falei sem ter coragem de dizer a verdade.
- Mas está tudo bem com ela?
- Sim, tudo certo. Ela tinha um compromisso em família, só isso.
- Você está indo para casa?
- Sim. – confirmei olhando no relógio. Logo meu ônibus passaria.
- Posso lhe pagar uma bebida?
Olhei para ele confusa:
- Eu tenho 18 anos... Não bebo num final de tarde de segunda-feira.
Ele riu:
- Neste caso, eu só ofereci um refrigerante, suco ou água. Não pensei em lhe pagar uma piña colada na segunda de tarde.
- Eu não sei se seria legal sairmos juntos. Você e Val... Bem...
- Juliet, eu gosto de Val. Não quero anda além de bater um papo com você, só isso. Sobre ela... É claro. Eu preciso saber mais, entende? Val me deixa muito confuso. Às vezes parece que ela está bem comigo, outras simplesmente ela diz que não quer mais me ver...
- Eu entendo. Val é assim mesmo. Vamos lá então.
Segui com ele até a próxima quadra, onde ficava o Shopping da cidade. Subimos até a praça de alimentação e ele pediu dois sucos.
- Você e Val são muito amigas?
- Eu conheço ela desde que tínhamos 7 anos. Quase a vida toda.
- Ela me disse que gosta de alguém... E tenho certeza que sou eu, no caso.
- Sim, faz um tempo que ela gosta de outra pessoa... Um bom tempo na verdade. – confessei.
Percebi a cara dele de decepção e completei:
- Mas acho que você é a pessoa ideal para fazê-la esquecer este outro garoto.
- Você acha? Ela comentou algo sobre isso?
- Não... Mas como eu disse, conheço ela a minha vida toda... E sei tudo o que ela pensa.
- Você faria isso por mim? – ele perguntou com um largo sorriso.
- Claro.
- Bem que você disse quando nos conhecemos que poderíamos ser melhores amigos.
- Sim, lembro. Mas eu não sou uma pessoa tão boa quanto você pensa, Nicolas.
- Eu acho você uma boa pessoa sim.
Eu sorri ironicamente:
- Eu posso falar com Val sobre você... E tentar convencê-la de que tudo que ela é precisa é Nicolas... Qual seu sobrenome? – perguntei curiosa.
- Welling.
- Nicolas Welling... Gostei. Nicolas Welling é tudo que Valquíria precisa.
- Boa garota.
- Mas eu quero algo em troca. – sorri.
- O que eu posso lhe dar? Não tenho nada que você poderia gostar, acredite.
- Ah, tem sim...
- Não me diga que está falando de Cadu. Eu mal o conheço.
- Então é hora de passar a criar laços de amizade com Carlos Eduardo.
- Cara, eu não tenho nada em comum com ele. Sequer sei se tenho simpatia por ele.
- Não me chama de “cara”. Eu não gosto.
Ele me olhou, estreitando os olhos:
- Cara, você gosta de alguma coisa a não ser Cadu? Prometo que posso conseguir tudo, menos ele.
- E se eu dissesse para Val que não gosto nadinha de você?
- Está sendo fazendo uma brincadeira ou isso é uma ameaça caso eu não faça o que você está pedindo?
- Sinceramente, não sei, “cara”. Quer testar?
- Garota, você é cruel.
- Falou o “Senhor Perfeito”.
- Sendo julgado pela “Rainha do Drama”.
- Rainha do drama, eu? Você nem me conhece, Nicolas.
- A amostra que tive foi bem real, acredite.
- Bem, pelo visto o nosso trato será desfeito antes mesmo de começar.
- Cara, você está usando sua amiga em benefício próprio.
- E você está se importando, Nicolas? Eu não estou usando ela. Estou lhe fazendo um favor. E só pedindo outro em troca.
- A diferença é que você conhece Val. Eu não conheço Cadu.
- Então tudo bem, “cara”. Deixamos assim...
- Ok, você venceu. Eu vou chegar do nada em Cadu e dizer que conheço uma garota louca chamada Juliet. E que ela é completamente apaixonada por ele.
- Ele não se surpreenderia, acredite. Ele sabe dos meus sentimentos por ele.
- O problema é eu chegar até ele... Terei que ter muita coragem.
- “Cara”, você é muito maior que ele. Qual seu medo?
Ele riu:
- Não estou falando disso, Juliet. Eu não o conheço... Será estranho. Não quero comprometer você... Dar a entender que você está tão interessada.
- Eu não me preocupo em ele saber...
Ele me olhou confuso. Depois suspirou e sorriu:
- Você é estranha...
- Espero que seja no bom sentido.
- Cara, não sei se é...
- Pode para de me chamar de “cara”, por favor?
- Posso tentar. Desculpe.
- Eu sou uma garota. Não sou um amigo seu, um “cara” qualquer.
- Não foi neste sentido que chamei você assim. É força do hábito, só isso.
- Então hora de mudar seus hábitos... Ao menos comigo. – pisquei.
- Espero que valha a pena tudo isso...
- Do que exatamente está falando? – perguntei tomando o restante do meu suco.
- Que você consiga me aproximar definitivamente de Val. Além de você ser má, exigente, dramática, estranha... Já levou parte do meu dinheiro no suco. – ele riu.
- Bobo... Isso está apenas começando.
- Tem mais?
- Claro que sim... Ou eu não seria Juliet. – ri.
- Intensa...
- Como uma noite de tempestade.
- Como você e Val conseguiram ser tão próximas? Vocês são tão diferentes.
- Acho que os opostos se atraem.
- Até nas amizades?
- Talvez... Somos quatro garotas com personalidades completamente diferentes e ainda assim somos melhores amigas.
- Me dá seu telefone. Assim posso ligar ou mandar uma mensagem de texto para combinarmos sobre eu ajudar você com Cadu.
- Eu não tenho telefone.
Ele me olhou curioso:
- Não tem?
- Não me olhe com esta cara... Minhas amigas também não tem.
- Mas Val tem.
- Neste caso, da mãe dela. Eu não daria o número da minha mãe, acredite. Ela sequer me chamaria se você ligasse.
- Ok, como nos falamos?
- Não deve ir na saída da escola. Val não gosta disto. Não corre atrás... Mulher nenhuma gosta disto.
- Hum... Homens também não gostam muito.
- Estamos falando de você, não de mim.
- Espero poder sobreviver à Rainha do Drama ao final disto tudo.
- Garanto seu casamento com Val, Senhor Perfeito.
- Eu não quero casar com ela, acredite. Eu gosto dela... Só isso.
- No meu caso, eu não gosto de Cadu... Eu sou loucamente apaixonada por ele.
- Ok...
- E então nos encontraremos aqui no Shopping, no próximo sábado. E você trará Cadu para mim. Isso será a prova de que você é um bom garoto, senhor Perfeito. Em troca eu falarei com Val seriamente sobre o quanto você é bonito, simpático... E perfeito. – ironizei.
- E você trará ela, então?
- Não mesmo... Primeiro você prova que consegue cumprir sua palavra.
- Você não está sendo justa.
- Eu já provei que conheço ela e muito bem. Você está completamente inseguro sobre falar com Cadu. Quero ter certeza de que você consegue. É pegar ou largar.
- Eu pego.
- Então posso ter certeza de que você realmente gosta de Val...
- Eu gosto dela... E farei o que você me pede por ela, acredite.
- Agora eu preciso ir. – falei levantando e olhando no relógio.
Já havíamos ficado uma hora conversando. Se eu demorasse mais minha mãe ficaria preocupada.
Nicolas realmente era agradável e um bom garoto. Levou-me até o ponto de ônibus e esperou até que eu embarcasse para sair. Lógico que eu ajudaria ele com Val. Eu ajudei antes mesmo de ele pedir. Porque eu gostei dele, desde o início. E achava que ele seria um bom namorado para minha amiga e a ajudaria a esquecer Adriano, que só a fazia sofrer. Mas aproveitei que ele conhecia Cadu e uni o útil ao agradável. Eu só conseguia ter Cadu sob pressão. Então que fosse assim, não só através de Nadiny. Agora eu tinha duas opções: ela e Nicolas. E claro que meu trato com Nicolas seria um grande segredo.
Naquela semana fiz um intensivo com Valquíria, falando sobre Nicolas todos os dias. Mas não estava nada fácil minha tarefa. Definitivamente ela não queria mais ficar com ele. Justificava que ele era legal, simpático, mas não tinham química e que seu coração só pertencia a Adriano. Então de nada adiantava ficar com alguém sem ter intenção alguma de seguir um relacionamento futuro. A parte boa era que Alissa e Dani também me ajudavam, mesmo sem saber o que tinha por trás. Eu não me sentia culpada. Fazia aquilo pelo bem de Val. E ela mesma já havia insinuado que Nicolas poderia me ajudar com Cadu, pois os dois estudavam na Escola Técnica.
O sábado demorou a chegar. Eu estava nervosa. Será que veria Cadu novamente? Encontrá-lo era quase como um sonho impossível. E Nadiny já havia prometido tantas vezes a presença dele e nunca conseguiu. Como já mencionei anteriormente, eu detesto sair sozinha, seja qual for o lugar. Nem comer em um restaurante sozinha eu como, muito menos sentar num lugar e beber um suco ou água que seja. Então convidei Lorraine, minha prima, para me acompanhar. Claro que ela não sabia o que estava acontecendo. Simplesmente fiz um convite para um passeio ao Shopping num sábado à tarde sem segundas intenções...