Capítulo 63
1613palavras
2024-04-02 12:03
Gabriel
Decidi descobrir de uma vez por todas a situação da Sol, aquelas mensagens estavam me deixando muito preocupado com o estado mental dela, então eu decidi responder sua mensagem para tentar descobrir o que poderia estar acontecendo.
A Pati foi dormir primeiro então eu coloquei o celular no mudo e deitei virado para o outro lado, para não atrapalhar a minha esposa e principalmente não queria que ela descobrisse que eu estava falando com a Sol porque depois de tudo que aconteceu a Patrícia ficaria com muita raiva e eu não quero estragar esse momento tão bom que está o meu casamento.
Oi Sol, faz bastante tempo que não falamos não é?!
Então vou direto ao ponto.
O que você quis dizer com “partir em paz”?
Sol é melhor que isso não seja uma brincadeira! está me deixando preocupado.
Sem resposta, continuei esperando e nada, cada minuto que passava me deixava mais preocupado com o que ela poderia ter feito com ela mesma. depois de uma hora ela finalmente respondeu.
Gaba!! Nossa eu não acredito que você me respondeu de verdade.
Passei tanto tempo imaginando como seria esse momento…
Eu preciso dizer para você que sinto muito por tudo que eu fiz para você e para a Patrícia, eu não consigo entender o que tem de errado comigo, eu sou um monstro.
Mas ninguém vai precisar me aturar…
nunca mais.
Quando li suas respostas fiquei ainda mais preocupado, pelo que ela estava respondendo dava para perceber que ela não estava bem, e provavelmente estava muito arrependida e meio perdida, como se sua vida não importasse mais. Respondi na mesma hora para tentar saber como a situação estava.
Sol o que está acontecendo?
por que você está falando em tom de despedida?
Você está bem? Quer conversar?
Depois de alguns minutos digitando ela finalmente enviou uma resposta.
sinto como se tudo fosse cinza, mas agora que me decidi me sinto um pouco melhor.
Eu desisti Gaba, desisti de tudo, e esse tom de despedida quer realmente dizer que estou me despedindo.
De você e de todas as outras pessoas que eu conheço e que já machuquei, é o certo a se fazer, me desculpar e acabar com esse sofrimento.
Minha mãe está péssima, provavelmente não vai sair da UTI então, não preciso me preocupar se ela sentiria minha falta, com certeza ela seria a única.
Mas eu não posso ficar tranquila se não tiver o perdão de vocês, só assim posso descansar em paz.
Eu finalmente percebi a verdadeira intenção da Sol, e meu coração estava em pânico, decidi tentar mantê-la calma para talvez reverter a situação, claramente sua saúde mental está sendo afetada e ela só vai melhorar com um profissional, mas não tem como se tratar se estiver morta.
Sol, não faça nada que possa se arrepender, muita gente sentiria sua falta, eu sentiria sua falta!
Somos amigos há muitos anos Sol, e eu sei quanto as pessoas que te conhecem gostam de você e sentem sua falta, então não faça nada, tá bom?!
Que tal a gente conversar pessoalmente sobre isso, quem sabe possamos voltar a ser amigos, posso tentar falar com a Pati para saber se ela pode te perdoar. . .
Depois de alguns minutos ela respondeu.
Tá bom, que tal amanhã? Mas acho melhor não falar para a Pati,ela provavelmente vai ficar brava com você, e eu não quero mais causar problema. Sinto muito de verdade…
Eu te mando o meu endereço e horário…
Boa noite.
Quando acabamos de conversar já eram duas e meia da manhã, o encontro foi marcado, para amanhã, depois do meio dia, e na verdade só sugeri isso por que quero ver pessoalmente como ela está, mas a Pati não pode saber ela ficaria furiosa, coloquei o celular na mesa de cabeceira e fui dormir imaginando que desculpa eu poderia usar para ir ver a Sol.
***
No outro dia, me arrumei como de costume para o trabalho, me despedi da minha esposa e fui para o trabalho, quando cheguei avisei a minha assistente que sairia mais cedo e que caso alguém ligasse para mim eu estava em uma reunião de negócios fora da empresa,e que anotasse os recados. Depois de algumas horas de trabalho liguei para a minha esposa e disse que a partir do meio do dia estaria em uma reunião fora do escritório e que se ela fosse me ligar era para ligar para o celular. O horário do encontro finalmente chegou.
Eu saí do escritório e entrei no meu carro, chequei o endereço duas vezes durante o percurso, o local onde ela está é bem perigoso isso me deixou ainda mais preocupado, é muito difícil ver alguém que foi seu amigo por tanto tempo se afogando em problema.
Cheguei até um condomínio de kitinetes, não tinha ninguém para atender ou um porteiro, então eu só entrei e procurei o número que a Sol havia me dito, a casa dela era a terceira então eu bati e chamei o nome dela, e depois de dois minutos escutei o som da porta sendo destrancada, a Sol abriu, era a primeira vez que eu via ela pessoalmente desde a vez que ela doou sangue para a minha esposa. Ela estava péssima, parecia doente, estava mais magra e pálida, realmente o tempo não foi piedoso com ela.
-Oi Gaba!, entra aí, sinta-se em casa, e não repare a bagunça. -a kitnet era bem pequena, o primeiro cômodo era uma sala e cozinha juntas dividida apenas pelo balcão da cozinha.
-Licença, eu não trouxe nada porque vim direto do escritório…
- Que isso, não precisa se preocupar em trazer algo pra mim.Então quer beber alguma coisa, um suco ou algo mais forte?-ela perguntou um pouco sem jeito.
- Água tá bom.-eu respondi do mesmo modo
- Certo eu já volto.-ela foi para trás do balcão da cozinha e eu sentei no sofá de dois lugares da sala, tentei não prestar atenção na zona que estava aquela pequena casa, tudo parecia sujo, quase como um episódio de acumuladores,e o cheiro tava de chorar, sério meus olhos estavam ardendo, a Sol nunca foi esse tipo de pessoa, sempre gostou de tudo limpo, isso me faz perceber que ela realmente está mal.-ela voltou com uma bandeja com dois copos de suco e uma garrafa de água, seu rosto parecia mais fino e sem vida e sua expressão era de tristeza.
- Aqui, sei que só pediu água mais, lembrei que esse é seu suco preferido e eu não tenho outra coisa para te oferecer então decidi trazer de uma vez.
Obrigado.-ela colocou a bandeja na mesinha em frente ao sofá do lado de um monte de revistas velhas e se sentou do meu lado, já que era o único espaço vago, o sofá era pequeno e estava coberto de entulhos.
Que bom que você veio, não achei que viria mesmo.-ela falou.
É claro que eu vinha, eu to preocupado com você Sol.-eu respondi sendo compreensivo.
Não tem nada para se preocupar, eu escrevi meu próprio destino, eu não mereço sua preocupação.-ela falou parecendo triste e ao mesmo tempo pensativa.
Não diga isso, você precisa se cuidar Sol, só assim você vai perceber que as coisas podem melhorar, e assim você pode recomeçar.
Você contou para a Patrícia que vinha me ver?-eu engoli a seco e bebi o primeiro gole do suco, ela fez o mesmo.
Como você mesma disse, ela ficaria brava se descobrisse então vim ver como você está primeiro e quando eu chegar em casa falo com ela.
Gaba você acha que algum dia a Patrícia vai me perdoar?-ela perguntou
Acho que tudo é possível, e a Pati não é de guardar rancor, se eu falar com ela acho que ela vai reconsiderar.
E você? Você me perdoa?, por tudo o que eu fiz?-ela parecia triste e realmente arrependida.
Sim.-eu respondi
Gaba muito obrigada, você é incrível, finalmente podemos voltar a ser amigos, vai ser incrível, eu senti tanto a sua falta.-sim eu a perdoei mas não tinha intenção alguma de voltar a ser sua amiga, só estava tentando limpar um pouco a culpa que ela sentia, ela percebeu minha intenção na hora quando olhou para o meu rosto sério, ela parou de sorrir e a esperança que estava nos seus olhos sumiu rapidamente se transformando em dor, ela começou a chorar.
Você não quer ser meu amigo não é?! então por que você veio aqui? pra rir de mim? você me odeia, não é?
As coisas não são assim Sol, e você sabe disso, depois de tudo o que aconteceu você e eu não podemos voltar a ser o que éramos.
Mas você disse que me perdoou! por acaso era mentira? Quer saber é melhor você ir embora e me deixar aqui morrer em paz.-ela correu para o quartinho com uma cortina no lugar da porta, eu fui atrás dela, o quarto era um pouco mais organizado que a sala, mas não fazia muita diferença já que ainda assim era uma bagunça, ela estava deitada na cama chorando e abraçando os joelhos, ela parecia tão frágil que não tinha como alguém não sentir pena ao vê-la daquele jeito eu sentei ao seu lado na cama e tentei acalmá-la não podia deixar ela nesse estado.
Me escuta Sol, se voltarmos a ser amigos as coisas tem que mudar, principalmente entre você e a minha esposa, só assim vamos poder voltar a ser amigos…e também…-eu falava mas a minha cabeça começou a girar e a concentração sumiu, tudo girava e minha visão foi ficando cada vez mais embaçada, a Sol levantou e começou a repetir o meu nome e em um segundo perdi a consciência.