Capítulo 50
Patricia
Enquanto o meu marido acariciava aquela pequena cicatriz meus olhos foram ficando cada vez mais cansados,talvez seja pela noite anterior que roubou todas as minhas forças, ou talvez fosse o vinho, mas eu estava realmente exausta, ao ponto de me fazer pegar no sono e voltar a dormir, me encostei no peito do Gabriel e dormi. Ele não parou de me acariciar até eu pegar no sono.
Quando voltei a acordar já parecia noite, estava tudo escuro,mesmo com as cortinas fechadas dá para ver a claridade do sol pelas frestas, e isso que sempre me faz despertar cedo,os raios de sol da manhã que escapam das cortinas,mas dessa vez estava tudo escuro,me soltei devagar dos braços do meu marido e me sentei na cama, ao lado dele que continuou dormindo tranquilamente, olhei para o meu celular que estava em cima da mesa de cabeceira, eram nove e quarenta e cinco da manhã, me surpreendi com o horário, estava tudo tão escuro, levantei da cama suavemente, tentando ao máximo não fazer barulho para não acordar o meu marido, calcei minhas pantufas fofas e caminhei em direção às janelas, abri a cortina cuidando para não fazer qualquer movimento brusco, não queria acordar o meu marido com um susto ainda mas com a maneira tão confortável que ele estava dormindo, abri a janela, o céu está coberto de nuvens escuras, o vento estava ficando mais forte e mais frio o que me fez trincar os dentes, mesmo gostando do frio o meu corpo não aguenta muito tempo em temperaturas baixas, prefiro aproveitar tempos frios com um cobertor, um bom livro e chocolate quente, e com certeza maratonar the office por toda a madrugada(The office, em portugues ;o escritório, série de comédia estilo documentário semelhante ao original britânico estrelado por Ricky Gervais.).
Me afastei da janela e a fechei o vento frio estava me fazendo tremer, assim que fiz isso, como mágica o som forte da chuva ecoou por todos os cantos o barulho estava tão alto que mal consegui ouvir meus pensamentos, peguei o robe de veludo do meu marido porque o comprimento era maior, sai do quarto bem devagar para não acordar o gato, e desci as escadas para comer algo porque o meu estômago estava roncando tão alto que até parecia um serrote, mas graças a chuva ninguém poderia me ouvir, quando cheguei ao fim da escada escutei um som vindo da porta, que se abriu logo depois, era a dona Marta, ela entrou e fechou a porta atrás dela, ela estava toda agasalhada, com uma calça alfaiataria cinza e um casaco de gola azul e sapatos fechados, também usava uma capa de chuva transparentes daqueles que parecem que são feitas de sacos plástico, a capa de chuva tinha um capuz e até bolsos, ele só ia até a metade da perna o que fez a parte de baixo da calça dela molhar, era a única parte que parecia molhada, como será que ela veio?, nossa faz tanto tempo que estou aqui e nunca me perguntei o meio de transporte que ela pega para vir trabalhar quase todo dia, que péssima chefe eu sou.
Dona Marta! você pegou essa chuva?- falei me aproximando, ajudei ela a tirar a capa de chuva que estava encharcada.
Na minha casa a chuva chegou bem cedo, lá pela madrugada, quando sai de casa ainda estava chovendo, não me molhei graças a essa capa de chuva, mas acabei pisando em um poça de lama aqui em frente antes de entrar.
Dona Marta?!, que transporte você usa para vir pra cá?, eu percebi que nunca te perguntei isso antes, mas gostaria muito de saber, caso seja muito difícil vir aqui nós podemos arrumar alguma maneira de te trazer e..
Não precisa se preocupar Pati, o Gaba já resolveu isso no mesmo momento em que vocês vieram morar aqui ele deu ordens para o segurança do turno da manhã ir me buscar na porta de casa e o do turno da noite me leva.-ela me interrompeu e me explicou como o meu marido tinha organizado as coisas, isso me fez perceber que mesmo morando aqui ainda não sei como tudo funciona.
Que bom , mas a senhora nunca pensou em comprar um carro?-eu perguntei.
Senhora não, por favor, assim eu me sinto ainda mais velha hahaha-ela continuou a falar com sua voz doce e calma de sempre.
Nunca quis comprar um carro, o Gabriel já tentou me convencer mas eu não quero uma coisa dessas, dá muito problema, e eu nem sequer sei dirigir.
Mas como você vai para os lugares no dia a dia?-eu perguntei
Graças a Deus eu ainda tenho saúde pra usar essas pernas que Deus me deu, mas quando eu to muito cansada eu peço um uber hahahaha.- Nós rimos e eu a acompanhei em direção a cozinha.
Olha eu já vou trazer outra calça para você, e depois disso você está liberada!-eu disse
O que?-ela perguntou surpresa.
Dona Marta, que tal você tirar o dia de folga, é sábado e tá chovendo tanto, você merece um descanso então eu vou pegar a roupa e já venho.-eu respondi
Espera menina, eu tenho muitos afazeres hoje, não posso deixar para outro dia!-ela respondeu preocupada.
Não se preocupe com isso, eu estou te liberando das suas funções hoje.-com isso eu esperava um olhar de felicidade e um grande sorriso mas no lugar disso a dona Marta fez uma carinha de tristeza.
Tá certo então eu vou esperar aqui.-ela sentou na cadeira de frente para o balcão e sua cara era tudo menos de contentamento, isso me partiu o coração, eu realmente achei que ela ia gostar do dia de folga, afinal de contas quem não gosta de um dia de folga surpresa no trabalho ou escola, faculdade, todo mundo adora dia de folga!
O que aconteceu dona Marta?! Você ficou triste com o dia de folga? eu achei que iria gostar.
Na verdade eu queria ficar aqui hoje em vez de passar o fim de semana sozinha, gosto da companhia de vocês, aqui a casa está sempre cheia, tenho coisas para fazer, posso conversar à vontade, e lá na minha casa sou só eu, não quero voltar para uma casa vazia.-ela falou de uma forma triste.
Nossa dona Marta, eu não fazia ideia, então pode ficar, mas ainda é seu dia de folga então aproveita mas nada de trabalho tá certo?! Vai ser um prazer de verdade.-eu e meu marido consideramos a dona Marta como uma mãe, vai ser maravilhoso passar esse dia com ela conosco e sem ficar enfurnada na cozinha o dia todo.A cara dela ao ouvir o que eu disse mudou totalmente, ela abriu um sorrisão e assentiu com a cabeça.
Olha só, eu tinha esquecido mas, eu tenho algumas roupas no quarto de funcionário que eu fico as vezes que durmo aqui, então eu vou lá me trocar, obrigada Pati, prometo que não vou atrapalhar vocês em nada.
Que isso dona Marta você nunca atrapalha!-eu respondi
Ela saiu da cozinha em direção ao quarto de funcionário, e eu fui até a geladeira acabar com essa fome.
Peguei uma maça e mordi enquanto pegava alguns ingredientes na geladeira, não sou nenhuma chef mas com certeza algo de bom vai sair, a ideia que surgiu foi fazer panquecas, separei todos os ingredientes necessários, farinha de trigo, leite, manteiga, fermento,ovo,sal.. Quando acabei de recolher tudo que precisava para fazer as panquecas a maçã já tinha acabado, joguei o miolo da maçã fora e comecei a preparar as panquecas, acabei derrubando quase toda a farinha no balcão, então parei o preparo da massa para limpar o balcão que estava branco, a dona Marta voltou com outra roupa, um vestido longo amarelo pastel que batia nos tornozelos e um casaco branco de tricô por cima, ela se aproximou do balcão e olhou para os ingredientes.
Vai fazer panqueca?- ela sorriu gentilmente
Vou tentar.-eu respondi com o mesmo tipo de sorriso.
Eu posso te ajudar?-ela perguntou gentilmente.
Mas hoje é a sua folga dona Marta!-eu respondi
Vai ser um prazer ajudar, eu não consigo ficar parada por muito tempo e seria muito chato pra mim ver você fazer as coisas e só ficar olhando seria o mesmo que ficar em casa.-ela respondeu
Tá bom, já me convenceu, eu falei para fazer o que quiser e ficar à vontade, e se isso não te incomoda, eu com certeza vou aceitar a sua ajuda.-Não tinha como não aceitar, a dona Marta é ótima na cozinha diferente de mim, que consigo queimar água.
A dona Marta acabou de preparar a massa em uma velocidade incrível, enquanto isso ela me ensinava o passo a passo para reproduzir o que ela estava fazendo, na hora de colocar na frigideira ela me deixou na frente, fiz duas pilhas de panquecas, fiquei muito feliz que deram super certo (graças a dona Marta é claro), arrumei as panquecas em pratos rasos brancos, coloquei algumas frutas vermelhas e calda de chocolate, a dona Marta fez um montão de chocolate quente para todos da casa.
Depois de arrumar tudo deixei o café no balcão e fui para o quarto acordar o meu marido.
Quando cheguei ao quarto ele ainda estava dormindo feito um bebe, o barulho da chuva fez com que ele sequer mexesse um músculo, deitei do seu lado e soprei o seu ouvido, sem resposta, comecei a chamar o seu nome.
-Gabriel acorda!-ele jogou o braço por cima de mim e continuou dormindo, então eu decidi fazer cócegas nele, quando eu comecei, imediatamente ele segurou as minhas mãos e levantou para cima da minha cabeça.
- Ta bom, ta bom, eu já acordei, nada de cócegas.-ele respondeu com voz de sono
- Então você tava fingindo enquanto eu tentava te acordar?!-eu perguntei
- Não, eu só estava descansando os olhos e pensando em quanto tempo você perceberia que eu já tinha acordado- ele soltou os meus braços e colocou a cabeça no meu peito, eu abracei ele, e comecei a fazer cafuné no seu cabelo.
- O café já ta pronto, eu fiz panquecas!-ele levantou a cabeça surpreso.
- Você?-ele perguntou com uma cara incrédula.
- Nossa, valeu pela confiança.-fiz um biquinho dramático.
- Desculpa, é que você não cozinha..muito.-ele tentou consertar o que havia dito.
- Na verdade a dona Marta que fez a massa, eu fiquei olhando, e depois coloquei na frigideira.-eu expliquei melhor
- Agora faz mais sentido-ele respondeu
- Eiii-eu comecei a fazer cócegas nele sem parar então ele começou a rir e tentar se defender fazendo o mesmo, isso acabou virando uma guerra de cócegas, depois de muita risada nós dois cansamos.
- Que horas são?!,-Ele olhou o celular e viu que já passava das dez
– É melhor irmos tomar café logo, aaah amor, eu dei um dia de folga para a dona Marta,e deixei ela passar esse dia aqui, ela preferiu assim, a gente pode assistir alguma coisa junto.
Vai ser ótimo, então só seremos nós, a dona Marta e os dois seguranças da portaria, já que o Gael e os seus outros seguranças não estão em serviço hoje.
Vamos logo.