Ari rapidamente discou o número de Vickie ao sair do hospital. Se alguém podia ajudá-la, era sua amiga excêntrica.
　　"Alô?" Vickie atendeu no primeiro toque.
　　"Vickie, eu preciso da sua ajuda," disparou Ari no telefone, atravessando o estacionamento em direção ao seu carro.
　　 Havia uma pequena pausa. "Do que você precisa?" A voz de Vickie tornou-se de repente séria, mais contida do que Ari jamais a conheceu.
　　 Ari subiu no banco do motorista e, um momento depois, o motor rugiu para a vida. “Eu preciso que você me deixa bonita."
　　Vickie riu. “Você já é linda. Só precisamos te deixar ainda mais deslumbrante!"
　　 Ari sorriu. Com toda a tristeza em sua vida, Ari se sentiu aliviada por ter esse momento de descontração.
　　"Então, você decidiu fazer isso?" Vickie perguntou, euforia em sua voz. “Com qual empresa você decidiu ir?"
　　"AmericanMate." Ari virou a esquina para avenida principal. A certidão de virgindade estava no banco do passageiro. Ela pegou antes que caísse no chão. Fez uma nota mental para fazer uma cópia disso depois.
　　Vickie soltou um grito de empolgação. "Onde você está?"
　　"No caminho para o nosso quarto na república." Ari teve que fazer um esforço consciente para não ultrapassar o limite de velocidade. Com o tempo de Henley se esgotando, não havia tempo a perder. Um sentimento de empoderamento veio sobre Ari depois que ela tomou a decisão. Pelo menos ela sentia que poderia fazer algo para ajudar. "Você tem algum plano?"
　　"Nada! E se eu tivesse, agora estão cancelados." Vickie soava como uma colegial empolgada. “O que vamos fazer?"
　　"Bem, eu preciso de fotos de rosto-"
　　"Não diga mais nada," Vickie a interrompeu. "Então, isso significa cabelo, maquiagem, roupas...."
　　"Pense sutil, Vickie." Ari sorriu de canto, virando em outra esquina. “Eu quero atrair o tipo certo de homem, não quero dar uma vibe de prostituta."
Vickie zombou. “Oh, você de pouca fé! Só deixa comigo! Vou pensar em algo." Então a ligação terminou.
"É disso que eu tenho medo." Ari jogou seu celular no banco do passageiro, imaginando o que Vickie estava planejando. Mas, por outro lado, foi ela quem pediu sua ajuda. De todas as pessoas que Ari conhecia, Vickie era a que tinha o melhor senso de moda. Ari caiu na risada. Isso não falava muito sobre seu grupo de amigos. Mas se as posições fossem invertidas, Ari sabia que também ajudaria Vickie com qualquer coisa de que ela precisasse.
Alguns minutos depois, Ari chegou ao estacionamento da universidade e parou em frente ao seu dormitório. Ela rapidamente trancou o carro e se dirigiu para o saguão, e então para o corredor. Quando entrou no quarto do dormitório, Vickie já tinha algumas roupas espalhadas na cama, e sua câmera já estava montada no tripé.
"Não parece animada, não é?" Ari perguntou secamente.
"Que bom que chegou!" Vickie gritou de alegria, ignorando a provocação. “Vá tomar um banho e se depilar, e aí podemos começar."
"Sim, mãe!" Mas Ari fez como lhe foi dito. Seu coração batia forte de emoção enquanto preparava seu banho. A alegria de Vickie era contagiante. Ela estava querendo brincar de Barbie com ela há algum tempo. Agora era a chance.
Quando Ari estava na banheira, a porta se abriu, e algo voou para dentro.
"Ei!" Ari pulou, se perguntando que diabos estava acontecendo. Conhecendo Vickie, poderia ser qualquer coisa. Ela olhou para o lado e seu bom sutiã rosado com a calcinha combinando estavam no balcão.
"Aqui! Vista isso!" Vickie gritou da porta, e a fechou com a mesma rapidez. Nada a impedia quando Vickie estava com a cabeça cheia de ideias de moda.
Ari riu, balançando a cabeça. "Você está aproveitando isso demais, sabia!"
Vickie colocou a cabeça para dentro novamente. "Eu sei!" Então ela rapidamente fechou a porta novamente.
“Vou ter que começar a trancar as portas!"
"Ei!" Vickie mostrou a cabeça novamente. "Foi você quem pediu minha ajuda."
"Sai!" Ari gritou. Se tivesse algo próximo, Ari teria jogado nela. Entretanto, ela estava grata por Vickie poder ajudar. Ari geralmente não era ligada em moda, que incluía cabelo, roupas e maquiagem. Sua jogada habitual era não usar maquiagem e fazer um rabo de cavalo para as aulas. Sem surpresas pelo fato de ela não ter uma vida amorosa.
Ari saiu do banheiro alguns minutos depois, recém-saída do banho, depilada e vestida no novo conjunto de sutiã e calcinha rosa ainda não usado. "Tudo bem. Eu sou toda sua."
Vickie deu um sorrisinho. “Sim, é o que todas dizem."
Ari deu uma risada. "Onde você quer que eu fique?" Conhecendo Vickie, era uma pergunta com segundas intenções, mas ela teve que perguntar.
Mas para surpresa de Ari, ela não entrou na brincadeira. Ela indicou uma cadeira em frente a um longo espelho, com um secador e uma chapinha já conectados, criando um improvisado salão de beleza.
Vickie segurou a parte de trás da cadeira. “Por aqui." Ela olhou atentamente para Ari e fez uma careta. “Essas sobrancelhas, menina! Por que, me diga, você tem uma floresta crescendo no seu rosto?"
“Obrigada por isso," Ari disse de forma áspera, mas não pôde deixar de rir.
Mas Vickie a ignorou, indo direto ao trabalho de depilar, cera, puxar...
“Ai!" Ari reclamou. Ela nunca tinha suportado tanta dor... nunca.
Vickie deu um tapinha brincalhão no ombro dela. “Ei! Dá muito trabalho para conseguir este visual 'natural'!"
Em seguida, Vickie aplicou algum tipo de máscara com cheiro de frutas no rosto dela, tirou, e depois limpou os restos com lenços de maquiagem.
“Isso melhor valer a pena!"
“Silêncio!" Vickie ignorou suas reclamações e continuou puxando e esfregando. “É o preço que pagamos pela beleza."
“Não é de se estranhar que eu nunca fui bonita."
Vickie olhou nos olhos dela enquanto um sorriso largo se espalhava em seu rosto. “Bem, você vai ser um arraso agora!"
“Eu posso ver agora?"
“Não!" Vickie respondeu triunfante. “Não até que minha obra-prima esteja completa." Então ela pegou seu conjunto de maquiagem. “Feche seus olhos."
"Okay. Agora você está oficialmente me assustando."
Vickie riu e Ari sentiu ela aplicar maquiagem nos olhos. Depois, ela a direcionou para virar de um lado e de outro. Então ela começou a arrumar seu cabelo. Pela primeira vez, Ari começou a se sentir bonita.
"Você deveria ser cabeleireira ou maquiadora", Ari observou. "Você tem um jeito especial..."
Vickie deu de ombros. “Eu pensei sobre isso, mas eu prefiro ser uma contadora."
Ari riu. “Tão criativa quanto você é, e você quer ser uma contadora?"
“Sim, por que não?" Ela virou Ari de costas para o espelho para que ela não pudesse ver. “Você já viu o filme O Contador?
Ari riu. “Sim, mas ele usava isso como uma fachada." Ela gostava de discutir verbalmente com Vickie. “Então, você vai usar isso como uma capa e se tornar uma assassina?"
Vickie deu de ombros. “Tem possibilidades."
"Você é louca."
Vickie riu. “Não, não estou louca. Estou sã e tenho documentos para provar isso", ela brincou. Então ela a virou de frente. “Voilà!"
E o que Ari viu no espelho claramente a deixou perplexa. Ela não reconheceu a garota que olhava para ela no espelho. Pois aquela garota era verdadeiramente bela. Naquele momento, Ari percebeu que sua nova vida tinha acabado de começar.