Capítulo 93
2008palavras
2024-02-03 08:44
Há coisas que você não percebe até beijar o homem a qual você acreditou odiar. Uma delas era com Ashley sentia as pernas fraquejarem ao toque dos lábios de Oliver nos seus. Não havia resistência, nem urgência em fugir. Ela apenas fechava os olhos e se entregava quase completamente e percebia o quanto o amava.
Mas tinha uma parte do seu coração que levava direto à memória os momentos horríveis e humilhantes a qual ela passou ao lado dele. E foi nesse momento que a magia acabou e Ashley o empurrou para longe.
— O que você acha que está fazendo? – Sentiu leves pontada de pânico ao olhar nos olhos de Oliver.

— Beijando a mulher que eu amo? – Ashley virou de costas para ele, não podendo ver a tristeza tomando forma no seu rosto.
— Para de dizer que me ama – a voz de Ashley não estava agressiva ou ríspida. Foi como se ao dizer isso, ela se tornasse vulnerável – eu não acredito nas suas palavras, Oliver.
Ainda que ouvir aquilo doesse no seu coração, passos lentos o levaram para mais perto dela. Segurou nos seus braços e a girou para que olhasse nos seus olhos, aproximando o corpo dela do seu.
— Não ouse me beijar de novo – levantou a mão, com a intenção de bater nele, mas Oliver não a soltou um segundo sequer.
— Quer me bater, Ashley? Me bate – segurou na mão dela, pressionando-a contra o rosto dele, indo e voltando – tire toda a raiva do seu coração. Se houver ódio, tire tudo, por todo o mal que eu te causei. Eu mereço o seu castigo – continuou pressionando a mão dela contra o seu próprio rosto, quando parou, a olhando com lagrimas nos olhos – mas eu não consigo viver sem você, Ashley. Não se afaste de mim.
Os olhos de Ashley encheram-se de lagrimas também, mas ela se afastou, retirando a mão do seu rosto.

— Eu não posso te amar – a mudança na voz não disfarçou a amargura – você me obrigou a me casar com você. A esconde a Valentina por medo do que você poderia fazer com ela. Me usou e quando eu já não tinha utilidade, me jogou fora. Como eu posso amar alguém como você?
Oliver fechou os olhos como se não pudesse suportar aquelas palavras. Enquanto as lagrimas escorriam pelo rosto de Ashley, um longo silêncio pairou entre eles.
— Então diga-me que não me ama – Ashley virou para olhá-lo, sem acreditar naquilo – olhe nos meus olhos e diga que não me ama e eu irei embora para nunca mais procurá-la.
— O quê? – Ela soltou um suspiro dramático – pare com os seus jogos ridículos, Oliver. Proponho acabarmos logo com isso.

— Diga que não me ama, Ashley – agarrou nos dois braços dela, a puxando de volta para perto dele.
Talvez Oliver conseguisse perceber que ela era incapaz de fazer aquilo. Talvez prestasse atenção nas mudanças sutis que o seu toque causasse na sua pele. Ele conseguia ver o amor que Ashley tanto escondia, apenas olhando nos seus olhos.
— Por favor, Oliver – chorou mais uma vez – eu não posso. Eu não consigo perdoar você.
Embora isso apenas confirmasse o que ele já desconfiava, sentiu todo o sangue sumir das suas veias. Fez outro longo silêncio. Então Ashley voltou a falar, com a voz rouca de tristeza.
— Você é o homem mais egoísta que eu já conheci na vida – ela lutou com as palavras.
— E você, a mais teimosa, incapaz de aceitar que as pessoas mudam por amor – a sua voz se tornou áspera – mas você tomou a sua decisão, e não há mais nada que eu possa fazer.
Ela olhou o seu rosto machucado de lagrimas e abaixou o olhar para baixo, para as mãos dele que tremiam. Logo em seguida, Oliver virou as costas, pegou a mala e começou a guardar as suas roupas nela.
Ashley fez menção de sair do quarto, mas suas pernas travaram. Ela olhava para ele, arrumando as suas coisas, pronto para partir, sabendo que no seu coração não era o que de fato ela queria. Às vezes Oliver levantava o olhar e a encarava, esperando que ela mudasse de ideia e dissesse para ele ficar, mas Ashley era incapaz de dizer qualquer coisa, até que, enfim, saiu do quarto sem olhar para trás.
Se deparou com Ethan na sala, brincando com Valentina. Foi inevitável esconder a tristeza estampada no rosto. Ela até forçou um sorriso quando o pai olhou nos olhos dela, mas Ethan conhecia Ashley, o seu semblante não mentia sobre o que estava acontecendo.
— Não me diga que o Oliver piorou – sussurrou para que Valentina não ouvisse o que ele dizia.
— O Oliver está ótimo, pai – engoliu o choro que insistia em ficar preso na garganta – ele vai voltar para Las Vegas…
Ethan percebeu a tristeza que ela sentia ao pronunciar aquelas palavras. Acariciou os seus cabelos e pensou na melhor maneira em dizer aquilo.
— E, por que você está tão triste? – Ela lançou o olhar até ele.
— Eu não estou – gaguejou – fico preocupada com a reação da Valentina.
— Eu a conheço tão bem que sei até quando está mentindo.
Ashley engoliu em seco, virando a cabeça e se afastando dele.
— Eu não quero falar sobre isso, pai – a sua voz saiu inexpressiva e contida – não há nada que eu possa fazer contra isso.
— Peça para ele ficar, ora essa – disse com urgência como se implorasse.
Olhou para Ethan com espanto e até abriu a boca para respondê-lo, mas não teve tempo. Viu Oliver atravessar o corredor e caminha na direção deles. Valentina correu para abraçá-lo e a tristeza no rosto dele se intensificou ainda mais.
— Por que está com a mala? – A menina estreitou os olhos, curiosa.
— O papai precisa voltar para casa – forçou um sorriso.
— E a gente vai com você? – Os olhos dela brilharam, mas Oliver não conteve as lagrimas.
— Infelizmente não – desviou o olhar até Ashley, mas ela foi incapaz de olhar para ele – mas eu prometo que voltarei para vê-la.
Valentina o abraçou com força e chorou nos ombros de Oliver.
— Eu não quero que você vá – disse, choramingando e aquilo partiu o seu coração.
— Não chore, princesa – segurou o pequeno rosto dela na sua mão e sorriu – eu só vou resolver algumas coisas e voltarei logo. Eu prometo.
Do outro lado da sala, Ashley escondia a tristeza. A última coisa que queria era magoar a Valentina, mas para ela era inevitável evitar tanta dor. Levantou a cabeça assustada, quando percebeu Oliver se aproximar com Valentina no colo e olhá-la com tristeza. Entregou a menina que não resistiu, como se entendesse que logo veria o pai novamente.
— Cuide bem dela – a respiração ficou presa na garganta.
Ashley ainda era incapaz de dizer qualquer coisa. Viu Oliver virar as costas para ela e abraçar Ethan se despedindo.
— Fique mais um pouco, Oliver – pediu ele, com lagrimas nos olhos.
— Eu não posso Ethan – mas ele podia e Ethan sabia que bastasse Ashley pedir que ele largaria tudo por ela – obrigada por me receber tão bem.
Segurou no rosto do rapaz, em silêncio e sorriu para ele. Por um instante, Ashley viu Oliver apertar os lábios e os seus olhos brilharam, como se ele ainda tivesse esperança de que ela mudasse de ideia naquele momento. Olhou para a porta, depois para ela. Ashley preferiu não ter percebido, mas ele caminhou até a saída e partiu.
Ashley chorou agarrada com Valentina nos braços, sem entender por que doía tanto o seu coração. Ethan caminhou para fora e ficou ali até não ver mais Oliver. A casa ficou estranhamente silenciosa sem a presença de Oliver. Um vazio imenso, tanto ali, quanto em seu coração.
Quando Ethan voltou para dentro em passos apressados e com a respiração ofegante, Ashley entendeu o que ele iria dizer.
— Não o deixe ir, Ashley – havia urgência na sua voz – qualquer um consegue constatar o quanto você está triste com isso. Se não quer pedir para ele ficar, arrume as suas coisas e vá com ele.
Ashley não sabia se a sua expressão demonstrava realmente o que ela sentia, mas ela não conseguia dizer nada.
— Não é possível que você deixe a mágoa impedir o amor que você sente por ele – foi direto, segurando nos braços da filha – O Oliver não é o mesmo homem que você se casou. Ele mudou, Ashley.
Ela ficou olhando para Ethan como se não soubesse que devia acreditar.
No fundo, Ashley sabia que Oliver não era mais o mesmo. Mesmo com os seus sentidos lutando contra os fatos, ela sabia e acreditava naquele amor. O medo de ser magoada novamente a bloqueava e afastava Oliver dela, mas Ashley sempre foi uma mulher obstinada e sonhadora. Conseguiu perdoar a mãe pelo abandono maternal. Perdoou o pai por tê-la entregado em uma bandeja para Oliver. Conseguia até mesmo perdoar Stefany pela maldade que ela cometera, mas com o Oliver tudo parecia diferente, por qual motivo ela já não conseguia entender.
A voz de Ethan soou obstinada novamente.
— Vamos lá, Ashley – caminhou até ela, pegando Valentina no colo – ainda é tempo de consertar as coisas. Não permita que o arrependimento a consuma pelo resto da vida.
Ela olhou para fora da janela e imaginou os seus dias sem Oliver. Com as ideias tão confusas quanto as nuvens abaixo deles, ela não conseguiu enxergar nada além do Oliver. Foi como se o mundo ficasse reduzido apenas a ele e a ela. O mundo ao seu redor pareceu se encolher, até que ele fosse somente o som do seu coração implorando que ela corresse atrás do homem que a ensinou a amar.
Ashley olhou para Ethan com os olhos brilhando, enquanto ele, estendia o passaporte na sua direção. Pegou com pressa, olhando para Valentina que parecia não entender nada do que acontecia ao seu redor.
— Não se preocupe com ela – disse ele – se voltar para las Vegas eu a levarei até você. Mas corra depressa Ashley. Corra para o Oliver.
— Obrigada, pai – o abraçou – obrigada por trazer o Oliver para a minha vida pela segunda vez.
Sorriu para ele e depois deu um beijo em Valentina. Correu para fora, despreocupada, sabendo que Ethan cuidaria bem até que pudesse encontrá-la novamente.
O ajudante da fazenda a levou no aeroporto e por um momento ela achou que não conseguiria chegar a tempo de impedi-lo. Com o passaporte nas mãos, Ashley vasculhava cada canto a procura de Oliver. Olhou no painel percebendo que o voo de volta para Las Vegas estava prestes a sair. O seu coração se apertou. Correu mais alguns metros, olhou para enorme fila de pessoas pronta para embarcar, mas estranhamente Oliver não estava ali. Murmurou baixinho, colocando para fora a sua frustração.
— Está procurando alguém, Ashley? – Então ela sorriu. Um sorriso agradável. Cheio de gratidão.
Se virou lentamente, olhando nos olhos dele. Oliver estava ali, parado na sua frente, pronto para partir. Quando ela se aproximou, sabendo que já não podia mais evitar o que estava sentindo.
— O que você está fazendo aqui? – Perguntou confuso, grudando os olhos nos dela.
— Eu vim pedir para não ir, Oliver – disse, aproximando o seu rosto do dele – e se for, não vá sem mim.
A sua expressão de surpresa denunciou que Oliver já havia perdido as esperanças. Mas logo em seguida ele sorriu e não afastou o rosto. Inclinou uma das mãos para tocar no rosto dela, enquanto a outra mão a puxava para mais perto dele. As respirações se misturaram, e Ashley falou baixo para só ele ouvir.
— Eu amo você, Oliver.