Capítulo 41
1742palavras
2023-12-15 06:53
Quando Ashley colocou os pés novamente na cidade de Las Vegas, sentiu como se o seu peito rasgasse e lhe causasse bastante dor. Foi inevitável as lembranças. Ashley não queria transformar a sua cidade natal em um mártir. Ela nasceu ali, sua vida inteira foi construída ali e ela não permitiria que Oliver estragasse suas mais belas lembranças.
Marina estava tão animada com aquele momento, que mal percebeu os pulos de felicidade que dava no saguão do aeroporto. Era uma felicidade que contagiava. Abraçou Ashley e logo em seguida tirou a pequena Valentina do colo da mãe, rodopiando com a menina o caminho quase inteiro até o carro.
— Eu estou tão feliz que estejam aqui.
Era claro que estava e ela nem precisava dizer isso.
— Eu também estou feliz por estar de volta – mas as palavras de Ashley não convenceram Marina. Havia medo no rosto de Ashley. Porém, a moça, mesmo sabendo dos motivos, resolveu não falar sobre aquilo.
— Me conta como o Ethan reagiu – disse, enquanto acomodava a pequena Valentina no carro.
— Amaldiçoou até a sua quinta geração – Marina riu – ele tentou me convencer para não vir, mas minha decisão foi tão rápida que não dei tempo para ele.
— Vai perceber que foi a melhor escolha que fez – sentou-se no banco do motorista e deu partida no carro.
A cidade estava tranquila naquele horário, o que parecia bem raro para Ashley. A cidade não havia mudado nada. A impressão que ela tinha era que o tempo tivesse parado, só esperando ela voltar. Ashley soltou um longo suspiro e seu semblante se transformou em algo triste e pesado.
Marina a observou preocupada, mas dessa vez não se conteve.
— Eu sei o peso que essa cidade traz sobre você – disse sem olhá-la, Marina sentia-se incapaz de observar Ashley e ver sua tristeza aumentando gradativamente, conforme ela ia falando – Talvez o Oliver nem esteja mais morando aqui.
— Não tem nenhuma notícia dele? – A pergunta pareceu urgente e Marina desconfiou que Ashley gostasse realmente dele.
— Somente quando ele foi expulso da sociedade – disse, mas uma lembrança ressurgiu na mente – ah, quase me esqueci, ele vendeu o cassino. Um tal de Romero o comprou. Talvez ele tenha pegado esse dinheiro e decidiu reconstruir a vida em outro lugar.
Mas Ashley duvidava disso. Enquanto seu coração sangrava por dentro, ela sentiu medo dele descobrir sobre Valentina ou pior, querer fazer mal a menina. Ashley não duvidava que Oliver fosse capaz disso.
— Olha só, você não vai encontrá-lo por aí. Eu moro aqui há anos e se você não tivesse me mostrado ele por meio de uma fotografia, eu jamais o reconheceria – tentou consolá-la – A cidade é grande, a possibilidade de vocês se encontrarem é mínima.
Mas Marina dizia aquilo como se Oliver ainda estivesse por perto, o que fez o medo de Ashley aumentar.
— Eu não sei como o Oliver preferiu aquela amante dele a você – ela dizia enquanto estacionava o carro em frente à casa – aquela mulher me causa arrepios.
— Ele não tinha o que escolher – disse enquanto descia do carro e pegava Valentina no colo.
Do outro lado, Marina pegava as bagagens de Ashley e continuava ouvindo-a atentamente.
— Casamo-nos por uma aposta – odiava lembrar daquilo – e a Stefany já estava lá quando eu cheguei.
— Ainda assim, você é muito melhor do que ela – caminharam até a entrada – duvido que ele não se arrependa por ter te dispensado.
Não fale isso nem de brincadeira – Marina riu, mas esse assunto encerrou assim que elas colocaram os pés na casa.
Com Valentina brincando na sala, Ashley e Marina discutiam com que roupa ela iria para entrevista. Desde que entraram no quarto, Ashley ficou sentada na beira da cama sem conseguir mover mais do que um centímetro.
— Precisa jogar essa insegurança para o espaço Ashley – lhe entregou um blazer cor marinho para que ela experimentasse – você se preparou muito por esse momento, tenho plena convicção que irá conseguir.
— Mas se eles não aceitarem ninguém inexperiente, assim como eu? – Juntou as duas mãos soadas, enquanto o medo a invadia.
— Essa certamente não é a Ashley que conheci, que enfrentou um marido arrogante e o venceu pela coragem e ousadia que tinha – colocou as duas mãos na cintura, olhando bem nos olhos dela – O que aconteceu com você, Ashley?
— Eu tive uma filha – respondeu – eu vivo em medo constante por causa dela. Quando você tiver um filho, certamente vai me entender.
— Valentina deveria encorajá-la ainda mais – disse, com a voz alta. Marina estava a recriminando – agora vamos, experimente essas roupas, porque você tem um emprego para conquistar.
Após vestir a vigésima roupa, Ashley, enfim, escolheu o conjunto de blazer azul-marinho. Ele deixava os olhos dela, cor de mel, em destaque. Seu cabelo longos e encaracolados preso em um coque e seu rosto juvenil. Quem olhasse de longe não diria que Ashley havia envelhecido três anos, mas quem conseguisse olhar por dentro, perceberia que Ashley havia amadurecido dez anos a mais.
A velocidade com que os acontecimentos transcorriam assustavam Ashley, mas ela teve bastante tempo para pensar sobre o que Marina havia falado. Era hora de deixar o medo de lado e caso a vida resolvesse colocar Oliver novamente no seu caminho, ela estava pronta para passar por cima dele, caso fosse preciso.
No dia seguinte, logo que o sol surgia por detrás das montanhas, Ashley se arrumou para a entrevista. Marina a havia garantido que cuidaria de Valentina enquanto ela estivesse fora. Pegou as chaves do carro, deu um abraço longo em Marina e despediu-se de Valentina, dirigindo para o centro da cidade. Quando chegou no endereço indicado, percebeu que o lugar era pequeno e a empresa havia sido fundada há apenas dois anos. O primeiro emprego de Ashley seria em uma empresa recém-fundada? Uma ponta de esperança disparou enchendo seu coração. Por mais arriscado que parecesse, seria uma boa experiência para ambos os lados. Ela cruzou os dedos quando colocou os pés pela primeira vez no prédio. Ela conseguiria aquela vaga, tinha certeza daquilo.
Era obvio que haveria concorrentes, mas Ashley estranhou que houvesse apenas uma moça na sua frente. Conforme os minutos passaram e mais ninguém chegou, ela concluiu que seria uma batalha de duas e que seria aquela moça a qual ela deveria vencer.
Quase uma hora depois que a primeira candidata entrou na sala, saiu de lá com um sorriso satisfatório no rosto. Aquilo não parecia ser um bom sinal. Quando o nome de Ashley foi anunciado, ela se levantou, enxugando as mãos na saia tão bem passada e cumprimentou a mulher a sua frente.
No primeiro momento presumiu que ela era a dona da empresa, massa mulher tinha uma aparência nada profissional, apesar de parecer ser bem simpática, não tinha o poste de uma executiva.
— Meu nome é Val – disse ela – e eu sou a responsável por entrevistá-la, Ashley.
Mesmo que sua aparência enganasse, a mulher era inteligente e astuta, em momento algum mencionou o nome do chefe. Aquilo intrigava Ashley. Após ler sua ficha profissional, a qual não obtinha nenhuma referência, seu coração congelou. Ela era apenas uma moça de vinte e um anos, recém-formada, inexperiente. Qual era a sua chance de conseguir aquela vaga.
Fez Ashley responder uma sequência de perguntas. Parecia até uma prova de concurso público com questões de raciocínio logico. Meia hora depois, ela já havia terminado e dez minutos depois, a mulher voltou com uma expressão de surpresa no rosto.
— Estou impressionada com sua capacidade e inteligência ao resolver coisas complexas – Ashley riu, sem saber ao certo se aquilo era algo bom ou não – apesar da sua inexperiência.
— Acabei de me formar senhora – suas bochechas encarnaram – no anúncio não informava que você buscava por experiência.
Ah, não se preocupe com isso, querida, conheço muitos que trabalharam por várias empresas, mais lhe faltava qualidade – ajeitou os óculos, enquanto levantava o olhar até ela, a olhando – o que você tem de sobra.
Ashley sorriu. Voltou a focar a atenção na mulher a sua frente, enquanto a curiosidade explodia.
— Posso perguntar quem é o dono dessa empresa? – Observou Val cruzar os dedos das mãos sobre a mesa e olhar bem para ela.
— Ele prefere guardar a surpresa para depois – disse, com um sorriso e se calou novamente, esperando a próxima pergunta.
Então era um homem?
— Qual função eu exerceria, caso fosse contratada?
— Você ajudará a administrar a empresa e será como um CEO – respondeu, fazendo Ashley arregalar os olhos, assustada para a mulher.
— É muita responsabilidade – gaguejou.
— Acha que não consegue, senhorita Ashley?
Estava aí a pergunta que causou arrepios em Ashley. Então ela se lembrou de Valentina e o quanto ela sonhava em oferecer uma vida boa a sua filha. Se lembrou de Ethan e das dificuldades que a fazenda enfrentava. Seu coração imediatamente encheu-se de ousadia e ela respondeu.
— Eu consigo – arrumou a postura, e a olhou com firmeza.
— Ótimo! – Val se levantou, passando uma das mãos na calça que vestia e levantou-a para cumprimentar Ashley – você está contratada.
A boca entreaberta revelou a surpresa. Perecia ter sido simples, mas ela passou quase uma hora trancada naquela sala, resolvendo questões difíceis e complexas. Parecia fácil por ela ser inexperiente e por talvez achar que não tinha a menor chance com a outra moça.
— Mas aquela mulher saiu da sala sorrindo, eu achei...
— Está se referindo a outra candidata? – Ashley balançou a cabeça – ah, não! Eu disse a ela que retornaríamos. Mas ela não é tão capacitada quanto você.
O silêncio foi a única coisa que Ashley conseguiu responder. Ela chorou, colocando para fora todas as emoções que há muito tempo vinha guardando. Ela chorou porque havia conseguido e a felicidade era tão imensa que ela não se conteve.
— Parabéns, senhorita, Ashley – Valentina um sorriso de satisfação no rosto, como se soubesse que havia feito a escolha certa – nos vemos amanhã, no seu primeiro dia.
Ela enxugou as lagrimas, ainda boquiaberta. Realmente as coisas estavam acontecendo rápido demais.
— Esteja preparada – anunciou ela – amanhã você conhecerá o seu novo chefe.