Stefany levantou-se e correu em direção ao Oliver. Tinha um lençol cobrindo a nudez e um sorriso de realização disfarçado no rosto. Ela não se importava com a dor que Filipe poderia sentir ao vê-la o traindo com o melhor amigo, Stefany não tinha vergonha. Ela havia conseguido o que tanto queria.
Filipe sentiu seu estômago revirar. Como pequenas agulhas perfurando o seu corpo, sentiu seu coração quase explodir de dor ao ver a única mulher que o amou o traindo com o melhor amigo. A atmosfera no quarto era tão tensa, que ele podia sentir a temperatura corporal aumentar instantaneamente.
Do outro lado, Oliver se ergueu sentando-se na beira da cama, ainda massageando o rosto. Soltou um suspiro trêmulo de remorso.

— Precisamos conversar, Filipe.
Filipe riu, mas logo percebeu o quão seco era o seu humor. Sentiu seu estômago contorcer novamente.
— Conversar? – Fechou o punho novamente. Ele só queria bater em Oliver até não poder mais – qual foi a parte que eu não vi que você precisa me contar?
Filipe balançou a cabeça lentamente, observando o olhar sem brilho de Oliver. Seus lábios eram fracos demais para argumentar qualquer coisa.
— Há quanto tempo vocês estão juntos? – Ele soltou a respiração que estava segurando, enquanto milhões de pensamentos surgiam em sua mente.
— O quê? – Indagou Oliver, confuso.

— Há quanto tempo você finge ser meu amigo, enquanto dorme com a minha mulher? - Filipe gritou.
— Filipe, você está confundindo as coisas, eu e o Oliver…
— Vai fazer eu me sentir um louco? – Direcionou o olhar ameaçador a ela – vai dizer que estou delirando e que o que eu estou vendo é fruto da minha imaginação?
Era óbvio que Stefany fingiria constrangimento. O seu plano precisava ser perfeito.

— Não Filipe, ela só… – as palavras morreram em sua garganta e Oliver empurrou para longe toda a suas intenções de justificar aquele fato.
— Você não respondeu o que eu perguntei, Oliver – Filipe sentia raios de adrenalina pulsar pelas suas veias enquanto gritava.
Houve um silêncio constrangedor no ambiente a qual Filipe achou que não conseguiria suportar.
— Estamos juntos há três anos – Oliver sussurrou – mas há um mês que eu e Stefany não nos víamos.
— Está dizendo isso para me consolar?
— Estou dizendo que iríamos terminar com essa história – sua voz se elevou.
Do outro lado, o coração de Stefany batia tão descontroladamente sobre o seu peito que ela sentia uma dor latejante. Descobrir que Oliver pretendia descartá-la quase a matou por dentro.
— Além de arrogante, você também é cínico e dissimulado – Filipe nunca se sentiu tão humilhado em toda a sua vida – suponho que você nunca iria me contar.
— Minha intenção nunca foi desapontar você – justificou Oliver.
Durante toda a sua vida, Filipe nunca havia levado um soco no estômago, mas agora era exatamente assim que ele se sentia. Se afastou de Oliver porque sabia que se ficasse só mais um segundo perto dele, colocaria fogo na casa, com eles dois dentro.
— Podemos consertar as coisas, Filipe – fingindo estar desesperada, Stefany agarrou o corpo dele.
— Eu não quero que você faça nada, Stefany – empurrou ela, sentindo nojo – quem vai fazer sou eu quando pedir o divórcio.
— Como você descobriu? – Stefany perguntou. Ela daria a cartada final no seu plano diabólico.
Ela havia planejado isso. Cada detalhe.
Filipe sentiu a saliva rasgar sua garganta. Ele podia sentir o peso das suas palavras antes mesmo de pronunciá-las.
— Talvez a pobre Ashley não soubesse o que fazer diante da traição de vocês dois. Então me chamou para que eu fizesse por ela.
— Está me dizendo que foi a Ashley que te contou sobre nós dois? – indagou Oliver.
— Vai me dizer que ela também não sabia? – Filipe zombou – ela me avisou que Stefany estava aqui.
— Impossível! – Oliver parecia desnorteado – Ashley não está na mansão.
— Ingenuidade sua duvidar da capacidade daquela menina – a última coisa que Stefany queria era deixar Oliver bravo, mas era exatamente aquilo que ela estava fazendo.
— Esse não é o momento para esse tipo de comentário – Oliver explodiu.
Ela caminhou até Filipe sentindo o seu coração esmagando sobre si mesma, quando viu uma falha no plano.
— Vamos voltar para casa Filipe – segurou pelo braço dele, com a intenção de tirá-lo dali, mas falhou. Filipe contraiu o corpo e a empurrou no corredor.
— Você não tem mais casa, Stefany – seus olhos lacrimejando – nem mesmo uma mala eu farei para você.
— Não pode fazer isso comigo – o medo a nocauteou.
De um lado estava Oliver, que não parecia convencido que Ashley contaria a verdade para Filipe. Do outro lado estava o seu marido furioso, fazendo promessas de deixá-la na ruína.
— O que você achou que aconteceria depois que eu descobrisse sua traição? – Inclinou o corpo na direção dela, apertando seu rosto com os dedos – você não ficará com nenhum centavo meu. Nos casamos com separação total de bens. Tudo que você tem me pertence, já que fui eu que comprei.
Filipe a soltou deixando as marcas dos seus dedos no rosto desnorteado da mulher. Stefany não havia pensado nisso também.
— Não – ela tentou segurá-lo novamente, mas a rejeição explodiu por todo o seu corpo – Filipe, espera.
Ainda jogada no chão, ela o observou se afastar. Levantou-se indo atrás dele.
— Eu não tenho para onde ir – suplicou, arrastando-se atrás dele.
— Fique com o seu amante – o olhar agudo encontrou-se com o dela – Ah, esqueci, o Oliver também não te quer.
Mas o semblante dela mudou. De mulher desesperada, passou por ódio e satisfação por, enfim, ter conseguido se livrar dele. A máscara de esposa arrependida caiu, literalmente.
— Eu não ligo para sua dor, ou seja, lá o que você esteja sentindo agora – observou Filipe arregalar os olhos, surpreso com a reação dela – eu não me arrependo nem de um dia em que estive nos braços do Oliver e se pudesse fazer tudo novamente eu o faria.
Filipe sentiu o corpo inteiro congelar ao ouvi-la dizer aquelas coisas. Afinal, ele a amava, mesmo ela decepcionando-o. Ele realmente quis acreditar que ela estava arrependida por ter o enganado. Mas não havia arrependimento no rosto de Stefany e isso partiu o coração de Filipe em um milhão de pedaços.
— Eu não vou sair desse casamento sem nada, esteja certo disso – cuspiu a sua indignação.
— E eu prometo que fracassará novamente – travou o maxilar e deu dois passos para trás – nos vemos nos tribunais.
Filipe a olhou pela última vez com a dor estampada no rosto, virou as costas e saiu da mansão. Ele sabia que se ficasse só mais um minuto ali concretizaria uma grande besteira. Entrou no seu carro, mas não deu a partida. Mas ele não percebeu que permaneceu ali sentado, olhando para o vazio a sua frente por longos minutos. Filipe ficou preso na própria angústia e quando enfim se libertou dela, seu grito foi abafado pelo vidro escuro do carro. E ele chorou até não aguentar mais.
No caminho de volta para casa, sentiu-se um covarde por não arrebentar o rosto de Oliver, até deixá-lo desfigurado. Sentiu o peso das palavras não ditas o esmagar. Ele podia ter limpado sua honra humilhando Stefany. Mas Filipe prometeu a si que eles dois pagariam por aquela traição. Ele faria Oliver sangrar e tiraria dele o que ele mais amava.
Olho por olho. Dente por dente.