No dia seguinte, quando o sol ainda não havia nascido, Ashley acordou sentindo fortes dores no corpo. Certamente eram consequências do dia anterior. O dia do atropelamento. Ashley não conseguia parar de pensar naquilo, era como uma sombra na sua mente, tomando todo o espaço e a amedrontando. Se havia realmente sido Stefany a culpada, Ashley precisava começar a tomar cuidados extremos. Stefany não desistiria tão fácil de tentar eliminá-la, e Ashley sabia disso.
Quando foi para a sala, Ethan já estava lá, lendo o jornal, com o óculo caído sobre o rosto. Ashley passou por ele em silêncio, não estava disposta a conversar sobre nada. Ethan parecia se esforçar sempre, para tornar a vida de Ashley sempre mais difícil. Assim que chegou na cozinha, ouviu passos apressados vindo em sua direção. Ethan parou bem em frente a ela, com um olhar curioso.
— Não me olhe assim – Ashley disse, olhando rapidamente para ele e desviando o olhar logo em seguida – não temos nada para conversar.

— Eu entendo a sua frustração por eu chamar o Oliver até aqui, – vociferou – mas ele certamente era o único que podia ajudá-la a descobrir quem havia tentado atropelá-la.
— O senhor colocou todo o meu segredo em risco de ser descoberto – Ashley levantou o olhar até ele – Você não entendeu ainda que o Oliver não se importa com o meu bem-estar?
— Não foi o que me pareceu ontem, – ele parecia ter certeza sobre o que dizia – ele parecia bem preocupado com você.
— Está deixando ser enganado por ele novamente – sentiu uma pontada de tristeza ao dizer isso – Oliver não se importa com ninguém além dele mesmo.
— O que foi que ele te disse?
Ashley olhou para ele sentindo aquela pergunta esvaziar toda a sua alegria. Um silêncio se prolongou, até ela, enfim, falar.

— Eu auxiliei o Oliver a entrar para sociedade, dizendo que eu estava grávida dele.
Ethan ficou boquiaberto.
— Eu disse a ele que a gravidez era uma história inventada – falou apressadamente, temendo que Ethan lhe fizesse dezenas de outras perguntas – eu menti para ele consegui entrar para a sociedade.
— E você ainda consegue dizer que eu estou colocando o seu segredo em risco? – Ethan soltou uma risada de incredulidade – Acha que vai sustentar essa mentira até quando? Dirá que a barriga está crescendo de mentira também.

— O Oliver quer que eu diga que perdi o bebê no acidente – sussurrou.
Ethan olhou para ela, ensaiou dizer algo, mas era como se as palavras não saíssem.
— Eu sei que eu estou em um problema difícil de ser resolvido, – ficou agitada, com o coração batendo desenfreadamente – mas foi o senhor que me colocou nessa enrascada. Não tem o direito de me recriminar.
— Eu realmente acho que você vai passar o resto da sua vida me lembrando disso – ele agora parecia mais nervoso do que ela – deveria contar a verdade ao Oliver. Ele tem o direito de saber que terá um filho.
— Ele vai me eliminar assim que souber da verdade – disse, com um tom calmo para uma verdade tão difícil – essas palavras saíram da própria boca dele.
Mas o Ethan, dessa vez, não soube o que dizer para a filha. Era como se a culpa explodisse no seu peito, estraçalhando tudo por dentro.
— O senhor entende agora, o porquê não deve chamar o Oliver todas as vezes que um problema acontecer comigo?
Ethan a analisou, limpou a garganta antes de dizer.
— Você está se arriscando demais – disse – e você sabe quem foi o responsável pelo atropelamento, não sabe?
Ashley engoliu a seco. Pensou em não contar a verdade a ele, mas falhou miseravelmente.
— Eu sei – confessou – foi a amante do Oliver.
Ethan estava espantado mais uma vez.
— O Oliver tem uma amante? – Novamente ele riu, de desespero ou talvez de satisfação por descobrir o lado ruim de Oliver.
— Ela já estava lá quando eu me casei com ele.
— Quem é ela? – Perguntou
— Esposa do Filipe – confessou – certamente o senhor se lembra dele.
— Filho da mãe traidor – esbravejou – ele não poupa nem o melhor amigo.
— O senhor precisa manter a boca fechada, se não quiser me encontrar morta por aí.
Pareceu uma declaração exagerada demais, mas Ethan sabia que, no fundo, Ashley tinha razão.
— Eu vou desfazer esse casamento – disse, decidido – O Oliver usou você para conseguir o que ele queria, não há mais por que se manter casada com ele.
— O senhor acha que eu já não tentei fazer isso? – Ela sentiu o rosto queimar como brasa – ele me fez assinar um papel onde me obriga a ficar casada com ele por dois anos. Não tem como escapar.
Ethan desabou na cadeira logo atrás dele, colocando as mãos sobre a cabeça. Cada vez que ele avançava mais naquela conversa, ficava preso como um bicho indefeso em uma teia de aranha.
O silêncio tomou conta do ambiente como as palavras já não fossem o suficiente. Ashley já havia perdido as esperanças, como um consolo certificou-se de convencer a si mesma que aquele era o seu destino pelos próximos dois anos. Tentava não sentir mágoa do próprio pai, mas todas às vezes que olhava nos olhos dele, se lembrava que o vício a condenou a uma vida infeliz, ao lado de um homem que não a amava. Do outro lado estava o Ethan, viciado e incapaz de proteger a própria filha. Desde quando sua mulher o havia abandonado, ele se perdia na própria dor e frustração. Por conta disso, todas as suas decisões eram tomadas inconsequentemente, condenando não só ele, mas também a própria filha, a qual ele um dia prometeu proteger. Enquanto Ethan tentava achar uma saída para aquela confusão, o celular de Ashley tocou, e ele pôde constatar no semblante dela que era o Oliver que ligava.
Ela demorou para atender, como se buscasse coragem. Podia-se ver o medo estampado no rosto dela.
Ethan a observou levar o celular até o ouvido e apenas ouvir o que o Oliver dizia. Quando a ligação foi encerrada, a expressão do medo se intensificou ainda mais no rosto da pobre Ashley.
— O que ele queria? – Ethan teve receio de fazer essa pergunta.
— Ele está vindo até aqui – disse com a angústia entalada no peito – com a Anny.
— O que ele quer vindo até aqui?
— Ele quer que eu diga que perdi o bebê.