Capítulo 17
1273palavras
2023-11-17 07:34
Ela ligou para o Ethan várias vezes, mas sempre caia na caixa postal. Estava fazendo frio e Ashley sentia-se cansada e com fome. Sem permitir que o desespero tomasse conta dela, lembrou-se de Marina, a amiga da faculdade. Ela era a sua última esperança.
Procurou o número na agenda telefônica, quando encontrou fez a ligação com as mãos tremulas. Chamou apenas duas vezes e a voz do outro lado da linha encheu o coração dela de esperança.
“Graças a Deus você me atendeu, Marina”
“Ashley?”, parecia surpresa, “Está tudo bem com você?”
“Estou com problemas”, inspirou o ar com pungência tentando controlar as batidas do coração antes de prosseguir, “você poderia vir me buscar no aeroporto?”
“Claro!”, Marina não pensou muito, talvez tivesse percebido o desespero na voz da pobre Ashley, “Dentro de poucos minutos estarei aí, desde que você me prometa contar tudo o que está acontecendo.”
“Mas é claro”, disse, “obrigada Marina”.
E ela desligou.
Depois de um tempo Marina chegou. Estacionou o carro bem ao lado de onde Ashley estava sentada. Talvez tivesse avistado ela de longe. Ashley pegou sua mala e correu para entrar do lado do passageiro, mas não pode evitar que os finos, mas constantes pingos de chuva caíssem sobre ela.
Marina ergueu uma sobrancelha, analisando Ashley, que ainda recuperava o folego.
— Obrigada por vir me buscar – sorriu, tentando disfarçar toda a vergonha que sentia.
— Gosto de ajudar os amigos – Marina ligou o carro e o jogou para outra faixa – onde está o seu marido? Lembro-me de ter contado que havia casado.
— E prometi contar mais sobre isso – emendou Ashley. Pensou que desabafar com alguém sobre esse casamento faria bem a ela – todo esse casamento é uma farsa. Uma grande farsa.
Marina freou o carro bruscamente. O tráfego estava pesado e havia carros andando lentamente pelos dois lados da avenida.
— Farsa em que sentido? – Com o carro parado no congestionamento, Marina olhou para ela.
— No sentido literal – concluiu – o Ethan me apostou em casamento para esse homem em um jogo de azar. Fui obrigada a me casar, para não ver o meu pai perder tudo o que tinha, e agora estou gravida.
— Uau! – O trânsito voltou a andar, mas Marina não moveu o carro até ouvir uma estridente buzina alertá-la da sua desatenção – Você está falando realmente sério?
— Parece loucura, eu sei – ela riu, mas o sorriso logo desapareceu – O Oliver precisava se casar para conseguir entrar para a sociedade. Eu fui a vítima da vez. O casamento foi consumado, e eu engravidei.
— Ele pelo menos gosta de você, Ashley? – Aquela pergunta parecia obvia demais – ou a trata apenas com interesse?
— Oliver é incapaz de amar alguém – respondeu – É um homem frio e arrogante, que não mede esforços para conseguir o que quer.
— Concluo, então, que ele não aceitou essa gravidez – a atenção de Marina estava totalmente voltada para o trânsito, mas Ashley podia notar o quanto ela estava horrorizada com aquela história.
— Oliver não pode saber que estou gravida – disse – ele me mataria.
Marina esperou ela continua a história, quando o olhar de Ashley vagou distraída em direção à janela, e ela se calou por um momento.
— Pressuponho também que você esteja envolvida em um contrato de casamento e não poderá pedir o divórcio.
Lagrimas escorriam pelo rosto de Ashley, que piscou, aparentemente sem percebê-las. Não fez menção de secá-las.
— Deveria abortar esse filho – prosseguiu Marina, mas até aos seus ouvidos, essas palavras pareceram inadequadas – eu posso te ajudar com isso, se quiser.
Ashley sentiu a boca ficar seca. Enxugou, enfim, as lagrimas, quando olhou para Marina.
— Eu jamais faria isso – A expressão no rosto de Ashley era de melancolia – não vou matar um inocente para diminuir a minha culpa nisso tudo.
— Que culpa você tem em ser forçada a se casar com alguém que você não ama?
Os limpadores do para-brisa jogavam a água de um lado para o outro. Agora, com o trânsito fluindo lentamente, Ashley a olhou, como se os seus olhos estivessem encobertos pelas sombras.
— Eu não fui forçada a me deitar com ele. Tudo foi consentido – o coração de Ashley batia cada vez mais rápido – além disso, eu darei a minha vida para que o Oliver jamais descubra que terá um filho comigo.
— Me perdoe se eu te ofendi – respondeu ela – essa história deu um nó na minha cabeça. Talvez eu não tenha me expressado corretamente.
— Você se expressou como deveria – falou em um tom de voz gentil. Ashley realmente não estava zangada – eu apenas resumir a história para você. Não tinha como entender.
Marina encolheu os ombros, perguntando-se o que mais de sombrio essa história poderia revelar. Marina lançou o olhar em sua direção, tentando pensar em algo para dizer a ela. Algo que diminuísse a dor de Ashley.
— Espero que você tenha um plano – Marina hesitou, ainda tentando encontrar as palavras certas – e que possa me contar o resto da história quando se sentir confortável. Ainda sou a sua amiga, Ashley, não precisa passar por isso sozinha.
— Eu sei! – Ela sorriu, mas não conseguiu esconder a tristeza – Eu não sou mais aquela adolescente no colegial, mesmo que eu ainda tenha dezoito anos. Agora eu sou esposa e em breve serei mãe. Preciso aprender a ser forte.
— E está sendo – mesmo a estrada estando vazia e elas estarem apenas alguns metros da casa do Ethan, Marina manteve uma velocidade constante – ele pelo menos é bonito? – Mudou de assunto – quero dizer, o Oliver é um homem atraente?
Ashley fitou os olhos de Marina e então riu. Ela mal acreditava que aquela pergunta estava sendo feita. Marina fez uma curva seguida de outra e logo estava estacionando em frente à casa do Ethan.
— Olhe isso – entregou o aparelho celular para ela, onde havia uma foto de Oliver.
— Eu não ficaria nem um pouco triste se me casasse com um homem lindo como esse – Ashley riu.
— Mudaria de ideia se o conhecesse – comentou, com uma pontada de tristeza.
Marina desligou o carro e estreitou os olhos até a casa do Ethan.
— Você o perdoou por tê-la apostado? – Marina se referia ao Ethan.
— Sabe que sim – guardou o celular na bolsa e destravou o cinto de segurança – O Ethan precisa de ajuda.
— Eu acho tudo isso tão injusto, Ashley.
— Espere até ouvir o resto da história – abriu a porta do carro, já pronta para partir – e obrigada pela carona. Foi bom revê-la.
— Para mim também – Marina deu partida no carro – Quando precisar é só me chamar.
Ashley apenas a observou partir e assim que o carro virou a esquina, ela caminhou até a entrada da casa. Tocou a companhia várias vezes, mas aparentemente Ethan não estava em casa. Já não chovia mais e o céu tomava-se por um tom azul-marinho e preto. Sentada na escadaria, Ashley se lembrou do dia em que estava nessa mesma posição. Do lado de fora, esperando o pai chegar para lhe dá a pior notícia de toda a sua vida. Se casar com o Oliver havia se tornado o seu pior pesadelo até aquele momento. Pensou em ir procurar o Ethan, mas estava cansada e com fome.
Será que o Ethan havia voltado a frequentar os casinos? Sentiu-se irada só em pensar nisso.