Capítulo 35
1245palavras
2024-11-12 05:21
Eu estava vivendo um grande inferno que já durava duas semanas e algo me dizia que duraria muito mais. Ver Maria ir embora e ter que aguentar, dizendo a mim mesmo que era para o bem dela, estava me consumindo. Cada vez que Will perguntava o porquê não podia vê-la ou quando ele não conseguia dormir por sentir falta dela, meu peito se apertava mais.
Definitivamente eu detestava o pai dela, queria matá-lo, se eu não soubesse que Maria ficaria mal em saber o que o pai fez, ou por descobrir que ele não nos apoiava como ela havia pensado.
— Não acredito que você ainda está com essa cara fechada? — minha mãe questionou quando eu entrei na cozinha. — Tem que melhorar essa cara Miguel, ou resolver seus problemas, ninguém aguenta mais ver você assim.
Abri um sorriso forçado e peguei uma cerveja na geladeira, não me importava que tivesse acabado de acordar, tinha bebido tanto na noite passada que já não fazia diferença a essa altura.
— Pronto, sorrindo pra vocês.
A família toda estava reunida no quintal, alguns na grelha fazendo churrasco, as crianças estavam jogando futebol e o restante estava reunido na mesa. Mas eu sentia como se faltasse uma parte, ela estava faltando ali.
— Ei, o irritadinho resolveu acordar. — Brutos gritou me fazendo praguejar e erguer o dedo do meio pra ele. — Já bebendo cara, o que te deu?
Me sentei a mesa, ignorando a pergunta dele e o olhar que todos me davam. Todo mundo ali já sabia que eu e Maria tínhamos terminado, mas mesmo assim ficavam com aquelas perguntas idiotas.
— Prontos, vamos almoçar! — mamãe gritou colocando os últimos pratos na mesa e todos começaram a se reunir.
— Quem vai dar as graças hoje é o Miguel, já que começou o dia bem. — Dênis gritou tentando ser ouvido por cima de todo o barulho, mas tudo o que ele recebeu de mim foi o silêncio.
Eu não ia agradecer, não tinha tido motivos para isso ultimamente, por mais que meu filho estivesse aqui e bem, assim como minha mãe e o resto da família, ou que os negócios estivessem ótimos, ter sido forçado a terminar com a mulher que eu amo era motivo suficiente para não querer agradecer.
— Ok, eu faço! — Ana tomou a frente colocando um fim no silêncio incomodo. — Agradecemos pela família, pelos amigos, por todos os que estão aqui e agradecemos pela comida na nossa mesa, amém.
“Por todos os que estão aqui”, porra onde Maria devia estar? Na cantoria de terapia dos domingos? Ou em um almoço com a família dela? Não saber onde ela estava me deixava ainda pior e eu não tinha me dado conta até estar vivendo esse inferno.
Todos começaram a atacar a comida, mas eu me mantinha pensando nela e bebendo, como tinha feito nas duas últimas semanas. Nesse temo passei a evitar ir ao bar em qualquer horário que pudesse vê-la, me encontrar com ela poderia me fazer voltar atrás e implorar para que ela me perdoasse.
Em vez disso eu olhava para o restaurante durante a noite e repetia a mim mesmo que estava fazendo a coisa certa, eu estava protegendo Maria, tanto de uma decepção com o pai, como de perder a coisa que ela mais lutou para ter.
Estava tão perdido nos meus pensamentos que não vi o grupinho se formando atrás de mim, quando me dei conta três brutamontes me agarraram me arrancando da cadeira antes de me jogarem no chão.
— Me larguem seus merdas! — gritei me sacudindo tentando soltar um dos braços e socar a cara dos infelizes.
— Não! Já chega disso Miguel!
— Falamos com você por quase dez minutos na mesa e você não ouviu nada do que falamos. — Brutos rosnou se levantando e deixando que os outros me segurassem no chão. — Vai contar pra todo mundo o porque terminou com Maria.
Consegui socar Kai, o fazendo me soltar então consegui arrancar meu braço do aperto de Dênis e finalmente me sentei. Brutos ainda me olhava duro, mostrando que não ia desistir tão fácil, ele e Luana eram os únicos que sabiam o motivo, mas eu sabia que todos a mesa estavam esperando por essa resposta há dias.
Bufei enfiando a cabeça entre as mãos, querendo fugir disso, mas já tinha feito aquilo por tempo de mais.
— Precisei terminar com ela ou Maria perderia o restaurante. O pai dela não me acha um bom partida e pediu que eu terminasse tudo com ela, quando eu não fiz ele foi até o bar me procurar, só para dizer que tiraria o restaurante dela caso eu não terminasse.
— Ele o que? — minha mãe foi a primeira a gritar. — Quem ele pensa que é pra fazer isso com vocês?
— Ele é o pai dela, mãe! Eu até entendo já que não sou o mais perfeito dos homens, depois que a irmã dela puxou minha ficha policial eu até imagino o quanto minha credibilidade aumentou.
— Quanto tempo mais você vai continuar assim nessa merda de sofrimento? Sabia que Maria está sofrendo tanto quanto você?
Me ergui cansado daquele papo, ele queria me convencer a ir atrás dela, mas se existisse a menor chance de fazer isso sem magoá-la ainda mais eu já teria feito algo.
— E você quer que eu faça o que porra? Saber que ela está sofrendo acaba comigo, mas se eu for atrás dela preciso contar sobre o que pai dela fez e isso vai quebra-la ainda mais. — encarei a todos ali, em especial minha mãe que estava chocada. — Não vou fazer isso com ela.
— Mas filho, você a ama! O Will a adora e a tem como uma mãe. Isso não é justo com vocês, com nenhum de vocês! — minha mãe repetiu o que eu vinha dizendo a mim mesmo há semanas.
— E é porque eu a amo que não vou destruir a confiança que ela tem no pai. O que ele fez é fodido de mais, mas ele ainda é o pai dela e Maria preza pela família, não vou colocá-la contra eles.
O resto do dia passou assim, meio cinzento, aquele incômodo chato entre nós e o gosto amargo na boca. Mesmo com todas as conversas, risadas, a situação continuou tensa na família.
— Ei, eu vou ao Devil’s hoje a noite! — gritei para Brutos antes que ele saísse da casa.
Mesmo que eu não fosse conseguir ir pra cama com qualquer mulher, pelo menos no Devil eu não ficaria tentado a olhar para o restaurante e ficar me perguntando onde ela estava.
— Não pense que vou ficar quieto vendo você sofrer por perder outra mulher. — Brutos falou me surpreendendo. — Quando você perdeu a Luna eu disse que se pudesse trazê-la de volta pra você eu faria qualquer coisa para conseguir isso, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Mas agora é diferente, eu posso fazer alguma coisa pra acabar com esse seu sofrimento e vou!
— Você não vai fazer nada, eu já resolvi isso e vai ser desse jeito!
— Não vai não. Se não queria que Maria fizesse parte da família não deveria tê-la trazido até aqui. Agora ela é uma Devil e eu vou dar um jeito nessa merda! — ele afirmou antes de subir na moto ignorando meus gritos e protestos.