— Você aqui de novo. — Brutos acertou um tapa em meu ombro e se sentou na banqueta ao meu lado. — Anda, está na hora de você dizer o que está acontecendo.
Eu vinha tentando evitar Maria por uma semana, mas era quase impossível já que ela estava passando cada vez mais tempo na minha casa. Isso acabou me obrigando a passar mais noites do que eu queria no bar e com os Devil’s.
— Não aconteceu nada. — resmunguei pegando o copo e dando mais um gole no meu whisky.
— Claro que aconteceu, eu te conheço muito bem, sei quando tem algo de errado. — apesar do bar estar lotado, repleto de mulheres, Brutos não parecia estar disposto a ir embora e me deixar em paz. — Faz muitos anos que você não passava tanto tempo aqui no bar, então é claro que alguma coisa está acontecendo. É sobre Will? Ou sua garota?
Suspirei lembrando me das palavras do pai de Maria. Eu podia não ser o melhor partido, mas eu a amava e faria qualquer coisa para vê-la feliz, por isso estava cogitando fazer o que o velho me disse e por um fim no nosso relacionamento.
— Problemas no paraíso, acho que me precipitei com Maria e agora preciso de um tempo. — menti descaradamente, mas talvez se eu começasse a repetir isso para outros ficasse mais fácil quando fosse contar a ela.
Brutos começou a rir e Laura, que estava atrás do balcão gargalhou. Eu nem tinha reparado que ela estava ouvindo a nossa conversa, fiquei tão perdido em meus próprios pensamentos que não me importei com nada a minha volta.
— Ah claro, e eu sou um bailarino. Eu quero saber o que está acontecendo de verdade.
— Porque não pode acreditar que eu queira terminar com Maria? Ou porque outro motivo eu estaria passando tanto tempo aqui? — questionei irritado que eles não acreditassem nas minhas palavras, se eu não estava conseguindo enganar meus amigos, como faria Maria acreditar?
— Sabemos que você ama aquela garota e quando Miguel ama alguém, faz de tudo pra dar certo. — Laura se intrometeu me surpreendendo.
— Acha mesmo que vamos engolir essa conversa de dar um tempo, a relação está difícil? Vai ter que mentir melhor se quiser enganar alguém com isso.
Virei o restante do whisky, queria mesmo encher a cara até que eu caísse bêbado em qualquer lugar e não tivesse que voltar para casa e dar de cara com Maria.
Por mais forte que eu devesse ser, meu corpo, minha mente, tudo em mim ia na direção dela antes mesmo que eu me desse conta, então acabávamos comendo juntos, ficando abraçadinhos, brincando com o Will juntos, nos beijando e indo para a cama. Eu não conseguia me manter distante dela.
— Eu preciso terminar com ela e tem que ser com urgência, mas a cada dia que passa parece mais impossível conseguir, eu simplesmente não consigo.
— Mas por quê? Você está feliz, apaixonado, sua mãe e seu filho amam aquela mulher, a família toda adora ela.
— A nossa família adora nós dois juntos, a família dela me odeia e o pai dela exigiu que eu terminasse com ela. — falei de uma vez e Laura se debruçou sobre o balcão, querendo ouvir mais de perto. — Ele não acha que sou bom o bastante para a filha dele e que não tenho nada a oferecer pra ela. Não o culpo, porque Maria realmente é boa de mais pra mim.
Brutos bateu a mão no balcão e se levantou, com um olhar feroz ele agarrou meus ombros e me sacudiu.
— E você vai escutar isso e terminar com ela só porque um velhote não te acha bom o bastante? Ela é filha dele Miguel, é claro que ninguém vai ser bom o suficiente aos olhos dele!
— Não é só isso, ele me pediu que terminasse tudo no dia da festa deles, mas quando viu que eu não fiz o homem foi até o bar e me ameaçou. Ele disse com todas as letras que eu tenho que escolher ver Maria sofrer por me perder, ou perder o restaurante, pois se eu não terminar ele vai tirar o restaurante dela. — finalmente consegui colocar pra fora tudo o que estava me matando nos últimos dias, eu vinha me consumindo escondendo aquilo de todos, que agora que tinha colocado para fora senti como se um peso fosse tirado das minhas costas.
Brutos se sentou ao meu lado novamente enquanto a irmã dele me servia mais uma dose de whisky, e aquilo era tudo o que eu precisava agora.
— E ele pode mesmo tirar o restaurante dela? E só porque vocês estão juntos? — eu me apenas acenei com a cabeça enquanto Laura fazia as perguntas. — Que filho da puta! Como um pai pode fazer isso com a própria filha, destruir a felicidade dela.
— Aposto que você não disse nada para Maria, não é? Se tivesse contado não estaria aqui remoendo essa bobagem, a garota já teria resolvido isso.
— E quer que eu a faça brigar com o pai? Ou... — calei minha boca, não querendo nem mesmo cogitar a outra opção.
Tinha imaginado mil e um cenários se eu contasse o que seu pai me pediu e os dois únicos possíveis eram Maria brigando com o pai, ou ela reconhecendo que estar comigo não valia a pena.
— Você está com medo, está achando que Maria não gosta tanto de você a ponto de ir contra o pai. — Laura deveria ser vidente, porque não sei como ela podia saber tanto assim de relacionamentos.
— Não seja burro Miguel! — Brutos gritou chamando mais atenção das pessoas em volta. — Maria é louca por você, eu sei com toda a certeza que ela iria contra todos ou qualquer coisa que tente separá-la de você.
Mas nem tudo o que eles falaram foi capaz de me fazer mudar de ideia, Maria amava a família e eu não seria um motivo de briga entre eles. Por isso quando cheguei em casa pela manhã eu já estava decidido.
Entrei no quarto dando de cara com ela deitada na minha cama, com o celular na mão, provavelmente tinha pegado no sono depois de me ligar pela milésima vez e não ser atendida.
— Ei, onde estava? Te liguei a noite toda. — ela acordou murmurando quando eu subi na cama. — Está tudo bem?
— Precisamos conversar. — falei sério e mantendo a distancia dela, se me aproximasse ou nos tocássemos eu sabia bem onde iriamos parar, já era difícil de mais estar ali encarando aquele rosto.
— Sim precisamos. — Maria se sentou deixando o lençol cair e me dando o vislumbre dela com minha camiseta. — Vai finalmente me dizer o porque tem estado estranho ultimamente?
— É sobre isso que eu quero conversar, acho que temos de dar um tempo. — coloquei pra fora antes que desistisse. — As coisas entre nós dois aconteceram muito rápido e eu estou confuso.
Meu coração estava disparado e uma voz na minha cabeça gritava para que eu dissesse toda a verdade e não aquela merda que eu estava inventando. Maria olhou em volta e esfregou os olhos, como se isso fosse ajudá-la a entender melhor o que estava acontecendo.
— Cadê as câmeras? Pode acabar com a piadinha de mau gosto. — ela abriu um sorriso incerto e meu coração se afundou no peito por saber que teria que quebrar o coração dela. — Não tem graça Miguel.
— Não é uma piada. — respirei fundo e me mantive forte quando vi o sorriso morrer e ela morder os lábios, tentando não desabar. — Eu preciso de um tempo, desse jeito não está mais funcionando pra mim...
— Que merda é essa Miguel? Fala o que está acontecendo de verdade porque eu não engulo essa de um tempo! Sempre jogamos limpo um com o outro, desde o começo as coisas foram as claras, então me diz o que está acontecendo.
Vi os olhos castanhos brilhando com lágrimas e aquilo partiu meu coração. Porra, ela é a mulher que eu amo e ali estava eu quebrando ela, fazendo a primeira paixão dela terminar em lágrimas e desapontamento.
Mas eu precisava fazer isso, então ia fazer de uma vez, como tirar um band-aid.
— Eu reencontrei uma pessoa. — ela pulou da cama no mesmo instante, colocando uma distância entre nós. — As coisas ficaram confusas e eu não quero estar com você assim, preciso de um tempo para resolver tudo.
Maria mexeu nos cabelos de um lado para o outro do quarto sacudindo a cabeça. A cada instante eu queria levantar agarrar ela e pedir desculpas, depois abraçá-la jurando que iria compensar por isso o resto da minha vida. Mas então ela foi até o guarda roupa e tirou de lá uma calça e blusa dela, começando a trocar de roupa com pressa.
— Não vou te dar tempo nenhum! Se você está na duvida isso me da todas as respostas que eu preciso. — ela atirou minha camisa no chão quando terminou de colocar a calça. — Isso acaba aqui, se quer relembrar o passado não é o homem que pensei que fosse!
Então ela se virou pegando a bolsa e saiu ainda descalça, ela correu escada a baixo, apressada e não demorou para que ouvisse o motor do carro dela ganhar vida.
E tudo o que eu fiz foi ficar ali sentado na cama, sentindo meu coração se arrancado de mim e levado junto com ela. Eu estava acabado, nunca pensei que fosse me sentir desse jeito de novo, amar uma pessoa e não poder estar com ela me dilacerava, meu estômago se afundou e uma lágrima rolou em meu rosto.