Capítulo 23
2141palavras
2024-11-12 05:15
A garoa fina ainda caia mostrando que o dia não seria muito diferente do fim de semana, Miguel tinha acabado de me deixar na frente do restaurante, eu entrei ouvindo o ronco do motor se afastar e dei de cara com três pares de olhos me encarando com expectativa.
— Bom dia pessoal.
— Então, aquele era seu namorado. — Eric foi o primeiro a soltar a língua. Não tinha nem me livrado da bolsa e estavam me atacando já.
— Não, Miguel não é meu namorado. É meu amigo e me deu uma carona. — eles não tinham que saber que passamos o domingo juntos.
Eu tentei negar, mas eles estavam vendo o homem aqui pela terceira vez já, é claro que estávamos dando essa ideia a eles e eu nem podia reclamar, meus amigos me conheciam bem o suficiente pra saber que as coisas não estavam nas bases normais que eu costumava levar ou ele não estaria aparecendo aqui.
Assim que joguei a bolsa no meu escritório e coloquei minha touca, pronta para sair e trabalhar Alice estava lá. Aquela diaba era difícil de se render.
— Conta logo como foi o fim de semana com seu namorado. — questionou praticamente me jogando na parede, mas só me deu a chance de erguer a mão em protesto. — Nem adianta negar, porque eu nunca vi você assim em nenhum desses anos que eu te conheço e isso quer dizer sua vida inteira. Então vamos logo com isso, desembucha vadia.
— Fernando frequentava aqui... — experimentei a negativa mais uma vez e ela apenas sacudiu um dedo na minha frente como para que eu tentasse outra desculpa. — Tá bom! — me dei por vencida. — Ele apareceu lá em casa ontem, no meio da chuva e ficou por lá.
— Então quer dizer que o herói tatuado já ganhou o direito de interromper suas cantorias de terapia? Como ele não é seu namorado? Nem ouse dizer que é como todos os outros quando nem eu posso interromper seus momentos de domingo.
Eu apenas sorri, era bem verdade que eu tirava domingo para colocar a cabeça no lugar e me orientar para a semana. Era meu dia de não fazer nada, nem mesmo cozinhar, só ficar jogada no sofá ou na cama, ouvindo música ou assistindo uma infinidade de filmes, apenas para me desligar do mundo do lado de fora.
E é bem verdade também que nem mesmo minha família contava comigo nesses dias, pois eu estaria off do mundo até que o relógio marcasse as dez da noite.
— Em minha defesa o homem largou a família no almoço, que é sagrado pra eles, enfrentou uma tempestade do cassete, só porque estava com saudades de mim. Era fofo de mais pra deixar o homem na rua.
— Awnn então você teve pena e decidiu abrigar o grandão no meio das suas pernas. Sua cínica! Ele não é um cachorrinho indefeso, está mais pra lobo mal.
— E me comeu muito bem, obrigada. Agora podemos voltar ao trabalho? Preciso revisar alguns pratos com Eric antes da gente começar. — contei já me distraindo em olhar o cardápio do dia na folha impressa, mas a fofoqueira que habitava na minha amiga tratou de arrancar das minhas mãos, mostrando que ela não estava satisfeita ainda.
— Quantas vezes? — Alice perguntou como se pergunta sobre o tempo. Encarei a sua cara de pau em querer saber aquilo, tá, tudo bem eu também fazia o mesmo. — Nem se faça de tímida minha querida.
— Duas. — soltei sentindo meu sorriso se alargar com as lembranças de ontem a noite. Transar naquele sofá ao som de Seu Jorge foi uma das experiências mais deliciosas que já tive e mesmo assim o homem não se deu por saciado, antes de dormir quis mostrar serviço. Mas não podia reclamar quando minhas mãos pareciam não querer se afastar do corpo dele. — E uma hoje de manhã. — arranquei a folha de sua mão aproveitando seu momento de distração. — No chuveiro. — gritei já me afastando dela e ouvindo apenas seu grito.
— Quando terminar com ele me avisa, quero montar naquela moto também!
Aquilo poderia soar estranho, mas nós fazíamos isso às vezes. Isso não era um problema pra mim, especialmente porque eu tratava todos os meus envolvimentos de forma curta e apenas sexual. Nós duas já tínhamos pegado até mesmo um cara juntas ao mesmo tempo, gostávamos dessa dinâmica.
Mas dessa vez a sensação foi diferente de pura diversão, um frio incomodo tomou a boca do estomago, aquilo era... Me afastei com meu sorriso vacilando e com o frio se espalhando só em imaginar Miguel e Alice se beijando, um fogo correndo em minhas veias e o gosto ruim na minha boca, quase como eu estivesse com ciúmes. Não, isso é ridículo, eu sei, mas não queria dividi-lo.
Me concentrei no movimento do dia, era segunda e as pessoas corriam pra lá e pra cá em busca de um almoço rápido e gostoso no intervalo do trabalho. O dia chuvoso ajudava a manter as pessoas dentro do ambiente, mesmo que fosse em busca de abrigo acabavam consumindo ou levando algo.
Eu ainda tinha que me concentrar em preparar todo o cardápio para o aniversário de casamento dos meus pais, montar tudo com minha irmã, levar pra eles aprovarem afinal era a noite deles, fazer a lista de compras de acordo com o número de convidados... eram coisas suficientes para me manter ocupada na semana.
Mas isso não me impediu de pensar tanto em Miguel, até que nossas escapadas rápidas não fossem o suficiente e eu resolvesse fazer uma surpresa no sábado de noite, eu duvidava que ele esperava me ver no bar tão cedo, mesmo assim lá estava eu acompanhada de Alice.
Não foi difícil convencer a safada, ela já estava praticamente salivando quando surgi com a ideia.
— Quais são seus planos pra sábado a noite? — perguntei como quem não quer nada enquanto colocávamos o lixo pra fora.
Era sexta a noite e todos já tinham deixado o restaurante e ela insistiu em ficar por ali, ninguém queria correr mais riscos que outro assaltante de araque aparecesse. Eu tinha duvidas que eles tinham mais pena dos meliantes do que de mim.
— Nada, pelo menos não até o momento. — foi só seus olhos encontrarem os meus para que ela entendesse o sinal, éramos boas nisso! — Com toda certeza, pode contar comigo! É sábado que eu monto na garupa de um motoqueiro gostoso e não saio de lá.
Minha gargalhada foi a confirmação de que tudo estava armado, na verdade nós estávamos prontas pra mandar ver.
Meus vestidos normalmente folgados foram trocados por um acentuado na cintura, marcando minhas curvas, ele ia até depois do joelho, mas a fenda que ficava bem mais acima do que deveria, cobrindo pouca coisa, deixava minha perna esquerda quase toda de fora. O fundo marrom contrastava com minha pele e um drapeado no busto modelava meus seios pequenos de um jeito sexy, mas tinham alguns detalhes inocentes como o laço e as flores brancas pequeninas espalhadas por todo vestido.
Era unir o sexy e o inocente, mesmo que eu não tivesse nenhuma intensão inocente hoje, o fato é que Miguel nem ia ver chegando o que o derrubaria!
— Mulher, até que enfim vocês chegaram! — Debora gritou por cima da musica alta que vinha das caixas de som.
O lugar estava cheio como todo sábado a noite e ela já atendia o balcão a todo vapor. Lisa jogou um aceno de cabeça do outro lado do balcão enquanto pegava algumas cervejas para um cliente impaciente.
— Deus, quem vocês estão querendo matar essa noite? — Bruno surgiu nas nossas costas me assustando e arrancando um sorrisinho de Alice. — Parecem as panteras, espera ai... — ele elevou as mãos como um fotografo que tenta visualizar uma cena apontando para nós duas e Lisa atrás do balcão. — É isso aí, as três panteras. Vou ter ideias com isso mais tarde.
Eu gargalhei com ele e aceitei as bebidas que Lisa colocou na nossa frente e me virei em busca de Miguel na multidão, mas não o encontrava em lugar nenhum. Deixei que o liquido gelado esfriasse meu corpo, pois apesar do frio lá fora o bar estava quente com toda aquela gente ali.
— Não esqueça que o chefinho não esta aqui agora, mas vai chegar a qualquer momento. Quero só ver você continuar babando na garota dele. — Lisa falou provocando Bruno.
— Eu não... — minha negativa ficou só no meio do caminho já que rapidamente fomos empurradas por um grupo eufórico querendo mais bebidas.
Me afastei de onde estávamos plantadas, tentei curtir a música alta que tocava e comecei a me sacudir no ritmo da música. Deb se aproximou entrando na mesma onda dançando na minha frente.
Nós duas destoávamos do restante dos clientes, nossas roupas coloridas de mais, o que chamava atenção das pessoas. Sem falar que tirando um par de homens do outro lado do salão, éramos as únicas pessoas negras ali.
Mas isso não impediu que nós nos sentíssemos em casa. Dançamos nos enroscando e quando tocou Thunderstruck nós gritamos junto com o som e todos os clientes que cantavam. Um homem alto se aproximou de nós dançando no mesmo ritmo empolgado, de repente já estávamos pulando juntos e gritando Thunder.
Não me importava mais com a cerveja na minha mão, ou a loucura dos corpos se empurrando e se chocando, nem com o calor. Era a segunda vez que eu estava no lugar e me faziam sentir livre e em casa.
Então meus olhos se focaram nos dele. Há poucos passos de distância Miguel me observava com certo fascínio, que ele não fez questão de esconder. Empurrei as pessoas em volta sentindo meu sorriso crescer e assim que o alcancei enlacei seu pescoço com minhas mãos o puxando pra mim.
— Surpresa. — sussurrei ao pé do ouvido e ele sorriu aberto.
Suas mãos rapidamente envolveram meu corpo, moldando minha cintura como ele gostava de fazer sempre que me via.
Tinha algo de quente em ser tocada daquela forma possessiva, apenas as mãos largas espalmadas na cintura, não subindo o suficiente nem descendo para onde você pulsa de desejo.
Me virei deixando minhas costas coladas contra seu peito e suas mãos me seguraram apertada contra ele. Estava consciente de que a cada sacudida que eu dava minha bunda roçava no pau dele sobre os jeans.
— Foi isso mesmo que senti quando vi você aqui. — Miguel sussurrou chegando mais perto do meu pescoço. Sua respiração quente bateu contra minha nuca enviando um arrepio por meu corpo. — Um trovão aqui dentro do peito. — suas palavras foram seguidas de um beijo suave contra a curva do pescoço antes que sua língua me tocasse. Involuntariamente meu que quadril se apertou mais contra sua ereção que começava a dar sinais. — E então reparei no que você vestia. Thunder. — ele sussurrou seus dentes arranharam o lóbulo da minha orelha e eu estremeci quando seus dedos apertaram minha cintura.
Mais um pouco e eu estaria arfando de tesão no meio de toda aquela gente e pedindo pra ele me foder logo. E foi por isso que enlacei meus dedos nos seus e o puxei de lá, parando apenas pra avisar Alice que qualquer coisa era só me gritar.
Corri para a porta do seu escritório e assim que entrei só deixei que ele tratasse de abrir a porta para entrar e jogá-lo contra a parede. Era ali que a áurea de inocência seria jogada para fora.
Minha boca atacou a sua, minha língua invadiu buscando a sua, que não demorou a deslizar junto a mim. Puxei seu lábio inferior entre os dentes e deixei que meus dedos se aventurassem por dentro de sua jaqueta, desenhando com as palmas das mãos seu peito e abdômen definido, sentindo seus pelos se eriçarem sobre meu toque, até alcançar o cinto de sua calça.
Rapidamente me livrei dela levando junto sua cueca, a ereção saltou a minha frente, imponente e orgulhosamente dura.
Segurei seu pau, descendo as mãos da cabeça até a base, em uma carícia lenta, quase despretensiosa enquanto encarava seus olhos se tornando mais escuros a medida que o desejo o tomava, então antes que Miguel esperasse eu me ajoelhei na sua frente. As sobrancelhas dele pareciam quase se perder entre os fios longos do cabelo bagunçado, a cara que ele sempre fazia quando estava realmente surpreso.
Com toda a certeza ele era o cara que eu tinha demorado mais tempo para fazer um boquete. Eu adorava cair de boca, mas quando nós dois estávamos juntos eu nunca tinha a oportunidade, até que hoje eu decidi fazer minha oportunidade.