Capítulo 9
1885palavras
2023-09-21 00:19
Fazia quatro dias desde o almoço, já era quinta-feira e espantem-se eu tinha visto Miguel a grande quantia de nenhuma vez! Isso mesmo nenhuma vez! Quer dizer, a gente trabalha de frente um pro outro, quais as chances universo? Eu já deveria ter visto o homem pelo menos uma vez por acidente!
Nossos horários malucos eram os responsáveis por esse desencontro medonho.
Eu fazia a linha egípcia, mas no dia que Deb pediu comida no restaurante eu mesma fui até lá levar, com a maior desculpa do mundo que era só para vê-la e tentei inutilmente esquadrinhar o lugar em busca do homem, mas aparentemente ele não estava ali.
Não sabia exatamente o porquê queria ver o bendito homem, mas todo dia eu me via olhando para o outro lado da rua a procura dele.
— Você vai continuar aí até quando? — Denise me assustou chegando de supetão por trás de mim.
Eu estava novamente distraída no balcão olhando para o bar e fui pega no pulo pela minha outra cozinheira.
— O que aconteceu? — me fiz de desentendida.
— O que aconteceu? — ela retrucou quase gritando. — O que aconteceu é que você está ai há três dias sonhando acordada com o motoqueiro.
Eu não estava sonhando acordada, isso era exagero. Só era algo como... Uma energia que atraia meus olhos para lá, não podia evitar.
— Quem está sonhando com o que Denise? Não posso ter um segundo de sossego no balcão, que já acham que eu estou pensando em alguém. — resmunguei me virando para o lado oposto, só pra ela não dizer mais besteiras.
— Se você quer o homem porque não vai até lá? Chega de uma vez no motoqueiro e fala o que quer mulher! — ela diz como se tudo estivesse resumido a isso, quando a verdade era que eu nem ao menos sabia o que estava sentindo. — Afinal você já o atacou mesmo.
Sua frase terminou em uma sonora gargalhada, sim eu tinha contado a ela minha grande façanha em beijar o homem e correr dele depois. Assim como eu ela ficou surpresa por eu ter me sentido tão atraída por ele rápido daquele jeito, e infelizmente eu não podia culpar o álcool já que no almoço estava sóbria até de mais.
Mas não tinha contado pra ela como estava me sentindo, nem para ela e nem a mais ninguém. Era confuso já estar atraída por um homem que não fazia meu tipo, pior ainda ficar sentindo aquelas borboletas no estomago e meu coração acelerado quando o via.
— Não Denise, não quero ninguém. Agora deu viu, não posso mais nem olhar para o outro lado da rua.
Voltei para minha cozinha decidida a ignorar o que ela tinha dito e esqueci a vontade de seguir seu conselho.
Tratei de cuidar do inventário, se quisesse testar novos pratos para o próximo mês precisava comprar algumas coisas. Anotar as coisas me ajudou a me manter ocupada até a hora de fechar.
O movimento tinha sido razoável, mas eu me sentia cansada do mesmo jeito quando peguei minha bolsa e dei uma última olhada em volta, conferindo se tudo estava em seu devido lugar, então pela vidraça da frente avistei Miguel correndo em direção ao restaurante. O que podia ter acontecido?
Miguel corria com o filho no braço até parar de frente a entrada do restaurante e bateu descontroladamente, colocando o rosto contra o vidro, tentando enxergar direito através do mesmo.
Corri até eles e abri antes que conseguisse me chamar, a expressão dele era transtornada e percebi que algo sério tinha acontecido.
— Você tem um minuto? — foi o cumprimento dele. Nenhum oi, ou ei como você vai. Miguel entrou me obrigando a recuar um pouco mais. — Preciso de um favor.
Eu ainda tentava processar tudo quando ele colocou Will no chão e fez um sinal com a cabeça, sacudindo em direção ao filho e no meio da minha confusão eu entendi que ele precisava falar longe da criança.
— Hã... will você quer bolo? Eu tenho um aqui maravilhoso, vem comigo. — estendi as mãos torcendo para que o garoto aceitasse e me seguisse até a cozinha.
Assim que eu coloquei um pedaço do meu bolo de chocolate para ele me afastei, deixando-o a uma distância segura. Chamávamos de bolo de emergência, pois estava ali para casos de grande necessidade, tanto minha quanto de qualquer um que trabalhasse ali, sempre que precisávamos de uma dose cavalar de uma delicia macia, recheada com muito chocolate, era pra lá que corríamos.
— Desculpa aparecer assim, mas eu preciso que olhe o Will pra mim por algumas horas. — Miguel correu com as palavras quando o alcancei. — Quer dizer, se você puder claro. Me desculpa, eu ainda estou meio perdido, minha mãe caiu e foi socorrida, eu preciso ir até o hospital, as meninas ainda não chegaram para o turno e a última coisa que quero é enfiar Will em um hospital.
— Meu Deus, claro, claro. Vai e eu fico com ele. — respondi chocada com o pedido. É óbvio que eu olharia o garoto, não era nada de mais. — Vai tranquilo, nós vamos ficar bem aqui. — o assegurei, com o coração apertando de pensar em dona Magda machucada e sozinha no hospital.
Miguel se aproximou do filho que comia entretido balançando as perninhas a cada mordida, o bolo parecia realmente prender a atenção dele, enfim esse era o efeito do bolo de emergência.
— Papai vai ter que ir ver a vovó, mas volto em um pulo. — aquele homem de joelhos na frente do filho explicando de uma forma fofa no meio da minha cozinha, qual é, era de derreter qualquer um. — Promete se comportar? A Maria vai ficar com você.
— Tudo bem, eu gosto dela. — ele disse como se essa fosse sua única preocupação.
O homem se ergueu do chão e me lançou um olhar um tanto culpado, como se pedisse desculpa. Até parece que precisava disso.
— Vai logo. — o dispensei dando um leve empurrão em seu ombro e ele sorriu já correndo para a porta. — Miguel! — gritei quando ele alcançou a porta. — Vá com cuidado.
O sorriso se alargou ainda mais e eu meu coração bateu mais forte, gravando a imagem do belo sorriso mais fundo ainda em minha mente. Ele era a visão do pecado, sorriso de anjo e corpo de diabo, era a definição de BadBoy, coisa que eu deveria estar fugindo. Porque então estava tão feliz por ter o visto finalmente?
Me virei para Will que tinha terminado de devorar o pedaço de bolo e me encarava meio incerto do que fazer. Sim, ele gostava de mim, mas isso não significava que ele sabia o que fazer, nem eu mesma sabia o que ele gostava.
— E então Will... como foi seu dia? — perguntei me sentindo ridícula por perguntar aquilo para uma criança de quatro anos.
Mas ele rapidamente me tirou o desconforto dando de ombros e pulando da cadeira, começando sua analise pelo lugar.
— Eu vim trabalhar hoje com papai, a vovó ia ajudar uma amiga. — a voz soou confiante enquanto ele dava a volta no balcão e ia direto para perto do armário. — Você tem muitas panelas. — constatou me fazendo sorrir.
— Preciso delas para cozinhar pra muita gente, às vezes o restaurante fica bem lotado. — respondi indo em seu encalço.
— Ahh, entendi. É como domingo. — ele disse e eu não entendi o que aquilo queria dizer. — Vovó usa tooooodas as panelas.
— No domingo?
— É, no almoço. — aquilo de repente chamou minha atenção. Era minha oportunidade de saber mais sobre ele e o pai. — A família toda, é muita, muita, muitaaa gente. — ele era um doce, eu sorri diante da voz dele e deixei que seguisse seus passos. — o que é aqui? — questionou quando parou de frente a geladeira.
Era um móvel enorme, chamativo, era uma verdadeira beleza. Eu era suspeita por falar, já que adora tudo na minha cozinha.
— É uma geladeira. — respondi e seus olhos arregalaram diante do tamanho, então para colocar um fim em sua curiosidade puxei a haste pesada a abrindo.
— Uauuu. — não se importando com o vento frio o menino se aventurou entrando no lugar e analisando as prateleiras. — Aposto que meu tio Brutos come tuuuudo isso. — Tio Brutos, a referência ao nome já me chamou atenção de primeira. — Mas ele dividi com o papai... e o tio Denis, tem também o tio Bruno e...
Céus, quantos irmãos Miguel tinha afinal? Deveria ser a família buscapé com certeza.
O menino discorreu sobre quem dividiria com quem e sempre que ele esquecia alguém voltava, aquelas que ele não podia deixar de fora, o que eles comiam quase sempre e o que ele amava comer.
Eles tinham uma família gigante e ele jurou que todo domingo era sagrado o almoço. Mas então no meio de todo falatório um barulhinho me chamou a atenção, o estomagozinho roncando alto.
— Você está com fome, não é? — perguntei o óbvio e ele pareceu sem graça. — Que horas você comeu? — como se aquilo realmente fizesse alguma diferença para criança, especialmente na idade dele.
— Papai me deu almoço, sorvete... Ahh teve bolacha e pipoca depois, ai eu dormi e ele veio aqui correndo.
Eu podia me meter no jeito do garoto se alimentar? Achava que não, mas isso não me impedia de entupi-lo de comida de verdade enquanto estivesse sobre minha supervisão.
— Vem, vamos achar alguma coisa pra você comer. — murmurei já arrancando ele de dentro da geladeira e colocando o sentado em cima da mesa.
A maioria das coisas já estava guardadas, todas limpas, a cozinha estava pronta para ser deixada intacta até amanhã. Rodeei o lugar pensando no que fazer, não podia deixar a criança com fome.
— Eu quero pizza! — a voz eufórica me chamou a atenção, ele tinha péssimos hábitos dava pra ver.
— Que tal se a gente fizer macarrão? Como no outro dia? — fiz minha melhor cara de alegria afim de que contagiasse-o e o fizesse mudar de ideia.
— Eu posso ajudar? — Will perguntou e eu acenei com a cabeça rapidamente, antes mesmo de me dar conta do que estava fazendo. — Fechado!
Ótimo, o problema era minha relutância em sujar a cozinha inteira era grande. Então optei por fazer um sanduiche rápido e pratico, com frango desfiado, alface e tomate, assim ia ganhar tempo até que chegássemos em casa e eu pudesse fazer o jantar.
Não sabia se Miguel iria achar ruim que eu o levasse para lá, mas estava ficando tarde e o bar estava ficando mais cheio a cada minuto, não era o melhor lugar para ele. Novamente, não era da minha conta a forma dele criar o filho, mas já que ele havia deixado o menino sobre minha responsabilidade eu ia fazer o melhor.
Enviei uma mensagem para Miguel informando a mudança de planos e o meu endereço, não tinha certeza se ele lembrava onde morava então para garantir mandei tudo junto. Só faltava ele achar que tinha sequestrado o filho dele.