Capítulo 62
1791palavras
2023-09-20 00:01
Ponto de Vista do Mickey
Eu morri hoje.
No momento em que Santiago grita desesperado em minha mente: 'Pai, Kathy está sendo atacada por lobos renegados e não estamos perto dela.' Meu coração para de verdade. Não há nenhum momento na vida em que se possa dizer que o amor de um pai por seus filhos chega ao fim. Não há período de garantia e depois disso você pode dizer que a partir dali os filhos estão por conta própria. Não sei como são os outros, mas sei como sou. Até o último suspiro, as crianças e Lisle serão a única coisa que importa neste mundo para mim.
Eu morri hoje.
Lisle imediatamente sabe que algo está acontecendo com uma das crianças porque ela me conhecia melhor do que eu mesmo às vezes e, ao ver eu me transformando nas escadas do palácio e correndo como um lobo louco, ela faz o mesmo e vem atrás de mim. Atrás de nós, seguem os guardas, alarmados com a nossa reação.
Demora 15 minutos daquela correria louca até o lugar onde Santiago nos disse que Kathy está. São 15 minutos de puro pesadelo.
"Pela Deusa da Lua!" Lisle grita assim que vê Kathy nos braços de Santiago. Seu corpo frágil e delicado está cheio de hematomas, sangue escorre por seus braços e pernas. Seus lábios estão partidos e sua bochecha apresenta marcas da palma de uma mão.
Mas o que me derruba são as lágrimas dela. Kathy nunca derramou uma lágrima em sua vida. Nem ela, nem Deméter já choraram por causa de alguma dor.
"Minha princesa!" Eu chamo, pegando-a dos braços de Santiago e sentando no chão com ela em meus braços. Lisle se senta também e a abraça do outro lado, fazendo-a se encolher como se estivesse em um casulo.
"Tudo vai ficar bem, meu amorzinho!" Lisle diz, beijando sua testa.
Kathy está chorando em meus braços. Lágrimas brotam, mas nenhum som sai. Eu gostaria que ela gritasse, que ela se revoltasse, que ela fosse uma guerreira como Lisle e jurasse vingança, mas Kathy não é assim.
Ela é doce e delicada, o mal não está em seu vocabulário. Ela pode ser atrevida e, quando algo não combina com ela, faz um biquinho engraçado que nos encanta desde que ela nasceu, sempre damos a Kathy tudo o que ela deseja.
Não sei quanto tempo a abraçamos daquele jeito, mas, depois de muitos minutos, eu a sinto se acalmar.
"Ela está dormindo." Lisle comenta. "Vamos para casa e conversamos mais tarde."
"Vamos conversar mais tarde." Aceno e digo a ela, então olho para Nelson e Helens, depois para Santiago.
Alguém vai ter que responder pelo que aconteceu hoje.
Quase perco Kathy. Isso é imperdoável.
Mas, assim que me levanto do chão com Kathy nos braços, com Lisle a aconchegando em meus braços, percebo que os guardas estão segurando um renegado. Imediatamente, sinto meu sangue pulsar mais forte.
"Este é o canalha que se atreveu a tocar na minha filhinha?" Pergunto ao Santiago, pouco me impede de matar aquele homem de imediato.
"Não, pai." Santiago responde. "Kathy disse que ele a salvou de outros renegados que fugiram. Não sei quem é esse. Nós o pegamos e vamos trazê-lo ao palácio para interrogá-lo."
Um renegado que salva alguém? Isso não faz sentido.
"Levem! E descubram quem ele é!" Eu digo a ele, então me afasto com Kathy em meus braços.
Eu sou o super-herói dela, é o que ela sempre me diz, mas eu não estava perto dela hoje para defendê-la.
Quando chego, eu a coloquei na minha cama e de Lisle. Eu me sento ao lado dela, colocando-a entre nós como se ela fosse apenas um bebê. Minha doce criança. Nós a confortamos, Lisle a abraça por trás, e eu seguro suas mãos. Rezo para que, quando ela acordar, Kathy seja a mesma garota alegre de sempre.
"Pai?" De repente, ouvimos Deméter abrindo a porta.
"Querida..." Digo, levantando para sair da cama, tentando não acordar Kathy. "Você está aqui!"
"Onde mais posso estar?" Deméter diz ao me abraçar. "Santiago entrou em contato comigo e me contou o que aconteceu. Vim com Evan imediatamente. Ela está bem?" Deméter pergunta, olhando para o meio da cama, com lágrimas nos olhos.
"Eu não sei." Respondo. "Felizmente, não puderam fazer nada sério com ela, mas a encontrei chorando. Nossa filhinha está chorando de dor. Talvez ela fique bem, mas não sei como eu vou me recuperar."
Deméter me aperta nos braços e coloca a cabeça na frente do meu coração, como fazia quando ainda era apenas minha filha e não a Luna de Evan Swift.
"Vá falar com os meninos. Eles estão destruídos. Não brigue muito com eles. Ninguém queria que isso acontecesse." Ela me diz com gentileza, tentando me acalmar.
"Venha aqui." Lisle pede a ela, balançando a cabeça.
"Vá, pai." Deméter diz. "Estou aqui agora e vou cuidar dela na sua ausência."
Assim que saio do quarto, tenho um pensamento: MATAR O RENEGADO.
*
Desço direto para as masmorras, onde é a cadeia. Assim que chego lá, abro as portas.
Imediatamente, o renegado se levanta e fica bem na minha frente, sem demonstrar nenhum estresse.
Mas o que é isso? Um renegado comum entraria em pânico na minha frente. Como esse aqui está quase calmo?
Deve ser apenas um jovem, que pode ter cerca de vinte e poucos anos, talvez. Embora seja um renegado, o seu cheiro denuncia isso, ele parece muito bem cuidado, isso me surpreende um pouco.
"Quem é você?" Pergunto sem perder tempo, mas o renegado não me responde. Ele simplesmente olha para mim e me analisa.
Aproximo-me dele e enfio a mão em sua garganta. Eu o levanto do chão com uma mão, segurando-o no ar.
"Quem é você? Estou perguntando pela última vez."
"Eu sou..." O renegado responde, sem demonstrar medo nos olhos apesar de estar no ar, com a minha mão na sua garganta. "George Owen."
"George Owen?" Pergunto. "Que nome é esse?"
"É o nome que as freiras me deram no orfanato." O renegado explica.
"Do que você está falando?" Pergunto, nervoso. "Você é um lobisomem. Por que estaria com freiras? Pensa que sou burro?"
"Fui abandonado quando era muito jovem. Meus pais eram lobos renegados. Cresci entre os humanos durante toda a minha vida e vivo solitário."
"Se você vivesse entre os humanos, por que estaria no meio do meu território? E como chegou até minha filha?" Eu questiono, com raiva. Há algo errado com esse renegado. A história dele é simplesmente ridícula.
"Eu estava apenas de passagem, meu Rei. Eu ouvi o choro de sua filha e pulei para ajudá-la." Ele mira bem os meus olhos ao falar.
Ele deve estar louco. Ninguém se atreve a me encarar, é considerado desrespeito.
"Eu não acredito em você." Digo a ele.
"A escolha é sua, meu Rei." Ele responde. Eu miro bem os seus olhos e o analiso.
"Você vai ficar aqui até tomarmos uma decisão. Não espere muito. O único motivo pelo qual você está vivo é porque minha filha insiste que foi você quem a salvou. Se eu descobrir que é tudo um plano sinistro, você vai morrer." Eu o largo no chão, saindo furioso da masmorra.
'Eu não confio nesse cara.' Comento com Stone.
'Criado por freiras.' Spirit diz, rindo. 'Estou surpreso que ele não tenha uma aura acima da cabeça para nos mostrar como é um santo.'
'Santiago!' Eu faço uma ligação mental para meu filho. 'Busque os meninos e venha para o meu escritório.'
'Já estamos aqui, pai!' Responde Santiago. Ele é um filho tão bom, mas seus irmãos o importunam para poderem fazer o que querem e isso vai parar hoje.
Assim que entro no escritório, o Nelson e Helens se levantam e posso ver o medo em seus rostos. Eles erraram e muito.
Sim, erraram feio demais.
"O que estavam pensando?" Eu pergunto a eles, com raiva.
"Nós..." Nelson começa a falar, mas eu imediatamente avanço sobre ele. Eu nunca bati neles. Nenhum dos meus filhos jamais apanhou e nem pretendo fazê-lo, mas estou com raiva hoje.
"NÓS, O QUÊ, NELSON!?" Grito na cara dele. Eles logo ficam pálidos.
"Sinto muito, pai." Helens abaixa a cabeça. "Nunca pensamos que algo assim pudesse acontecer tão perto de casa."
"Não pensou... Quando você pensa? Quando você ouve?" Eu pergunto a ele, com ferocidade. Santiago olha para mim e não diz nada. Eu sei que ele gostaria de defendê-los, mas o que aconteceu hoje é horrível demais para todos.
Não temos ideia do tamanho do desastre.
"Pai, é tudo culpa minha." Nelson dá um passo à frente. "Eu o convenci a vir comigo. Pode me castigar, mas Helens não tem culpa."
"Não é para apontar culpados, Nelson. É para assumir suas responsabilidades. Para compreender o mundo em que vivemos. É sobre ser capaz de se prevenir do pior, não fazer todo o possível para alcançar algum desastre." Tento me acalmar e não abalar demais minha relação com eles.
"Sua irmã quase foi estuprada hoje. Kathy está ferida, mas poderia ter sido pior. Algum renegado a salvou enquanto vocês estavam nadando. Se vocês fossem mais responsáveis, não estariam nessa situação para começo de conversa."
Os meninos se viram para mim, com lágrimas nos olhos.
"Ela nunca vai nos perdoar." Helens choraminga.
"Ela vai, porque ela é a alma mais doce do mundo." Santiago fala pela primeira vez.
"Ela vai perdoar vocês, e vai se recuperar, porque vamos cercá-la de todo o amor que ela merece. Vocês dois vão se aquietar e parar de criar problemas, ou vou cuidar para serem punidos severamente. Não sei. O amor do nosso pai por vocês pode ser infinito, poderiam dizer que o meu também. Mas, outra situação como a de hoje, e vocês verão que o infinito pode ter um fim."
Eu olho para Santiago. Ele fala como um Rei, saiu-se bem.
"Vá para as masmorras e interrogue aquele renegado até que ele conte a verdade sobre quem ele é e o que procura no nosso território. Há algo errado com ele." Digo ao Santiago. Ele gesticula para seus irmãos o seguirem para fora do meu escritório. Nelson e Helens estão visivelmente abalados.
Meu amor por eles é infinito, mas eles partiram meu coração hoje.
Tento me recompor, mas a porta logo se abre e vejo Evan entrando.
"Boa noite, pai." Ele diz. "Posso entrar?"
Ouvi-lo me chamar de "pai" e a Lisle de "mãe" é bem assustador, porque ele poderia realmente ser o filho de Lisle. As coisas eram diferentes há muito tempo, mas Evan é um homem formidável. Deméter não conseguiria encontrar um homem mais amoroso.
"Entre, filho." Aceno para que ele entre.
"Precisamos conversar." Ele fala.
Essa frase geralmente vem antes de algo ruim.
"Estou ouvindo!"