Capítulo 44
1956palavras
2023-09-11 23:01
Ponto de Vista da Lisle
As últimas duas semanas são uma bênção total.
Não consigo encontrar as palavras certas para descrever a alegria que vivo. Só sinto paz. Apenas paz. Deméter é a criança mais doce que existe. Ela adormece no meu peito, não nos acorda à noite, mas acordamos para conferir se está tudo bem e ficamos maravilhados com a presença dela em nossas vidas. É como se estivéssemos sob um feitiço.

Alfa Anthony sempre ri de nós e nos diz que perdemos a cabeça. Talvez seja verdade, talvez seja estranho acordar à noite só para ficar olhando para uma criança adormecida, como dois bobos.
Para mim, pelo menos, Deméter é um milagre. Ela aparece inesperadamente em nossas vidas, em um momento difícil, e me dá forças para seguir em frente, para viver sem medo. Meu único receio agora é que ela se machuque algum dia. E eu sei que Mickey tem o mesmo medo.
Estou feliz. É assim que vivo nas últimas duas semanas, mas, desde ontem à tarde, Mickey está agitado. Hoje, ele sai bem cedo, não faz nenhuma das refeições. Ele afirma que tem algumas reuniões urgentes, porém sinto que algo está acontecendo. Mickey tenta me manter longe do que quer que seja.
"O que minha sobrinha favorita está fazendo?" Viviana diz ao entrar no meu quarto, sem bater na porta, como sempre, como fazer isso fosse muito normal.
Nem tenho tempo de responder, pois ela imediatamente pega Deméter nos braços e a beija. Viviana diz o que ela quer ou não fazer, enquanto Deméter a mira, fascinada pela atenção que recebe, e eu posso jurar que minha filha sorri para a tia.
"Mal posso esperar para você ter seus filhos." Digo, achando graça. "Assim você vai deixar a minha filha em paz, aí ela não vai aprender a ser boba como você."

"Ah, o que posso dizer?" Viviana diz, sem olhar para mim. "Deméter sempre será minha sobrinha favorita."
"Ela é sua única sobrinha!"
"Não importa!" Ela solta uma risada.
"Se tiver uma menina, você vai esquecê-la." Eu comento, torcendo para que Viviana e Rafael realmente tenham uma menina e deixem Deméter em paz.

"Até onde eu sei, aposto que Rafael selecionou bem seu esperma e mandou todas as garotas para longe." Ela me conta, rindo bastante. "Escute, eu vou adorar se tivermos uma menina. Mas eu não tenho tanta sorte!"
"Vai ficar tudo bem, Viviana! Rafael sempre vai estar ao seu lado e vai ajudá-la. De alguma forma, no meu coração, sempre soube que ele seria homem maravilhoso para sua companheira, mas nunca poderia imaginar que ele seria tão perfeito quanto é com você."
"Pois é, ele desistiu de tudo para ficar comigo." Viviana afirma. "Acho que posso dar à luz a um menino se ele quiser." Ela recomeça a rir.
"Ele vai ensinar seu filho a adorá-la, com certeza!" Eu digo e tento tirar Deméter de seus braços, mas sem sucesso.
Faço uma ligação mental com Julia e peço que ela se junte a nós. A creche está quase pronta e, em breve, teremos que retomar nossos compromissos com a alcateia, para que tudo seja perfeito para todos os nossos filhos. Mécia nos ajuda e, graças a sua experiência, nos mostra como deixar o sótão perfeito. Ela nos ajuda a escolher os berços e, no máximo em uma semana, tudo vai estar pronto.
"O que aconteceu?" Pergunto assim que Julia entra no meu quarto, segurando Ralph e Mikael nos braços.
"Não sei. Raquel está agitado e simplesmente sumiu. Algo aconteceu, mas ele não me contou nada."
"Com você também?" Eu pergunto, chocada. Mickey não me diz absolutamente nada. Não estamos sendo atacados com certeza, mas se ele não me revela nada. Só pode ser algo próximo a mim do qual Mickey tenta me proteger.
Eu faço uma ligação mental para ele imediatamente.
'Amor.' Eu chamo, tentando encontrá-lo. 'Posso encontrar você?'
'Lisle, estou em uma reunião. Aviso a você quando eu sair.' Mickey responde, tentando parecer calmo. Depois, acrescenta: 'Estou com saudades de você, e sinto falta de Deméter também. Vejo em breve, meu amor.'
"Ele está escondendo algo de mim." Digo às meninas. Mickey nunca me manda esperar quando tem reunião. Pelo contrário, nunca se importa com quem está envolvido, ele sempre me leva junto e me mantém ao seu lado. Fica óbvio que alguma coisa está acontecendo.
"Vocês podem ficar com Deméter por um momento?" Eu pergunto às meninas.
"O que aconteceu?" Viviana pergunta, mais séria.
"Não tenho certeza, mas sei que Mickey está tentando me manter fora disso."
"Rafael me mandou ficar com você e me disse que tinha um pouco de trabalho a fazer." Viviana comenta, olhando para mim com seriedade. "Fiquei realmente surpresa que ele tenha me mandado aqui assim, sem motivo."
"Raquel também." Julia acrescenta. "Ele foi rápido e me disse que tinha uma emergência."
Vou mostrar para eles a verdadeira emergência.
"Aonde você vai?" Viviana questiona.
"Vou participar de tal reunião maravilhosa, acho que não deveria saber dela." Falo, um pouco irritada.
"Eu vou com você." Julia diz. "Viviana, será que você pode ficar com..."
"Sem chance!" Viviana retruca. "Eu vou com vocês."
Com nossos filhos nos braços, caminhamos até o escritório de Mickey. Nem precisamos chegar muito perto para sentir a tensão no ar.
"O que nós vamos fazer?" Ouvimos William dizer por atrás das portas. "A gente pensou que teria mais tempo."
"Não importa o que façamos, a Lisle apenas não precisa saber!" Mickey responde, nervoso.
"O QUE NÃO DEVO SABER?" Digo, já irritada ao entrar no escritório, sem bater na porta.
Raquel, William, Rafael e Alfa Anthony estão sentados em volta da mesa e viram a cabeça para mim, chocados.
"Lisle!" Mickey me chama, com raiva: "O que você está fazendo aqui? Eu disse que estava em uma reunião!"
"Parece que não posso saber sobre esta reunião!"
"Viviana, Julia, por favor, saiam e levem Lisle junto." Mickey pede, tentando se acalmar.
Acho que ele só pode estar zombando de mim.
Nunca senti tanta raiva em minha vida. É a primeira vez que me sinto destruída porque meu próprio companheiro me rejeita. Não sei por que me sinto rejeitada neste momento. Nancy grita, triste, em minha mente.
"Lisle, por favor, saia!" Mickey me diz. Desta vez, em um tom mais calmo.
"Filha..." Alfa Anthony chama, tentando intervir.
"Não, pai!" Digo, erguendo uma mão em sinal de silêncio. "Eu não sei o que está acontecendo com você, Mickey, mas quero que pense com muito cuidado sobre como você me trata e como fala comigo. Eu sou sua companheira. Sou sua Luna, ou pelo menos é o que você diz. Contudo, hoje você me prova que essas palavras não têm valor." Digo, tentando manter a calma. Porém, sinto minha voz ficar abafada por causa das lágrimas que tento reprimir. "Não vou tolerar tal comportamento. Eu sou a mãe da sua filha, pelo amo da Deusa! Pelo menos, por isso, se não pelo fato de que eu sou sua companheira predestinada e sua suposta Luna. Você deve agir de outra forma comigo. Acho que mereço uma explicação, pois está claro como o assunto atual tem a ver comigo. Você escolheu me tratar como parte do problema. Mas, não importa o que aconteça, eu garanto a você que consigo entender."
"Lisle, não é o que você pensa..." Rafael tenta intervir.
"Cale a boca, Rafael!" Eu me irrito com ele. As lágrimas já escorrem pelo meu rosto. "Fique quieto! Isso é tudo que digo."
Miro os olhos de Mickey e, tentando ter dignidade, falo:
"Eu amo você, Mickie." Vejo ele tentar se aproximar de mim, mas gesticulo para que ele fique onde está, para seu choque. "Não chegue perto de mim! Nem tente!" Eu digo. "Eu amo você, mas não vou permitir que me trate como se eu não fosse nada. Ainda mais na frente dos nossos entes queridos."
Isso é tudo que consigo dizer a ele antes de sair do escritório e começar a chorar.
As meninas vêm logo atrás de mim, mas não consigo entender.
"Viviana". Chamo, tentando me acalmar, mas não consigo. Dói muito saber que Mickey pode desistir tão facilmente de mim, depois de tudo que passamos juntos. "Por favor, você pode cuidar de Deméter até eu voltar? Eu preciso ficar sozinha."
'Eu vou com você." Julia afirma. "Viviana, cuide dos meninos, por favor!"
"Não!" Eu interrompo, nervosa. "Eu só quero ficar sozinha!" Então, beijo Deméter e a deixo nos braços de Viviana. Saio de casa, transformando-me assim que me afasto e corro direto para a floresta.
Ouço as meninas tentando entrar em contato comigo. Mickey ainda tenta se desculpar, mas não quero ouvir nada. Não me importo com o que Rafael tem a dizer, nem com as palavras de mais ninguém. Apenas desejo ficar sozinha e chorar, pois estou cansada de toda vez que acho que está tudo bem, ver que é mais um engano. Eu me fecho para todas as ligações mentais com a alcateia e me afasto mais.
Não sei há quanto tempo estou correndo, mas Nancy está totalmente arrasada. Eu nunca a vi assim. Nem mesmo quando fui rejeitado pela primeira vez. Acho que o fato de estarmos marcadas pelo nosso companheiro torna tudo muito mais intenso.
Estou correndo há pelo menos uma hora quando, de repente, sinto um cheiro parecido com o de um cadáver.
'RENEGADOS!' Nancy grita, alarmada, tentando se recompor. Contudo, ela está tão afetada emocionalmente que não sei até que ponto é capaz de lutar.
"Finalmente!" Um dos lobos renegados diz.
Eu olho em volta. Estou cercada por quase vinte lobos renegados. Tento analisar a situação, mas caio joelhos no mesmo instante por causa de um tiro que levo.
Pelo amor da Deusa! De novo, não! Estou cansada de levar tiros e de receber acônito.
Desta vez, acertam a minha coxa. Ah, Deusa da Lua! Dói demais! Mas não parece que entra muito acônito no meu corpo.
"Peguem ela!" Um dos renegados grita. "Temos que levá-la ilesa ao patrão, ou ele acaba conosco." Ele se aproxima de mim, tentando me derrubar no chão. Mas, com toda a força que tenho, mesmo ferida, cheia de acônito e emocionalmente destruída, estou determinada a não me render sem uma briga.
"Não a machuquem!" Um deles berra.
Eles só vão ter uma chance se me machucarem, pois não escapar com vida das minhas mãos e das patas de Nancy. Após derrubar quatro renegados, começo a ficar tonta. O veneno já está no meu corpo, assim fico cada vez mais cansada.
Aproveitando-se da minha fraqueza, um dos renegados me bate e me joga no chão, tentando me amarrar. Ah, mas não vou deixar eles me pegarem!
'Lute contra isso, Nancy! Temos que revidar e lutar!'
Com suas últimas forças, Nancy consegue nos libertar. Imediatamente, vejo os renegados se unindo para me atacar. Estou cheia de feridas, todo o meu corpo dói, e o fato de estar envenenada por acônito não me ajuda em nada.
Eu sei que não tenho mais chance.
"Matem todos!" De repente, ouço uma voz nas minhas costas.
"Artemis?" Fico pasma ao olhar para ela. Eu a vejo correndo com outros dois guerreiros da nossa alcateia, enquanto ela se joga na luta contra os lobos renegados. Eu também me levanto com dificuldade e, mesmo sendo terrivelmente difícil para mim, continuo lutando. Uso toda a energia que me resta.
De repente, tudo se acalma. Olho em volta e vejo Artemis se aproximando de mim. Os dois guerreiros reúnem os restos dos lobos renegados, que estão espalhados por todos os lados. Sinto como o silêncio ao meu redor é tão grande que me sufoca. Não consigo mais respirar, não consigo mais pensar, não consigo ver nada. Tudo fica embaçado. Sinto que estou desabando quando Artemis grita, desesperada: "LUNA!"