Capítulo 38
2013palavras
2023-09-07 10:30
Ponto de Vista da Lisle
"Seu pirralho mimado." Mécia diz assim que vê a marca em meu pescoço. "Como você pôde marcá-la antes da cerimônia de Luna? Você estragou toda a graça!"
"Não diga que eu não avisei." Viviana solta uma risada e me segura pelo braço, levando-me para um sofá da sala, que é muito confortável.
"Não vejo sentido em esperar. Ela é minha companheira, está grávida do meu filho e toda a alcateia sabe que ela será minha Luna. Qual o sentido de esperar!? Não é como se ela fosse uma virgem que está esperando pela noite de núpcias." Mickey comenta em uma tentativa de justificar suas ações.
Eu olho para ele, sem conseguir acreditar que ele diz tanta bobagem. Se um olhar pudesse matar Mickey, ele estaria enterrado agora tão fundo que nem mesmo alguém com uma escavadeira poderia encontrá-lo.
William começa a rir, olhando para mim.
"O que é tão engraçado?" Mickey pergunta, encarando-o.
"Ah... Mickey... você está tão, tão... mas tão, tão morto agora!" William segura a barriga de tanto rir.
"O que você quer dizer?" Mickey questiona.
"Talvez você queira olhar para trás e dar uma olhada na nossa maravilhosa Luna, tenho certeza que você vai entender."
Mickey se vira e olha para mim. Seu rosto fica pálido.
Sim, ele sabe que está morto!
"Amor, você está se sentindo bem?" Mickey se aproxima de mim e estende a mão para me segurar em seus braços. Contudo, não faz nada porque eu me levanto, sinalizando para ele ficar longe. Viviana reage de imediato e se levanta comigo.
"Não é como se eu fosse uma virgem que está esperando pela noite de núpcias, né?" Eu pergunto com raiva. "Obrigada, Mickey. Muito obrigada." Digo e saio da sala com Viviana junto.
"Lisle!" Ele me chama, mas eu o ignoro. De todas as bobagens que ele pode dizer, essa é a que encontra.
"Apenas me deixe em paz, Mickey." Eu retruco ao subir com Viviana para o quarto dela.
"Você está realmente brava com ele?" Viviana me pergunta, um pouco assustada.
"Não." Eu acabo rindo. "Concordei em ser marcada e estou feliz que ele tenha feito isso, mas esse idiota poderia dizer outra coisa para a mãe de vocês. Ele tem que aprender a manter a boca fechada às vezes."
"Lisle." Viviana mira os meus olhos. "Eu amo muito você! É como se você fosse igualzinha a mim!"
E nós duas rimos. Faço uma ligação mental com Julia e peço que ela venha para quarto de Viviana. É bom ter um momento entre nós, garotas. Senti muita falta delas nas últimas duas semanas.
Julia chega e parece um pouco triste.
"Oi, o que aconteceu?" Eu indago, perplexa.
"Quero apertar o pescoço dele." Julia resmunga ao se sentar de pernas cruzadas no tapete super fofo do quarto de Viviana.
"O pescoço do Raquel?" Viviana pergunta, olhando para ela como se a resposta fosse óbvia.
"De quem mais seria?" Julia retruca.
"O que o idiota do Raquel fez?"
"Ele não fez nada, esse é o problema!" Julia afirma, nervosa.
"Não entendi." Eu a encaro, bem séria.
"Desde que contei que estou grávida, ele tem me tratado como se eu fosse feita de vidro. Certo, estou grávida, e teremos gêmeos. Certo, tenho que tomar cuidado porque já estou na metade da gravidez e posso dar à luz a qualquer momento... Mas eu quero viver! E ele não me deixa fazer nada." Julia reclama.
"Ele apenas está preocupado com você." Tento acalmá-la.
"Que preocupado, que nada!" Julia bufa. "Não posso treinar, fazer comprar, caminhar, cozinhar e NEM FAZER S*XO!"
"Entendi tudo, garota!" Viviana exclama. "Como você quer que a gente o mate?" Ela pergunta, rindo. "Você quer que sobre alguma coisa, ou ele vai virar comida de peixes?" Viviana acrescenta, fazendo-me rir.
"Enquanto isso, eu tenho um lobisomem que fala várias besteiras sem pensar." Eu digo olhando para elas.
Viviana olha para nós e suspira.
"Então, só eu que tenho um companheiro perfeito?"
Nós duas olhamos para ela e rimos.
"Espere até ficar grávida!" Dizemos juntas.
De repente, alguém bate à porta e, sem esperar um convite, entra.
"O que minhas garotas favoritas estão fazendo?" Rafael pergunta, olhando para nós.
Viviana se levanta do chão e corre até ele, pulando em seus braços para abraçá-lo.
"Acabei de explicar como você é perfeito e maravilhoso!"
De repente, a postura de Rafael se abre como a de um pavão exibido.
"Fico feliz que você saiba a sorte que é me ter!" Ele diz ao se abaixar para beijar Viviana, mas ela imediatamente se afasta e o encara com raiva.
"O que foi?" Rafael pergunta, sem entender nada.
"Sai daqui!" Viviana resmunga.
"O QUÊ?" Ele se assusta, olhando para mim e para Julia. Julia gesticula para mostrar que ele é um homem morto, e eu aceno para a porta, sugerindo que ele saia do quarto. Mas Viviana não perde tempo e o empurra para fora, batendo a porta atrás dele.
"Esse idiota! Como ele pode me deixar tão feliz e tão irritada em um segundo? Eu quero encontrar uma maneira de fazê-lo pagar e ver quem tem sorte nesse relacionamento. Ele esqueceu que, até recentemente, estava implorando pela minha atenção e rezando para que eu o aceitasse. Que cara de pau!"
"Calma, Viviana!" Julia diz.
"Vamos dar um susto neles." Eu me viro para elas.
"E como vamos fazer isso?" Julia indaga. "Raquel nem me deixa respirar sozinha."
"Venham comigo." Digo a eles e, juntas, vamos até o sótão do alojamento da alcateia, onde Mécia e eu vamos arrumar uma creche para as crianças. Aproximo-me de uma das janelas e vejo Mickey no campo de treinamento com Raquel e William. Perfeito!
"Apenas observem!" Eu digo. "Observem e aprendam!" Eu aponto para o andar abaixo.
'Mickey!' Eu digo através de uma ligação mental. 'Vou fazer compras com as meninas!'
Mickey logo se assusta e pergunta, como previsto: 'Como assim? Vai fazer compras com quem?'
'Com Viviana e Julia!' Falo, sabendo que ele já está muito agitado. 'Vejo você à noite!' Acrescento.
'Você enlouqueceu!?" Mickey pergunta, e eu o vejo correndo para dentro de casa. 'E se alguém atacar você?'
'Já estamos no meio das compras!' Afirmo, então fecho completamente minha ligação mental com ele.
Eu acompanho com o olhar quando Mickey começa a entrar em pânico e diz algo para Raquel, que contata Julia no mesmo segundo.
'Onde você está?' Ele pergunta, em pânico.
'Fazendo compras com minhas meninas.' Julia responde brevemente.
'Fique onde está, eu vou logo até aí.' Raquel afirma, mas Julia o bloqueia e só começamos a rir quando vemos Raquel no campo de treinamento arrancando os cabelos e xingando.
"Tenho que admitir, estou me divertindo com esse drama todo." Julia confessa, rindo e acariciando sua enorme barriga.
Imediatamente, Rafael começa a gritar com Viviana pela ligação mental.
'Viviana, onde você está!?' Mas Viviana não responde. 'Vivi, por favor. Desculpe!' Rafael diz, quase chorando, mas Viviana é muito má com ele. 'Viviana, eu que tenho sorte! Por favor, me diga onde você está!'
'Estou fazendo compras com as meninas!' Viviana responde.
'Onde? Vou até você!'
Mas Viviana logo fecha a ligação mental e olha pela janela. Vemos Rafael se juntar aos meninos. Os três soltam xingamentos e estão muito agitados. William traz o carro. Eles provavelmente vão até a cidade para nos procurar no shopping.
"Idiotas!" Eu digo e começo a rir. Pego meu laptop em seguida.
"Perfeito. Agora, vamos fazer algumas compras online para os bebês enquanto esses três nos procuram pela cidade." Nós três rimos.
Fala sério, não vamos ficar sozinhas na cidade. Não depois de tudo o que aconteceu. O Rei continua solto por aí e, até o capturarmos, sabemos que ainda estou em perigo. Agora sei que posso acabar com um exército inteiro, mas a minha prioridade é trazer o meu filho ao mundo em perfeita saúde. Adiamos até a cerimônia de Luna para depois do parto, para não me pressionar.
Rimos e nos divertimos, sem acreditar que esses três levaram a sério o que lhes dissemos. Já dissemos alguma vez que queremos ir para a cidade?
Fazemos compras online por quatro horas. Compro fraldas, móveis, brinquedos, roupas e comida para bebê. Pegamos tudo o que é necessário e até o que não é, mas o que dizer? Todas as roupas e brinquedos para bebê são tão lindos que não dá para resistir! É absolutamente maravilhoso!
Os meninos tentam entrar em contato conosco toda hora através da ligação mental, mas estamos mais do que determinadas a lhes dar uma lição. Sabemos que eles nos amam e que, às vezes, são atrevidos ou superprotetores, mas eles têm que entender que certas coisas não devem ser ditas em voz alta, mesmo que sejam óbvias. Eles também precisam entender que não precisamos de tanta proteção assim.
Depois de quatro horas de muitas risadas, nós três adormecemos no meio do sótão, entre os brinquedos e caixas com roupas que encomendei durante a semana com Mécia, além das decorações que farão deste lugar o berçário mais maravilhoso do mundo.
Não sei quanto tempo durmo, mas sei que no momento em que acordo, Mickey está no tapete ao meu lado, deitado com uma mão debaixo da cabeça, olhando para mim.
Agora, o que posso dizer? Ele me pegou…
"Olá, amor!" Eu digo, sorrindo culpada para ele.
Há muitas emoções em seu rosto: medo, alegria, irritação. Eu posso jurar que ele chorou em algum momento, mas Mickey está calmo agora.
"Onde estão as meninas?" Pergunto ao perceber que estamos sozinhos e tento me levantar, mas ele segura minhas mãos.
"Com seus companheiros." Mickey afirma calmamente.
Eu olho para ele, mas não ouso dizer nada. Sinto que ele não está bem.
"Você sabe o quão assustado eu fiquei hoje?" Ele questiona, mirando os meus olhos, mas não me atrevo a responder. Em um dia normal, não sei se teria reagido assim ao ouvi-lo falar aquelas besteiras. Talvez sejam os hormônios da gravidez, mas eu queria muito dar uma lição nele hoje.
"Procurei por você em todos os cantos, Lisle. Por horas. Os meninos também. Teve um momento em que o Raquel começou a chorar e tivemos que fazer de tudo para explicar a ele que Julia não sofreu nada e que ela está bem. Ele teve um ataque de pânico. Nunca o vi assim na minha vida. O seu irmão, Rafael, ficou sem fôlego ao pensar que a minha irmã boba o odeia." Mickey diz, ainda me encarando. "Eu pensei... Eu fiquei com medo de que o Rei viesse atrás de você de novo. Senti que meu coração parar quando não encontrei você na cidade. Você só poderia estar em casa, pois nunca disse que iria para a cidade, apenas que faria compras. Você me enganou, safadinha Lisle."
"Sinto muito por assustar você tanto assim." Digo, olhando para ele.
"Eu não senti um medo normal. Eu quase infartei de medo, Lisle. Pensei que você poderia estar em algum lugar que eu não conseguiria alcançar. Mas eu também percebi que você nunca arriscaria sua vida ou o segurança das meninas, mesmo assim, entrei em pânico..."
"Sinto muito." Repito.
"Não, Lisle. Você não deve sentir. Você queria me ensinar uma lição." Mickey afirma. "Posso ser um idiota às vezes. Posso nem sempre saber o que dizer, mas amo você como nunca pensei que seria capaz de amar alguém." Ele se abaixa e beija minha barriga de leve. "E eu amo esse ser maravilhoso que cresce dentro de você. Eu imploro, Lisle. Faça o que quiser no futuro, mas não me faça pensar que perdi você."
Eu o seguro imediatamente e começo a chorar ao abraçá-lo. Este é talvez o momento mais vulnerável que já tivemos desde que nos conhecemos. Ele nunca tinha sido tão sincero com o que sente.
"Eu amo você, Mickey, nunca vou abandoná-lo. Não importa o que aconteça!" Eu digo e começo a beijá-lo.
Mickey me pega nos braços e desce comigo para o nosso quarto. Nem conseguimos tocar na maçaneta, pois ouvimos William vir correndo em nossa direção e gritar: "Venham rápido! Julia vai parir antes da hora!"