Capítulo 26
1267palavras
2023-08-28 14:07
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Ponto de Vista do Mickey
É tudo um grande pesadelo.
Lisle está deitada na cama do hospital, sedada para conseguir se recuperar mais rápido. Os médicos decidem colocá-la em coma induzido para acelerar sua recuperação. Parece que, após a tentativa forçada de Damon de marcá-la, a sua loba Nancy entra em um estado de choque e não consegue ajudá-la a se recuperar.
Tentativa, sim, você entende direito. No começo, quando vi o pescoço de Lisle cheio de sangue, penso que Damon conseguiu marcá-la ou, pior, feri-la gravemente quando Rei Alfa o tirou de cima de Lisle.
Ele a machuca, mas os ferimentos não são graves. Pelo menos, não os ferimentos físicos, pois o choque emocional a faz entrar em um estado catatônico e, por mais que tentemos, não conseguimos alcançá-la.
Damon não enfia as presas na garganta dela com força o suficiente para marcá-la, mas o que ele fez é imperdoável. E sei que nenhum dos que estão aqui jamais vão se esquecer o que aconteceu e o que ele fez. Com isso, ele arruina toda a sua vida.
O Rei Alfa o tranca em uma masmorra, da qual eu desejo sinceramente que Damon nunca mais saia. Ele está vivo porque Alfa Anthony intervem e pede piedade ao Rei. Quando Alfa Anthony lhe pede algo, você não pode negar mesmo sendo um rei, pois aquele homem é uma lenda e é um dos Alfas mais honestos da história dos lobisomens. Todos cometemos pequenos erros, mas Alfa Anthony sempre é honesto e tenta viver com dignidade.
"Como ela está?" Rafael me pergunta ao entrar na enfermaria do hospital, junto com Viviana.
Rafael vai até a cama onde Lisle repousa e beija a testa dela.
"Olá, Lisle." Ele diz, apesar de saber que ela não pode ouvi-lo, mas faz isso sempre que pode.
"Nenhuma novidade." Eu digo, com raiva. "Ela está inconsciente há três dias e não há sinais de melhora. Os médicos sempre me dizem que tenho que esperar, mas não aguento esperar, Rafael!"
"Mickey..." Viviana me chama, colocando uma mão no meu ombro. "Vá descansar, você está com uma cara horrível! Também está com um cheiro péssimo. Você comeu alguma coisa nos últimos dias?"
"Eu não vou sair daqui, Viviana. Se alguma coisa acontecer, preciso estar aqui." Eu simplesmente não consigo ir embora, mesmo sabendo que estou fedendo muito e que Viviana está certa. Sinto como estou mal e vejo os médicos ficarem pálidos ao se aproximarem de mim. Estou com fome e cansado, mas preciso ficar perto de Lisle. E se algo acontecer enquanto eu estiver fora?
"Pelo amor da Deusa, Mickey." Rafael retruca. "Vá ao banheiro do hospital pelo menos e se limpe um pouco. Lave o rosto, ou Lisle vai desmaiar de novo assim que abrir os olhos e ver você."
Eu olho para eles e gostaria de dizer algo, mas a porta abre. Entrem Raquel, Julia e William no quarto.
"Certo." Viviana diz. "Estamos todos aqui. Vá se lavar e não volte até comer alguma coisa."
'Lisle está segura. Talvez eu possa sair por alguns minutos.' Penso comigo mesmo...
Acho que nunca tomei um banho tão rápido na minha vida. Pego um sanduíche e começo a comê-lo no caminho de volta para o hospital. Um sanduíche é mais do que o suficiente, mas Viviana e Rafael estão certos. Preciso clarear um pouco a minha mente.
Assim que volto ao hospital, dou de cara com Alfa Anthony.
"Alfa Mickey." Ele me chama. "Como Lisle está?"
"Ela ainda está em coma." Digo, em um tom um pouco perplexo.
"Quero me desculpar pelo que meu filho fez." Alfa Anthony diz. "Nem nos meus piores pesadelos, jamais ia imaginar a situação piorando desta forma."
"Não é culpa sua, Alfa Anthony." Respondo. "Você não pode se culpar pelas ações de Damon. Ele está doente. Inclusive, está doente há muito tempo e passou de todos os limites. Infelizmente, nenhum de nós percebeu a gravidade de seu distúrbio antes."
"Mesmo assim, ainda é meu filho e me sinto responsável pelo que ele fez."
"O que você vai fazer agora, Anthony?" Eu pergunto, desistindo da formalidade.
Anthony olha para mim sem expressão e encolhe os ombros.
"Não sei. Eu achava que ia ter uma velhice tranquila, que Damon ia encontrar a companheira dele e assumir a liderança da alcateia, mas parece que isso não será possível. Tomei a decisão de não deixá-lo liderar a alcateia há muito tempo, assim que soube o que ele havia feito com Lisle. Se eu soubesse antes que isso tudo poderia acontecer..."
"Ninguém sabia, Anthony. Ninguém."
"A alcateia provavelmente pedirá que Rafael ou Clay seja o Alfa, não sei. Talvez alguém me desafie pela posição Alfa, aí eu perderei tudo. No momento, tudo pode acontecer."
"Anthony, se eu puder ajudá-lo em algo, é só me pedir. Você sabe onde me encontrar." Falo, dando um tapinha amigável em seu ombro.
Alfa Anthony retribui o gesto, então se afasta parecendo tão confuso que meu coração se parte com isso.
De volta ao quarto na enfermaria, encontro meus amigos ao redor da cama de Lisle. Eles observam os médicos, que acabam de verificar como ela está.
"Ela está fisicamente curada." Um dos médicos afirma.
"Acho que a loba dela ainda está lutando por ela, mesmo que não possamos contatá-la." O médico acrescenta. "Ela se recuperou muito rapidamente. Não há nenhum vestígio em meu corpo que revele o fato de que, há três dias, ela chegou aqui sangrando e com todas as costelas quebradas."
'Por favor, acorde. Eu preciso muito de você. Preciso da minha companheira doce e carinhosa.' Eu rezo sinceramente.
Estamos no hospital do Rei. Em nenhum outro lugar deste mundo, a Lisle poderia ser melhor tratada do que aqui, mas sinto que estou enlouquecendo. 'Acorde, Lisle! Volte para mim. Já se passaram três dias com e sem você ao mesmo tempo!'
Um por um, meus amigos voltam para seus quartos. Papai já voltou para a Alcateia Deep Valley, pois a minha mãe está sozinha lá há mais de duas semanas. 'Estou com tanta raiva. Deveríamos estar em casa agora, fazendo a cerimônia de Luna para Lisle, para nos tornamos companheiros no verdadeiro sentido da palavra. Mas onde estamos? Por favor, Lisle, volte para mim!' Penso no fundo.
Subo na cama de hospital e tento não incomodá-la ao me deitar ao lado dela. Aproximo a minha cabeça da dela e coloco os braços sobre ela, na tentativa de abraçá-la.
"Eu amo amor." Digo, beijando sua testa. Fecho os olhos, tento descansar por alguns minutos. Contudo, quando os abro, percebo que os minutos viram horas. Ainda estou na cama de Lisle, ainda estou com ela nos braços. E tudo parece estar igual.
Eu respiro fundo. Beijo sua testa de novo, sentindo uma enorme falta dela e fecho os olhos mais uma vez.
"Você está acordado!" Eu a ouço dizer, é a voz mais doce que já escutei.
"Lisle!" Grito, como um homem desesperado, levantando-me para a ponta da cama e a encarando. "Pelo amor da Deusa! Você acordou!"
Rapidamente, eu a seguro em meus braços, mas logo paro, com medo de machucá-la.
"O que aconteceu?" Ela indaga, surpresa com minha reação.
"Tem algo incomodando? Você está bem?" Eu pergunto.
"Estou bem." Lisle diz. "Tudo está perfeito agora!" Ela se aproxima de mim e me abraça.
"Eu senti tanto sua falta!" Digo a ela, afundando em seus braços. Lisle me envolve e acaricia minhas costas com as mãos. "Por favor, Lisle, nunca mais me assuste assim."
"Eu sei, Mickie, eu sei..." Eu a encaro e beijo pela primeira vez em quase quatro dias.
Ela está acordada.
Estou em casa.