Capítulo 2
1979palavras
2023-08-14 13:17
Ponto de Vista do Damon
Eu não consigo acreditar que estou jogado no chão, com a b*nda de fora, sangrando e gritando de dor. Isso não é o que eu tinha planejado para hoje. O plano é simples. Eu vou "agarrar" a minha péssima e inútil companheira, depois convidar meus amigos para fazerem o mesmo. Rafael me disse que não ia me impedir. Ela é a irmã dele, mas ele a odeia com todas as suas forças. Eles se davam muito bem até a morte de seus pais; depois disso, ele não conseguia mais sequer encará-la nos olhos. Emília Kennedy e Marcus Kennedy morreram a defendendo, morreram enquanto Rafael assistia desesperado e sua irmã se encolhia no chão, completamente perdida. Depois de tal cena, tudo mudaria para sempre.
O plano para hoje é simples. Rejeitei Lisle há um ano. De jeito nenhum, vou aceitá-la como minha Luna. Toda alcateia teria pena de mim, e isso é inaceitável. Minha mãe nunca me perdoaria se eu a aceitasse. Não quero nem pensar em como o meu pai, o Alfa atual, reagiria. Os únicos que sabem que Lisle é minha companheira são Rafael, Daniel e Clay. Assim, já me parece que pessoas demais sabem. De acordo com o plano, eu a rejeito, ela aceita minha rejeição, aí posso viver minha vida o mais longe possível dela e encontrar uma nova companheira. Mas aí descubro que essa idiota não tem uma loba! Aquela garota pobre não pode nem aceitar a minha rejeição. Estou conectado a ela mesmo sem querer. Por causa dela, não tenho a chance de ser feliz.

Decido então fazê-la pagar por isso. No ano passado, fiz de tudo para machucá-la. Eu sei que ela sofre, embora sempre tente parecer que lhe resta alguma dignidade. Bati tanto nela da última vez, que ela foi parar no hospital. Meu pai descobriu isso e fez um discurso enorme sobre como deve ser o caráter de um Alfa, sobre como devo ser imparcial e respeitar todos os membros da alcateia. Mas Lisle não é uma parte desta alcateia! Lisle deixou de fazer parte dela quando perdemos duas das melhores pessoas que já conheci por sua culpa. Meu pobre pai pensa que a trato assim apenas por causa de Rafael. Mas, além disso, Lisle tem que pagar, pois não posso ter uma companheira perfeita por causa dela.
Portanto, o plano é simples. Hoje, vamos machucá-la tanto que Lisle vai preferir morrer ou encontrar uma maneira de me rejeitar. Não me importo com o que ela decidir, mas minha conexão com ela deve acabar hoje. Sinto as suas patéticas emoções, sinto sua dor; mesmo que eu a tenha rejeitado, ainda sinto tudo. Já basta disso. Eu quero ser feliz.
Mas tudo sai do meu controle. Sei que sou desprezível pela forma como escolhi tratá-la. Eu nunca faria uma coisa dessas com uma mulher, mas, nesta situação, realmente não tenho escolha. Não quero viver assim pelo resto da minha vida. O medo em seus olhos quase me fez parar, mas sei o que está em jogo. Eu só a agarro por alguns segundos. Sinto como se perdesse a alma no momento em que a p*netrei. Dura menos de um minuto, e aqueles são os segundos mais felizes da minha vida, meu lobo uiva de alegria na minha cabeça quando, de repente, Lisle me atinge com uma força extraordinária. Eu sou um Alfa, pelo amor da Deusa! Sou o homem mais forte da alcateia, treino por várias horas todos os dias. Como é possível um ser tão fraco me jogar tão longe?! Sinto todos os ossos do meu corpo estalarem ao tocar no chão.
Não consigo enxergar por causa da dor. Simplesmente não consigo abrir os olhos, nem respirar. Estou agora jogado no chão, com a b*nda exposta e as calças abaixadas. Eu ouço gritos ao redor, são os gritos de Clay e Daniel.
O que está acontecendo?
"É melhor você ajudá-lo, eu não acho que os médicos querem ver a b*nda dele" Escuto Lisle dizer, então tudo fica preto e eu sinto a escuridão me envolver por completo.

Depois de dois dias apagado, eu me recupero apenas para descobrir que toda a alcateia pensa que fomos atacados por 50 lobos renegados enquanto estávamos na casa de Rafael, que fica próxima da floresta. Quem acreditaria em uma coisa dessas? Rafael e Clay não poderiam ter arranjado uma desculpa melhor?
"Filho..." Meu pai diz calmamente. "Eu quero saber o que aconteceu de verdade na casa de Rafael."
"Rafael já lhe contou tudo. Não tenho mais nada a acrescentar." Eu digo, sem mirá-lo nos olhos.
"Quando um renegado ataca, não larga você desmaiado, Damon! Quando um deles ataca, as pessoas morrem. Não bate em você e vai embora. Quero saber o que aconteceu."

"Já falei, pai, não tenho nada a falar além do que meus amigos contaram." Eu digo calmamente, encarando-o desta vez.
"Eu não sei o que você fez, só espero que isso não se volte para assombrá-lo. Você é um Alfa, pelo amor da Deusa! Assuma os seus atos quando fizer algo errado. Assuma os erros e acertos. Tenha dignidade!"
Como posso ser digno de qualquer coisa quando sei que est*prei uma mulher diante dos meus amigos? Como posso confessar ao meu pai que rejeitei minha companheira no ano passado? Mesmo que ele não goste dela, sei que não concordará com as minhas ações. Há um tempo que meu pai me pressiona para que eu procure a minha companheira, ele já declarou que não vai me deixar assumir a alcateia se eu não tiver uma companheira. Um Alfa sem Luna é perigoso e difícil de controlar.
De repente, a porta se abre, e Rafael entra.
"Eu vou deixar vocês conversarem. Talvez você resolva contar o que realmente aconteceu dois dias atrás."
"Já contei o que aconteceu, não se preocupe." Retruco, já um pouco irritado.
"Tchau, Alfa." Rafael diz, mais respeitosamente.
Meu pai acena com a cabeça, então caminha até a porta quando, de repente, ele para e olha para Rafael.
"Você encontrou a sua irmã?" Ele pergunta, bem sério e preocupado.
"Não, Alfa. Ainda estou procurando." Sinto o meu sangue começar a ferver em minhas veias.
"Como assim está procurando? Onde ela está?" Pergunto, visivelmente agitado.
"Acho que os renegados a levaram com eles... dois dias atrás." Rafael gagueja. "Quando os médicos chegaram, a Lisle havia sumido."
Não, não, não... Ela não pode sumir assim! Meu plano falha desse jeito. Para onde Lisle foi? Preciso saber onde ela está. Eu preciso sempre saber onde ela está. E se algo aconteceu? E se ela realmente foi atacada por lobos renegados? E se ela morrer? Sinto o ar fugir dos meus pulmões e fico engasgado.
"Damon, você está bem?" Meu pai me pergunta, um pouco assustado.
"Damon!" Rafael grita, mas é tarde demais. Eu desmaio novamente.
Quando acordo, meus pais estão sentados ao meu lado. Não consigo mirar os seus olhos. Eu sei que eles têm muitas perguntas. A forma como havia reagido à notícia do desaparecimento de Lisle não é normal.
"Você está pronto para falar?" Meu pai me pergunta.
"Damon..." Minha mãe sussurra ao acariciar minha testa. "Você sabe que estamos sempre ao seu lado, não importa o que aconteceu na casa de Rafael. Você é nosso filho, e nós amamos você. Pode nos contar qualquer coisa." Minha mãe diz com suavidade.
"Não tenho tanta certeza, mãe... Algumas coisas são inaceitáveis." Eu sussurro, fechando os olhos.
"Damon, não quero usar meu comando de Alfa em você nem nos seus amigos. A Lisle está desaparecida há mais de dois dias, a sala de estar de Rafael estava em ruínas. Você e os meninos estavam acabados. O que aconteceu lá não tem nada a ver com um ataque de renegados. Eu realmente tenho que preciso mandar você falar? " Ele pergunta, cheio de raiva.
Fecho os olhos e começo a contar o que aconteceu. Não consigo encará-los. Conto tudo desde o momento em que descobri que Lisle era minha companheira até dois dias atrás. Ninguém fala mais nada. Ouço apenas a minha mãe soluçar. Eu sei que ela está chorando. Não sei por que chora tanto. Ela odeia Lisle assim como todos da alcateia.
"Está me dizendo que você encontrou a sua companheira há um ano e não disse nada? Que a rejeitou sem lhe dar uma chance? Você está realmente me dizendo que, por um ano, você abusou de sua companheira? Que a est*prou há dois dias? " Meu pai questiona, com raiva. Nunca o vi tão furioso. Minha mãe pega a mão dele para tentar acalmá-lo, mas ele a empurra para longe.
"Damon, você é burro assim ou está fingindo? Pela Deusa da Lua, eu criei um imbecil! Conserte isso, Damon!" Meu pai soca uma parede. "Nenhum filho meu pode ser tão depravado a ponto de fazer as coisas que você acabou de me dizer. Conserte tudo! Não me importo como, mas tem que consertar. Se você vai ser o Alfa desta alcateia, mesmo que eu duvide disso depois de tudo que você afirmou ter feito, você vai ter que aprender tudo que tenho tentado lhe ensinar desde que nasceu. Tenha dignidade! Seja imparcial! Respeite sua alcateia e, por último, mas não menos importante, não ignore os caminhos que a Deusa da Lua preparou para você. Não importa quem são seus amigos e o que você sente, você tem que ser um líder, um exemplo a ser seguido! Que vergonha! Conserte isso ou você não vai mais ser o Alfa desta alcateia."
"Amor..." Minha mãe tenta o confortar.
"Cale a boca, Lillian! Nosso filho é desprezível! Se Lisle fosse nossa filha, e você fosse a Emília, como se sentiria ao saber que o companheiro abusou dela por anos, rejeitou, est*prou? O que você faria? Ia dar os parabéns para o cara e dizer que ele fez a coisa certa?"
Meu pai sai do quarto batendo a porta, e mamãe vai atrás dele. Antes, ela sussurra: "Eu sei que seu pai está certo. Eu sei que você errou, mas aquela garota é... Ela é insuportável. " E vai embora chorando.
Estou com raiva e em pânico... Sinto muitas coisas contraditórias em relação à Lisle agora. Uso a ligação mental para chamar Rafael com urgência.
"Você a encontrou?" Pergunto assim que ele entra pela porta.
"Não. Até parece que sumiu no mundo. O seu desejo se tornou realidade. A Lisle está completamente fora do seu caminho. Não há sinal dela. A garota pegou algumas roupas e saiu sem mais nada. Sem dinheiro, comida, ou qualquer outra coisa. Damon, você acha que ela está com problemas?" Rafael me pergunta, um pouco confuso.
"O que é isso, Rafael? Por que está me encarando como se eu fosse o único culpado aqui? Você concordou com tudo que fiz."
"Eu sei que sou tão culpado quanto você pelo que aconteceu. Contanto que ela ficasse em silêncio, submissa de boca fechada, eu não tinha nenhum problema em fazê-la sofrer. Não sei como explicar, mas, quando ela disse me odiar, naquele momento, eu senti algo se partir dentro de mim. Senti meu ódio por ela sumir como se nunca tivesse existido, eu me lembrei de todos os momentos da infância quando nós ainda nos amávamos e eu a protegia. Os meus pais morreram por ela, e tudo que fiz foi desprezar o seu sacrifício. Não sei. Por um segundo, eu não acreditei quando ela me disse o quanto me odeia. Eu sempre pensei que a minha irmã me amaria, apesar de tudo."
"Rafael..." Eu falo devagar. "Nós vamos encontrá-la. Ela está viva, pois sinto como nosso vínculo continua intacto. Tenho certeza. É tudo que eu preciso saber. Se Lisle não está conosco, deve estar segura. O que pode ser pior para ela do que ser a minha companheira? " Eu afirmo, cheio de amargura.
"Nós precisamos encontrá-la, Damon! Pelo amor da Deusa! O que eu fiz?"