Capítulo 33
1902palavras
2023-08-29 09:04
A mão de Rosa acariciou minhas costas enquanto ela me puxava até a cama com cuidado.
— Ok menina, senta aqui. Precisamos conversar. — ela se sentou comigo na cama e ergueu meus rosto me olhando nos olhos sem se importar que eu tivesse acabado de colocar meu almoço para fora no chão do quarto.
Eu estava me sentindo um lixo, nunca imaginei que me sentiria tão destruída assim e a culpa toda era de Alejandro. Como eu queria voltar a hoje mais cedo e apagar a parte em que eu confessei que gostava dele, e definitivamente cancelar a parte que eu deixei que ele me fodesse contra a parede também.
— Me desculpa por isso Rosa, eu vou pegar um pano e...
— Você acha que ligo pra isso menina? Por Deus se soubesse o quanto meus filhos já vomitaram no meu chão. — ela falou abandonando a mão mostrando que não se importava. — Quero falar sobre o que meu filho fez com você e os seus sentimentos por ele.
— Rosa, eu... — suspirei tentando controlar meu corpo, mas já sentindo meu enjôo bem mais longe agora. — Eu não quero falar sobre esse assunto agora.
— Eu sei querida, imagino o quanto você está magoada com Alejandro e que não queira falar sobre isso, mas você precisa conversar, não pode se fechar.
— Só não acho que é a hora agora, ainda não consegui processar tudo e ser rejeitada assim... está tudo confuso, uma completa bagunça na minha mente.
Eu nem estava mais conseguindo descrever meus sentimentos, ou o que estava acontecendo com meu corpo, tudo estava
— Sim filha. Entendo que esteja tudo confuso, ainda mais depois do que passou no seu casamento. — ela acariciou meus cabelos e rosto, me dando aquele carinho materno me fazendo desabar de novo. — Meu filho é um garoto idiota, Alejandro sofreu muito com a única mulher por quem se apaixonou, ela brincou com o coração dele e destruiu os sonhos dele. Mesmo que ele diga que ainda vai amar de novo, se casar e ter uma família, ele ficou cego, não consegue enxergar o que sente por você.
— Não acho que ele sinta...
— Ele sente, não digo isso porque ele é meu filho, mas é porque eu quero que você saiba da verdade. — ela falou me interrompendo. — Ele te ama, mas ainda não percebeu isso, e por esse motivo você deve ir e fazer sua vida, cuidar desse bebê aí dentro...
— Não tem bebê rosa! — foi a minha vez de gritar a interrompendo. — Eu não posso engravidar, nunca consegui!
A mulher a minha frente sorriu como se soubesse de um segredo que apenas eu não sabia ainda. Então ela deu duas batidinhas em meu rosto antes de voltar a falar.
— Se você acha isso tudo bem, mas faça uma visita ao médico, ok? Quero que vá e viva sua vida, Alejandro não vai demorar a perceber o erro que está cometendo e vai correr atrás de você.
— Eu não quero que ele faça isso. — mentira, aquilo era a mentira mais deslavada que eu já tinha contado. Eu queria que ele fosse atrás de mim, que se arrependesse e corresse se arrastando atrás de mim, mas isso não queria dizer que iria perdoa-lo.
— Você querendo ou não ele vai, pois um homem verdadeiramente apaixonado não consegue ficar parado quando perde sua amada. — Rosa falava como se aquilo fosse um filme de romance e não a minha vida miserável. — E quando ele for atrás, o faça sofrer! Ele merece por ter sido tão cego e ter te feito sofrer.
Eu tive que rir, ela nem parecia mãe dele dizendo uma coisa daquelas pra mim. Rosa gargalhou junto comigo, aliviando o clima e o incomodo dentro de mim.
— Você é uma ótima mãe, sabia? Só não sei se os seus filhos concordam comigo.
— Filhos nunca concordam com a gente querida, mas não quer dizer que vamos parar de falar a verdade! Vai aprender isso logo logo. — ela insistiu na ideia que eu teria filhos, mas eu não retruquei dessa vez.
Se já não fosse impossível por minha natureza, agora era ainda mais impossível pois eu me manteria longe de todos os homens da terra no quesito sexual.
— Obrigada por isso, por me ajudar e estar do meu lado. — murmurei sabendo que estava na hora de ir, mesmo que parte de mim quisesse ficar naquela casa. — Agora eu tenho que ir antes de que fique aí da mais tarde. Nós duas nos vemos amanhã na loja.
— Sem falta minha linda! — Rosa me abraçou apertado e desceu comigo até o andar de baixo.
Alejandro e Luke me olharam em expectativa, provavelmente achando que Rosa estava tentado me convencer a ficar. Mas quando eu andei para fora da casa sem me despedir de Ale, ficou claro que não foi esse o assunto da nossa conversa.
— Pronto pra me levar pra minha nova casa? — perguntei entrando no carro de Luke e recebendo um olhar um tanto incerto.
Eu entendia a dificuldade dele no meio de tudo isso, ele era amigo de Alejandro e me ajudar poderia causar problemas entre os dois, mas se Rosa que era a mãe podia fazer isso, qualquer outro também podia.
Não demorou para chegarmos a casa toda estava mergulhada na escuridão, me deixando ainda mais incomodada para entrar, era como se não fosse minha casa, mas sim um lugar desconhecido.
Mas Luke tratou de abrir a porta e acender as luzes em seu caminho até o meu quarto. Onde ele deixou as malas e eu segui direto para o chuveiro precisando de um banho urgente.
Quando fechei os olhos em baixo da água quente a imagem de Alejandro plantado na porta me olhando ir embora invadiu a minha mente, o olhar dele queimava sobre mim enquanto sua expressão mostrava o quanto ele estava revoltado com minha partida.
— Foram suas escolhas Ale. — murmurei tratando de tomar um banho e tentar não pensar mais nele.
Quando sai do banheiro o cheiro de comida tinha inundado a casa, me levando direto para a cozinha onde Luke estava concentrado no celular.
Na mesa tinha uma caixa de pizza e dois pacotes pardo de comida me deixando confusa, aquilo era comida pra um batalhão e não estávamos esperando ninguém.
— Anda loirinha, você precisa comer depois que bancou a garota do exorcista e vomitou tudo. — revirei os olhos me sentindo na banqueta a frente dele. — Tem pizza, hambúrguer, batata frita.
— Muito engraçadinho você, devia mesmo fazer stand-up. — resmunguei e ele fez uma reverência me arrancando um sorriso pequeno. — Mas porque esse tanto de comida?
— Não sabia o que você ia querer comer e esse bebê aí já mostrou o quanto é sensível. — as palavras dele me fizeram bufar irritada na hora.
Que cisma era aquela com todos em dizer que eu estava grávida? Não tinha a menor chance disso acontecer!
— Uma mulher não pode vomitar que está grávida, é isso? Porque se for assim tenho dó de metade da população feminina.
Luke abriu um dos sacos e colocou o hambúrguer na minha frente e então abriu a pizza. Mas foi só olhar para o queixo com azeitonas para que meu estômago se embrulhasse, me fazendo fechar a caixa com pressa.
— Eu conheço uma mulher grávida de longe querida, minha mãe engravidou cinco vezes enquanto eu crescia, então podemos dizer que já virei um expert no assunto.
— Cinco vezes? — a pergunta saiu antes que eu pudesse controlar minha língua.
— Sim, cinco vezes. Ela era uma viciada, que saia com qualquer cara que pudesse bancar seu vício e não duvido que a vadia teria vendido um de nós só para poder usar mais um pouco. — ele falou me chocando ainda mais. — Por sorte eu estava sempre por perto pra manter todos em segurança.
— Como... Meu Deus, eu não sei nem o que pensar, o que falar.
— Não precisa dizer nada loirinha, todos nós temos nossos fantasmas, nosso passado fodido. — ele afastou a caixa de pizza de perto de mim e empurrou o hambúrguer para as minhas mãos. — Foi por eles que comecei a fazer programa, primeiro Bella me deixou começar a dançar aos dezessete só porque ela conhecia a minha família e sabia o quanto eu precisava disso, então eu descobri que o jeito que as mulheres me olhavam poderia me render ainda mais dinheiro e comecei a fazer os programas.
— Bella? Aí meu Deus, você era só uma criança! — exclamei revoltada e enojada com as pessoas.
— Todos éramos, eu precisava colocar comida na mesa assim como Bella e Ale, nós só andamos em caminhos diferentes. Ale tinha a mãe para ajudar, Bella tinha o negócio que herdou do pai, eu não tinha ninguém além dos meus irmãos mais novos e só tinha o meu corpo para oferecer. — ele deu de ombros como se não fosse nada de mais.
Mas meu coração já tinha se apertado no peito com aquela história. Eu não era a única que tinha um passado de fodido e cheio de traumas.
— Sinto muito que tenha tido uma vida de merda. — murmurei perdendo um pouco da vontade de comer.
— Faz parte, mas eu consegui criar todos os meus irmãos bem, são ótimas pessoas e agora estão todos na faculdade! — ele ergueu as mãos para o céu. — Agora vamos voltar ao assunto principal, você e esse bebê.
— Rosa disse que estou grávida, mas isso é impossível, foram mais de dez anos de casada e nada...
— Já parou pra pensar que talvez a fábrica do velho é que já tivesse passado da validade? — eu explodi na gargalhada, não dava para ficar séria com Luke por mais do que alguns minutos. — De verdade, seus seios estão maiores, você tem dormido de mais, os enjôos estão frequentes e está comendo mais.
Eu encarei meu corpo e olhei para ele assustada com todos os detalhes que ele tinha percebido e eu não havia nem me dado conta.
— Como?
— Eu sou experiente no assunto, não menti. Mas pra tirar as suas dúvidas amanhã vamos comprar uns testes.
— Vai dormir aqui comigo? — eu torcia que a resposta fosse sim, porque eu definitivamente estava insegura de dormir sozinha naquela casa nova.
— Claro que vou! Vai ter que me aturar por perto por um longo tempo agora, o título de padrinho dessa criança já é meu! — sorri sabendo que se ele tivesse certo e eu estivesse grávida com toda certeza ele seria o padrinho. — Agora anda, come!
— Você é um bom amigo, sabia disso?
Ele abriu um sorriso ainda maior, mostrando o quanto estava convencido. Mas de verdade Luke estava sendo um grande amigo nos últimos tempos, me ajudando a arrumar uma casa, os móveis e agora isso, me salvando no meio daquela tempestade.
Pensar nisso me fez lembrar de que eu não estava com Alejandro e que não era correspondida. Se eu estivesse mesmo grávida, um filho dele, do homem por quem eu estava apaixonada e que tinha acabado de quebrar o meu coração, o que eu ia fazer? O que seria desse bebê no meio dessa confusão?