Capítulo 19
1636palavras
2023-07-18 13:52
DAVIKA
Caminho pelos corredores com meus sapatos fazendo barulho por onde passo tudo é igual tudo se mistura e tenho certeza que se não estivesse com meu pai eu me perderia no meio de tantas pessoas que precisam de ajuda sei que a partir daqui perderei minha liberdade sou jovem e apesar de ter 12 anos eu sei que estou presa a alguém que nem ao menos sabe que existo
A duas noites atrás meu destino se inclinou ao poder de quem tem tudo ao seu alcance mas que com um simples comando tirou debaixo dos meus pés o caminho que agora outro percorrerá

Meu pai sempre diz que não sou como as outras crianças minha esperteza me faria alcançar a grandeza minhas ideias que superam uma criança de minha idade me fazem pensar se não troquei minha vida por de outra pessoa a cela é dourada mas apesar do luxo eu me vejo cada vez mais caindo no buraco que meu empregador cavou para que minha queda seja inevitável
- Aqui está querida - meu pai para em frente a uma porta e por mais que não diga eu sei que seu coração é atormentado com o medo e a incerteza do que ocorrerá com sua única filha - Tem certeza que quer fazer isso?
Tenho que ser forte por nós dois
Minha vida agora pertence a outro
- Sim pai - digo com firmeza - Eu quero conhecê-lo
- Eu deveria tê-la protegido melhor você é o que mais de precioso tenho e me dói que mesmo que não queira eu tenha contribuído para essa situação - seus olhos transmitem uma emoção que não precisa ser falada

O senhor sempre se culpando por tudo
- Não fique triste - olho para a porta que esta fechada e de volta o encaro - Quero que sorria o senhor já chorou demais
- Vou tentar - seu sorriso sai sem muita vontade e mesmo que sofra eu sei que posso pular em seu abraço de olhos fechados pois meu pai nunca me deixará cair
A maçaneta está fria ao toque e com a respiração suspensa eu empurro a porta o quarto esta um pouco escuro mas apesar da escassa claridade é possível ver uma pequena forma adormecida meus pés percorrem o curto espaço que nos separa como que por vontade própria e quando me dou por conta estou com os olhos postos em um garoto que sem ter noção de nada acabou transformando vidas que de um jeito tortuoso me fez ver a crueldade do ser humano pela primeira vez em minha jovem vida

Nunca vou esquecê-lo
Você esta gravado em minha alma
Agora totalmente imersa em observá-lo eu não mais sou uma garotinha que se fascinou por quem tem a chave de sua liberdade mas sim uma adulta que com fortes sentimentos vem a determinação em conquistá-lo
Os curtos cabelos que tinha quando criança agora estão longos, minhas feições infantis foram substituídas por um rosto de uma pessoa adulta e meu antigo vício de o vigiar de longe agora dá espaço para um amor que não está escrito em lugar nenhum pois o desejo de o ter nunca pode ser possível
- Até agora - sussurro vendo tudo ao redor se apagar e assim pondo um fim a primeira vez em que vi Oz meus dedos tocam os objetos mas a cada toque tudo se desfaz até o ponto onde meus olhos se abrem e ainda com a lembrança do sonho eu olho para o teto do quarto de meu garoto e um pesar me toma conta pois não preciso olhar para o lado para saber que Oz se foi a muito tempo
Ele gostou de mim uma vez
Só preciso relembra-lo que é bom estar ao meu redor
A casa está em completo silêncio e mais uma vez amaldiçoou por ter dormido demais afinal que espécie de guarda costas eu sou dormindo mais do que deveria?
Meus pés me levam ao banheiro que compartilhamos e para espantar o sono jogo uma abundância de água em meu rosto deixando para trás qualquer resquícios de sonolência a toalha em que me enxugo é macia e um sorriso de contentamento aparece em meus lábios pois pela primeira vez estou onde pertenço
- O que... - digo assustada quando o barulho de alguma coisa se partindo é ouvido largo a toalha sem me importar onde caia e preocupada corro em direção ao som
- Porra eu destruo tudo que toco - escuto Oz reclamar e alívio me toma ao vê-lo em pé no meio da sala olhando para o que agora percebo ser pedaços de vidro quebrados meu garoto faz cara feia e logo se abaixa para juntar o que obviamente deixou cair
- Precisa de ajuda? - ofereço
- Não obrigado o vaso já esta quebrado então não vejo como posso piorar a situação - ele resmunga descontente seus olhos se ligam nos meus mas logo desviam como se não soubesse achar as palavras certas - Eu... eu... bem eu não acho que devemos ficar brigados então queria comprar um presente para me desculpar mas como não posso sair de casa é... eu tive a ideia de dar para você algumas flores do jardim mas o vaso escorregou das minhas mãos me desculpe - timidamente Oz empurra seus óculos de volta para seu devido lugar
Por essa eu não esperava
Nunca ganhei flores
No meu último aniversário eu ganhei uma faca Titan Invictus e desde que assumi o lugar onde estou até hoje eu nunca fui tratada como uma garota mas sim como um soldado então flores nem se quer passavam perto dos pensamentos do meu chefe e de meu pai
Oz levanta do chão carregando em suas mãos o vidro partido e segue para a cozinha seu comportamento não me alerta sobre algo fora do comum nada parece mudar se não fosse o fato de que sangue mancha uma parte de seu casaco embaixo na ponta de seu moletom verde tem uma marca de sangue que se não o tivesse visto juntar os vidros partidos sem se machucar eu até acreditaria que foi por seu descuido
Meu garoto volta da cozinha e para na minha frente segurando um punhado de rosas vermelhas que se não fosse o veneno da desconfiança eu até me derreteria com seu gesto
- Desculpe - suas mãos se estendem para me entregar as rosas mas quando vou pegá-las o telefone fixo toca para estragar o momento - Eu... eu vou atender volto logo - Oz deposita as flores sobre a mesa de centro e ainda parecendo constrangido com a situação ele atende o telefone - Alô... sim eu vou avisá-la - suas sobrancelhas se franzem e em seguida ele bate o telefone - Mal educado ele desligou de repente
Meu estômago se contorce e um péssimo sentimento me bate não sei dizer não sei explicar mas o mal estar que tenho é tão ruim que já me preparo para o que vai vir
Coisas ruins acontecem com pessoas boas
Assim como a desgraça acompanha pessoas ruins
- Quem era? - pergunto já temendo a resposta
- Não sei a voz parecia familiar mas não sei quem era ele só disse para você atender seu celular quando ele ligar e que é para colocar no canal 4 o mais rápido possível
- Canal 4? - pergunto confusa pois poucas são as pessoas que tem meu número e por isso a imagem do chefe brilha em minha mente e agarrando o controle remoto choque me preenche quando exatamente no canal 4 vários repórteres frenéticos noticiam um crime brutal
A Besta ataca novamente será mais um crime impune ou dessa vez a polícia o pegará?
Essa é a manchete que me faz congelar
- Hoje ao sair para sua corrida matinal o empresário de 45 anos Sérgio Mezzoti encontrou em frente ao seu portão uma pequena mala contendo em seu interior a cabeça decepada do seu colaborador Alexandro...
- Ele não iria chamar a polícia - Oz interrompe a jornalista e com uma calma que só ele possui Oz sorri de lado - Os vizinhos também estavam saindo para trabalhar e por isso viram Sérgio segurando a cabeça de Alexandro ele não teve escolha a não ser fingir cooperar com a polícia
Deus
Como essa morte nos afetará?
- Como sabe? - pergunto curiosa com o que responderá
- Digamos que tenho olhos em todos os lugares
Alexandro caiu mas outro assumirá seu lugar
Por que certamente Sérgio não deixara essa morte impune
- Seu pai já sabe sobre isso? - coloco o controle remoto sobre a mesa de centro esquecendo completamente a repórter que noticia o quão chocante foi para o empresário achar a cabeça de seu amigo em uma mala
- Sim ele acha que Sérgio recuará por um tempo inclusive meu pai me intimou a ir no jantar que ele está organizando para fortalecer suas alianças - Oz bufa descontente - Não quero ir mas meu pai sabe ser convincente e provavelmente esse é o melhor momento para isso já que Sérgio está ocupado demais com a policia
- Quando vai ser? - minha mente se enche de pânico por motivos óbvios
Calma tudo foi planejado com perfeição
Nada dará errado
- Hoje a noite meu pai não quer dar espaço para que alguém interfira e por isso ele adiantou o jantar
Sento no sofá com a amarga lembrança da última vez em que estive nesse tipo de situação e meus lábios de torcem em desagrado pois naquela época a humilhação por estar vestindo roupas fora da ocasião exigida foi o que quase me fez ser repreendida pelo chefe por que a marca de minhas unhas por pouco ficaram gravadas na pele dela
Nem de longe foi o meu melhor momento