Capítulo 42
1710palavras
2023-08-20 00:02
Desde a noite anterior, quando ela havia voltado do seu passeio, até a manhã do dia seguinte passou como se tudo fosse um borrão.
Ao acordar na manhã seguinte, ela havia enviado uma mensagem para Emily, estudou alguns outros arquivos relacionados ao trabalho, leu um romance que Peter havia generosamente deixado lá para ela, antes de cair no sono.
Roxanne acordou às 23h da noite. Foi então que ela percebeu que havia dormido tanto, que já estava noite. Ela soltou um gemido longo e irritado enquanto se sentava. Conhecendo a si mesma, ela sabia que seria difícil conseguir dormir novamente, agora que já estava acordada.
Ao se sentar na cama, ela lembrou dos acontecimentos do dia anterior. O momento em que ela saiu do carro com Lancelot e Peter na quinta-feira foi a última vez que ela o viu de relance. Desde que ela chegou, ele não ligou para ela, nem chegou perto dela.
Roxanne se levantou da cama, colocando os pés descalços no chão enquanto caminhava até o banheiro. Ela iria lavar o rosto, calçar os chinelos e sair para passear um pouco lá fora. Ela se daria um passeio pela mansão e até fora dela. Talvez isso a ajudasse a dormir melhor novamente.
Ela secou o rosto com uma toalha depois de se convencer de que estava bem acordada. Quando ela saiu do banheiro, ela olhou para o relógio digital que ficava em cima da cabeceira. Já eram 23h15 da noite.
'Quem em sã consciência sairia para "passear" a essa hora da noite?' Quando ela se fez a pergunta, ela zombou. 'Apenas Roxanne Harvey, é claro.'
Enquanto calçava os chinelos e prendia o cabelo em um rabo de cavalo com um elástico que encontrou em sua penteadeira, ela arrumou a blusa e o short que estava usando.
No fundo, ela desejava encontrar Lancelot em sua pequena caminhada. Embora ela soubesse que ele olharia para ela com aqueles olhos frios dele. Ele iria questioná-la por estar fora de casa tão tarde, com seu tom de voz grosso que provocava arrepios por toda a sua pele. Mas, ela não se importaria. Pelo menos, ela o veria.
Era estranho. Como duas pessoas podem morar no mesmo prédio, sob o mesmo teto e não se encontrarem por dois dias?! Era assim que era viver em um palácio? Onde todos os edifícios do palácio são magníficos? Ela pensou no seu apartamento que ela dividia com Emily. As duas não podiam estar em casa sem se esbarrar uma na outra. Mesmo nos momentos em que não se falavam, havia algo que sempre fazia com que as duas se encontrassem.
Então, novamente, seu apartamento não era nada comparado a essa linda mansão, ela havia pensado. Roxanne segurou no corrimão da escada enquanto descia passos lentos.
Caramba! Seu apartamento inteiro não era nem um quarto que ela havia recebido para ficar nesse palácio.
'Essa é a nossa maior diferença', ela pensou.
Mais uma vez, ela estava de pé no final da escada. Enquanto ela caminhava pelo longo corredor, ela fez questão de analisar todas, ou a maioria das fotos. Roxanne não pôde deixar de rir quando viu uma de Lancelot.
Ele não devia ter mais de dezoito anos na foto. Ele estava segurando uma placa de premiação e vestindo uma roupa de formatura e um chapéu de formatura. Ele não estava sorrindo, porém, parecia que estava entediado com qualquer cerimônia em que estivesse.
Algo no coração de Roxanne se acendeu. Ele sempre foi assim?
No entanto, não houve tempo para admirar mais imagens porque havia mais de setenta, senão cem.
Roxanne caminhou sozinha pelo corredor até as portas da frente da mansão. Ela ficou surpresa ao ver elas abertas. Eles não precisavam se preocupar com a segurança. Quem quer que fosse passar por essas portas tinha que passar primeiro pelos portões, o que parecia uma tarefa impossível de se fazer, passar pelos seguranças que ficava ao redor do portão, antes de chegar à porta deveria ser muito difícil. Pela maneira como tinha visto os seguranças, Roxanne duvidava que isso fosse possível.
Quando ela saiu e sentiu aquele frio gelado da noite. Ela ficou do lado de fora, respirando fundo o ar, a cabeça e as mãos levantadas para o céu. Ela ficou ali admirando a lua crescente que iluminava o céu.
Roxanne nunca foi alguém que se importou muito com astrologia ou astronomia, mas agora ela havia percebido algo peculiar na maneira como a lua iluminava as flores no jardim, até mesmo o chão que ela pisava. Era diferente da noite em Manhattan.
Estava tudo um silêncio, uma noite serena, pacífica. Três coisas que Nova York não tinha.
Ela continuou passeando, admirando as esculturas de diferentes lobos plantadas em diferentes cantos do palácio. A maneira como as árvores dançavam ao ritmo do vento, os sons fracos dos pássaros cantando.
Quanto mais ela andava, mais o lugar parecia prender ela. A brisa, as belas árvores e flores, os sons dos pássaros noturnos cantando, tudo a chamava. E Roxanne atendeu ao chamado, mergulhando cada vez mais fundo na escuridão da noite a cada passo que dava.
Quando ela caminhou até algo que parecia ser uma floresta com árvores extremamente grandes, ela se perguntou o que encontraria dentro dela. Talvez o palácio Dankworth tivesse um zoológico escondido. Ou um lugar onde tesouros foram enterrados. O pensamento a deixou ainda mais curiosa, Roxanne se viu rindo como uma criança boba de dez anos.
Melhor ainda, a floresta pode ser assombrada! E ela teria uma noite cheia de aventura, algo como Alice no País das Maravilhas, ou Peter Pan. Então, quando amanhecesse, uma fada apagaria sua memória e seria como se nunca tivesse acontecido.
Roxanne ouviu seu subconsciente repreendê-la.
'O que você têm, treze anos?'
Roxanne apenas riu baixinho. Se houvesse fantasmas nessa floresta, ela não queria que eles ouvissem sua risada.
Quando ela deu dois passos adiante, ela ouviu um barulho de folhas se mexerem, o vento ficou forte e o seu cabelo preso em um rabo de cavalo começou a balançar. De repente, ficou muito escuro e frio, e ela mal conseguia ver alguma coisa.
Só nesse momento que ela se arrependeu de caminhar no escuro sem sequer estar com uma lanterna na mão.
Provavelmente estava na hora dela voltar para a mansão. Ela já teve aventuras suficientes essa noite e precisava tentar descansar novamente.
A brisa fria soprou sobre ela novamente. Roxanne suspirou fundo e envolveu-se com os braços.
Parada de onde ela estava, ela olhou em volta mais uma vez.
Foi quando ela ouviu de novo, as folhas se mexerem. Dessa vez, não foi tão fraco quanto a primeira vez. Era como se alguém tivesse pisado nas folhas.
Naquele momento, ela paralisou. Havia alguém andando ao redor dela, e a pessoa não era ela. Seu aperto em torno de si ficou mais forte, os pelos do seu corpo agora se eriçaram no frio da noite.
Ela não ia se mexer, ainda não, ela esperaria que quem estivesse naquele lugar com ela aparecesse primeiro.
'E se for uma cobra? Não', ela balançou a cabeça ao ter esse pensamento, mesmo quando seu coração martelava contra o peito.
Roxanne estava assustada. Ela estava com medo de respirar muito rápido ou muito alto. Ela não queria que sua companhia indesejada tivesse noção de onde ela estava.
Não até que ela tivesse certeza de quem era.
Foi nesse momento, quando ela chegou a essa conclusão que ela ouviu algo rosnar atrás dela.
Seus olhos se abriram de medo, suas mãos agarraram a gola de sua camisa. Ela fechou as pálpebras, bem apertadas.
Isso era tudo da sua cabeça, tudo da sua imaginação selvagem. Ela tentou se convencer.
Não havia como ela ter ouvido um animal rosnar atrás dela, absolutamente de jeito nenhum.
Parada, ela ouviu o rosnado novamente. Dessa vez, foi tão perto que ela sentiu o hálito quente chegar em seu pescoço.
Roxanne achou difícil engolir a própria saliva. Com o coração ameaçando a sair pela sua boca, ela se virou, lentamente, na direção do som.
Quando ela se virou totalmente...
O seu rosto ficou completamente pálido.
Seus olhos ficaram cara a cara com os olhos escuros, mas esses não eram os olhos de um humano.
Enquanto ela estava lá, em estado de choque, seus olhos se moveram sobre o animal. Olhos escuros penetrantes, pelo preto e grosso, membros altos e dentes extremamente afiados saindo de sua boca, ele se elevou acima dela, olhando para ela. Ela teria pensado que era um cachorro, mas a altura e o tamanho diziam que não era.
Ela piscou duas vezes sem acreditar no que estava vendo.
Roxanne estava com dificuldade de respirar, o medo a entorpecia, a mantinha imóvel.
Ela estava, ela estava realmente olhando para um...
O bicho de pelo preto avançou em sua direção.
"Lobo!", ela gritou, caindo para trás sem cautela. Suas costas colidiram com o chão duro como pedra, sua cabeça bateu no chão com um baque alto.
Enquanto ela gritava, o rosnado do lobo ficou mais alto, mais alto.
"Socorro! Alguém me ajuda!", ela gritou, lágrimas fluindo livremente pelos seus olhos. Ela tentou se levantar e correr, mas seus músculos e articulações falharam.
O golpe em sua cabeça foi muito forte e o animal ainda estava avançando em sua direção. Ela rastejou impotente, com lágrimas nos olhos. Ele era mais rápido, a cada dois passos que ela dava, ele a cobria com um.
Estava tão perto dela agora que retorcia, a boca escancarada, expondo seus dentes gigantes.
Roxanne não conseguia mais se mover, sua respiração estava falhando, ela estava tremendo, todo o seu corpo vibrava com uma intensidade que não deixava espaço para respirar.
Só então, quando ela pensou que ia perder a perna direita, ela ouviu um uivo raivoso vindo de suas costas. O chão tremeu enquanto outro lobo corria em sua direção.
Bem na frente de seus olhos, um lobo cinza saltou sobre seu corpo frágil. Pousando na frente dela, se elevando acima do lobo preto, bloqueando seus caminhos.
Ela não estava mais olhando para um lobo, mas sim para dois.
Era não iria suportar.
Com a falta de ar, o medo congelou seus membros as dores nas costas e na cabeça, Roxanne sentiu que se afastava lentamente.
Até que tudo, de repente, virou uma completa escuridão.