Capítulo 18
2051palavras
2023-07-31 14:46
A batida na porta do seu quarto o fez franzir a testa. De pé em frente ao espelho, Lancelot se olhou uma última vez.
"Vista-se apropriadamente", sua mãe havia dito. Ele só podia esperar que seu traje de calça branca e uma camisa de manga comprida verde militar fosse apropriado o suficiente para sua querida mãe... E para lady Marion.
As mechas loiras ele penteava para trás da cabeça, ele sabia o quanto sua mãe odiava ver seu cabelo voar por todo o rosto. Não que ele se importasse com isso, mas uma das sombras de Madeline sobre etiqueta, vestimenta e boas maneiras era a última coisa de que Lancelot precisava essa noite.

Ele ouviu mais uma batida na porta do seu quarto. Dessa vez, ele suspirou fundo e caminhou até a porta. Alguém devia estar chamando ele para a sala de jantar. Ele não podia acreditar que já eram 19h.
Quando ele abriu a grande porta de madeira, o mordomo Lee estava na frente dele. Um sorriso afetado no rosto do velho, que Lancelot não poderia confundir com qualquer outra coisa: o velho o estava provocando.
"Pela deusa! Você está absolutamente deslumbrante", Lee disse, sorrindo enquanto se curvava em cortesia a Lancelot.
O jovem riu e suspirou fundo. Lee sempre teve jeito com suas palavras e gestos que fazia qualquer um rir: incluindo Lancelot e sua mãe.
"Ah, por favor, Lee. Eu agradeceria se você desistisse do título. Isso faz com que eu me sinta mais velho do que deveria".
"Ah! Mas você é velho, jovem mestre..."

Em sua declaração, Lancelot levantou uma sobrancelha em questão. Foi também um sinal para Lee de que o jovem entendeu corretamente seu trocadilho. Encantado, Lee sorriu.
"Sei como isso soa, e devo dizer que foi puramente minha intenção. Além disso, a viúva teria minha cabeça pendurada no fio de uma espada se alguma vez me pegasse chamando você pelo seu nome".
Lancelot abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Lee foi mais rápido.
"Falando em cabeças. A Luna me pediu para conduzi-lo até a sala de jantar, ou então, a única cabeça perdida seria a sua. Todos estão sentados na mesa, esperando por você".

Lancelot lutou contra a vontade de revirar os olhos.
Claro que todos estavam esperando por ele: todos que ele não queria ver.
Lancelot suspirou fundo. O olhar de Lee mostravam preocupação por ele. Lee sempre se preocupou muito com Lancelot, desde criança. Para ele, o menino não merecia a tragédia que a vida o deixou sobre ele. Desde a infância, tudo o que o menino fazia era sofrer.
Ele sabia que Lancelot não estava feliz com tudo aquilo, ele apenas se perguntava quando a infelicidade do menino terminaria. Só agora que ele estava falando com ele que viu o menino sorrir, ou rir. Todas as vezes e com todas as outras pessoas, ele era frio e duro como um diamante.
"Todos?"
"Cada membro de sua família. Vamos, jovem mestre, não podemos deixar sua mãe esperando".
Silenciosamente, Lancelot seguiu o mordomo. Ao se aproximar da porta do local onde todos estavam, seu coração se apertou e seus olhos escureceram. Ele havia assumido sua aura mortal e hostil novamente.
Lancelot entrou dentro da grande e luxuosa sala de jantar, antes de parar para olhar em volta.
Lee não estava blefando. Todas as pessoas da sua família estavam naquela mesa. A longa e retangular mesa de jantar tinha doze lugares dispostos ao seu redor. Onze dessas cadeiras foram preenchidas. Os olhos escuros avistaram o último assento vazio ao lado de Ava.
Ele tentou não fazer cara feia. Isso só poderia ter sido feito pela sua mãe.
"Irmão!", Arthur, o último filho de Edward Dankworth e o segundo irmão mais novo de Lancelot, gritou ao vê-lo. A empolgação em sua voz fez com que todos na mesa ficassem em silêncio. Todos os olhares se voltaram para a porta onde Lancelot estava parado, as mãos dentro dos dois bolsos da calça.
Lancelot ficou parado, permitindo que todos olhassem para a sua aparência. Pela primeira vez, Lancelot queria desaparecer para que todos pudessem deixá-lo em paz.
Finalmente, seu pai falou.
"Venha filho, venha se juntar a nós", Edward gritou, um sorriso se espalhando em seu rosto.
Com um suspiro, Lancelot começou a caminhar em direção à mesa.
"Tire as suas mãos dos bolsos agora, jovem. Você não tem um pingo de respeito pelos mais velhos que estão sentados na mesa?", a voz antagônica pertencia a Lady Marion, esposa do falecido Edward II e avó de Lancelot.
Lancelot não disse nada, ele simplesmente fez o que ela queria e acenou com a cabeça em cortesia. Enquanto caminhava para se sentar na única cadeira vazia na sala: entre Ava e Elizabeth, sua prima.
Quando ele puxou a cadeira, os olhos castanhos de Elizabeth se ergueram para encontrar os dele. Seus lábios rosados ​​se curvaram em um sorriso lindo e provocador. Por um segundo, Lancelot pensou ter visto ela corar.
Quando ele se sentou na cadeira, ele se afastou dela e deu a todos ao redor um breve aceno de cabeça.
"Agora, mãe, pegue leve com o menino. Você não tem que ser sempre tão dura com ele", a voz feminina que falou pertencia a sua mãe.
Lancelot ficou surpreso por sua mãe ter o defendido. Mas então, quando era para ficar contra Lady Marion, sua mãe podia lutar por qualquer um, apenas para irritar a mulher mais velha.
Lady Marion debochou, com o nariz empinado enquanto se virava para o filho.
Lancelot notou o banquete na mesa. As melhores carnes, frango e porco, arroz e cevada, sopas e molhos, purê de batatas, repolhos bem cozidos e as melhores garrafas de vinho foram colocadas em posições estratégicas na mesa. Cada pessoa tinha um prato e todos os utensílios necessários à sua frente.
"Esse jantar está sendo o maior jantar em família que eu já fui", Bailey, o irmão mais novo de Madeline, foi o próximo a falar. De todos os seus tios, Bailey era o favorito de Lancelot. O homem sempre teve seu próprio jeito de acabar com situações muito constrangedoras.
"Sim, tia", foi a vez da bela Elizabeth falar agora, "Estamos comemorando alguma coisa especial?"
Murmúrios irromperam ao redor da mesa. Lancelot não disse nada, colocou vinho tinto em um copo e bebeu em silêncio.
"Sim. A volta do meu querido filho".
Lancelot teria ignorado a sua declaração, mas a malícia evidente no tom de voz dela era forte o suficiente para virar a cabeça na direção do orador. Ele poderia dizer a seu irmão mais novo, a voz de James, mesmo a quilômetros de distância. Lancelot só precisava ver a expressão no rosto de seu irmão enquanto ele falava.
"O filho favorito de Dankworth voltou. Devíamos ter um jantar para comemorar a sua chegada. Então é isso que estamos fazendo."
O silêncio na mesa se tornou estranho mais uma vez. Lancelot procurou uma resposta adequada para dar a seu irmão. Ele sempre soube que James tinha ciúmes dele. Mesmo que Lancelot nunca tenha entendido o motivo, ele esperava silenciosamente que James superasse sua infantilidade e malícia. Era óbvio que ele ainda não tinha.
Lady Eliouse foi a que pigarreou, em seguida. Lancelot se virou para sua tia-avó de cabelos grisalhos. A senhora estava mostrando um grande sorriso no rosto. Ela ergueu uma taça e com um sorriso largo e genuíno no rosto, se virou para todos os membros da mesa.
"Agora, que estamos todos reunidos aqui como família, seja para comemorar algo ou não. Deveríamos poder desfrutar da companhia um do outro em paz e harmonia. Faz tanto tempo desde que estivemos todos juntos assim. Desde o falecido enterro do irmão, tem sido difícil reunir todos assim. Estamos aqui agora e todos devemos aproveitar ao máximo. Não estou certa, Madeline?"
Lancelot pensou que iria sorrir ao ver a habilidade de Lady Eliouse em passar o bastão para sua mãe. Seus olhos passaram de sua tia-avó para sua mãe.
"É claro...", Madeline limpou a garganta. A pequena façanha de Lady Eliouse quase a fez engasgar com o vinho.
"Certamente somos uma família unida. E reuni todos hoje por um motivo especial", Quando ela recuperou a compostura, Madeline endireitou a cabeça. Foi um gesto que sinalizou a todos que ela estava no controle, como sempre esteve.
A alcateia London Pride era de seu marido. E algum dia, Lancelot seria abençoado com a responsabilidade de liderar e governar a alcateia, era por isso que todos estavam reunidos naquela mesa para planejar sua coroação como príncipe Alfa, herdeiro do trono de seu pai.
"Meu querido filho...", seus olhos caíram sobre os de Lancelot com um dramático sorriso de orgulho.
"Lancelot seria coroado como príncipe Alfa nos próximos 27 dias. Reuni todos aqui essa noite porque preciso de vocês... Precisamos nos reunir como uma família para nos nos preparar para essa grande ocasião. Precisamos da sua sabedoria, Lancelot, das suas experiências e conexões para tornar sua coroação, e casamento um sucesso".
À menção da palavra "casamento", fez os olhos de todos caírem sobre Lancelot.
Seus punhos se apertaram. A direita contra a taça de vinho e a esquerda em cima das coxas.
Uma coisa estava clara: Madeline Dankworth iria casá-lo com Ava se ele não fizesse algo para impedir. Ele tinha que fazer alguma coisa, para que isso não acontecesse.
"Casamento?", Elizabeth gritou primeiro. O olhar de Lancelot se voltou para ela. Assim como ele, ela estava com os punhos fechados.
Quando se deu conta de que sua explosão estava sendo desnecessária, ela abaixou a cabeça e riu nervosamente.
"Quero dizer, isso é uma notícia extremamente maravilhosa", ela murmurou, ainda tentando recuperar a compostura.
Os olhos de Lady Eliouse pousaram na bela jovem. Assim como os de sua mãe, Hermione. Eliouse sorriu contra a taça de vidro pressionado em seus lábios, ela podia ver através da garota tudo que sentia, ela podia ver isso através de cada pessoa que estava sentada naquela mesa de jantar.
"Sim", Madeline falou, em resposta à explosão de Elizabeth.
"Ele irá se casar com a nossa querida Ava exatamente três semanas após sua coroação".
"Você quer dizer a companheira de Bran?", Albert falou pela primeira vez naquela noite. Ele era primo de Lancelot e irmão mais velho de Elizabeth. Ele, assim como a maioria das pessoas sentadas à mesa com ele, desprezava Lancelot. Mas sua razão era especial, ele queria o que Lancelot tinha: ser herdeiro do trono da alcateia London Pride.
Ninguém disse nada. Dessa vez, todos os olhos se voltaram para Madeline, irritados, antecipando sua resposta.
Madeline estreitou o olhar para o jovem. Ele não era nada além de quatro meses mais velho que seu próprio filho. Quem tinha dado a ele o direito de dizer essa palavras assim?
Madeline forçou um sorriso para ele.
"Bom, tenho certeza de que todos sabemos que não devemos mencionar o nome dele à mesa".
"Por quê? Ele nos deixa e, de repente, Lancelot ficar no controle de tudo..."
"James! Fique quieto, nesse instante!", Madeline gritou, seus punhos estavam entrando em contato com a mesa com tanta força que todos sentiram os copos na mesa tremerem.
A fúria em seus olhos azuis desapareceu enquanto ela observava seu segundo filho ficar apavorado de medo.
Seu sorriso estava de volta.
"Então, vamos fingir que tudo isso nunca aconteceu e jantar em silêncio. Teremos uma reunião de família para discutir sobre isso amanhã à noite. Todos devem estar prontos pra chegar a um acordo com tudo o que aconteceu no passado, tudo o que está acontecendo agora e tudo com o que acontecerá no futuro..."
"Você está bem Lance?", Ava sussurrou no ouvido esquerdo de Lancelot. Depois de perceber o quão tenso e furioso ele parecia.
O olhar de Lancelot caiu sobre ela antes que ele desviasse o olhar.
Não, ele não estava bem. Ele queria sair daquela sala de jantar, rapidamente.
Quando Madeline terminou seu discurso, todos aplaudiram sua declaração final e beberam o vinho tinto branco.
Apenas Lancelot estava sentado em silêncio, visivelmente indiferente e ligeiramente irritado com tudo aquilo. Tudo era sobre ele e ele odiava isso.
Ele desejou poder ir embora, ir embora e nunca mais voltar.
Ele soltou um suspiro pensando demais mais uma vez, e aos poucos estava perdendo a cabeça novamente.
Ele tinha que ver o doutor Flinn, e o mais rápido possível.