Capítulo 31
1169palavras
2023-08-02 03:28
Robert
Eu vestia o terno que Cristian separou para mim. Não havia sido a melhor escolha, mas isso era um obstáculo pequeno diante da recusa da Dra. Ermelinda em me dar a alta médica.
— Sr. Servantes, eu preciso que fique aqui por pelo menos mais três dias...

— Estou apenas avisando que vou embora, doutora. Já tem um carro esperando lá embaixo.
— Pelo menos me prometa que voltará amanhã para eu te examinar. E que tomará todos os medicamentos da receita nos horários certos.
— Trato feito, agora estou indo.
— Mas e a receita? — ela perguntou, ao me ver partindo.
— Envie para o meu escritório.
Sai caminhando do jeito que dava com aquele gesso horroroso na perna. Consegui escondê-lo dentro da boca larga da calça social, pelo menos nisso Cristian tinha acertado.

O táxi me deixou em frente ao endereço do evento. Logo fui conduzido ao camarote e me sentei. Estava aliviado, pois o pequeno trajeto entre a calçada e meu assento foi suficiente para sentir uma leve tontura.
O barulho da conversa do público tomava conta do ambiente e mesmo no escuro do teatro as pessoas continuavam inquietas enquanto o evento não iniciava, porém duvido que alguém estivesse mais ansioso do que eu.
Então a competição de dança se iniciou. O anfitrião caminhou até o centro do palco, as cortinas abriram e o júri foi apresentado. Eu ainda não tinha entendido a diferença de mambo, salsa e lambada, de qualquer forma o ritmo era alegre e contagiante.
O tempo começou a passar, as duplas foram entrando e achei que estava demorando demais para Theodora se apresentar. Será que eu estava no evento certo? Eu deveria ter feito Cristian sondar a secretária dele, mas apenas busquei o evento na internet...

Então anunciaram o casal trigésimo sexto e com alegria vi o casal que tanto esperei entrar. Era Tessy...
Que espetáculo de mulher. O vestido prateado assentava com sua tez negra, os cabelos estavam presos de um jeito elegante e os saltos eram tão finos que temi que ela escorregasse em algum momento.
A música começou e eles iniciaram a coreografia. O tal Jeferson era realmente muito profissional e conduzia a parceira com competência e eu via as pernas de Tessy irem de um lado para o outro com destreza e ao mesmo tempo delicadeza. Ela era linda demais dançando.
A música terminou e então eu lembrei que deveria ter gravado a apresentação no celular. Me recrimino em segredo.
Bem, não me interessava ver mais ninguém dançando. Me levantei do assento e fui para os bastidores. Um segurança tentou me barrar, mas foi rapidamente convencido a liberar minha entrada.
Estava encostado na parede, me perguntando como chegaria até Theodora, quando a vi. Nossos olhares se cruzaram.
Sorri.
Deus! Eu já estava feliz apenas por vê-la. Era incrível como ela conseguia ficar cada vez mais bonita.
Como Theodora parecia ter paralisado ao me ver, tentei dizer algo para quebrar a tensão:
— Pensei em te parabenizar pessoalmente, Tessy.
Em consequência ela correu na minha direção. Me agarrou pelo pescoço e olhou no fundo dos meus olhos antes de afundar a cabeça no meu peito.
— Robert! — Eu não sabia dizer se ela estava rindo ou chorando — Ah, Robert!
Então ela me soltou. Estava difícil me manter em pé com ela me abraçando, mas me esforcei para ficar firme.
— Você está aqui… Como? Não estava no hospital?
— Eu praticamente fugi de lá só para ver você e valeu muito a pena, você está divina.
— Quando você fala que fugiu, é de brincadeira, né? Porque a última coisa que eu quero é ver você se machucar novamente por minha culpa.
— Não me machuquei por sua culpa.
— Tá, mas...
— Shiii… às vezes você fala demais — indaguei e a calei com um beijo.
Meu corpo todo correspondeu ao contato íntimo e quente dos meus lábios nos dela. Era como se eu não tivesse vivido de verdade nos últimos dias e agora me voltava ao ar. E a envolvi em meus braços com cuidado para não estragar o penteado bonito que adornava—lhe a cabeça.
— Minha querida Tessy, depois de tudo que passamos, estou feliz em ver você sorrindo de volta para mim. — Beijei-lhe a testa e a ponta do nariz, com carinho.
— E eu então? — Ela se afastou um pouquinho, mas não soltou minha mão — Quando você finalmente disse o que eu queria ouvir, o mundo virou de pernas para o ar e comecei a duvidar que o destino nos quisesse juntos.
— O destino somos nós quem fazemos.
Nos abraçamos mais um pouco. Não sabia ao certo o que falar para Tessy, queria apenas sentir o corpo dela junto ao meu, como se fosse uma parte de mim que me foi devolvida.
Alguns minutos depois alguém apareceu e chamou Theodora para acompanhar a classificação dos casais. Fiquei de longe observando ela se reunir aos demais dançarinos e segurar firme a mão do professor Jeferson. De onde eu estava, conseguia ouvir o anfitrião falando no microfone:
— Quarenta casais se apresentaram hoje e foi realmente muito difícil para nosso júri fazer a escolha. Vamos anunciar os três ganhadores. Em terceiro lugar o casal Jeferson e Theodora! Venham ao palco.
Gritos e agitos. Theodora olhou para mim e eu sorri para ela, muito orgulhoso. Então ela e o parceiro entraram no palco. Na sequência foram chamados os casais que ficaram em segundo e primeiro lugar.
A hora seguinte passou muito rapidamente. Depois de muitas fotos, parabenizações e algumas instruções, o evento foi encerrado. Ainda assim, o teatro permanecia lotado. A esposa do professor Jefferson também tinha entrado nos bastidores para cumprimentá-lo então a dupla se despediu com abraços efusivos.
Theodora juntou as coisas dela e se juntou a mim. Eu a abracei novamente.
— Você é muito talentosa, é uma pena que não tenha sido o primeiro lugar — eu disse.
— Nossa, a terceira colocação foi muito mais do que estávamos esperando. — Ela contou — Eu estou muito feliz por isso. — Me encarou com aqueles olhos verdes que consumiam — Mas estou ainda mais feliz por ver que você está bem. — Então ela pegou minha mão — Eu fui covarde e não fui te ver no hospital. Fiquei com medo de enfrentar sua família e agora… Quando estou com você eu sinto que não havia motivos para ter medo.
— Temos tanto o que conversar, Tessy. Venha para casa comigo.
Ela disse sim com a cabeça. Logo procurou pela mochila e trocou o salto alto por um par de chinelos de dedo, mantendo o buquê de rosas amarelas consigo.
Saimos para saguão do teatro onde muita gente ainda permanecia entretida com conversas ou simplesmente aguardando o táxi.
Então senti uma mão no meu ombro e não era de Tessy. Me virei para a mulher desconhecida que me lançava um olhar repreendedor:
— Quem é você e onde pensa que vai com a minha filha?