Capítulo 29
1324palavras
2023-08-02 03:26
Robert
— Eu te amo — gritei o mais alto que pude. Dessa vez Theodora pareceu compreender.
Eu queria que o mundo todo ouvisse que aquela mulher mandava no meu coração. E apenas por ela eu enfrentava uma chuva torrencial, encharcando meus sapatos novos e pondo a prova meu relógio italiano.

— O quê? — Não ouvi o que ela disse, mas se ela tinha parado de andar e sorria, era um bom sinal.
Comecei a atravessar a rua. Foi quando senti o impacto...
Lembro do som da buzina. E o som das rodas deslizando no chão molhado. Me lembro também de Theodora gritando meu nome.
E como em uma cena rodada em câmera lenta, fui arremessado para frente e bati com força no chão.
Uma das minhas últimas lembranças foi de Tessy debruçada sobre mim, e então tudo escureceu...
Dez dias depois...

Abri os olhos lentamente
Acordei num ambiente muito branco e iluminado e conclui rapidamente que eu estava hospitalizado. Minha visão estava embaçada pela lâmpada logo acima da minha cabeça. Eu sentia muita sede e tinha algo no meu nariz. Tentei levantar a cabeça, mas tudo doía.
— Theodora... — chamei, e minha voz soou baixa.
— Você acordou! Graças a Deus! Minhas orações foram ouvidas! — minha mãe exclamou, se aproximando de mim.

O rosto dela estava pálido e sem maquiagem. Eu não me lembrava da última vez que vi minha mãe tão desleixada. Ela se aproximou e me beijou repetidamente.
— Eu achei que fosse perder você!
— Calma, mãe. — Tentei dizer, mas a sonda no nariz dificultava a conversa — Quantos?
— Quantos dias? Dez dias. — Ela segurou minha mão — Você ficou inconsciente por dez dias. — Enxugou as lágrimas — Vou avisar aos médicos que você despertou, e aproveitar para avisar para a família.
Minha mãe me deixou sozinho no quarto. Passei a mão pelo rosto e percebi o quanto minha barba tinha crescido, provavelmente mais do que eu já tinha visto. Tentei sentar e senti uma forte fisgada na perna esquerda. Mordi com força o lábio para conter um grito de dor. Eu devia ter machucado gravemente a perna.
Logo a porta se abriu e fui cercado pela enfermagem. Testaram meus sinais e levantaram o encosto da minha cama. A médica entrou na sequência, carregando uma prancheta nas mãos.
— É bom vê-lo acordado. — Ela começou falando. -- Sou a Dra. Ermelinda e tenho acompanhado seu caso.
— Eu..bati a cabeça?
— Sim, foi uma batida bem forte. Fizemos vários exames de imagens e felizmente não apresentou nenhuma anomalia. Precisamos acompanhar agora que você acordou.
— Graças a Deus. — Ouvi minha mãe falar.
— Mas é bom continuar acompanhando — a Dra. Ermelinda repetiu.
— Minha perna? Está doendo muito.
— Pois é. Você fraturou ela em duas partes. Engessamos, porém vai precisar de fisioterapia. Vai mancar por um bom tempo. Tem mulher que acha charmoso. — Ela brincou — Estamos ministrando os remédios para dor e infecção. Vai ficar mais alguns dias aqui conosco. Mais tarde vamos repetir alguns exames. Bem, qualquer coisa me chamem.
Ela saiu.
— Eu liguei para o seu pai e para o Cristian, eles já estão vindo para cá.
— Tessy? — perguntei.
Minha mãe baixou o olhar?
— Mãe — chamei. — Cadê a Tessy?
Ela engoliu a seco. Então se sentou na borda da cama.
— Não fique chateado comigo. Quando cheguei aqui e vi você machucado eu fiquei transtornada — explicou, tentando me transmitir calma. — Você brigou comigo e com seu pai no dia anterior e foi procurar pela garota, foi como se tivesse nos trocado por ela...
— Mãe...
— Me deixa continuar. — Os olhos dela estavam marejados, como se as lágrimas fossem cair a qualquer momento — Então eu recebo a notícia de que você estava hospitalizado! Quando eu chego aqui encontrei a Theodora. Fiquei com tanto ódio dela! Era como se tudo de ruim tivesse acontecido por causa dela. Eu gritei com a garota e teria voado pra cima dela se o seu irmão não tivesse impedido. Fiquei fora de mim.
— Foi um acidente. — Consegui dizer.
— Eu sei!
— Tessy não tem culpa...
— É que naquela hora eu precisava de alguém para pôr a culpa. Foi errado. — Voltou a me encarar profundamente — Eu nunca senti tanto medo na minha vida, filho. Nada se compara com o momento em que te vi naquela maca, um monte de gente indo e vindo te examinar com uma cara nada boa e eu achava que você ia morrer. Tanta coisa passou pela minha cabeça.
— Sinto muito — eu disse, ainda incomodado com a sonda no meu nariz.
— Eu gritei com ela e a proibi de vir aqui. — Engoliu a seco — Só que nesses dias que você ficou desacordado eu tive muito tempo para refletir. Eu tenho errado bastante, né?
Fiz que sim com a cabeça.
— Eu rezei tanto! Fazia tempo que eu não falava com Deus. Percebi que no final das contas o que importa é que você esteja bem. E fiz uma promessa que se você acordasse… se ficasse bem... — Ofélia se desmanchou em lágrimas, quase se engasgando ao falar — Que eu não vou interferir entre você e a Theodora, vou até me desculpar desde que abrisse os olhos pra mim! Porque nada mais importa além de ver você bem, todo o resto ficou pequeno...
Olhei para o rosto da minha mãe e percebi que era impossível nutrir ódio por ela. Muitas vezes ela errou movida por seus desejos fúteis, mas ali eu enxergava que seu coração de mãe falava mais alto.
— Eu amo você, mãe — eu disse.
Ela me abraçou longamente e eu ignorei que o aperto dela me machucou um pouquinho, ela precisava de mim.
— Eu prometi parar de fumar também, isso sim vai ser difícil de cumprir.
Então rimos e ela finalmente relaxou.
— Do que estão rindo? — perguntou Cristian, entrando no quarto. — Que bom ver você, Rob! Nos deu um grande susto.
— Eu prometi parar de fumar, quando ele acordasse — minha mãe contou.
— Ah, essa eu quero ver.
— Como vai, meu bebê? — Beijou Cristian — Vou ao banheiro. — Ofélia falou, nos deixando sozinhos.
Cristian tirou o blazer e o colocou sobre uma das cadeiras. Depois veio sorridente até a beira da minha cama.
— Como está a sua cabeça? Se sente confuso?
— Só quando acordei. E o pai?
— Na empresa, voltou à presidência, parece um furacão.
— Ele deveria colocar você ou...
— O pai não confia em mim. — Esse era sempre um assunto delicado para o meu irmão — Não importa o quanto me esforce, ele não me reconhece. E o Victor, ele não tem o sangue dos Servantes e nosso pai não vai deixar ele sentar na cadeira da presidência.
— A Theodora sabe?
— Eu falei para a Lisa que você acordou, ela com certeza vai contar para a irmã. Quer que eu chame a Theodora? Quer vê-la?
É claro que eu queria, mas meu estado era lamentável. Da última vez que nós vimos não tínhamos nos reconciliado direito. Talvez se me visse no hospital ela me perdoasse por pena e eu não queria isso. Ela precisava me querer pelos motivos certos.
— Não.
Cristian se surpreendeu pela minha recusa.
— Me empresta seu celular? Parece que o meu não sobreviveu ao acidente.
Cristian tirou o aparelho do bolso e me deu. Eu comecei a procurar pelo concurso de dança que Theodora participaria. Assim que encontrei a página do evento eu mostrei para o meu irmão:
— Cristian, eu tenho exatamente quinze dias para melhorar e receber alta neste hospital.
Meu irmão observou seriamente o flyer do evento e depois voltou para mim:
— Pode deixar, eu mesmo te levo, nem que seja numa cadeira de rodas.