Capítulo 25
1924palavras
2023-08-02 03:22
Robert
Vivi a semana mais longa da minha vida. As horas se arrastaram com uma lesma decrépita ao sol. Infelizmente meus colegas de trabalho tiveram que conviver com meu mau humor, com a impaciência e às vezes, com um pouco da minha grosseria. Não era de propósito e foi difícil até pra mim mesmo me aguentar.
Fui até a janela da minha sala e olhei o movimento dos carros lá embaixo. Minha cabeça doeu só de lembrar do meu almoço com Betina quatro dias atrás: Ela me pediu para usar a camisa que me deu e realmente me caiu bem. Minha noiva me mostrou o lugar onde queria que a cerimônia de casamento acontecesse enquanto eu tentava não alimentar aquela conversa, mas ela estava animada demais. Depois veio um beijo repentino, o garçom serviu uma champanhe que não pedi e naquele momento não percebi a luz de um flash.

Hoje eu vi o resultado: Uma foto nossa num site famoso de fofocas. A Manchete sobre o casamento do ano com data marcada que eu nem sabia qual era. Foto do nosso beijo e outra do garçom abrindo a garrafa de champanhe na nossa frente. Era uma matéria encomendada, com certeza, apesar de ricos, nossa família não costumava chamar a atenção da mídia. Fiquei furioso com Betina.
— Você deveria ter pedido minha opinião, Betina — falei, ao telefone.
— Eu juro que não fui eu quem pediu essa matéria. Eu nem vi que tinha um fotógrafo no restaurante!
— Você vai me perdoar, mas que outra pessoa poderia ter organizado isso? E do nada surge um garçom estourando uma...
— E qual o problema disso? Não somos noivos? — Ela começou a se irritar também.
— E essa data de casamento? Minha secretária ligou para esse cerimonial e realmente está marcado!

— Que bom! Porque era a única data disponível no ano! — ela começou a falar gritando. — Não fui eu quem marcou, mas fiquei feliz, pensei que fosse você.
— Não quero falar mais sobre isso. Te ligo depois.
E agora eu só conseguia pensar se Theodora tinha visto a matéria. Não havia muita repercussão sobre o assunto e minha secretária tentaria contato com a reportagem para arrancar a postagem de circulação.
Depois de dias sem falar com Theodora, tentei ligar no celular dela, mas caí direto na caixa postal.

Lisa, a irmã de Tessy, agora trabalhava na presidência junto com as outras três secretarias. O currículo dela era bom e minha secretária disse que ela aprendia rápido.
Eu saí da minha sala que dava para o saguão da presidência onde as quatro mesas das secretarias estavam alocadas. Todas me cumprimentaram, mas Lisa me lançou um olhar fulminante. Tinha pensado em perguntar a Theodora para ela, mas desisti.
Saí mais cedo da empresa e fui direto para a casa da minha mãe. Ela havia insistido muito para que eu jantasse com ela. Quando cheguei à Mansão Servantes, encontrei Cristian, Victor e Augusto sentados numa mesa próxima da piscina, tomando cerveja e beliscando alguns petiscos. Sorri e me juntei a eles.
— Que surpresa ver vocês aqui.
— Tia Ofélia me pediu para vir, assim que soube que eu estava na cidade — disse Augusto, um primo muito querido que atualmente morava no Paraná.
— Sua mãe anda preocupada com você — confirmou Victor.
Eu me sentei e arranquei a camisa, ficando mais à vontade com meus amigos.
— Minha mãe se intrometer demais na minha vida.
— Você teve sorte, Rob — Cristian retrucou. — Da última vez que eu fiquei desanimado ela fez aquele aniversário desastroso — lembrou.
— Não posso reclamar. Dessa vez ela acertou e estou feliz em estar aqui com vocês. Eu realmente preciso de uma cerveja e jogar conversa fora.
Minha mãe e Dona Marta se aproximaram com uma bandeja de frios e alguns mini hambúrgueres.
— Quantos rapazes bonitos de uma vez só! — Dona Marta exclamou, daquele jeito materno, sem qualquer malícia. — Se quiserem mais alguma coisa, me chamem.
— Está perfeito — Cristian respondeu.
— E você, querido? — Ofélia me deu um breve beijo na testa e depois se colocou atrás de mim, massageando meus ombros — Coma bem para melhorar essa carinha.
— Onde está o meu pai?
— Saiu na hora do almoço e até agora não voltou. — Beijou minha testa — Vou deixar vocês a sós para aproveitarem bem a noite.
Ela saiu enquanto tentava acender um cigarro.
A noite estava agradável e depois de algumas cervejas estávamos rindo e falando um pouco demais.
— Eu não moro aqui e estou por fora de tudo, então me contem porque o Roberto está parecendo que levou uma surra — falou meu primo Armando.
Cristian riu ao ouvi-lo me chamar de Roberto, o que eu odiava. Era o nome do meu avô e minha mãe não queria colocá-lo em mim, mas para agradar Octávio Servantes aceitou a versão inglesa do nome.
— O Roberto está sofrendo de amor — Cristian disse. — Ele insiste que não está apaixonado, mesmo que seu humor depende de uma certa mulher.
— Eu não sabia que seus sentimentos por Betina estavam nesse nível. — Augusto se surpreendeu.
— Que Betina! — Victor pegou algo para comer — É outra mulher.
Então eu acabei contando tudo para meu primo. Ele pareceu interessado e não parava de me encher de perguntas.
— Só acho que a Betina não merece isso — Cristian falou, ficando sério. — Quanto mais demorar, mais ela vai sofrer. Não deveria ter marcado a data do casamento.
— Eu não marquei! — rosnei. — E eu já teria terminado Cristian, se não fosse por aquele maldito contrato.
— Irmão...
— Sei que você e Betina sempre foram próximos e entendi sua preocupação com ela. Eu também estou.
— Falando em você, Cristian, o Victor contou que sua ficante agora é sua secretária — Augusto falou, rindo.
— Ela é irmã dessa moça que Robert está apaixonado — Victor contou. — Um dos motivos pelo qual fui totalmente contra a contratação dela.
— Eu já falei para o Victor que Lisa e eu não temos nada. Aliás, eu tenho uma namorada e não é ela — Cristian falou. — Mas como o meu amigo não acredita, eu nem me esforço para convencê-lo.
— Essas irmãs devem ser bonitas — Augusto falou, pensativo. — Vocês costumam ser exigentes quando o assunto é mulher.
— São bonitas sim — Cristian respondeu.
— Nem tanto — Victor falou. — Nem perca seu tempo.
— Ah, mas se a tal Lisa não está com você, me apresenta ela, Cristian. Vou ficar o mês todo na cidade.
Ficamos a noite assim, falando de amenidades e bebendo. Para mim foi excelente pois pude esquecer um pouco dos problemas. Eu estava com saudades de ficar um tempo com Cristian, tínhamos uma diferença de oito anos, mas nós gostávamos muito.
No dia seguinte voltei para a RCS. Era quinta-feira e eu, mais do que ninguém, ansiava pelo final de semana. Iria dormir o domingo inteiro.
Eu tinha tanta saudade de Theodora que não sabia o que fazer com meu tempo livre. Como era possível que tivesse criado uma dependência tão grande? Lembrava de Tessy em cada coisa do meu dia: se ela ia me olhar com apreço enquanto eu vestia o terno que ela gostava, se ela ia gostar da comida tanto quanto eu. Queria contar do meu dia, escutar ela reclamar do trabalho e sentar no sofá enquanto ela me mostrava alguma coreografia...
Cristian entrou na minha sala, sem ser anunciado, o que era incomum.
— Podemos falar?
— Sim, claro! — Apontei a cadeira, para que ele se sentasse — Tudo certo com a filial Argentina?
— Filial Argentina? Ah sim, está tudo dentro do cronograma. Victor também está bem empenhado nesse assunto.
— Que bom, Cris.
— Mas quero falar de outra coisa, é sobre a Betina.
— Espero que não tenha vindo a pedido da nossa mãe me convencer...
— De maneira alguma. Agora está bem nítido para mim que juntos vocês serão infelizes. Eu achei que ninguém poderia ser melhor marido para ela do que você.
— Entendo.
— Mas ela merece alguém que seja feliz em tê-la. Você precisa terminar com ela agora, antes que essa bola de neve fique maior.
— É o que eu mais quero, mas tem a questão do contrato...
— Rob, o contrato já foi assinado.
Parei de falar e incrédulo, encarei meu irmão.
— Pois é, foi assinado antes mesmo de você voltar de Ubatuba. Nosso pai me pediu para não contar e eu não entendi o porquê na ocasião.
— Cristian, você está me dizendo que o contrato de parceria está assinado há dias?
— Exatamente.
— Eu tenho conversado com o Dr. Wilson e com o secretário do Banco Rupert! Eu sou o presidente, como conseguiram omitir isso?
— Com certeza nosso pai pediu para eles também não contarem. Você sabe da grande influência de Octávio Servantes sobre os funcionários.
Gelei. Era tudo mentira?
— E quanto às ameaças do Senador Ferraz?
— Que ameaças?
— Nosso pai contou que ele ameaçou nossa família depois que saí da festa com a Theodora.
— Ah, isso. — Cristian se encostou na cadeira — O senador tem um problema grave com álcool. Naquele dia ele falou um monte de asneiras e depois alguém o levou embora. Ele chegou até a vir aqui, pedir desculpas, mas nosso pai o expulsou e pediu que nunca mais se aproximasse da nossa família.
Depois de ouvir Cristian relatar todas essas coisas, senti meu mundo rodar. Me levantei e caminhei até o frigobar de onde peguei uma garrafa de água e a engoli toda de uma só vez.
Meu pai havia me manipulado!
Como eu podia ser tão ingênuo?
Quantas vezes acompanhei meu pai nas negociações e o vi usar de sua astúcia, charme e esperteza? Como não percebi que ele utilizava em mim todo o seu poder de persuasão?
— Eu poderia estar com a Theodora agora — conclui. De repente meu espanto se transformou em fúria — Por que não me contou antes? Me viu sofrendo e ficou calado, Cris!
— Eu não sabia de todos os detalhes. — Se defendeu — E eu não tinha entendido a dimensão dos seus sentimentos por Theodora. Achei que fosse um caso. Nosso pai disse para deixar você viver esse momento com a Theodora e que depois você se cansaria...
— Cacete, você me conhece tão pouco assim? — bradei. — Cadê o pai?
— Ele saiu, não está na empresa.
Sem ar, sem paciência e um pouco eufórico...assim eu saí da minha sala. Parei no saguão com as mãos na cintura e nesse momento Lisa se aproximou de mim.
— Posso falar com o senhor lá fora? — A voz dela estava estranhamente calma.
— Com certeza. — Concordei na mesma hora pois estava ávido por notícias da Theodora.
Chegamos na recepção, entretanto Lisa seguiu para fora do prédio, andando apressada e eu praticamente corri atrás dela. Nunca vi alguém andar tão rápido com salto alto.
— Aconteceu algo com a Tessy? Porque estamos na rua?
— É que eu não me dou ao luxo de ser mandada embora por justa causa.
— Como assim?
Um tapa!
Lisa sentou um tapa estalado no meu rosto.
Todos na rua pararam, tomados pela surpresa, e eu levei a mão imediatamente para a face avermelhada.
— Nunca mais se aproxime da minha irmã, seu filho da puta!!!!!