Capítulo 2
784palavras
2023-06-26 22:28
POV’s Annabelle Bieber
Troco algumas gorjetas por uma lata de leite, é que ando fazendo para manter a minha bebê saudável. Tudo virou de cabeça para baixo, às vezes é assustador ter que amadurecer antes da hora para dar o melhor de si. Eu não escolhi ser mãe, não foi dessa forma que imaginei a minha adolescência, mas infelizmente aconteceu após uma grave violência. Não foi natural, eu fui forçada. E foi a partir desse abuso que perdi a essência de quem eu era, não consigo mais ser aquela mesma Annabelle. É como se aquele estuprador tivesse arrancado também a minha alma e deixasse um grande vazio. Um vazio este que me faz perder a esperança.
Independente do que aconteceu, não é fácil passar uma borracha em cima pra apagar esse pesadelo. É um trauma permanente, esse trauma nunca irá desaparecer da minha vida. Se não fosse pela neném me trazer força, pode ser que talvez eu já tivesse enlouquecido. Tem vez que penso: por quê? Eu merecia aquilo? Sinto nojo do meu próprio corpo. E o pior, sempre esse episódio ficará marcado.

Toda vez que entro nos lugares com ela em meus braços, chego a sentir os olhares tortos de julgamento de acharem que fui irresponsável em engravidar tão nova. Se ao menos soubessem um terço do inferno que vivenciei, não perderiam tempo apontando o dedo para a vítima da história.
Puxo a bicicleta do canto da loja de conveniência, colocando a lata de leite na cesta e com muito esforço posiciono a Mel na cadeirinha. É o meu único meio de transporte em me locomover pela cidade, até mesmo estou indo para o FBI com essa bicicleta enferrujada. É um pouco vergonhoso visto que os agentes e quem trabalha no departamento só andam com carros de luxo. Pelo menos estou tendo a chance de continuar no treinamento, e um dia poder quem sabe me tornar uma policial como a minha mami era. Quero poder representá-la.
Assim que entro no quartinho onde estou me abrigando, o cheiro de mofo se alastra e começo a espirrar. Eu e a Melissa estamos dormindo no chão, só há um coxão velho todo rasgado. O banheiro nem se fala, está interditado. Tenho que banha-lá na pequena pia, e me dobrar em duas para tomar banho uma vez do dia no FBI. Prefiro mil vez viver dessa maneira, do que pedir ajuda aquela arrogante da minha irmã.
Eu e Mabel nunca nos demos bem, sempre houve briga e intrigas na nossa relação. Ela preferiu ficar de um lado e decidi está do outro. Sempre que ela tem oportunidade joga que seu namorado morreu porque era um "santo". Aquele monstro fez o que fez comigo, e mesmo assim ela consegue criar uma memória dele como se fosse um anjo. É por isso que não consigo a perdoar, não quero ter que conviver com uma irmã tóxica que defende o lixo que me violentou.
Meu coração se acelera quando escuto as batidas na porta. Posso está sendo boba em sentir o frio na barriga e as pernas bambas, mas vem acontecendo uma coisa fora do normal que eu não consigo explicar. Não sei o que é o amor e tampouco vivi tal coisa, agora que tenho 16 anos e nunca havia aparecido ninguém que pudesse de fato balançar o meu coração… mas isso mudou...
— Richard.— sorrio ao vê-lo parado do outro lado da porta. Este homem vem mexendo com as minhas emoções. Desde que nos esbarramos sem querer no FBI, foi meio que a primeira vista. De lá para cá, venho criando um sentimento por ele. — O que você faz aqui?— seu semblante sério acaba deixando-me preocupada. Noto-o parado, me olhando com o olhar distante, como se tivesse triste e chateado com algo.— Por que está com essa cara? Aconteceu alguma coisa? — analiso se não há nenhum arranhão em seus braços. Por ser um agente do FBI, o próprio corre muito perigo em campo.

— É... não, quer dizer, sim.— se atrapalha, meio tenso.— São apenas problemas no trabalho, princesa, não precisa se preocupar.— seu dedo toca no meu queixo delicadamente, antes de adentrar. Fico envergonhada, e um pouco tímida com as bochechas coradas. Oh céus, seu cuidado é tão fofo.
Meu coração o escolheu.
Eu nunca tive nenhum namorado, é com ele que estou aprendendo o que é sentir. No fundo, tenho medo de acabar me decepcionando.
Às vezes me pergunto, será que ele é capaz de me amar de verdade?

O que ele viu de tão interessante em mim?
Será que tudo isso é real, ou seja apenas uma ilusão de algo platônico?
A única certeza que tenho é que estou me apaixonando pelo Richard.