Capítulo 49
1564palavras
2023-07-10 00:02
PONTO DE VISTA DE YUNIFER
Enquanto esperava Lawrence voltar com Ishid e Asher, sentei-me no sofá junto com Drake, Kale e Havoc que ainda estavam intrigados com o inimigo que me atacou.
Então, peguei uma batata frita enquanto escutava a conversa deles, em que especulavam sobre a possibilidade do homem que me atacou ser de fato um bruxo.
“Pelo que sei, as bruxas foram extintas a muito tempo. Nunca vi uma bruxa de verdade em toda minha vida, por isso não acredito que existam fora dos livros. No entanto, já ouvi dizer que as bruxas tinham habilidades poderosas e quando se tratava de poções e uso de magia, elas podiam superar um Alfa. Magia e poções são sua fonte de poder. Elas são boas nisso. Eu nunca acreditei nessas coisas, afinal, nós lobisomens focamos mais em usar a nossa força e acabamos perdendo a curiosidade sobre magia. Quanto mais sobre bruxas que nunca vimos.” Drake explicou e depois tomou um gole do conteúdo na xícara.
Havoc acenou e aprecia concordar com o que Drake dissera: “Na verdade, o que disse faz sentido. Mas, devo discordar e dizer que até o momento nunca vi ou ouvi falar em bruxas, até mesmo a palavra soa um pouco estranha para mim. Embora, às vezes eu leia livros de história, nunca me deparei com um capítulo sobre bruxas.”
Eu continuei a comer as batatas fritas e escutar a discussão deles, então resolvi dar minha opinião.
“Bom, eu sempre acreditei na existência de bruxas quando era menor, pois minha avó era uma bruxa. No entanto, minha mãe não herdou as habilidades da minha avó, por ter manifestado a partir de seu pai. Por isso, a vovó sempre foi a única bruxa de nossa linhagem.”
“Naquela época, vovó adorava me contar histórias e pelo que me lembro, ela sempre dizia que era a última bruxa viva, pois naquele período, todas as bruxas eram consideradas más, então quem fosse descoberto seria crucificado e queimado. Vovó me contou que todos os seus amigos e até mesmo seu amado morreram, quando ela era criança e assistiu seus corpos serem reduzidos a cinzas. Uma vez ela me disse que já tinha odiado tanto humanos como lobisomens. Ela prometeu que se vingaria daquilo que fizeram com seus entes queridos.”
“Mas, as coisas mudaram desde que ela conheceu o vovô. Ele é humano e, assim como eu disse antes, a vovó odiava o vovô por ele ser humano. Porém, com o passar do tempo, a percepção dela mudou e com a ajuda do vovô, ela aprendeu a controlar seu temperamento. Desde então, ela viveu sua vida mantendo sua verdadeira identidade em segredo, assim como meu avô. Ela nunca permitiu que ninguém de fora da família soubesse seu segredo, que ela é uma bruxa.”
Depois de que terminei de lhes contar a história da minha avó, peguei o copo e dei um gole, fechando os olhos e ficando alheia ao modo como eles olhavam para mim. Então, ao invés de lhes dar atenção, me concentrei nos lanche em cima da mesa.
Então, escutei a voz gentil de Kale soar em meus ouvidos, ele me enchia de perguntas.
“Esta é apenas uma hipótese minha, mas... e se sua avó ainda estiver viva? Afinal, apenas com base no que você nos contou, sua avó parecia ser uma pessoa poderosa e com excelentes habilidades.” Kale adivinhou olhando para mim, seus olhos estavam carregados de preocupação, como se ele estivesse com medo do que acabara de dizer, isto é, que pudesse me irritar ou me fazer relembrar de um passado doloroso.
Eu sorri e balancei a cabeça. “Seria bom se isso fosse verdade, mas eu estava lá quando a vovó morreu. Ela escolheu a morte de bom grado, para salvar os clãs das mãos do Rei Alfa. Ela lutou com eles e nos protegeu. Eu sempre soube qual era o desejo de minha avó, principalmente depois que meu avô morreu. No entanto, eu e o restante de nossa família a impediu de se matar, assim, ela relutantemente tentou continuar a vida, embora ela não quisesse. No fim, ela encontrou o momento certo para sua morte.”
Meus olhos ficaram levemente vermelhos, após recordar de cenas que me mantiveram acordada por várias noites. Naquela época, eu só queria esquecer tudo ao que tinha acontecido e deseja que tudo não passasse de um sonho, um pesadelo.
“Eu vi quando o Rei Alfa apunhalou seu coração com a espada. Eu estava lá... assistindo tudo, sem poder ajudá-la.” Eu quase engasguei no final, mas foi bom que consegui evitar que as lágrimas lavassem meu rosto.
As mãos de Drake, que estavam entorno da minha cintura, me apertaram quando ele me puxou para mais perto dele, abraçando-me gentilmente.
O calor dele quase me fez chorar. Eu podia sentir o calor dele se espalhando pela minha pele, o contato me fez perceber que ele estava vivo. Realmente.
Todos os meus entes queridos que abracei eram frios, rígidos ou estavam ensanguentados.
As memórias que eu sempre enterrei bem no fundo do meu coração, para não me lembrar da dor daquela época, começaram a se repetir na minha cabeça como se fosse um filme constantemente sendo rebobinado e ao mesmo tempo um flashback. Tudo isso começou a acontecer depois que minha alma terminou de se fundir.
Embora alguns fatos ainda permanecessem nebulosos e até mesmo com pedaços faltando, ainda não conseguia apagar o desespero que senti, ao ver meu clã indefeso, meus entes queridos sendo mortos tão facilmente apesar de serem fortes.
Eu também era considerada forte, pois minha vó dizia que eu tinha nascido com uma força inigualável, mas naquela época eu me sentia fraca, sem esperança e não pude fazer nada para ajudá-los.
A parte mais trágica e triste é que eu não pude salvar meus entes queridos.
Também vi minha querida mãe, forte, porém acamada junto com meu pai, que parecia rígido e frio por fora mas era um doce de pessoa, ambos morreram abraçados um ao outro.
Eu assisti meus parentes, que sempre cuidaram de mim com gentileza, morrerem um a um enquanto tentavam me salvar gritando para eu fugir. Eles berravam para que eu corresse para longe do clã e me salvar.
Mas, como eu poderia deixar o clã? Não queria abandonar o clã e estava determinada a lutar até a morte. Eu sempre soube que tinha chegado a hora da minha morte, mas para além do medo e da dor, eu fiquei um pouco aliviada pensando que morreria e seria enterrada junto com meu clã.
Se isso tivesse acontecido, teria sido melhor.
O que aconteceu depois, ainda é um mistério, porém eu sabia que o Rei Alfa quase me matou, ao ponto de ter divido a minha alma em duas partes.
Não consegui me recordar do motivo pelo qual eu estava lutando tanto para abrir os olhos e continuar a viver, contudo, foi por esta vontade que sobrevivi.
Lembro-me de sentir alguém me dar a mão, mas não sabia e ainda não sei quem me ajudou.
No fim, eu me transformei em uma pedra até que me tornar um bebê sem memórias quando conheci Kilda. Quando a pedra se quebrou eu abri os olhos e passei a enxergar Kilda como minha mãe. A ingenuidade e inocência de ser um sem memórias da vida pregressa, como se estivesse conhecendo o mundo de novo.
Apertei meus lábios quando senti a mão quente de Drake afagar minha cabeça, tentando me confortar.
“D-Drake... eu estou bem agora...” Eu disse enquanto batia em seu ombro para que me soltasse.
Apesar de ter afrouxado o aperto do abraço, ele não tinha intenções de me soltar.
Então, olhei para Kale e lhe dei um sorriso, ele precisava saber que eu estava bem.
“Tenho certeza de que a vovó morreu. Afinal, ela queria estar morta e com o meu falecido avô. Contudo, o que é mais estranho é que existisse outra bruxa viva, mesmo minha avó afirmando que era a última bruxa.” Eu disse tranquilamente e respirando fundo para me acalmar.
Só consegui me acalmar depois de ver as batatas fritas na mesa. Então, estiquei a mão para pegar mais algumas batatas e comer enquanto conversávamos.
Havoc, por outro lado, franziu as sobrancelhas quando olhou para mim e perguntou: “Mas, como é que ainda pode existir uma bruxa viva? Pensei que todos estivessem mortos, assim como sua avó lhe contou, no entanto, agora pouco um bruxo tentou te matar. Eu e Drake pedimos para que nossos subordinados investigassem mais a respeito de bruxas.”
Ao ouvir isso, assenti e me senti um pouco mais avaliada.
Quando eu ia lhe perguntar se já tinham encontrado alguma pista sobre as bruxas, escutei alguém chamar o meu nome.
“Yunifer! IRMÃ!”
Olhei para trás e vi Asher segurando um saco que parecia estar cheio de doces, então ele veio correndo em minha direção com um grande sorriso estampado no rosto e seus olhos brilhavam ao chamar pelo meu nome.
“Asher!” Minha boca se curvou ligeiramente e corri na direção dele para abraçá-lo. Drake ficou olhando para seus braços vazios por um instante.
Asher colocou delicadamente o saco de papel no chão antes de me dar um abraço forte.
“Senti a sua falta! Fiquei sabendo que você foi atacada por alguém!” Ele falou em alta, olhando para mim com preocupação.
Erguei a cabeça e olhei para Lawrence, que desviou os olhos com ar de culpa, antes de pigarrear.