Capítulo 23
1807palavras
2023-06-12 14:07
PONTO DE VISTA DA YUNIFER
Quando acordei a luz do sol batia no meu rosto, eu grunhi enquanto abria lentamente os olhos. A primeira coisa que vi foi o teto e as paredes brancas. Assim que vi este cenário, percebi onde eu estava.
Eu estava no hospital, pois tinha sido ferida... certo! Mas e Asher?
No mesmo instante, eu me levantei e quis sair dali, mas a porta foi aberta nesse momento, e os trigêmeos viram que eu estava prestes a correr para o outro quarto.
Assim que me viram, eles correram até mim para me impedir de sair da cama.
Eles adivinharam que eu estava preocupada com Asher e trataram logo de se explicar. “Asher está bem! A ferida nas costas dele já está curada e agora ele está dormindo. Ontem à noite, enquanto você dormia, ele veio visitá-la e queria ficar aqui, mas o médico o levou de volta para o quarto. Ele também precisava de repouso mesmo que o ferimento já estivesse cicatrizado.”
Ao ouvir isso, fiquei mais tranquila e deixei que eles me ajudassem a deitar de novo na cama.
Então, Lawrence olhou para mim com preocupação. “Como você está se sentindo? Você está em coma há três dias, Asher e nós estávamos muito preocupados com a sua condição.”
Ishid fez um aceno sole e completou: “Mas, quem diria que a primeira coisa que você faria depois de acordar era tentar sair as pressas da cama, sem se importar com o gotejamento intravenoso.”
Até mesmo Drake, que até o momento estava quieto se pronunciou: “Isso mesmo. Você precisar de qualquer coisa, se tiver algo que queria saber ou fazer, é só nos dizer que faremos tudo por você.”
Quando eu vi essa postura solene neles, não resisti e resolvi provocá-los.
“Vocês tem certeza de que isso não é para Samantha?” Eu perguntei com um tom zombeteiro.
Eu notei a maneira como suas expressões mudaram e eles reviraram os olhos antes de responderem: “Não e nunca será. Pare de pensar nela e concentre-se em nós.”
Essas palavras me trouxeram certo conforto e alívio, pois demonstrou que eles não valorizavam Samantha do mesmo jeito que me valorizavam.
Naquele momento, eu não sabia se ria ou chorava da minha situação, pois não conseguia mais esconder meus sentimentos por eles.
Mas, a sensação de ser cuidada por alguém era boa e reconfortante.
Tinha esperanças de que isso durasse.
“Mas, agora você está bem? A sua ferida...” Lawrence perguntou, olhando para mim bastante preocupado.
Olhei para ele e sorri em resposta. “Está tudo bem agora, não dói mais. Se não fosse o curativo nas minhas costas eu mostraria como já está bem melhor. Eu até senti que a feria já estava se fechando, sem deixar marcas.”
Na verdade, tudo isso parecia muito estranho, desde que eu senti estar melhor. A ferida era consideravelmente grande e ardeu em cada marca já cicatrizada. Por um instante, até parecia uma ilusão o momento em que fui chicoteada por minha própria mãe.
Mais tarde, eu teria de verificar se a ferida ainda estava lá, pois começava a duvidar de mim mesma. Assim como meu irmão tinha a habilidade de se curar sozinho, eu senti que tinha algo parecido, talvez fosse inferior a ele, pois minha ferida não cicatrizou imediatamente como a dele. Contudo, em comparação com os humanos normais, minha cicatrização foi muito mais acelerada, além de não deixar nenhum vestígio.
Provavelmente, eu herdei um pouco da capacidade de cura da minha mãe, afinal, ela era loba e embora eu tenha nascido humana, eu não poderia ser completamente humana tendo uma mãe lobisomem, certo?
Mas, ninguém podia responder às minhas dúvidas, então dei de ombros e parei de pensar neste assunto.
Em seguida, olhei para os três e perguntei: “Já que fiquei em coma por três dias, e a universidade? Vocês levaram alguma dispensa para o professor ou reitor?”
Ishid acenou com a cabeça e disse: “Sim, nós já providenciamos isso, não precisa se preocupar. Você vai poder acompanhar as atividades e os questionários que seu professor passou.”
“Obrigada.” Eu agradeci com sinceridade, sorrido para eles do fundo do meu coração.
Então, eles desviram o olhar e pigarrearam constrangidos.
“Não precisa nos agradecer.” Eles disseram enquanto se esforçavam para não sorrir.
De repente, a porta rangeu e todos nós olhamos em sua direção. Era Asher quem tinha cuidadosamente aberto a porta, ele olhava para mim rapidamente.
Ao ver que eu já tinha recuperado a consciência, seus olhos se iluminaram e ele correu em minha direção. Rapidamente ele subiu na cama e se atirou nos meus braços, fazendo-me rir.
Então, ele percebeu algo e imediatamente interrompeu o abraço. “S-sinto muito...” Ele se desculpou me olhando com certa cautela.
Até parecia que ele me inspecionava, para se certificar de que minha ferida não reabrira, quando ele se jogou nos meus braços.
Agarrei seu pequeno corpo e o abracei com força. 
“Não se preocupe. Eu já estou melhor e meu machucado já fechou, então pare de se preocupar com isso.” Eu disse tranquilizando-o e penteando seus cabelos com os dedos.
 Asher acenou com a cabeça e em seguida a enterrou no meu peito, em um forte abraço e murmurou: “É bom saber que você está bem.”
“E você como está? Está bem agora? Sua ferida já está totalmente curada, sem cicatrizes? E quanto aos outros traumas? Você está bem mesmo?” Eu o enchi de perguntas enquanto o inspecionava cuidadosamente.
Asher balançou a cabeça, ainda me abraçando e disse: “Não, tô bem. Sem cicatrizes ou traumas.”
“Tem certeza?” Eu levantei a sobrancelha como se duvidasse dele, vendo como ele se agarrava em mim como se fosse um coala.
“Agora eu estou. Vou ficar ainda melhor quando você estiver bem.” Ele murmurou baixinho.
Eu sorri com essas doces palavras, então belisquei suas bochechas enquanto lançava um olhar para os trigêmeos que encarava Asher com inveja.
Quando eles sentiram meu olhar sobre eles, rapidamente desviaram o olhar e dissiparam a névoa de inveja em suas feições, então me deram um grande e caloroso sorriso.
“Vocês dois são bem íntimos.” Ishid comentou com uma pitada de ciúmes.
Eu sorri para ele e concordei. “Sim, Asher e eu somos muito próximos. Nós sempre dependemos um do outro desde que nossa mãe começou a nos bater, só podíamos confiar em nós mesmo. Isso nos aproximou muito e acabamos nos tornando muito dependentes um do outro.”
Eu vi como as sobrancelhas de Drake cerraram, Lawrence contraiu a mandíbula e Ishid ficou sério de repente, todos com os olhos em mim.
“O que foi?” Eu os questionei, ao mesmo tempo deslizava meus dedos pelo cabelo de Asher, que ainda estava com o rosto enterrado em meu peito, não querendo me soltar.
Mesmo que Asher tenha dito estar bem e não ter traumas do que havia acontecido há três dias, eu podia afirmar que ele sofria com pesadelos. Ele tentava esconder isso, para não me preocupar, mas os pesadelos o atormentavam.
Com certeza eram sobre nossa mãe. Ninguém no mundo sabe como traumatizar e puxar gatilhos como nossa mãe.
De repente, ouvi Lawrence perguntar: “Sua mãe abusou de vocês quando moravam juntos?”
Não sabia o motivo para a repentina mudança na voz gentil de Lawrence, que agora era severa e rouca. Além disso, dava para notar a tensão em suas feições.
Porém, agi como não houvesse nada de errado e contei toda a verdade. Não planejava esconder isso deles, também não havia nada de errado em lhes contar a minha história, afinal, eles já tinham conhecido nossa mãe e a visto em um estado de insanidade, nos chicoteando.
“Sim, ela me bateu por anos, desde que meu pai morreu. Não foi apenas comigo, ela também abusou de Asher. Nós sofremos muito nas mãos dela e temíamos cada vez que colocávamos os pés em casa. Sempre que ela voltava, nós nos escondíamos para que ela não nos achasse e nos usasse para descontar sua raiva.”
Depois de contar tudo isso, meu olhar inconscientemente recaiu em Asher e eu lhe dei um tapinha nas costas. Sua respiração era uniforme e ele estava de olhos fechados. Ele apenas repousou seu corpo em mim, sem me soltar.
Era como se eu fosse seu porto seguro.
As olheiras sob seus olhos denunciavam a falta de uma boa noite de sono e como os pesadelos o afetavam.
De repente, ouvi um estrondo vindo da direção em que os trigêmeos estavam e ergui a cabeça para analisá-los. Drake, que tinha uma expressão sombria esmagava uma latinha com a mão.
Então, observei Drake com curiosidade. Mas, até mesmo Ishid e Lawrence estavam com os rostos sombrios, com uma expressão de que queriam matar alguém.
PONTO DE VISTA DE DRAKE
Quando eu soube dos abusos que nossa companheira sofreu durante tantos anos, me senti petrificado, como se algo perfurasse meu coração. Com certeza não fui só eu que me senti assim, Ishid e Lawrence devem ter sentido o mesmo, depois de ouvir o que nossa companheira sofre com sua família.
Então, me recordei da maneira como eu a chutei, sem qualquer motivo no primeiro dia de aula. De repente, senti uma vontade súbita de querer voltar ao passado e me impedir de espancar nossa companheira.
Apertei o maxilar e logo as veias da minha testa latejaram.
“Ninguém tentou ajudar vocês?” Eu perguntei com a voz rouca, sem desviar o olhar dela.
Ela permaneceu inexpressiva enquanto contava que fora abusada pela própria mãe durante anos. Era como se ela contasse a história de outra pessoa.
Ou talvez isso tenha se tornado a história de outra pessoa. No passado, ela fora a filha da agressora, mas agora tinha rompido os laços de vez. A agressora não tinha mais nenhuma importância em sua vida.
Então, Yunifer se virou para mim e retrucou: “Além do mais, não terei mais que suportar os abusos de Kilda. Mesmo que alguém tivesse tentado nos ajudar para me tirar daquela casa, eu não teria saído de lá.”
“Por quê?” Todos nós, Ishid, Lawrence e eu perguntamos ao mesmo tempo, com expressões consternadas e com clara discordância do que ela havia dito.
Yunifer soltou uma risada suave e olhou para Asher que dormia em seus braços. “Porque Kilda usava o meu irmão para me ameaçar. Se eu ousasse desobedecê-la ou a deixasse infeliz, Asher era punido. É por isso que, quando via que ela iria bater nele, eu implorava para ela me bater... me usar como seu saco de pancadas, ao invés de descontar tudo em Asher.”
Não pude deixar de cerrar o punho e ranger os dentes de raiva. Eu não notei que meus caninos já estavam visíveis e que a cor dos meus olhos mudara gradativamente.
Eu sentia a fúria do meu lobo, Alastair.
'Mate! Mate essa m*ldita Kilda, por ter feito nossa Luna sofrer por tantos anos!'
Quanto mais eu pensava nisso, mais a raiva me consumia por dentro.