Capítulo 16
1133palavras
2023-05-25 14:56
Dante lera o recado. Fiquei um tanto confusa por suas ações, mas não estava afim de falar com ou pensar nele. Decidi ignorar a mensagem, até porque eu tinha muito o que fazer, minha tarde apenas estava começando e não tinha lugar nos meus pensamentos para Dante.
Recolhi minhas coisas da mesa, fui colocar o uniforme, escovar os dentes para iniciar meu turno. A tarde passou voando porque teve movimento, isso era maravilhoso porque não via o tempo passar.
— Kyra, já passou da sua hora, vai para casa garota! - Disse Anne.

— Você tem certeza? O café ainda está cheio. - Eu disse preocupada.
— Não tem problema, pode ir. Já está tudo sobre controle. - Ela sorriu para mim e me mandou embora.
— Beleza, então até amanhã Anne.
Fui aos fundos para trocar o meu uniforme. Me troquei, peguei as minhas coisas e saí do café. Quando virei a direita para ir na parada de ônibus, bem em frente a vitrine do café, alguém segurou o meu braço. Olhei para cima e vi quem eu menos queria ver neste momento.
— Boa tarde para você também. - Eu disse.
Dante estava escorado na parede da cafeteria com um terno cinza claro, camisa branca e sapatos pretos. Ele estava lindo.

— Você estava tão envolta em pensamentos que não me ouviu chamar, aí eu apelei. - Disse Dante.
— Você não consegue me deixar em paz né? - Eu disse com ar desanimado.
— E eu deveria? Depois daquele “bendito” bilhete, fiquei preocupado em você jogar tudo para o ar.
— O que havia no bilhete que te deixou tão preocupado? - Eu o fuzilei com os olhos e subi uma das sobrancelhas.

— Bom, você respondeu: “Não vou de taxi, pois estou indo de carona com um amigo. Não precisa me evitar por causa do que acontecera ontem, estou bem. Tem café na garrafa térmica”.
— Você decorou ele bem. Parabéns! E o que tem de tanta preocupação nisso? - Eu disse sarcástica.
— Você não tem jeito mesmo né? Fica tirando sarro da minha cara, até quando eu me preocupo com o que está sentindo.
— Eu te disse, estou bem.
— Não parece, ainda mais que veio de carona com um “amigo”. Se alguém ver, vai pensar que você está tendo um caso. Tem que tomar cuidado.
— Ali, eu posso garantir que não tem perigo. - Eu disse rindo.
— Como não tem? Além do mais, eu não gostei disso. - Disse ele com a cara fechada.
— Você só está preocupado comigo por medo de eu desistir né? Admita.
— Vamos conversar em outro lugar. Aqui não temos privacidade. - Disse ele olhando para uns paparazzis.
— Tudo bem. Onde você quer ir? - Perguntei na maior inocência.
— No meu apartamento.
Eu parei bruscamente de seguir ele.
— O que? Por que lá? - Perguntei espantada.
— É mais perto daqui e eu posso falar com você sem me preocupar com paparazzi e tudo o mais.
— Me recuso! Vou para casa.
— Está correndo por quê Kyra? Está com medo do que possa acontecer no meu apartamento? - Falou ele sorrindo com o canto da boca.
— Nossa, como você é convencido! Ter medo do que? De você?
— Especificamente de mim. - Disse ele se aproximando e passando a mão no meu rosto. - Finja que gosta porque estamos sendo observados.
— Eu tenho a sensação de que você gosta de ser forçado a me tocar em público.
— Estou começando a me acostumar com a ideia. - Disse ele me beijando.
Foi apenas um selinho, porém já foi o suficiente para ter uma explosão dentro de mim. Ele ganhou essa, mas não perde por esperar… Quando ele se afastou, eu aproveitei a oportunidade.
— Se quiser conversar comigo, terá que ser lá em casa! - Eu disse baixinho com ar de vitória.
— Tudo bem, eu te levo. - Disse ele enquanto caminhávamos em direção ao carro, colocando uma das mãos nas minhas costas.
Entramos no carro, Dante ligou e viemos em direção ao meu apartamento. No início do trajeto fiquei em silêncio, só observando o pôr do sol, não tinha forças para começar uma nova discussão.
— No que está pensando? - Disse ele puxando assunto.
— Em como o pôr do sol está lindo. - Eu disse encantada com a visão.
— Sabe, eu queria explicar a situação que ficou mal resolvida.
— A nossa relação é mal resolvida, não tem o que explicar.
— Kyra, essa sua reação está me assustando.
— Minha reação? - Eu falei confusa.
— Sim, você não surta igual as outras mulheres, age de forma fria (mesmo parecendo o contrário), tenta ser forte e não precisar de ninguém… Não estou sabendo lidar com isso.
— Você, um dos maiores administradores da atualidade, me falando que não sabe lidar com pessoas? Isso é novo para mim. - Eu disse rindo.
— Eu sei lidar com pessoas, sou excelente nisso… Porém, você é pessoal.
— Pessoal? Eu disse olhando para ele com os olhos arregalados.
— Quero dizer que envolveu a minha vida pessoal de uma maneira que eu não esperava.
— Do que você está falando? Ainda não entendi onde quer chegar.
— Digamos que eu não tinha tido essa ligação com nenhuma outra mulher que passara pela minha vida.
— Ligação? Nós nos "matamos" na maior parte das vezes. - Eu disse rindo.
— Sim, acho que esse é o motivo de eu não estar sabendo lidar com você.
— Agora só falta você dizer que está apaixonado, aí sim será inacreditável. - O sarcasmo me venceu.
Dante ficou pensativo e não falou mais nada por algum tempo. Eu não sabia o que pensar, era impossível ele se apaixonar por mim, até porque, ainda sentia coisas pela Lola.
— Quem era o rapaz que você pegou carona? - Disse ele sério.
Me tirando totalmente da minha linha de raciocínio.
— Ainda insistindo nisso? - Eu falei arqueando as sobrancelhas.
— Claro que sim e por que está dificultando as coisas? Você gosta dele? - Perguntou irritado.
— Óbvio que gosto! Ele é meu melhor amigo.
— Está apaixonada por ele?
— Qual é o seu problema? Por que estou sendo interrogada?
— Entendo, você não quer admitir que está apaixonada.
— Dante, o João é Gay.
Dante chegou a frear o carro abruptamente e estacionou no acostamento. Ele olhou bem sério para mim e estava com cara de incrédulo.
— Você está bem? - Eu perguntei preocupada.
— Não sei dizer.
Eu coloquei a mão em sua testa para verificar se havia febre e percebi que ele estava bem quente.
— Dante, acho que você está febril. Ainda bem que estamos quase chegando.