Capítulo 106
1558palavras
2023-06-09 00:02
(Ponto de vista de Philip)
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Cerca de uma semana se passou desde que dei a notícia da morte de Nikolai a Ashley. De início, fiquei aliviado por não ser mais ele quem a levaria para longe de mim. A ameaça finalmente havia passado.
Contudo, eu poderia estar errado quanto a isso. Eu poderia estar errado quanto a tudo o que fiz com ela.
Ashley ficou arrasada. Ela não tinha mais vontade de viver.
Partiu meu coração vê-la naquele estado de espírito. Ah, o que foi que eu fiz?
Sentei-me ao lado da cama dela no hospital e acariciei sua mão gentilmente: "Ashley, quer comer alguma coisa?"
Assim como nos últimos dias, ela não respondeu. Era como se ela houvesse perdido a alma, e tudo o que eu podia ver era seu corpo frágil, o qual já não lutava muito para se manter vivo.
Ela estava olhando para a janela ao seu lado com os olhos secos depois de tanto chorar. Acariciei suas bochechas e dei um breve beijo em sua testa.
"Ashley, querida, você precisa comer alguma coisa. É... pelo menos, faça isso pelo bebê", achei que a vida estivesse me punindo pelo que fiz para separá-la de Nikolai. Essa era uma mensagem do universo para mim, a qual queria dizer que ela não poderia mais ser minha?
Soube da gravidez dela pelo médico de família que examinou o seu estado de saúde. Ela não precisava me dizer quem era o pai. Estava na cara de que era o bebê de Nikolai que ela estava carregando em sua barriga.
Essa verdade foi realmente um golpe para o meu ego. Achei que eu tinha vencido, mas não importava o que eu fizesse, Nikolai estava sempre um passo à frente.
E a questão daquele garoto chamado Theodore Winters estava nublando minha mente. Ouvi dizer que Dave Winters era gay, e o único registro da adoção de Teddy Winters por Finley Regalia era falso, assim como o registro de que Ashley havia carregado um filho da família Winters.
O que estava acontecendo? O que ela estava escondendo?
Então, passou pela minha cabeça se o menino também for filho de Nikolai ou não. Não era difícil de se concluir isso. O menino era uma cópia exata do rosto de Nikolai, exceto pelos olhos. Aqueles olhos eram definitivamente de Ashley.
Não foi fácil rastrear qualquer informação sobre Theodore Winters. Era como se Ashley não quisesse que ninguém descobrisse sobre o menino. Mas Nikolai também não descobrisse sobre Teddy?
O que estava incomodando minha mente era a idade dele. Sua verdadeira idade, a qual fiquei sabendo através do meu investigador particular. Ashley dormiu com Nikolai logo depois de ter fugido do nosso suposto dia do casamento há cinco anos atrás?
Como ela conheceu Nikolai? Como tudo isso aconteceu?
Eu tinha tantas perguntas, e era frustrante saber que ela não as responderia.
Seus olhos sem vida moveram-se para olhar na direção dos meus e, por um instante, encaramo-nos. Em seguida, ela me perguntou com a voz rouca: "Como... como você soube?"
Suspirei e forcei um sorriso. Eu estaria mentindo se dissesse que não era difícil, para mim, aceitar a verdade nua e crua, pois isso estava me matando lentamente. Então, perguntei: "Esse bebê é de Nikolai?"
Foi então que vi mais lágrimas em seus olhos já tão tristes. Com meus dedos, limpei-os e descansei minha testa na dela. "Por favor, meu amor. Não chore", pedi com dor no coração.
"Philip, me desculpe", ela sussurrou sem fôlego e começou a fungar enquanto chorava. Suas mãos estavam segurando as minhas com força, como se sua vida dependesse disso. "Me desculpe", era tudo que ela falava.
"Querida, vai ficar tudo bem. Nós vamos passar por isso juntos. Eu vou cuidar de você. Não importa quem é o pai do bebê", eu beijei as mãos dela e entrelacei meus dedos com os dela, "Eu nunca vou deixar de te amar, Ashley. Por favor, valorize sua vida."
"Philip, você merece alguém melhor", ela queria tirar sua mão da minha, mas eu a segurei perto do meu coração e balancei minha cabeça.
"Eu nem falei pra ele", ela sussurrou enquanto fechava os olhos, "...Eu nunca falei pra ele... que eu o amava."
Parecia que mil facas haviam acabado de esfaquear meu coração quando a ouvi confessar seu amor por outro homem, um homem morto. "Ele se foi, Ashley. Você precisa seguir em frente com sua vida. Você precisa deixá-lo pra trás. Pelos seus filhos, por mim."
Ela piscou, com os olhos bem abertos. Imaginei que ela estivesse surpresa por eu saber que Teddy era seu filho. "Como?", ela perguntou.
"Não vamos falar sobre o como. Vamos falar sobre o que vem a seguir, sobre nós. Ashley, você precisa se esforçar. Você precisa ser forte, pelo menos, pelo seus filhos", eu estava segurando minhas lágrimas, mas sabia que meus olhos já estavam molhados só de vê-la naquele estado debilitado de saúde.
Por um momento, ela ficou sem palavras, com os olhos fitando um espaço em branco. Um hábito que ela costumava fazer quando estava pensando em como se expressar com palavras. Ashley não era boa com palavras.
Eu sorri e me movi para servir um copo de água a ela. Ela precisava de tempo para pensar, e eu daria isso a ela. Eu a conhecia bem, mais do que qualquer pessoa que ela já conheceu. Não éramos apenas namorados no passado, éramos melhores amigos.
Em seguida, ajustei a cama do hospital em uma posição mais confortável para que ela ficasse sentada: "Tá confortável? Beba alguma coisa, pelo menos, querida. Você precisa se manter hidratada."
Ela assentiu com a cabeça e bebeu o copo de água lentamente. Segurei o copo para ela, pois suas mãos tremiam. Era de partir o coração ver que minha outrora forte e confiante Ashley havia se tornado exatamente o oposto. Eu esperava que ela iria melhorar, e eu dedicaria minha vida para ajudá-la a voltar ao seu estado normal.
"Philip, eu... hmm, eu tentei", ela estava evitando olhar para mim. Senti que algo ruim estava por vir. Ela queria me falar algo que eu sabia que me machucaria. E, provavelmente, machucaria até a ela mesma.
"Eu pensei que conseguiria deixar Nikolai pra trás. Eu pensei que conseguiria voltar a ser como... a ser c-como minha vida era antes de eu partir", ela fungou, uma lágrima escorreu pelo seu rosto e, por último, ela fez beicinho. Olhando para mim, ela balançou a cabeça, e continuou: "Eu tentei, Philip. Eu tentei de verdade. Mas eu não conseguia me esquecer dele. E, agora, é tarde demais para que eu conserte as coisas com ele. Dói, Philip. Meu coração tá doendo."
Eu segurei seu corpo perto do meu em um abraço apertado enquanto ela caia aos prantos nos meus ombros. Suas mãos envolviam meu corpo com força, mas eu sabia que aquele aperto não era por mim. Era por ele.
"Vai ficar tudo bem, querida. Tô aqui com você. Vou fazer tudo por você", sussurrei em seus ouvidos.
"Philip, eu não quero viver... em um mundo sem ele", suas palavras sussurradas eram dolorosas de ouvir. Na minha mente, não importava o que acontecesse entre nós no futuro, eu não gostaria de viver em um mundo sem ela. Ela era o mundo para mim. Ela era meu amor e minha vida.
Houve uma batida na porta do quarto. Eu a ignorei, mas bateram na porta novamente com uma certa urgência. Suspirei e me movi para dar um selinho nos lábios secos de Ashley antes de falar: "Talvez seja importante."
Ela assentiu com a cabeça e recostou-se com os olhos apreciando o outro lado da janela.
"O que é? Eu disse pra você não nos incomodar. Sem visitas", eu disse, com os dentes cerrados, ao meu guarda-costas.
"A médica tá aqui, Vossa Alteza. Verificação de rotina", minha guarda-costas recém-contratada respondeu com um sorriso. Todas elas sorriam para mim como se eu estivesse interessado nelas.
Desloquei-me para o lado, permitindo que a médica entrasse com duas de suas enfermeiras, as quais sussurraram e riram depois de olhar para mim. Eu as ignorei e esperei do lado de fora. Usei esse tempo para pegar um pouco de café. Eu não ia demorar, pois não queria perder Ashley de vista.
*****
(Ponto de vista de Ashley)
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Eu não sabia o que dizer a Philip. Não era fácil, para mim, deixar Nikolai para trás. Por alguma razão, eu sentia que ele ainda estava vivo, lá fora, em algum lugar... esperando por mim.
A notícia de sua morte chegou a mim tão repentinamente. Foi como um sonho. E minha mente ainda lembrava que Nikolai não estava mais lá para mim. Mas eu gostaria de tê-lo visto mais uma vez para que eu pudesse ter contado a verdade a ele.
Ele precisava saber que Teddy era filho dele e que teríamos outro bebê. E eu o amei à primeira vista. Eu sabia disso agora.
A médica chegou perto de mim depois de ter verificado meu corpo e meus sinais vitais. Em seguida, ela sussurrou para que somente eu ouvisse suas palavras: "Não posso demorar muito aqui. Porém, tenho uma mensagem de Antonio Laurent. Ele disse que Nikolai Wulfgard tá vivo ainda, e o senhor Laurent sabe onde ele tá."
Eu me virei para olhar para a médica, com os olhos bem abertos, e perguntei sem confiança: "O quê?"