De volta à família Chaos...
Ponto de vista de Luke:
Rolei para fora da cama e me espreguicei para alongar meus músculos e tirar qualquer tensão do meu corpo. Embora desejasse que esse fosse apenas mais um dia como qualquer outro, sabia que havia chegado o dia que esperei há tanto tempo.
Foi ingênuo da parte do meu sobrinho pensar que permitiria que ele vagasse por aí por conta própria sem ao menos ficar de olho nele, ainda mais quando eu já sabia o que estava por vir.
Oferecer a ele qualquer chance, por mínima que fosse, de viver sua própria vida quebrou o vínculo frágil que ainda tinha com sua mãe. Ah! Minha irmãzinha, minha pequena Chaos. Era verdade o que diziam sobre a raiva ser um veneno para a alma, capaz de devorar alguém de dentro para fora. Depois de deixá-lo cego, ela apodrecia tudo o que havia de bom dentro de si até restar apenas uma casca amarga de quem aquela pessoa já foi um dia.
A partida de Xavier lançou Chaos em um frenesi louco. Ela pensava que havia perdido seu único filho vivo quando ele estava apenas vivendo sua vida por aí. Para mim, minha irmã nunca se recuperou do que lhe aconteceu no passado como alegava. Não que isso me surpreendesse, pois eu sabia da verdade.
Ela estava apenas fingindo enquanto todo mundo morria de medo de lhe apontar este fato. Talvez isso tivesse sido um erro porque, quem sabe, as coisas não teriam sido diferentes?
Meu pai mal falou comigo nos primeiros cinco anos desde a partida de Xavier, tanto que precisei voltar para a alcateia de minha mãe para escapar daquela tensão desconfortável que nos cercava sempre que estávamos na mesma sala.
Como sabia guardar rancor, demorou um tempo, mas ele teve que engolir a dura verdade de que estava sufocando o neto, que realmente precisava desse tempo longe dele e de todos nós.
Entretanto, no fundo, eu sabia que a maneira como ajudei Xavier a desaparecer sem deixar rastros era o que mais o incomodava. Meu pai não tinha sede de poder, graças aos céus, mas ele também não gostava de ser mantido no escuro ou de ser enganado.
Nós dois sabíamos que ele poderia ter descoberto a localização de Xavier se tivesse se empenhado para isso, mas ele não o fez porque sabia que o neto precisava desse momento sozinho.
Eu balancei minha cabeça em uma tentativa de clarear minha mente enquanto caminhava até o banheiro para me lavar antes de ir surpreender meu sobrinho. Ele podia ser mais poderoso do que qualquer outro homem da família Chaos, mas ainda era jovem e não tinha a experiência necessária para certos assuntos da vida.
Por mais que tivesse jurado deixá-lo viver sua vida e fazer suas próprias escolhas, havia um limite até onde eu não interferiria. Neste momento, ele precisava de alguém e eu estaria lá para ajudá-lo, quisesse ele ou não. Vê-lo tão perturbado e arrasado partiu o meu coração.
Eu sabia que isso iria acontecer, mas não esperava que meu coração fosse doer tanto por ele. Eu havia presumido que ele seria forte como sempre e tiraria tudo de letra. No entanto, havia algo sobre ter encontrado sua companheira que o deixou vulnerável a uma variedade de emoções negativas e eu simplesmente não podia aceitar que uma fera do porte do meu sobrinho duvidasse de si mesmo.
Rapidamente, terminei o que tinha para fazer no banheiro e, depois de me vestir com os trajes oficiais da família, desci as escadas para encontrar uma visita que já sabia que viria.
"Você não parece tão surpreso em me ver", Chaos sussurrou enquanto me sentava no assento de frente para o dela.
"Nada mais me surpreende de verdade", murmurei.
"Vejo que você se arrumou todo. Onde está indo?"
"Ver Xavier. Ele precisa da minha ajuda", respondi honestamente.
"Eu ouvi o chamado dele ontem. Ele está preocupado e com dor. Foi isso que me trouxe aqui hoje. Eu... eu... quero... quero ir vê-lo... Já tentei de tudo, mas não consegui encontrá-lo, então, vim pedir sua ajuda."
Olhei para ela, atordoado, pois não esperava suas palavras. Minha irmã vinha me evitando desde que Xavier foi embora e só falava comigo quando era necessário ou tinha a ver com os assuntos militares, portanto, vê-la aqui, pedindo minha ajuda, ou melhor, querendo ajudar o próprio filho foi algo que realmente não havia previsto.
"Acho que consegui te surpreender no final das contas..."
"O que mudou? Por que quer encontrá-lo?"
"Porque ele é meu filho e eu deveria ter estado ao seu lado desde o início, mas acho que é isso o que acontece quando impedimos nossas feridas de cicatrizarem. Acabei deixando minha dor afetar as pessoas à minha volta e as afastei de mim, principalmente Xavier, que foi quem mais sofreu com isso.
"Tenho tentado encontrar uma maneira de corrigir os meus erros, mas não sabia o que fazer até agora... Esta pode ser minha única chance de mostrar a Xavier que ainda me importo, que sempre me importei. Não sei se vai dar certo, mas estou disposta a tentar."
"Uau... Eu nem sei o que dizer. Esperei tanto por esse dia e estou muito feliz que ele tenha finalmente chegado, mas você tem certeza de que está pronta para isso? Xavier pode não ser meu filho, mas sou muito protetor dele. Não iria gostar de vê-la reabrir antigas feridas apenas para abandoná-lo de novo. De qualquer forma, só o fato de estar disposta a tentar é muito importante. Vamos dar um passo de cada vez."
"Eu nunca tive tanta certeza na minha vida, mas sei que se eu começar a estragar tudo, você vai estar lá para me repreender. Posso não ter dito ou demonstrado nada antes, mas quero agradecê-lo por ter ficado ao lado de Xavier quando não pude. Jamais poderei retribuí-lo por tudo o que fez."
"Não precisa me agradecer, maninha. É para isso que serve uma família. Nós cuidamos uns dos outros. Sempre."