Capítulo 4
993palavras
2023-04-10 16:45
Ignorando o beta, esperei até Alfa River estacionar o carro e desligar o motor antes de deixar meu rosto neutro. Só então me dei conta de que agora que estávamos no território da alcateia dele, podia sentir seu cheiro reconfortante e distrativo. Seu odor natural era uma mistura de sândalo e menta com um toque da brisa do mar.
Minha loba se agitou por dentro, louca para sair e sentir o cheiro maravilhoso do nosso companheiro. Depois de respirar fundo, abri minha porta e desci do carro apenas para me deparar com o olhar desaprovador do Alfa River.
Sorri para ele antes de esconder minha expressão derretida atrás de uma máscara de indiferença. Com uma mão firme na minha cintura, ele me impulsionou em direção onde se reuniam os membros de sua alcateia.
Mantive a cabeça erguida, a coluna ereta e meus olhos fixos em um ponto à minha frente conforme caminhávamos até a entrada de uma casa. Era engraçado como algumas mulheres adoravam subestimar as outras, pensando que eram melhores do que elas.
Na minha opinião, quando era um homem que fazia isso, bastava envergonhá-los e provar que estavam errados, mas me dava nojo ver uma mulher se comportar desse jeito.
Agora, por exemplo, enquanto caminhava em direção da casa, percebi que algumas v*dias junto de alguns idiotas não conseguiam manter suas bocas fechadas e seus pensamentos asquerosos para si mesmos.
Foi hilário ouvi-los cochichar uns com os outros. Parecia que todos tinham se esquecido que nossa espécie possuía ouvidos supersensíveis e, portanto, eu podia escutá-los muito bem.
"Ela é linda", murmurou alguém timidamente.
"Olha aquela v*dia! Ela acha que é melhor do que nós", resmungou uma jovem em um tom desagradável.
"Sim, Belle, você tem razão. Basta olhar para ela", outra mulher com uma voz reclamona e irritante concordou.
"Ei, garotas, calem a boca! Vocês só estão com ciúmes. Ela é a Luna, quer queiram ou não. Acho que o tal oráculo mentiu para vocês. Mais uma vez", disse alguém de um jeito vívido antes de cair na gargalhada.
"Caramba! Olha esse corpo, cara. Ela nem está nua e já estou ficando excitado", comentou um homem autoconfiante demais.
"Ah, nem ligo para o corpo todo, cara. Já me dou por satisfeito em apenas olhar para os quadris e a bunda dela. Eu iria me fartar só com isso a qualquer dia, qualquer hora e em qualquer lugar", outro homem respondeu de um jeito petulante.
"Bando de imbecis. Não conseguem ver que ela já está acompanhada? Mal viram a mulher nos braços de seu alfa e já começaram a cobiçá-la", um jovem murmurou praticamente para si mesmo. Sua voz era tão baixa que se não tivesse parado para prestar atenção, não teria conseguido escutá-lo.
"Uau! Olhe aquela moça. Ela é tão bonita. Mamãe, quero uma companheira igual a ela quando eu crescer", um garotinho cochichou no ouvido de sua mãe, muito animado.
Só parei de escutar as vozes à minha volta quando, de repente, senti uma pessoa passar os braços ao meu redor. Eu sabia que se tratava de uma mulher porque vi seu cabelo longo cair sobre seus ombros.
Desajeitadamente, dei um tapinha em suas costas antes de me afastar com cautela. Então, limpei minha garganta e me virei para Alfa River, que sorriu ligeiramente ao mover os lábios em um pedido de desculpas silencioso. Com um breve aceno de cabeça, voltei minha atenção à mulher adulta, sorrindo calorosamente para mim.
Sua simpatia era tão contagiante que não resisti e deixei um pequeno sorriso aparecer nos meus lábios.
"Olá, senhora!"
"Como vai? Não precisa ser tão formal comigo. Pode me chamar apenas de Felecia. Sou a mãe deste homem mal-humorado ao seu lado, mas pode acreditar que ele não puxou a mim. Esse temperamento dele é tudo culpa do pai. Bem, entre que eu lhe darei as boas-vindas a esta alcateia."
"Obrigada, senhora... Digo, Felecia"
"De nada, querida. Como devo chamá-la?"
"Chaos... Pode me chamar de Chaos"
"Ah, você é a filha de Celeste. Sua mãe é osso duro de roer. Eu também conheci seu pai. Sinto muito pela sua perda, meu bem. A morte dele deve ter sido muito difícil para você."
Mais uma vez, eu me virei para Alfa River, que fez uma careta enquanto me olhava como se quisesse se desculpar pela intromissão de sua mãe. Balancei a cabeça, fazendo o sorriso do meu rosto desaparecer. Ao me voltar para Felecia, não consegui evitar ser um pouco ríspida. Meu pai era um assunto que não gostava que ninguém tocasse.
"Não foi difícil para mim porque meu pai não está morto. Ele pode não estar mais neste mundo, mas de onde eu venho, sabemos que ele está vivo. De todo jeito, foi um prazer conhecê-la, Felecia, mas se puder me dar licença, eu gostaria de ter uma palavra em particular com o seu filho", disse antes de contorná-la e entrar na casa.
Ao seguir o cheiro do Alfa River pela casa, fui guiada até um quarto bem aconchegante no último andar. Então, deixei minha máscara cair e me sentei na cama, permitindo que as lágrimas que tanto segurei finalmente se libertassem. Meu pai sempre foi um assunto delicado para mim.
Embora eu o visse de vez em quando, isso não compensava o tempo que não pude ter ao seu lado durante a minha infância. Eu entendia que ele precisou partir, mas era muito doloroso ouvir alguém mencioná-lo. Ninguém seria capaz de compreender minha dor, exceto minha família e meu próprio pai.
Eu só queria ter passado mais tempo com ele. Eu ainda chorava, deixando meu coração sangrar da única maneira que sabia fazer, quando senti um par de braços quentes me envolverem. Pelo formigamento que senti na pele, sabia que era meu companheiro.
Enterrando meu rosto em seu peito, extravasei toda minha dor. Chorei como nunca havia feito antes. Alfa River, por sua vez, apenas se sentou lá, confortando-me sem dizer uma palavra. Eu fiquei muito agradecida por isso.