Capítulo 63
1670palavras
2023-03-31 19:10
CAPÍTULO 63
Luana Davis
— A senhorita não vai descer? Este é o ponto final do ônibus! — falou o cobrador.
— Será que eu poderia voltar com vocês? — perguntei.
— É que vamos recolher, senhorita! Já é a quinta vez que repete o mesmo trajeto, você está bem? Por acaso, tem para aonde ir? — perguntou.
— Eu? Não sei... mas eu vou descer então! Não vou atrapalhar o serviço de vocês! — me ajeitei para descer, as minhas costas já estavam até doloridas, do mau jeito com o banco, mas eu não queria ver ninguém!
— Boa sorte, senhorita! — falou, e eu acenei desanimada e desci.
Eu não havia comido nada o dia todo praticamente, apenas de manhã o café que Edineide me serviu. No restaurante eu nem consegui comer, e esse já era o terceiro ônibus que eu trocava.
Então quando eu desci, avistei uma lanchonete e fui comer algo. Percebi que estava em um bairro próximo a minha antiga casa, então depois que comi pedi um carro de aplicativo e fui para lá.
A chave não estava comigo, precisei entrar pela janela, ainda bem que é baixa, já fiz isso outras vezes, só não estava grávida, e agora a minha barriga já aparece bem, mas eu consegui.
Eu estava exausta! E, embora a minha cabeça ainda não havia aceitado a situação em que estou, consegui dormir rápido.
Quando acordei pela manhã, liguei o meu celular, e como eu imaginei haviam muitas ligações e mensagens, tantas que nem quis ler, a única que me chamou a atenção era a do Louis, eu havia esquecido o nosso compromisso, e nem o avisei, e este eu precisava responder, ele não tem culpa de toda a minha desgraça.
Resolvi ligar pra ele, não conseguiria explicar por mensagem.
Ligação onn..
— Luana? Meu Deus, você está bem? O que aconteceu? Eu já estou desesperado! Ninguém sabe de você, e tem várias pessoas te procurando! — Louis falava sem parar, então quando respirou eu respondi.
— Calma! Eu estou na minha casa, não vou mais voltar para a casa do Igor! E, te peço que não conte a ninguém aonde eu estou, a história é longa, vou te contar depois, mas agora preciso da sua ajuda!
— Claro! O que precisar, pode falar! — ele falou.
— Eu preciso de um local para ficar! Aposto que não demora nada para o Igor me encontrar aqui! Você sabe de algum lugar seguro que eu possa ir e ele não me encontre? — perguntei.
— Bom... tem um curso que vai começar de esculturas, ele será em Washington, e eu tenho uma casa lá, é aonde eu morei por um tempo, deve estar meio abandonado, mas serve! Se quiser podemos ir para lá.
— Mas, e o seu trabalho?
— Eu deixei muitas portas abertas por lá, não vai ser nada difícil eu fazer isso, mas não seria melhor você assinar o divórcio primeiro? O Igor não me pareceu querer te deixar ir assim...
— Ele me mandou um acordo de aborto, Louis! Não quero nem vê-lo mais! Eu corro riscos aqui! — falei de uma vez.
— Caramba! Olhando assim eu não diria que ele fosse tão cruel! Você tem certeza? — perguntou.
— Tenho! Ele não quer nem saber do filho, eu aceito ir com você! Quando você pensa em ir?
— Eu vou conversar com o meu chefe agora mesmo! Tem a mesma empresa que eu presto serviço lá em Washington, eu acho que ele me transfere na boa! Mas, se não der eu me demito, e já tenho outro me esperando lá, eu já estava pensando nesta possibilidade! Eu passo de tarde aí te pegar, me manda o endereço!
— Certo! Podemos passar no orfanato antes de viajarmos? Eu gostaria de me despedir das crianças! — Perguntei.
— Claro! Eu também quero fazer isto! Embora a gente possa voltar depois e visitá-los!
— Perfeito! Você é incrível, Louis! Um beijo, e até depois! — falei apressada pois tinha outro número me ligando, e certamente era um dos números do Igor, preciso desligar.
Desliguei a ligação, e pedi alguns lanches leves no aplicativo, e então desliguei o celular.
O dia passou rápido e então o Louis veio me buscar, deu um jeito de abrir a porta, e como sempre atencioso, e cuidadoso comigo, me levou até o orfanato e tivemos um momento muito divertido com as crianças.
Deixei para contar a eles que iria embora no final, pois eu já sabia que a carinha deles não seria nada boa quando soubessem.
— Amores, a tia Luana e o tio Louis logo vem visitar vocês, não precisam ficar tristes!
— Tia Luana... você se casou com o tio Louis? Você terá um bebê dele? — Alicia perguntou.
— Não, querida! Eu e o tio Louis somos apenas bons amigos! Mas a gente não vai esquecer vocês, não se preocupem! Sem contar que podemos fazer chamada de vídeo com a madre! — expliquei.
Eles me ouviram com calma, mas os seus rostinhos sempre mostrando que estavam insatisfeitos, o Louis também resolveu todas as coisas que precisava no local, e depois precisou dar uma saidinha para ir ao banco, que ficava há poucas quadras dali.
— Luana, fica aqui com as crianças, que eu já volto! Vou sacar dinheiro, é coisa rápida! Está chovendo muito, não tem necessidade de sair a toa, aproveita um pouquinho mais com as crianças!
— Tudo bem! Vou ficar, então! — falei, e voltei a sorrir.
O problema foi que logo depois que ele saiu, eu tive uma visão muito estranha e tive a impressão que vi a Elisa do lado de fora da janela do orfanato.
Fiquei olhando com mais cuidado e eu até pensei que estaria ficando louca, mas ela realmente estava ali, ficou me olhando demais e a sua feição não era nada boa.
— Madre... o portão ainda está aberto? — perguntei.
— Não querida! Mas, como o Louis saiu e já iria voltar, falei que não precisava trancar! — Respondeu, e eu me arrepiei... não acho que Elisa seja inocente, ela deve querer o mesmo que o Igor, preciso sair daqui.
Enviando áudio para Louis...
— “Louis... eu vou te esperar na outra quadra dos fundos! Ficarei na farmácia, pois acho que me descobriram, e pelo portão de trás eles não vão saber que saí por lá “. — enviei e desliguei.
Coloquei o celular no bolso, me despedi rapidamente, e saí pelo portão de trás.
Estava uma chuva muito forte, e completamente escuro já, estava relampeando, e eu fiquei um pouco assustada, mas ao ver a Elisa passando pela outra janela, passei correndo entre a saída e o portão, me escondendo atrás do pilar grande que ficava nos fundos.
Eu me molhei toda, a água estava gelada, e haviam até algumas pedrinhas de gelo caindo, mas eu precisava atravessar a rua.
Avistei um carro com a luz ligada, e aquilo me desesperou... era muito parecido com o carro do Igor, se ele me alcançar será o meu fim, e o do meu bebê.
O carro estacionou do outro lado da rua, então foquei no trânsito para atravessar na faixa... eu só precisava apressar os passos, e estaria tudo bem.
Vi um carro vindo, e estava em alta velocidade, eu o esperaria passar, mas senti mãos me empurrando com certa força, e só vi o meu corpo indo direto na direção do carro, e então não vi mais nada..
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Igor Smith
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A Edineide agora está sendo outra pessoa comigo ela se faz de durona e tenta demonstrar que está brava, mas eu já a conheço o suficiente para saber que ela amoleceu, e agora quer me ajudar a encontrar a Luana.
— Vamos no orfanato, Igor! Ela não fica muito tempo sem ver as crianças, certamente estará lá! — Falou a Edineide, e eu já estou muito cansado, mas não vou desistir.
— Tá, mais já passou de vinte e quatro horas, se não a encontrarmos lá, eu avisarei a polícia! — Falei.
— Concordo! Mete ficha! — falou, e nos dirigimos para lá.
Quando estávamos chegando, a primeira coisa que eu fiz foi encontrar uma vaga em frente ao orfanato, mas como não havia, eu me lembrei de um portãozinho que ficava nos fundos, e fui para colocar lá.
A chuva também não ajudava porque estava bem intensa, com raios e trovões. Mas para o meu espanto, quando eu olhei para o pequeno portão de saída dos fundos do orfanato, eu a vi... Eu nem acreditei que ela estava molhada naquela chuva, saindo sozinha no escuro e sem proteção alguma.
— Céus menino, é ela! Que diacho está fazendo nesta chuva..., espera... não, não... NÃO... Ahhh...
Quando vi o desespero da Edineide, eu me desesperei muito mais, pois presenciamos o pior momento de toda a minha vida... eu cheguei a ficar imóvel em uma fração de segundos, quando eu vi que alguém empurrava a Luana em direção a um carro em alta velocidade.
Com o meu desespero, sai voando daquele carro em direção a ela, e nem prestei atenção quem foi que fez aquilo, eu simplesmente me joguei no asfalto e entrei em completo desespero ao ver a mulher que eu amo e o meu filho, jogados... espalhados naquele chão do asfalto... o carro parou na mesma hora e eu a peguei do chão colocando no meu colo... aqueles cabelos molhados no seu rosto, os óculos sumiram, o seu corpo mole, inconsciente, e completamente molhado em cima de mim...
Mas o que tirou o meu juízo, foi o sangue que escorreu das pernas dela, e se misturava com a água e as pedras da chuva, e naquele momento eu preferiria morrer... a passar por aquilo! Era demais pra mim, se algo acontecesse a eles, eu não me perdoaria...
— NÃOOOO!!! LUANA, NÃO! VOLTA PRA MIM, PELO AMOR DE DEUS, ME PERDOA! FICA COMIGO, EU PROMETO TUDO O QUÊ QUISER, DEUS!!! NÃO TIRA ELES DE MIM... SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDA!!!