“Alfa, Scarlett chegou antes que o plano pudesse ser executado.” Alaric informou inclinando a cabeça para Zidane, que estava sentado em seu escritório escuro. As cortinas estava fechadas, pois ele odiava a luz do sol. A única luz da sala vinha do lustre pendurado no teto. Desta maneira era possível enxergar que o cômodo tinha paredes formadas por painéis em tons de marrom escuro e o chão era coberto por um carpeta preto. O que só potencializava a escuridão da sala, além disso todos os móveis eram feitos de madeira escura.
O alfa estava sentado em sua cadeira de couro como se fosse um trono. Encostado no apoio de braço esquerdo, um sorriso frio, mas que não se comparava com os seu olhos. A aura fria emanava dele em ondas por todo o ambiente.
“Ah, funcionou... funcionou muito bem...” Zidane disse.
“Alfa, você está...” Alaric foi interrompido antes de terminar a frase, seu corpo inteiro se chocou contra a parede, a mão do Alfa estava em torno de sua garganta.
“Nunca me questione.” Ele falou entre dentes. Antes que Alaric pudesse falar algo, sua cabeça foi arrancada de seu corpo, o sangue jorrou pelas paredes, chão e no terno branco de Zidane. O Alfa deixou o corpo cair no chão, chutando-o com violência. Então, limpou as mão ensanguentadas no terno, agora o ar da sala estava repleto pelo odor metálico.
“Ela pode ter sumido por 8 anos, mas eu sei exatamente como atraí-la para mim.” Ele murmurou com um sorriso cruel nos lábios. Primeiro, ele precisava quebrar a sua determinação, ela se achava poderosa o bastante para enfrentá-lo? Quanta tolice... uma vez que ela afastasse o alfa por conta própria... ela ficaria a sua mercê, para que pudesse destruir, controlar e usá-la...
Zidane caminhou até sua poltrona, sem se incomodar com o cadáver de uma de seus homens, ele apenas balançou a cadeira de um lado para o outro...
------
As terras do Bando Desert Storm eram bastante vastas, florestas densas cercavam a maior parte das fronteiras. Portanto, a patrulha era intensa e todos os lobos pareciam carrancudos, além disso, quase todos tinham algum tipo de cicatriz no corpo, que dava para ver quando estavam sem camisa.
A casa central do bando era um edifício impressionante, só ficava atrás da mansão do Alfa. O campo de treinamento também era enorme, dividido em diversas áreas e com lobos de todas as idades, treinando de acordo com seus níveis. No bando de Elijah, os filhotes era encorajados a iniciar os treinos a partir dos seis anos de idade, mas não era obrigatório, ali parecia que no momento em que o filhote pudesse falar e andar, já estava apto para treinar.
Scarlett observou os pequenos de 3 e 4 anos treinando. Ele tinham que levantar pesos pesados e carregá-los pelo campo, se algum deles parasse ou deixasse o peso cair, tinha que recomeçar o percurso. Muitos choravam em silêncio, mas era claro como o medo já se instalara nele, ninguém ousava emitir um som sequer. Então, ela sentiu uma onda de tristeza tomar conta de seu corpo, pensando em como Zidane era brutal, mesmo sendo ‘seu pai’, isso a enojava.
Os olhos de Elijah raramente deixavam Scarlett, nos últimos 20 minutos ela praticamente o ignorou, desde o momento em que Cade entrou no quarto deles. Mas, ele não desistiria enquanto não explicasse tudo. Junto a isso, o fato sobre a rejeição tê-lo afetado, também perturbou o seu lobo, ele podia senti-lo meditando em sua mente. Elijah gostaria de poder conversar com ele, como os livros diziam, os lobos têm voz própria, com certeza isso tornaria as coisas mais simples. Afinal, ele estava um pouco confuso, pois seu lobo nunca se importou com nenhuma tr*nsa casual.
Cade observou os dois, parecia que o plano do Alfa havia funcionado. Ele podia ver a tensão entre Elijah e Scarlett enquanto ele os conduzia pelos territórios do bando, a ordem do Alfa era mostrar a eles o bando inteiro... Ele sabia o motivo, era pra mostrar a Scarlett como as regras estavam distorcidas, para que ela se sentisse culpada e querer ajudá-los. Seu pai usaria isso contra ela e a manipularia.
O próprio Cade não se importava, se isso significasse em ter Scarlett por perto, isso tinha se tornado algo bom afinal...
“O que é isso?” Scarlett perguntou parando diante de um grande prédio as ruínas, prestes a desmoronar. As frestas do telhado foram tapadas com tábuas de madeira, além disso havia várias janelas quebras e duas grandes rachaduras na arquitetura da construção.
“Aqui é onde o lixo do bando fica.” Cade disse, sentindo uma pontada de dor quando essas palavras saíram de sua boca.
“Como assim?” Scarlett questionou com seus olhos verde frios.
“Os ômegas e aqueles que não são bons o suficiente e que estão abaixo deles, além de outras categorias.” Cade disso dando de ombros. Scarlett e Elijah franziram a testa ao verem uma menina de seis anos sair pela porta, carregando um balde.
“Por que uma criança está ali? Ela não deveria estar treinando?” Ela indagou, “Ou na escola?”
“As crianças ômegas não podem treinar e nem aquelas que são como ela.” Cade afirmou. Os olhos de Scarlett assumiram um brilho prateado e ela rosnou para Cade. Ele franziu a testa ao sentir as fortes ondas de poder emanando dela.
“Vermelho…” Elijah advertiu, indo em sua direção, ele colocou uma mão em suas costas. ‘Não mostre seu poder’, ele alertou pela ligação psíquica.
Ela lhe lançou um olhar furioso antes de se acalmar, mas o estrago já havia sido feito, os olhos de Cade faiscavam curiosos. Havia algo sobre Scarlett que Zidane sabia? Uma razão pela qual ele foi incumbido de encontrá-la, apesar de achar durante todos esses anos que ela estava morta.
“São crianças provenientes de um estupro.” Cade explicou encolhendo os ombros. “Alguns são mortos, mas outros são deixados aqui se a mãe for submissa o bastante.”
“Por que você fala isso como se não fosse nada demais?” Elijah rosnou.
“Como lobisomens, temos uma libido extremamente alta, às vezes, se as nossas companheiras não estão por perto, nós f*demos outras lobas, mas é claro, não queremos filhos.” Cade disse. “Então, a solução é simples...”
Um rosnado alto e ameaçador rasgou o ar e a próxima coisa que Elijah viu foi Scarlett prendendo Cade na parede mais próxima.
“Eu nunca mais quero ouvir você falar assim de novo.” Ela vociferou ameaçadoramente, sua aura Alfa emanava dela.
“S-sim Alfa....” Cade balbuciou com o rosto pálido, o peso do comando o tingiu com força. Ele abaixou os olhos em respeito e Scarlett o soltou, dando-lhe um chute com força.
“Este lugar está um caos.” Ela disse passando a mão pelos cabelos. Elijah franziu o cenho, refletindo, pois cada bando tinha suas próprias leis. Não havia nenhuma regra suprema que impusesse limitações, o Alfa era o poder supremo... Ele olhou em volta, esperando que ninguém tivesse visto o que acontecera e praguejando para si mesmo, quando viu as marcas de garras no pescoço de Cade.
‘M*rda Vermelho, você o arranhou!’ Ele rosnou através da mente.
‘Eu não dou a mínima, ele mereceu.’ Ela retrucou.
‘Eu sei, mas sua habilidade é fora do comum...’ Elijah disse, não gostando do rumo da situação. Ela não respondeu, simplesmente caminhou até a entrada do prédio em ruínas.
Cade se levantou massageando o pescoço, a ardência ainda estava lá, assim como os arranhões, que não se curavam.
‘Deixei-os conhecer o lugar... venha ao meu escritório, agora.’ A voz gélida de Zidane ecoou na mente dele.
‘Sim, Alfa.’ Cade respondeu antes de olhar para Elijah.
“Vocês são livres para andarem pelo território, tenho trabalho a fazer.”
“Hmm, Cade, uma coisa antes de você ir. Eu sei que você adoraria relatar isso ao Alfa, mas eu não faria isso se eu fosse você.” Elijah alertou. Cade não respondeu, o jovem Alfa não sabia o quão perigoso Zidane podia ser, ainda mais se escondesse alguma coisa, ele seria o próximo a morrer... Ele assentiu e foi embora.
Elijah respirou fundo e caminhou em direção ao prédio onde Scarlett havia desaparecido.
Ao entrar, ele viu que o lugar não era tão ruim como parecia ser do lado de fora. Sim, estava em mau estado, porém, era limpo, apesar de ser mal mobiliado havia sinais de vida. Os sapatos surrados de uma criança estavam na entrada, uma moldura rachada enquadrava um desenho pendurado na parede. Uma pequena prateleira com ganchos contina vário molhos de chaves e alguns casacos infantis esfarrapados estavam no chão na parede oposta.
O chão de mogno gemia a cada passo que ele dava, avisando sua presença, vários trechos estavam completamente afundados. A única lâmpada pendurada no teto era fraca, lançava uma luz branca doentia pelo corredor escuro. Uma escada com degraus precários conduzia ao andar de cima, o corrimão estava quebrado em diversos pontos. ‘Certamente, um perigo para jovens lobos’, ele pensou. O lugar parecia bastante silencioso e se tentou imaginar quantas pessoas viviam ali.
Ele seguiu o cheiro de Scarlett até uma grande cozinha, um cômodo que evidentemente era a área mais nova do prédio, com três fogões grandes, 4 geladeiras do estilo americano e uma porta dupla que dava para fora. Ele pensou que provavelmente era onde a comida para os membros do bando era preparada.
Elijah encontrou Scarlett ajudando uma senhora idosa com alguns sacos de batata, cada um pesava 25kg, ela se agachou para pegar mais um saco. O olhar dele caiu na sua bunda, sentindo o desejo aflorar ele desviou o olhar. O efeito da droga já havia passado, mas só de olhar para Scarlett isso o deixaria duro de novo. Ele não tinha ficado sem s*xo por tanto tempo, mas por ela sim, e ela nem percebia o efeito que tinha sobre ele. Mas, ele sabia que não queria mais ninguém.
Seus pensamentos foram dispersos quando a senhora idosa se curvou e teimou com Scarlett de que não precisava de ajuda.
“Por favor, minha senhora....” Ela sussurrou. Scarlett balançou a cabeça tentando convencê-la.
“Por favor, não se desculpe, o Alfa nos deu permissão para darmos uma volta, ninguém saberá se eu a ajudei ou não.” Ela argumentou. Então Elijah se aproximou e pegou os outros dois sacos.
“Então, para onde temos que levá-los?” Ele perguntou, a mulher o encarou e empalideceu ao sentir sua aura Alfa, apesar de saber dominá-la, era sempre perceptível aos outros.
“L-logo ali...” Ela sussurrou apontando para uma outra porta, a qual Elijah não notara quando entrou. Ele liderou o caminho, abriu a porta e a segurou aberta para Scarlett passar com os outros dois sacos, quando os dois se cruzaram, ela fez uma careta.
“Eu consigo.” Ela falou com frieza.
“Eu não disse que você não conseguia.” Ele retrucou com arrogância.
Ela simplesmente o ignorou, o lugar tinha um zumbido de conversas almas e a agitação de várias mulher cortando e picando legumes, mas quando os recém-chegados apareceram, todos ficaram em silêncio e os observavam. Ali era como se fosse uma cozinha auxiliar e como a outra, estava em melhores condições do que o restante do prédio.
“E-eles só queriam ajudar... eles não vão nos machucar.” A idosa disse, olhando furtivamente para Elijah, que sorriu confiante para ela.
“Eu não machuco mulheres.” Ele disse na expectativa de aliviar a preocupação da senhora, mas não foi o melhor a se dizer, ao sentir a onda de raiva que irradiava de Scarlett.
“Sim, eu percebi.” Ela disse em um tom amargor e colocou os sacos de batata na bancada.
“Vermelho...” Elijah começou, mas não ignorando todos os olhares em cima deles.
“Não fale comigo, p*rra.” Ela rosnou, seu poder mais uma vez irradiava. As mulher empalideceram, o medo estampado em seus olhos.
“F*da-se, quer saber? Eu estou falando e você vai me escutar.” Elijah rosnou avançando. Scarlett pegou uma faca e apontou para ele, o que resultou em uma sobrancelha levantada.
“Sério uma faca? Suas garras causariam mais estrago.” Ele falou, enquanto continuava avançar.”
“Obrigada por me lembrar.” Ela retrucou. “Apenas me deixe em paz, não quero olhar para sua cara.”
“Oh, por favor, tenho certeza de que nós dois concordamos que eu sou muito bonito.” Ele falou com certa arrogância, enquanto as outra mulheres concordavam com a cabeça. Talvez estivesse de acordo ou talvez fosse apenas o medo de desobedecer um Alfa, ele não tinha certeza, mas isso não importava.
“Você é um idi*ta.” Scarlett disse com desgosto.
“Apenas me escute.” Elijah insistiu, usando seu comando para fazê-la obedecer, mas ela era mais forte. Scarlett franziu a testa ao se lembrar as mulheres naquele quarto. Ela não queria ouvira nada... claro que seu pai tinha planejado aquilo, qualquer que fosse o motivo, mas Elijah poderia ter resistido. Não era tão difícil, ele era um alfa. Mas não, ele estava adorando ficar preso na cama com elas. Essa imagem enviou uma pontada de dor através dela.
“Primeiro, me responda uma coisa, Elijah...” Scarlett falou, vendo que a mulher idosa gesticulava para que o resto continuasse a cozinhar. Sem saber o que fazer consigo mesma, Scarlett abriu o saco de batatas e começou a descascá-las.
“Qualquer coisa.” Ele concordou, com o coração disparado, ela estava falando... Ele deu um passo à frente, mas ao vê-la tensa, parou aonde estava, reparando em como o peito dela subia e descia e o leve tremor em seus dedos.
“Você pelos menos disse para elas o deixarem em paz? Pelo que pude ver, você não estava amordaçado.” Ela cuspiu, o ciúmes mostrando sua face mais horrenda outra vez.
Elijah refletiu e respondeu, “Eu falei, algumas vezes... mas não pareceu funcionar...” Ele falou, pensando em como parecia ridículo. O comando de um Alfa era algo que nenhum lobo podia desobedecer, a não ser que fosse um Alfa mais forte.
“Você quer que eu acredite que três lobas desobedeceram um Alfa, que é tão poderoso?” Ela rosnou.
“Estou falando a verdade, nem mesmo as m*lditas drogas pareciam funcionar...” Elijah começou a contar. Então, com um movimento rápido, Scarlett colocou a lamina fria da faca no pescoço dele, ele a agarrou pelos quadris ao invés de se defender, puxando-a contra ele. O prazer percorreu o corpo de Scarlett, ela tentou resistir junto com a sensação agradável de ter seu corpo contra o dele.
O coração dos dois disparou, ambos sentiam as faíscas de desejo que pairavam sobre eles.