Capítulo 38
1139palavras
2023-03-24 07:17
Bianca chegou em casa procurando pela mãe. Magda disse que ela estava no quarto dela, Bianca subiu correndo as escadas, bateu e não esperou resposta. Entrou e encontrou a mãe deitada, lendo um livro.
Dona Amélia sentou na cama e bateu ao seu lado. Bianca se aninhou e chorou. Chorou por algum tempo e a mãe nada disse, apenas fez carinho em sua cabeça.
Quando começou a se acalmar, dona Amélia começou:

- Demorou bastante para esse rompante. Quer me dizer o que o causou?
Bianca balançou a cabeça e voltou a chorar, dessa vez mais silenciosa.
- Então eu vou te contar a minha versão, está bem? Quando saímos do país, eu acreditava que todo seu intuito era passar o resto do tempo que seu pai tinha. Você disse que tinha terminado com Gustavo, mas eu sempre soube que era amor demais para vocês se afastarem. Durante o tratamento, vi você se afundando em tristeza e depressão. Conversei com seu pai pra te mandar de volta ou levar Gustavo, e aí seu pai teve uma conversa comigo. Me contou que você deveria ter descoberto que Gustavo era casado.
- Descobri recentemente que meu pai sabia o tempo todo. Sempre achei que ele morreu sem essa decepção na vida
- Não me interrompa, querida. Não é educado. Então, fiquei furiosa por nenhum dos dois ter me falado. Até ralhei com seu pai, por não ter impedido as coisas chegarem naquele ponto. Seu pai me disse pra esperar você me contar. E que tinha deixado as coisas acontecerem porque sabia que Gustavo te amava, e que não tinha nenhum sentimento pela esposa. E que deixou ele presente em nossas vidas tanto tempo porque nós duas iríamos precisar muito dele no futuro pra te ajudar com as coisas. Que você precisava crescer, porque não seria fácil tudo o que você iria enfrentar. Que eu precisava te deixar crescer, parar de te proteger pra você enfrentar todas as adversidades de peito aberto. E que ele sabia que você ia enfrentar uma dificuldade muito grande no futuro. Pra falar a verdade, acho que o câncer já estava comendo a sanidade dele. Mas decidi que você precisaria mesmo crescer, para cuidar de mim e de você na ausência dele.
Dona Amélia fez uma pausa, já com os olhos cheios de lágrimas em lembrar dos momentos finais do marido.

- Eu não contava que você ia estar grávida, que seu parto ia ser aquele banho de sangue. E depois, você veio embora me deixando lá, e some falando que não ia dar um filho pro Gustavo. Você me ameaçou, Bianca. Você me disse que se eu aparecesse no Brasil com o Gabriel, você ia entregá-lo pra adoção.
- Eu nunca faria isso, mamãe.
- Eu sei que não, mas me ameaçou. E eu fui deixando você se curar aqui e cuidando do seu filho lá. O tempo foi passando, você ia nos ver, mas não resolvia. Quando te confrontei, você me disse que ia adotar seu próprio filho quando fosse a hora! Cheguei a pensar várias vezes em contar pro Gustavo e esperar as consequências. Mas cada vez que você ia nos ver, estava melhor, mais forte. Nunca feliz, mas estava se curando. Percebi que era um passo de cada vez. E tinha medo de fazer alguma coisa e você voltar para aquela depressão que nenhuma mãe deveria ver. Eu tinha tanto medo de você se matar, Bianca! Eu não queria ser mais uma a te pressionar. A vida sempre te pressionou. Você era linda, você era rica. Seu pai não era aquele cara perfeito antes, quando você era menina.
- O que você está dizendo?

- Você não sabe porque eu te protegia. Mas seu pai se aproveitava do poder que tinha pra usar sua beleza a favor dele, filha Ele deixava um filho de alguém, um protegido ou parente te cortejar. Ele não percebia como isso estava acabando com sua auto estima. Você era pressionada a aceitar aqueles meninos tolos te paparicando pra benefício do seu pai. Aquilo estava acabando comigo e quando eu resolvi intervir, seu pai saiu de casa.
- Como assim saiu de casa? Não me lembro de nunca meu pai ter ficado fora de casa.
- Você não se lembra porque ele passava bastante tempo fora, com bebedeiras e mulheres. E dizíamos que ele estava viajando a trabalho. Você tinha uns 12 anos quando ele se engraçou por uma italiana e foi morar com ela.
- Mamãe, isso é...
- Eu sei. Horrível. Ele morou uns dois meses com ela. Nesse tempo ele vinha te ver e começou com umas idéias de te mandar pra Itália. Eu enxotei ele daqui. Depois de um tempo, ele voltou. Mas minha condição era ele manter as coisas dele longe de você. Ele aceitou, mesmo porque voltou transformado. Não sei o que aquela maldita fez com ele, mas ele voltou pra mim o homem do qual você se lembra. Passou a te proteger, te cuidar, nunca mais bebedeira nem amantes. Era o marido que toda mulher pediu a Deus e um pai de dar inveja. Até pensei que seria uma fase, mas não. Esse homem por quem me apaixonei de novo foi o mesmo que enterrei com câncer nos Estados Unidos. Mas nunca deixou de te pressionar. Pra você seguir os passos dele, pra você se casar. Depois você viveu toda a pressão da doença dele, descobrir que o homem da sua vida te enganou. A pressão da mídia com sua história estampada. Eu achava que era pressão demais e esperava que você decidisse sua vida. Mas qual não foi minha surpresa, quando você decidiu me trazer pra casa, estava noiva de Lorenzo, Gustavo já sabia que era pai do Biel e vocês convivem como dois amiguinhos!
- É tudo muito complicado, mãe...
- Não é, Bianca. Você só precisa se libertar dessa mágoa. Aliás, de todas. Você ama Gustavo e se mantiver esse noivado com Lorenzo, vai estar machucando vocês três.
- Você gosta de Lorenzo, mamãe?
- Gosto muito. Sempre foi um menino bom, estava sempre aqui com a gente. Sumiu um tempo, mas sempre foi presente. No seu último ano de faculdade, passamos a ir visitá-lo com mais frequência. Ele quase não vinha mais aqui. Se não fosse Gustavo, seria o genro perfeito. Mas não sou eu que escolho seu marido, é você. E seu amor é o Gustavo. Seu rompante agora é por ele. Não sei o que aconteceu para você explodir, mas aposto que é por ele e por toda essa confusão que está fazendo de sua vida que nem eu mesma entendo.
- Obrigada pelo colo, mamãe. Mas deixe tudo como está. Vou me casar com Lorenzo.
Bianca saiu do quarto da mãe, deixando dona Amélia confusa, com uma sensação de que Bianca era um caso perdido.