Capítulo 10
1168palavras
2023-02-12 03:08
No tempo que estava lá, eu dormia com as "moças". Elas adoravam o fato de eu ser menor, lutador e afilhado do dono. Me iniciaram na vida sexual e eu escolhia com qual ia dormir depois da noite de serviço. O movimento cresceu demais e era extremamente importante contratar alguém pra limpeza. As meninas não tinham mais tempo para elas mesmas limpar o quarto depois que terminavam o programa.
Então comecei o processo de contratação. E minha exigência pra agência é que não fossem moças bonitas.
E acabei por escolher a Sirlene. Quase 30 anos, não tinha um rosto muito bonito e era gordinha. Pra mim, perfeita porque tinha chance zero de acabar no salão. Ela tinha uma filha de 7 anos e precisava demais trabalhar. A história dela me convenceu e eu a contratei.

Muitas vezes, ela descansava em meu quarto quando fechavamos a casa, até ter condução pra voltar pra casa. Como eu sempre tinha que fazer pagamento, lidar com estoque e acabava por dormir com uma das meninas, não me importava com isso.
De repente, o movimento era tão grande que as meninas e eu estávamos muito cansados, e eu ia direto pro meu quarto. Comecei me deitando ao lado dela e dormíamos juntos. Normalmente quando eu acordava, ela já tinha ido. Depois começamos a nos abraçar e dormir de conchinha, ela ia ficando um dia ou dois...
Até o dia que quando cheguei ela estava nua na minha cama. Começamos a transar e ela ir embora depois. E um dia, ela propôs de fazermos sem preservativos. Eu moleque, nunca tinha transado sem, achei que estava me dando bem e não tinha problema nenhum porque ela não era da vida e não ia me passar doenças.
E claro, ela acabou grávida. Nunca a questionei sobre isso, mas tenho a impressão de que ela armou para eu tira-la da casa da mãe. Porque logo que a mãe dela soube, colocou ela pra fora de casa e eu, com 18 anos, tive que assumir o BO. Aluguei uma casa, levei ela pra morar, nós dois trabalhando com dificuldades conseguimos mobiliar e ela foi seguindo o jogo. Quando a barriga dela cresceu mais um pouco, demiti ela pra não se esforçar e sozinho tive que dar conta de tudo. Nesse meio tempo, meu irmão me localizou e me convidou pra conhecer a família em São Paulo. Ela não quis vir por causa do barrigão, então eu vim e nunca falei pra minha mãe que sabia que ela me doou. Nunca desmenti ela pros meus irmãos também.
Ela me convidou pra morar aqui, que teria mais oportunidades, então eu voltei pra Minas pra buscar a Sirlene. Mas ela não quis vir e eu fiquei desempregado porque meu padrinho precisou assumir enquanto eu estive fora e percebeu que eu estava ganhando muita comissão porque fiz o movimento da casa dobrar, então não queria mais me pagar esse dinheiro. Aisha nasceu e eu a convenci a vir pra São Paulo, mas a mãe dela não deixou a Mariana vir. Quando a situação ficou insustentável, viemos e deixamos a Mariana com a mãe dela, que depois de 6 meses não aguentou o trabalho que a menina de 9 anos estava dando. Nós viemos pra morar em Heliópolis, na casa da minha mãe.
Ela voltou pra Minas pra resolver e eu fiquei porque tinha arrumado um emprego de garçom que me pagava bem e estava fazendo o técnico de contabilidade.

Minha mãe e ela se engalfinhavam o tempo todo e ela disse que não ia voltar por isso. Meus irmãos se juntaram e compraram uma casa pra minha mãe, tirando ela da favela e deixando a casa só pra mim. Depois de 5 meses ela voltou com minha filha.
Eu estava terminando o técnico quando Mariana fugiu de casa e veio pra São Paulo de carona, aos 11 anos.
- Uma menina sozinha pegando carona pra São Paulo? Meu Deus, poderia ter acontecido tantas coisas com ela...
- Mariana era o demônio, Bianca. Já era discípula de Cristhiane F. Não quero imaginar a que ela teve que se sujeitar pra vir de carona. Na verdade, ela era uma menina boa, aquela avó dela interesseira é quem estragou a menina e a mãe foi conivente. Depois que não conseguia controlar mais, quis devolver e a menina fugiu. Ela chegou pra nós boazinha, disse que não ia dar trabalho e que veio porque estava com muitas saudades da irmãzinha. Ela amava minha filha.

Na primeira vez que ela deu trabalho, busquei ela no conselho tutelar e a conselheira ficou desconfiada de ela morar comigo não sendo pai dela. E perguntou na minha frente se eu gritava ou batia. Ela disse que eu era duro, mas não batia. E a conselheira teve a pachorra de dizer pra ela não aceitar repreensão porque eu não era pai dela.
O resultado disso, algum tempo depois, quando fui repreender, ela me disse exatamente isso: você não é meu pai.
Como morávamos numa favela perigosa, não demorou pra Mariana se envolver com os piores tipos e começar a nos roubar para bancar o vício. Pouco depois, estava devendo traficantes que não aceitavam ela pagar com sexo. Ameaçaram buscar ela dentro de casa e ela fugiu. Não queria colocar Aisha em risco. Se eles entrassem, matariam todo mundo porque é assim que funciona. Passei dias procurando por ela, fui na delegacia, deixei meu telefone e endereço. Trabalhava até tarde da noite no barzinho, depois adentrava a comunidade atrás dela. Ela estava escondida, não queria que eu a encontrasse. Estava assustada e tinha medo de eu a convencer a voltar e eles entrarem e machucar a Aisha. Ela só tinha 12 anos, eu poderia ter feito mais. Procurei o cara pra quem ela estava devendo e me dispus a pagar a dívida. Ouvi que não era mais uma questão de dinheiro, ela estava de muita tiração, e que era melhor não levar ela de volta pra casa porque quando achassem ela, todo mundo que estava perto ia rodar.
Fiquei desesperado e com o coração partido, mas parei de procurar. Rezando pra ela ter fugido pra Minas de novo. Nunca desejei que nada ruim acontecesse com ela, mas não poderia colocar minha filha em risco por causa das escolhas erradas dela. Uma semana depois fui reconhecer o corpo dela atrás do hospital de Heliópolis. A polícia me buscou no serviço.
Quando ele falou, Bianca não conseguiu evitar de abraça-lo. Que coisa horrível de se viver. Que realidade dura de se passar.
- Cheguei perto dela, olhei aquele corpinho frágil de menina de 12 anos que mal começou a se desenvolver, tirei o cabelo do rosto, fechei os olhos dela e assenti. Estava reconhecido. Na mesma hora, ouvi a gritaria perto do corpo. Os policiais não deixaram a mãe dela se aproximar. Levantei correndo pra fazer a contenção. Não queria que ela tivesse aquela cena na memória. Mas não adiantou. Ela não viu, mas a depressão de enterrar uma filha perdurou por muitos anos.