Capítulo 28
1837palavras
2023-02-05 08:18
A inquietação tomava por completo o corpo esguio de Jeon Lucy.
Era assim que ela havia escolhido pôr seu nome em todos os seus documentos, e era esse o nome que seu pai tanto silabava para tentar acostumar-se.
Jeon Lucy.

ㅡ Está pronta? ㅡ Jungso perguntou parando na frente do quarto da filha.
Viu a garota arrumando-se em frente ao espelho e sorriu. Lucy vestia um macacão, cujo seu pai havia escolhido e lhe dado de presente por todo o seu esforço posto na prova.
E a garota sorriu porque era notório que a peça era da sessão feminina.
ㅡ Ficou bom? ㅡ ela perguntou virando-se.
O homem assentiu e sorriu ainda mais, não entendia como sua filha tornava-se mais bonita a cada dia, mas talvez fosse só o sorriso que tivesse mais verdadeiro.
Então, com a confirmação do pai, Lucy buscou seus documentos e sua bolsa. Pôs tudo lá e desceu junto ao homem para o andar debaixo.

ㅡ Já estão indo? ㅡ Sun-ha perguntou da cozinha.
A mulher não estava nada agradável ao ver "seu filho" vestido naquelas roupas feitas para mulheres. E piorava tudo porque havia sido seu próprio marido a comprar aquilo, pai de Woojin, era como uma ofensa para si.
ㅡ Sim, precisamos chegar cedo ao cartório.
ㅡ Tomara que isso não dê certo. ㅡ falou ríspida, incapaz de segurar para si. ㅡ não é certo, até mesmo o nome que eu escolhi?

ㅡ Não complica. ㅡ falou já cansado daquilo e buscou as chaves do carro. ㅡ vamos Lucy.
Guiando o corpo junto ao da filha para a garagem, Jungso abriu a porta do carro para que ela entrasse no veículo e adentrou logo em seguida.
ㅡ Ponha o cinto. ㅡ avisou colocando-o em si também.
Lucy obedeceu e viu seu pai sair com o carro. Seus pés não paravam de bater contra o solo do veículo e aquilo lhe deixava ainda mais nervosa.
Pensava se conseguiria mesmo mudar seu nome e documentos e se conseguisse, que fantástico não seria.
Seria pela primeira vez ela mesma socialmente, e poderia dizer, e, até mesmo mostrar a quem quisesse ver, que seu nome era realmente Lucy.
O caminho foi curto até o cartório onde ela foi registrada e logo estavam dentro do local.
Lucy ficou um pouco mais no canto, encolhida enquanto seu pai falava com a atendente.
Ela viu quando a mulher gesticulou para ele e aproximou-se ao ver que uma folha havia sido entregue.
ㅡ Essa é a lista de todos os documentos que são necessários para que seja feita a resignação do nome e gênero nos documentos.
ㅡ Tudo isso? ㅡ Jungso ofegou e mostrou a filha. ㅡ Há um prazo?
ㅡ Geralmente os documentos pedidos pelo cartório têm prazos de noventa dias.
ㅡ E em quanto tempo tudo fica pronto?
ㅡ Com todos os documentos em mãos, não demora mais do que alguns dias. A espera é realmente burocrática e extensa para conseguir todas as certidões que são impostas.
ㅡ Mas já podemos buscar por esses documentos então? ㅡ o homem voltou a perguntar à atendente.
ㅡ Sim, se a pessoa cujo deseja fazer a resignação for maior de idade, já pode buscá-los.
ㅡ Maior de idade? ㅡ indagou Lucy surpresa. ㅡ mas eu só tenho dezessete.
ㅡ Neste caso, você infelizmente ainda não pode fazer.
ㅡ Mas e se eu for emancipada? Eu posso ser, não é pai? ㅡ olhou para Jungso.
O homem foi pego de surpresa, ainda via a garota como uma criança, então o assunto lhe gerou um pouco de medo.
ㅡ Mesmo pessoas emancipadas, a lei não permite até que esteja com a maior idade completa.
ㅡ Mas eu vou para a faculdade! ㅡ falou em desespero. ㅡ como entrarei na faculdade com um nome que não é o meu? O nome que me identifico? Eles não cederão uma vaga no dormitório feminino assim.
ㅡ Sinto muito, mas... É a lei.
Lucy negou sentindo a vontade enorme de xingar lhe consumir. Não xingaria a moça, jamais, era aquele o trabalho dela e ela estava apenas repassando uma informação, mas queria muito xingar quem inventou a porcaria da lei que lhe proibia fazer consigo o que queria, mesmo tendo completa noção de tudo.
ㅡ Muito obrigado por nos ajudar. ㅡ falou Jungso ao se despedir da atendente e outra vez guiou a filha até seu carro.
Sentando com força no banco do veículo, Lucy bufou, juntando os braços e sentindo o bolo subir por sua garganta.
ㅡ Fica calma, daremos um jeito.
ㅡ Não dá para ficar calma, pai. ㅡ lamentou erguendo os joelhos e enfiando seu rosto entre o espaço. ㅡ Eu não vou poder ir mais para a faculdade.
ㅡ É claro que vai.
ㅡ Não, não vou. ㅡ disse chorosa. ㅡ Eu não vou poder ser quem sou sendo ainda chamada de Woojin ou dormindo e convivendo com garotos. Como eu terei privacidade em um dormitório masculino? Como eu poderei usar minhas roupas e ser quem sou, se todos com certeza me chamarão de aberração? Eu não quero que Seul seja uma continuação de Busan, eu quero que seja uma nova fase.
Doía em Jungso ver o desespero da filha e doía em seu coração de pai saber que infelizmente não podia fazer nada.
ㅡ Você não pode deixar de fazer o que quer por ser quem é filha. Infelizmente, sempre haverá pessoas preconceituosas onde quer que você vá, e você precisa entender e mostrar que é mais do que eles julgam.
ㅡ Eu sei que preciso pai, mas é difícil. ㅡ olhou-o com seus olhos pintados por lágrimas. ㅡ doí todas às vezes em que pessoas me olham torto.
ㅡ Então, se você quiser, espere até ter seus documentos em mãos, e assim você vai para Seul como a Lucy que é.
ㅡ Mas eu teria que aguentar um ano todinho com a mamãe me pondo para baixo. ㅡ lamentou outra vez. ㅡ tudo é tão difícil, por que precisa ser assim? Será que eu nasci para ser a pessoa que nunca terá alegria na vida?
ㅡ Aigoo, para já de falar assim, entendeu? ㅡ falou com seu coração magoado. ㅡ Você é incrível, e é jovem. Você ainda será muito feliz, acredite.
A garota não respondeu o homem, apenas fungou e limpou as lágrimas, descendo as pernas e encostando-se a janela fechada.
Outra vez o homem entristeceu-se, dando partida no carro e tentando imaginar quais as possibilidades que poderiam fazer com que sua filha conseguisse o que queria.
Mas ele não entendia muito de lei, ainda mais aquela. Teria que pesquisar um pouco mais quando tivesse tempo livre e se possível, contatar um advogado.
ㅡ Por que você não liga para Jaesun? ㅡ ele perguntou vendo que sua filha ainda permanecia para baixo.
ㅡ Ele saiu com o namorado. ㅡ respondeu fazendo bico.
ㅡ E a nossa vizinha, Kimi?
ㅡ Kimi está ocupada, pai...
O homem negou e comprimiu os lábios. Não queria optar pela última opção, ainda mais por ele dizer em alto e bom som, que estava apaixonado por sua filha, mas era doloroso demais continuar vendo Lucy daquele jeito, então a única saída foi o apelo.
ㅡ E... ㅡ coçou a garganta, ainda a contragosto. ㅡ Ryeon?
Lucy respirou fundo, muito fundo, e logo em seguida, soltou todo o ar.
ㅡ Não sei onde Ryeon está.
ㅡ Ligue para ele. ㅡ incentivou-a
ㅡ Não. ㅡ negou, deixando com que seu bico ficasse ainda maior.
ㅡ Aish, então ligo eu. ㅡ buscou o celular.
ㅡ Não pode falar ao celular enquanto dirige. ㅡ reclamou tomando o aparelho da mão do pai.
ㅡ Mas se você não quer ligar, o que posso fazer?
ㅡ Tudo bem, tudo bem, eu ligo.
Lucy ainda se sentia bastante chateada, seu bico não desmanchava por nada naquele momento, mas discou para Ryeon, ouvindo o som da chamada até que a voz dele lhe preenchesse os ouvidos.
ㅡ Oppa?
ㅡ Lu? Oi.
ㅡ Onde você está?
ㅡ Estou em casa.
ㅡ Está ocupado?
Lucy já olhava adiante e agora mordiscava o lábio inferior. Temia estar atrapalhando, mas permanecia à espera da resposta.
Jungso por vez, tentava manter o foco no caminho de volta a casa, mas não conseguia evitar a curiosidade de olhar sua filha de soslaio. Era incrível como a garota sempre parecia menos tensa quando falava com algum de seus amigos.
Porém, além de amigo, Jungso sabia que Park Ryeon tinha outros interesses com ela, e isso ainda lhe deixava pensativo.
ㅡ Não. Na verdade, estou deitado olhando para o teto. Mamãe pediu para que eu arrumasse a casa que hoje ela faria um jantar especial para nós.
ㅡ Ah... Que legal.
ㅡ Mas por quê? Precisa de algo?
ㅡ Na verdade não.
ㅡ Onde você está?
ㅡ Estou voltando para casa. Eu e o papai fomos ao cartório...
ㅡ Woah, e então? Conseguiu?
Lucy suspirou ao ouvir a pergunta e voltou a encostar-se à janela do carro.
ㅡ Não...
ㅡ Como assim, não?
ㅡ É a lei, eu ainda não posso.
Ryeon sentou-se na cama com o cenho franzido. Ouviu o silêncio do outro lado junto a apenas o som da respiração da garota.
ㅡ Quer vir jantar conosco hoje? ㅡ ele perguntou, não sabendo ao certo o porquê, mas preocupado com a imagem tristonha que sua mente que tanto conhecia Lucy já criava.
ㅡ Eu não quero atrapalhar você.
ㅡ Não atrapalha não. Eu posso até te buscar em casa.
ㅡ Não precisa.
ㅡ Por favor...
Lucy outra vez mordiscou o lábio inferior e desta vez olhou para seu pai. O homem logo retribuiu o olhar e atentou-se a ela.
ㅡ Quer que eu te deixe lá? ㅡ ele sussurrou, como se lesse seu pensamento.
A garota sentiu-se envergonhada, mesmo que fosse ele a lhe oferecer a carona. Mas mesmo assim ela assentiu. Ryeon ainda esperava por uma resposta do outro lado da linha e sentia-se ansioso.
ㅡ tudo bem, eu te levo. ㅡ disse Jungso, piscando um dos olhos para ela.
A garota sorriu mostrando seus dentes protuberantes e aprumou a postura no banco.
ㅡ Estarei aí em alguns minutos, tudo bem?
ㅡ Ok, deixarei a porta aberta e tomarei um banho. Ficarei limpinho caso queira me dar um cheirinho.
As bochechas da garota rapidamente ficaram rubras e seus olhos fitaram o pai.
Agradeceu por Jungso não ouvir aquilo.
ㅡ Até mais Ryeon.
A ligação teve seu fim e Lucy repousou outra vez sobre a janela. Agora ela não tinha mais o bico de chateação, apenas olhava pensativa por através do vidro e suspirava a cada segundo.
Jungso sabia que aquele assunto, o fato dela não poder ter seu nome nos documentos até completar a maior idade ainda lhe aborreceria por incontáveis dias, e temia que isso a deixasse extremamente triste.
Ele não suportava vê-la triste.
Não demorou para que estivesse estacionando em frente a casa de Park Roseanne, e sorrindo ao ver a filha retirar o cinto de segurança ligeiro, o homem despediu-se, vendo-a logo adentrar o imóvel.